E lá estava eu, passando pelas portas do refeitório na velocidade da luz, com uma mísera esperança de não ter me atrasado tanto assim, tentando em vão esquecer a cena de minutos atrás. E como você pode imaginar, deu tudo tremendamente errado.                                               Como sempre.

Dioniso me encarou ao perceber minha entrada “discreta”, e surpreendentemente sorriu angelicalmente. Sorri de volta, tremendamente assustada.

- Como dormiu Melyssa? – Ele perguntou com um ar de interessado tombando a cabeça para o lado, fazendo seus cachos loiros balançarem.

Nesse momento, percebi que eu estava realmente ferrada.

Não estava somente atrasada para o café da manhã, como minha noite no Chalé de Hades havia sido descoberta, quebrando assim a regra de dois campistas não ficarem sozinhos em um chalé.

Principalmente de noite, eu imagino.

Mesmo assim, forcei-me a somente assentir com a cabeça desinteressada, como se falar com ele me entediasse.

- Boa, e a sua Sr.D? –Dei um sorriso amarelo que com toda certeza, deveria estar parecendo uma careta terrível.

Ele somente fez um gesto com a mão como se isso não fosse importante, e olhou para algo atrás de mim, ainda com aquele sorriso de palhaço de circo.

- Oh, Nico di Angelo! Esse dia lindo só pode ser resultado de uma boa noite, certo?

Droga.

Nico parou ao meu lado, em frente a Dioniso, ignorando minha presença e assentiu, concordando educadamente.

- Realmente senhor.

Todo o refeitório estava em silêncio, o que não era para menos. O sorriso do deus não deveria assustar somente a mim.

Dioniso encarou Nico por um longo tempo, alternando o olhar em minha direção, e estreitou os olhos por fim, ao ver nosso sorriso “tenho 32 dentes”.

- Muito bem, vão logo pegar sua comida.

Soltei um suspiro de alívio tão alto que Nico revirou os olhos, rindo.

- Não sabe ser mais discreta? – Ele sussurrou em meu ouvido, enquanto íamos nos servir. Pude sentir o cheiro de seu sabonete graças a proximidade. 

Era bom.

Era decididamente bom. 

O que diabos estou pensando? Quer dizer, era normal sabe... para um sabonete. Não que pelo fato dele estar em Nico di Angelo interfira em minha opnião. Afinal, era só a porcaria de um sabonete.

- Não quando eu não me lembro de droga nenhuma da noite passada. – Murmurei já me irritando com aquele garoto irritantemente bonito, que sorria de uma maneira irritável, mostrando suas covinhas irritantes, e com um cheiro bom que me irritava.

Epa! Corrigindo, um cheiro absolutamente normal.

Ele soltou uma risada baixa, e deu de ombros, servindo-se aos montes daquela comida que tinha um ótimo cheiro. Fiz o mesmo.

- Relaxe, não aconteceu nada. Você só desmaiou, e como não queria ir para seu chalé, te levei para o meu. – Esclareceu.

- Dormimos juntos? – Arregalei os olhos, tremendo inconscientemente.

- Não. – Ele riu, aproximando-se de mim, mas afastou-se logo em seguida murmurando algo.

Suspirei novamente, sentindo um peso ser retirado dos ombros. Após jogar minha comida na fogueira, caminhei para a mesa de Poseidon, sentando-me.

Porém, num rompante, Quíron chegou trotando levemente transtornado. Ele trocou uma conversa silenciosa com Sr.D, e parou em frente a mesa central, chamando a atenção de todos.

- Campistas, uma nova missão foi solicitada. – Ele murmurou olhando uma folha de papel em suas mãos, fazendo com que cochichos se espalhassem pelas mesas do refeitório. – Quero que compareçam na Casa Grande agora mesmo os semideuses: Percy Jackson, Annabeth Chase, Nico di Angelo, James Bennet, Evelyn Clement e por fim...

- Como assim? – Falei em voz consideravelmente “baixa”, interrompendo-o, entretanto, a culpa não é minha que todo o refeitório tenha se calado subitamente. Mas a questão principal era que Evelyn não podia ir para droga de missão nenhuma. Era nosso trato. Nunca se arriscar pelos deuses.

Quíron me encarou sério e pude ver todos os milhares de anos vivenciados pesarem em seu olhar. Ele baixou o rosto para a folha mais uma vez, como se não acreditasse no que estava lendo.

O centauro me fuzilou novamente, mostrando um breve lampejo de pena, mas voltando ao seu estilo “sou imparcial” segundos depois.

- Melyssa Mitchel. – Terminou catastroficamente.