Treze de Junho escrita por themuggleriddle


Capítulo 8
Treze de Junho


Notas iniciais do capítulo

tema: envelhecer



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Três décadas e oito anos. Trinta e oito. Trinta e oito anos, dois perdidos e dezessete arruinados. Ele poderia dizer que vivera do jeito que sempre quis em apenas dezenove dos seus trinta e oito anos de vida. Os seus dezenove primeiros anos, nos quais nada o assustava, nada o marcava... Se ele soubesse o que o esperava mais tarde em sua vida... O que? O que ele faria? Tentaria mudar as coisas? Aproveitaria os dezenove anos que tanto amara?

De qualquer maneira, já havia se passado trinta e oito anos desde que ele nascera e isso era um bocado de tempo. Tempo demais em sua opinião. Sua mãe ainda costumava dizer que ele era novo, que tinha a vida inteira pela frente, mas o homem sabia que aquilo não era verdade... A época de ele aproveitar a vida já havia passado fazia tempo.

“Posso perguntar a razão dessa sua expressão avoada?” O homem virou-se para ver a Sra. Riddle aproximando-se dele, sorrindo.

“Mãe.”

De certa maneira, Tom invejava os seus pais. Thomas e Mary, apesar da idade, continuavam com o mesmo ar jovial, com a mesma disposição de sempre... E, é claro, eles tinham um ao outro.

“O que você faz, querido,” a mulher perguntou, sentando-se ao lado do filho no sofá da sala de visitas e tocando o rosto deste com a ponta dos dedos. “Para parecer mais novo a cada ano que passa?”

“Acredito que estejamos confundindo as coisas, mãe.” O homem riu. “Creio que seja você quem consiga realizar tal façanha.”

A Sra. Riddle riu, balançando a cabeça e deixou a sua mão acariciar os cabelos escuros do filho. Tom sorriu, tentando entender como Mary conseguia, de uma forma tão simples, fazer com que ele se sentisse anos mais novo... Um simples gesto que era capaz de levá-lo novamente até a época em que ele não tinha mais de um metro e sessenta e a coisa mais complicada em sua vida era uma conta na sua tarefa de matemática.

“O que é isso aqui?” O homem ouviu a senhora falar, passando os dedos pelos seus cabelos com mais calma. “Tom, Tom, Tom... Olhe só o que eu achei.”

“O que foi, mãe?” Ele riu, vendo um sorriso aparecer nos lábios da outra.

“Espere só um minuto... Oh, dois!” Mary riu, antes de puxar a mão para longe. Tom se encolheu ao sentir os dedos da mãe arrancando um fio de cabelo de sua cabeça. “Olhe.”

Estreitando os olhos, Riddle conseguiu enxergar o que a outra estava segurando entre os dedos longos e finos. Um fio de cabelo. Um fio do seu cabelo. Um fio branco do seu cabelo.

“Não...”

“Sim.” A mulher riu. “Não se preocupe, eu deixei o outro aí.”

“Tem outro?” o homem perguntou, levando a mão até a própria cabeça.

“Tom.” A senhora segurou a sua mão e a abaixou. “É só um fio de cabelo. Sua cabeça está cheia deles.”

A mulher fixou os olhos azuis escuros nele por um tempo. Um sorriso sutil brincava em seus lábios enquanto ela prosseguia analisando o filho com o olhar.

“Tom...” A voz dela saiu baixa e gentil quando ela finalmente falou, pegando a mão do mais novo outra vez. “Pare com isso. Pare com esse desespero. É só um fio de cabelo branco... Isso não significa nada. Olhe para mim! Quantos desses você acha que eu tenho aqui?” Ela balançou a cabeça levemente. “Se eu fosse me preocupar com cada um deles, já teria tido um ataque nervoso.”

O homem ficou em silêncio, apenas olhando para o rosto da outra. Como ele sempre percebera, Mary Riddle, apesar da idade, continuava bonita e elegante da mesma maneira em que era quando mais nova. Eram poucas as diferenças que lhe vinham a cabeça quando ele tentava comparar a imagem da mulher que o ensinara a ler e escrever e a mulher que estava parada na sua frente naquele exato momento. Ela era a mesma. Cabelos escuros ou brancos, pele lisa ou com rugas... Mary sempre fora e, aos seus olhos, sempre seria a mesma mulher linda que dera um jeito de prender o olhar exigente de Thomas Riddle.

“Não me diga que você tem medo disso, Tom.”

“O que?” O homem foi retirado de seus pensamentos pela voz calma da mãe.

“Eu perguntei se você por acaso tem medo de envelhecer.”

Riddle permaneceu em silêncio. Ele tinha medo de envelhecer? Ou será que era mais um tipo de remorso por não ter aproveitado a vida que tivera até agora? Ou um medo de não conseguir fazer tudo o que queria na vida?

“Eu...” O homem ficou o olhar na mãe, perguntando-se o que se passava na cabeça dela naquele exato momento. “Eu não quero envelhecer.”

“É claro que quer, querido.” A mulher sorriu. “Você quer viver, quer fazer mais coisas na sua vida... E, para isso, você tem que envelhecer.”

Tom retribuiu o sorriso e observou enquanto a mãe se levantava e, sorrindo uma última vez para ele, saía da sala de visitas. Agora que estava mais uma vez a sós, Riddle deixou-se encostar no sofá, passando uma mão pelo cabelo escuro e suspirando pesadamente enquanto olhava para o nada. Sua mãe não entendia. Na sua cabeça, ele não tinha mais tempo para fazer mais muita coisa na vida... Então, a única coisa que ele queria mesmo era poder voltar no tempo e consertar tudo o que estragara a sua vida e não, definitivamente não, envelhecer.

Pelo menos uma vez durante aqueles dezenove anos quase amaldiçoados que se seguiram após o fiasco com Merope Gaunt, um desejo seu fora realizado. Trinta e oito anos e um mês fora o máximo que Tom Riddle envelhecera.


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