Ent assumiu novamente sua posição de batalha enquanto William desviava seu olhar para Samantha por um momento. A situação precária da aliada preocupava o manipulador do vento.
–William: “Do jeito que ela está não conseguirá nem destruir o pilar. Não tenho outra escolha senão derrotar esse inimigo.”
–Ent: Pode me responder uma pergunta antes de começarmos, menino?
–William: E que pergunta seria essa?
–Ent: O que leva você a crer que é capaz de derrotar um inimigo que venceu seus dois aliados?
William suspirou e um pequeno sorriso surgiu em seu rosto.
–William: Nada, mas eu não tenho muita escolha. Eu pensava que pessoas fracas deviam ser deixadas para trás, mas depois de algumas lutas eu percebi uma coisa muito importante...
Ent franziu a testa, curioso para saber a que seu adversário se referia.
–William: Eu percebi que não tenho como superar sozinho todos os desafios. Para sobreviver a esta missão eu preciso do apoio deles, portanto não deixarei que toque mais um dedo sequer em meus companheiros!
–Samantha: “Quem é esse cara e o que ele fez com o William?”
Para a bruxa era difícil de acreditar nas palavras do sempre frio e distante manipulador do vento. Ent, por outro lado, não pôde evitar uma pontada de admiração pela determinação do rapaz.
–Ent: Você é corajoso, mas sua escolha fará com que você compartilhe a derrota de seus amigos.
Raízes começaram a surgir abaixo de William, mas todas foram fatiadas por um turbilhão de vento cortante. Percebendo que seria difícil manter o adversário preso, Ent optou por uma abordagem mais direta e fez com que uma enorme raiz surgisse sob seus pés e avançasse contra o manipulador do vento, carregando o velho consigo.
–Ent: “Vejamos se é tão durão quanto parece.”
William saltou, usando uma corrente de vento para conseguir mais altura. Supondo que ele seria fácil de atacar no ar, Ent pulou também, mas se surpreendeu ao notar que o manipulador do vento estava com os pés grudados no pilar e com o corpo em linha reta na horizontal.
–Ent: Como você...?
Como se caminhasse pela superfície do pilar, William evitou facilmente o chute de Ent e então se preparou para atacá-lo com um corte cruzado. O velho reagiu a tempo e, com um movimento de sua mão esquerda, fez com que um cipó surgisse da enorme raiz, se amarasse no tornozelo direito e o puxasse para fora do alcance das lâminas.
–Ent: Isso não é manipulação elemental!
–William: De fato, mas você se esquece que existe outras forças neste mundo além dos elementos.
A frase enigmática do rapaz fez surgir uma ideia na cabeça de Samantha que explicava o motivo dele conseguir se prender a superfícies verticais.
–Samantha: “Será que ele está usando botas mágicas? Mas onde ele as encontrou?”
William se desprendeu do pilar e voltou ao chão, encarando Ent com um olhar desafiador. Porém, o velho via algo além nos olhos castanhos do oponente. Um toque de melancolia.
–Ent: Há em sua expressão algo diferente do que eu vi na de seus aliados. Eu enxerguei no olhar deles uma determinação poderosa de quem lutaria até o fim para vencer o inimigo, mas não percebo isso em você.
–William: O que está insinuando?
–Ent: É verdade que você está arriscando sua vida ao me desafiar, mas não vejo você como alguém que lutaria mesmo sem ter esperança nenhuma de vencer. Parece ser o tipo de guerreiro que abandona uma batalha que parece perdida.
–William: Não posso negar que você está certo. E já que parece tão curioso, posso até lhe dizer o motivo: Samantha e Fernand possuem motivos fortes para estar aqui, eles têm seus ideais para proteger e estão lutando de livre e espontânea vontade.
–Ent: E quanto a você?
–William: Eu não escolhi estar aqui, estou lutando porque essa é minha obrigação e nada mais. Mas isso é necessário para que eu consiga o que quero, portanto não vou dar as costas para um inimigo que me desafia.
–Ent: Vejo que você é um guerreiro que luta sem liberdade. Não é muito diferente de nós que pertencemos à Rosa Branca. Porém, lamento informar que você nunca vai alcançar o que deseja dessa forma.
Sem paciência para prosseguir a conversa, William cortou parte da raiz gerada por Ent e então avançou contra o velho.
–Ent: “Alguém que não coloca toda sua alma em seu objetivo, que vive apenas por viver sem se dedicar ao que faz, jamais vai alcançar seus sonhos.”
O guerreiro da rosa branca permaneceu parado enquanto seu adversário encurtava a distância entre os dois, prestes a atacar com suas espadas.
–William: “Ele não vai desviar...?”
–Ent: “Eu queria ter percebido isso mais cedo. Talvez assim não tivesse jogado tantos anos da minha vida fora... “
Valendo-se novamente de um corte cruzado, William atacou sem remorso. Porém, sem que ele percebesse a tempo, as raízes robustas de Ent saltaram do chão e se prenderam aos braços do velho. As lâminas foram detidas pela resistente madeira.
–Ent: Eu sinto um pouco de simpatia por vocês, mas infelizmente não posso deixá-los escapar.
Com um golpe rápido de joelho, Ent fez William soltar suas espadas e cambalear para trás. Em seguida, liberando as raízes que o protegeram, o velho saltou e chutou o adversário pelo lado, derrubando-o.
–Ent: Vocês cometeram crimes demais.
Ent deu dois passos para trás e se virou, pois havia notado que alguém se aproximava. Yasmin, Luna e Karin subiam lentamente o pequeno morro, um tanto surpresas com a situação em que o local se encontrava. A manipuladora das chamas continuava sem armadura e a única mudança significativa em seu visual eram luvas de couro sem dedos e um colete do mesmo material.
–Luna: Parece que chegamos tarde.
–Karin: Verdade, nem vamos ter que lutar.
–Yasmin: Quem diria que um dia eu veria o grande William Storde caído diante de um inimigo. Não esperava isso de você.
–William: Maldição...
–Ent: Quem são vocês?
–Luna: Não se preocupe, somos amigas. Inclusive, esta moça de cabelos castanhos é a Capitã Yasmin Pyrath.
Ignorando o velho, Yasmin deu alguns passos em direção a William, fitando-o com desprezo.
–Yasmin: Isso é o que acontece com quem pensa que está acima de todos. Você está acabado, William.