O pseudodragão avançava sem medo na direção de Karin, certo de que conseguiria uma refeição deliciosa. Luna e Yasmin, percebendo as intenções da criatura e desesperadas para ajudar a menina, avançavam para interceptar a fera. Porém, esta já estava perto demais de seu alvo.
-Luna: Saia daí, Karin! RÁPIDO!!!
-Yasmin: “Maldição, não vai dar tempo!”
O monstro abriu sua mandíbula, pronto para abocanhar Karin. A menina, paralisada de medo, preparou-se para sentir uma dor excruciante e fechou os olhos. Porém, um forte baque, seguido do som de árvores se partindo, a despertou para a realidade.
-Karin: Eu... estou viva...?
-???: Menina imbecil. O que pensa que está fazendo num lugar como esse?
Diante de Karin estava um homem alto e musculoso, de cabelos castanhos e rebeldes. O estranho vestia roupas simples com alguns poucos rasgos, passando a impressão de que se tratava de um selvagem.
-Karin: Você é...
-Yasmin: Tio!
-Kenoh: Do que você me chamou, sua pirralha?
Kenoh, ignorando Karin, aproximou-se de Yasmin, visivelmente irritado pela forma com que a capitã se dirigiu a ele.
-Kenoh: Espere um minuto, você me lembra alguém...
-Yasmin: Eu sou a filha de Agas Pyrath, seu irmão.
Antes que a conversa pudesse continuar, o som causado pelo pseudodragão que tentava se levantar atraiu a atenção de todos. Porém, a criatura afastou-se o mais rápido que pôde, visivelmente intimidada por Kenoh.
-Luna: Foi incrível. Ele derrubou aquele monstro com um único soco. E ele se aproximou tão rápido que nem consegui acompanhar os movimentos.
-Karin: Então esse é o tio da Yasmin!
Enquanto as aliadas da capitã observavam, estupefatas, o único humano residente em Everdread, este demonstrava não parecer muito contente com as visitas.
-Kenoh: Aquele desgraçado, por que não ficou de boca calada? No mínimo deve ter contado para metade do reino que agora eu vivo aqui.
-Yasmin: Desculpe atrapalhá-lo, tio, mas eu gostaria de lhe pedir um favor. Nós precisamos nos tornar mais fortes para derrotar um grupo poderoso de inimigos. Será que você poderia nos treinar?
-Kenoh: Sem chance. Vá pedir ao seu pai, porque eu não pretendo perder meu tempo com vocês.
-Yasmin: Mas tio, até meu pai diz que você é o Pyrath mais forte de todos!
-Kenoh: Como é mesmo o nome da sua mãe?
Surpresa pela mudança súbita na conversa, Yasmin resolveu responder a todas as perguntas de seu tio, na esperança de isso o deixasse mais disposto a aceitar o pedido.
-Yasmin: Iris...
-Kenoh: Ah sim, eu me lembro. Mulher insistente aquela, acho que Agas nunca venceu uma discussão que teve com ela.
O homem se afastou, caminhando lentamente. Então, deixou escapar um suspiro de irritação e cedeu.
-Kenoh: Se eu disser que não você provavelmente vai ficar me perseguindo pela floresta. Muito bem, já que quer tanto assim ser treinada, eu vou lhe ajudar.
-Yasmin: Muito obrigada!
Entusiasmadas com a resposta de Kenoh, as três garotas não notaram a expressão levemente sinistra dele até que este revelou uma condição.
-Kenoh: Porém, se querem se tornar mais fortes, primeiro precisam ser fortes. No centro dessa floresta há uma árvore com um tronco anormalmente grande. Se querem minha ajuda, devem chegar até lá com suas próprias forças.
-Yasmin: E para isso teremos que encarar as criaturas da Floresta Everdread, certo?
-Kenoh: Exatamente. Mas já aviso que este é um péssimo lugar para fazer um passeio.
-Luna: Sem problemas! Vamos acabar com qualquer criatura que cruzar nosso caminho, certo Karin?
-Karin: Isso mesmo.
-Kenoh: Hmpf. Vou lhes dar um único conselho: prestem atenção nos seus arredores, mesmo quando estiverem sob o ataque de um monstro. Vocês estavam tão concentradas no pseudodragão que sequer notaram minha aproximação.
-Yasmin: Não se preocupe, tio. Não vamos decepcioná-lo.
-Kenoh: Isso é o que veremos.
Kenoh saltou, alcançando um galho, e então se impulsionou neste, saltando para outro. Logo ele já havia desaparecido da linha de visão das três manipuladoras. Com um sorriso no rosto, Yasmin sacou sua espada.
-Yasmin: Vamos atravessar essa floresta, nem que tenhamos que matar todos os monstros daqui.
-Luna: É assim que se fala!
-Karin: Credo, como vocês gostam de violência...

Agora sozinho, Sol caminhava pelas ruas movimentadas, seguindo em direção ao pilar que deveria proteger. O rapaz parecia despreocupado, correndo os olhos pelo cenário enquanto falava baixo para si mesmo.
-Sol: Eu realmente não sirvo para consolar pessoas que perderam entes queridos. Sei que aquele guarda cujo nome nem perguntei saberá cuidar dessa situação.
O guerreiro da rosa branca deteve-se ao notar uma taverna com uma bela e limpa fachada, indicando ser um local freqüentado por pessoas de classes sociais mais elevadas.
-Sol: Talvez eu deva tornar melhor o dia das pessoas que freqüentam e trabalham neste lugar permitindo que admirem o meu rosto. O pilar pode ficar uma ou duas horas sozinho.
Esquecendo-se de sua missão lá, o rapaz adentrou na taverna com um grande sorriso, já imaginando as reações positivas que receberia das pessoas que lá estavam.

-William: Finalmente chegamos a Siral.
A cerca de meia hora de caminhada da cidade onde Sol estava, o manipulador do vento a observava com cautela.
-Samantha: O pilar se encontra na praça central. Embora isso facilite o trabalho de encontrá-lo, por outro lado é fácil de ser defendido. Possivelmente teremos que lutar contra toda a guarda da cidade.
-Fernand: Sem problemas, deixe-os comigo.
-Samantha: Acredita que aquela menina irritante estará esperando por nós?
-William: Teimosa do que jeito que ela é não há dúvidas. Melhor assim, não vejo a hora de me livrar deste incômodo.

Na Floresta Everdread, Yasmin, Karin e Luna corriam por entre a mata, determinadas a alcançar a árvore indicada por Kenoh o mais rápido possível.
-Yasmin: “Espere por mim, William. Eu vou superar este desafio e, quando nos encontrarmos novamente, vou lhe dar a punição que merece.”

Fechando os olhos enquanto o vento balançava seus cabelos e sua capa, William mentalizou a imagem de sua inimiga.
-William: “Mal posso esperar para encontrá-la novamente, Yasmin. E com toda certeza, será a última vez.”