Final Destination - You Never Know escrita por VinnieCamargo


Capítulo 18
Capítulo 18 - Going Under


Notas iniciais do capítulo

Aqui vem o capítulo 18.
Até pensei em mudar a classificação da fic para +18, mas como eu tenho 16 (17 atualmente), seria muito idiota da minha parte.
E vocês devem ter menos de 18 também...
É um capítulo grande eu sei, mas leiam com atenção, vale a pena mesmo. Vão descobrir os sinais e tals..
Antes de comentar aqui ou na comu, leia até o fim.
Não sei mais o que escrever aqui.



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Capítulo 18

Going Under

2 de junho de 2008


E estranhamente teve outra sensação boa ao acordar na manhã seguinte.  "Tomara que seja um pressentimento" Torceu, enquanto calçava os chinelos. Ele era o próximo na lista. Será que ele tinha cometido algum erro e não tinha percebido? E se ele não fosse o próximo?

Repassou todas as informações em sua mente, ele era o próximo e não havia outro jeito, e ainda sentia aquilo mesclado com as sensações boas.

Andou até a mesa do celular e puxou o cabo sem dó. Ligou o celular, que já estava carregado, quantas ligações importantes ele poderia ter perdido?

Uma nova mensagem de Julie surgiu na tela:

"Peter está bem e não quebrou a perna, só torceu. Ele sai hoje. Depois do almoço, no hospital do centro, eu e Susan vamos o pegar lá, preciso te falar algo também. Se quiser ir.. . Tome cuidado e dê notícias. "

Incrivelmente, de início, James sorriu.  Julie sempre mandava mensagens completas. Ela já tinha mandado oito mensagens em seguida a James, pra contar tudo sobre uma discussão com Susan, anos atrás.

James ficou curioso mesmo sobre o que Julie tinha pra falar. Será que era sobre a noite anterior? Talvez ela também gostasse dele, do jeito que ele gostava dela? James jurou que se Julie não fosse lhe contar algo, ele não iria buscar Peter. Hospital e centro de São Francisco não são os lugares mais seguros do mundo, qualquer um sabe disso, mas James sentiu que deveria ir, e o porquê daquela sensação, ele nunca descobriu. 

Concentrou-se no mais importante, Peter vinha depois de James, mas qualquer coisa poderia acontecer com eles naquelas circunstâncias e em um hospital? E vai que a morte dê à louca ou trapaceie: nunca se sabe os planos de algo desconhecido. .

Hesitou, pensou até suar.

"Sim Julie, eu vou" E enviou a mensagem.  Era perigoso? Sim, James tinha consciência disso, mas era a coisa a fazer naquele momento.

Questionou-se se Peter teria ficado bravo ele não tinha dado notícias naquela última noite e seu telefone passara a noite desligado.

Foi ao banheiro e quando voltou viu todas as ligações perdidas dos três. Ele retornaria mais tarde.

Ao escovar os dentes, percebeu no espelho como seu rosto estava coberto de pêlos, barba, mal teve tempo pra pensar nisso naquelas duas últimas semanas.  Seu rosto já foi liso antes.  "Não" à lâmina, é claro. Naquele momento pelo menos, gilete era a última coisa que James gostaria de ver.  Talvez aquela barba o deixasse um pouco sexy.  Será que Julie fez tudo aquilo por causa da barba? Sim, James estava viajando.

Desceu as escadas com cuidado, passou direto pela sala e entrou na cozinha.  Tomou o seu café da manhã com o cheiro do cigarro de Christine perfurando o resto dos pulmões que James ainda tinha.  Ele riu um pouco com os assuntos de sua mãe e os problemas com os cartões de crédito. Não o dinheiro, os cartões mesmo.

Uma foto no jornal sobre a mesa, em preto e branco, chamou a atenção de James.  Era a Golden Gate.


"Possíveis causas do desastre na Golden Gate"

Não é de hoje que a prefeitura recebia avisos de rachaduras ou estalos na Golden Gate.

Essa ponte, desde que eu nasci, me lembro do meu pai dizendo que ela precisava ser totalmente reconstruída.  Não de uns reboques de tinta feia que passam todo ano pra dizer que estão fazendo algo.  Sim: uma reconstrução total.  Abaixar e erguer de novo.

No dia dez de maio, aquele dia em que houve ventanias fortes e chuvas, eu estava atravessando ela de carro com minhas filhas, e simplesmente eu ouvi um estalo forte e senti meu carro balançar.  E minhas filhas também sentiram. Todos sentiram e avisaram a prefeitura, que meus caros leitores, não fez nada em relação a isso.

Fiquei ainda mais tenso naquele mesmo dia quando ouvi na TV sobre possíveis terremotos na Califórnia.  Eu juro que pensei na Golden Gate, será que ela aguentaria mais um terremoto? Não aguentou.  Três dias depois, um terremoto de 5.0 graus, isso mesmo, que naquele dia o apelidaram de "um dos mais fortes dos últimos tempos" derrubou a nossa Golden Gate.  As casas o redor da região não foram afetadas nem um pouco, mas a ponte sim.  E centenas de famílias também.

No primeiro baque do chão, apenas houve o estrondo, no segundo, a ponte se deslocou para a direita e as estruturas para a esquerda.  Foi assim que ela se rachou toda, mas incrivelmente, ainda ficou de pé, apenas balançando.  No terceiro baque, a ponte abaixou muito, em relação aos cabos, que a manteve suspensa durante todos esses anos, e então os cabos se esticaram ao máximo, até romperem.  Alguns lá de cima, outros lá de baixo, e foi aí que ela começou a balançar violentamente, derrubando os carros, e as pessoas.

Restaram treze cabos de cada lado, em toda a extensão da ponte, exatamente treze cabos, em que a ponte com o devido equilíbrio, parou de balançar. Agora sim ela estava suspensa.  O asfalto do lado de Sausalito se rompeu e seguiu acabando com a ponte num desmoronamento espetacular, como peças de um dominó, até chegar do lado de São Francisco. E estava acabado pra todos.  O desastre destruiu 365 vidas, e milhares de famílias.  Trabalhadores, turistas, estudantes . . . pessoas.  Que sempre confiaram naquele monstro vermelho e enorme de ferro.

A Golden Gate deveria ter aguentado a um terremoto muito mais forte do que um de 5.0 graus.  Já tinha aguentado antes, e por que não aguentou agora? Acho que isso se deve ao fato de que, os últimos três prefeitos trocaram os antigos materiais de primeira nas constantes reformas por materiais vagabundos.

Um dos meus leitores, que estava na ponte na hora do acidente e sobreviveu. me escreveu que enquanto corriam na ponte a pé, era possível ver parafusos e cabos atingindo as pessoas.

Espero que encontrem os corpos que ainda estão desaparecidos, em respeito a todas as famílias, e que a prefeitura e o governo, tomem as atitudes certas em relação à reconstrução da nossa Golden Gate. "

Zach Miller, São Francisco News.


Uma dúvida que James tinha, mas tinha pensado pouco era sobre como a Golden Gate tinha desabado. Mas agora ele sabia, ou pelo menos tinha uma idéia. Ele teve aquela mesma sensação ruim ao ler cada palavra. Ele se lembrou de seus amigos morrendo, de Julie sendo tragada em meio aos carros e concreto, e depois ele, cada vez mais próximo à lataria de um carro.

–Você leu? - Christine perguntou a ele e apontou para o jornal.

–Li sim. Foi o que aconteceu mesmo, pelo que eu me lembro.

–Deve ter sido pesado, ver tudo cair. . .

–E como foi. . .

Christine concordou com a cabeça e se sentou, mudando de assunto.

–Já se fazem dois meses que seu pai não liga.

–Eu sei.  - James disse e suspirou.

Talvez ele pudesse falar com seu pai sobre aquilo tudo. Robert amava histórias de terror, mas agora, James sabia que se Robert aparecesse ali, a "morte" seria o último assunto que James comentaria com seu pai. A distância e o tempo, simplesmente tinham apagado tudo o que eles mal tinham construído algum dia. James não sentia a falta dele. Christine também, mas parecia que só dizia aquilo por que ainda não tinha se conformado. Ela só não o buscava por orgulho. E ela não o amava mais. 

–Vai sair hoje James?

–Vou com as meninas buscar Peter no hospital.  - Christine começou a fazer aquela cara de preocupação, Peter também era como um filho pra ela, e ela não sabia ainda de tudo aquilo, então James a acalmou, um pouco.  -Não, não, ele tá bem, foi só uma queda.

Ela pareceu se acalmar um pouco.

–Vocês querem que eu leve vocês?

–Ah não, não se preocupe, é o hospital do centro, pertinho. . . A gente pega um táxi se for preciso.

–Você é quem sabe então.  – Pausou – Então Peter está bem mesmo?

–Sim mãe, foi só um tombinho.

–Que seja então.  Dê notícias.

Christine lavou as mãos, pegou a bolsa, e a chave do carro.

–Aonde a senhora vai?

Christine se engasgou ao dizer que iria à casa de uma de suas amigas.

–Ah, ok então, divirta-se  – James disse, sem tirar os olhos do seu café.

–Não se esqueça de deixar a chave da casa naquele lugar, ok? – Christine disse séria.

–Ah, é claro.

Christine estava prestes a abrir a porta e parou abruptamente.

–Que droga, esqueci do seu almoço. . .  – Ela pareceu desapontada.

James iria se virar, não queria ser o estorvo.

–Ah, não se preocupe, eu dou um jeito.  – Concordou com seu próprio comentário, balançando a cabeça positivamente.

–Jura?

–Eu juro mãe, vá!

Christine sorriu e saiu correndo.  Pelo barulho do motor do carro ligando, James percebeu que ela correu da porta até a garagem em questão de segundos.

"Hum" – James soltou confuso.  Ao contrário dele, sua mãe estava feliz.

E lógico que James não iria se virar com o almoço, ele nem deveria sair de casa.  Deveria ter olhado duas vezes em todos os alimentos que comera no café da manhã. Ele não estava tomando todos os cuidados que realmente precisava.  E sabia disso. Sabia também que a morte adorava uma platéia. Em quase todas as mortes, havia várias pessoas ao redor, pelo menos alguém.  Pra ver o trabalho dela sendo feito da maneira mais cruel, talvez?  E ali no hospital, ela sim teria uma platéia.

Com muito cuidado, lavou a louça que usou e sentou se no sofá da sala.  Ligou a TV e assistiu o que apareceu na tela.

Era estranho pensar que em questão de horas, você poderia morrer.  Olhar tudo ao redor, como se fosse à última vez, sentir alguns cheiros familiares, por uma última vez. Arrependeu-se de não ter abraçado Christine quando ela saiu, ele mal se tocou de fazer aquilo.


O horário de buscar Peter chegou mais do que depressa, então ele saiu pela casa, andando cômodo por cômodo, como uma despedida.  Ele não conseguiu chorar mesmo.  E ele tentou. 

Ele deveria estar em prantos no chão da sala, e não sentia a mínima vontade de fazer aquilo.  Então ele simplesmente desistiu de fazer aquilo.  Um motivo era que, ele não sentia nada mesmo, parecia que ele estaria de volta ali em breve, voltaria salvo do hospital? Outro motivo era que ele estava mesmo jogando as cartas pro alto, desistindo de sua vida? Admitiu logo, que isso estava muito errado da parte dele.  Era errado pensar assim.  Despedidas não iriam funcionar agora.

Trancou a porta, deixou a chave no mesmo lugar de sempre e saiu.  Tomou mais do que o triplo de cuidado o atravessar todas as ruas.  Ligou a Julie, pra saber aonde iriam se encontrar, não havia acertado isso, pelas mensagens.  Não é muito difícil de imaginar que se encontrariam em frente ao café.

James sorriu ao vê-las paradas em frente ao Golden Gate Coffee, o esperando.  Elas fizeram o mesmo.

–Você tá bem Jay? Mas que droga o seu celular hein? – Julie disse irritada.

–Tava sem bateria, me desculpe.  Ah, estou bem sim.

–Não houve nada estranho a noite? – Susan perguntou, James sabia que ela se referia à morte.

–Não Susan.  Ainda sou o próximo.

–Quem sabe não acabou? – Julie perguntou – Quem sabe ela não desiste ao chegar à pessoa que teve a visão?

–As coisas não são assim Julie.  E sinto que sou o próximo.

–Acho que seria melhor você ter ficado em casa.  – Susan disse.

–Você acha? – James perguntou irônico.

–Ah, desculpa então James por ter te tirado de casa.  Se você quiser, a gente te leva de volta.  – Julie disse se arrependendo de ter o feito chegar ali.

–Não, não precisa.  Estou bem.  E sair um pouco de casa me faz bem, mesmo que eu esteja correndo um risco enorme.

–Ok então.  – Julie disse e olhou pro chão.  James se perguntou se ela tinha pensado sobre a noite anterior, o tanto quanto ele.

–Vamos de táxi? – Susan perguntou, apontando para um taxista em frente a um táxi.

–Não sei se deveríamos Susan.  – Julie disse – O que você acha James?

–Bem o hospital fica a um quilômetro daqui, que tal se fossemos andando? – James disse tenso – Peter vai esperar – Descartando a idéia do táxi.

–Tô precisando mesmo perder uns quilinhos – Susan disse e deu tapinhas em sua barriga extremamente magra.  Ela estava brincando.  Andou em direção ao taxista e disse:

–Seu William, a gente vai a pé mesmo, desculpa.

O taxista era um homem gordo, parecia que tinha preguiça de trabalhar devido a cara que fez a Susan.

"Ah, acabou meu turno mesmo, vou vazar pro bar". . .

Seguiram conversando e andando bem devagar.  James ficou até mais feliz por ter saído de casa.  Elas estavam sendo bem legais com ele.  Já eram, mas estavam ainda mais.  E Julie tinha algo a dizer pra ele, mas quando, ele não sabia.

James olhava atentamente para a rua quando ouviu Susan gritar.  Abriu os olhos e Susan apontou para uma coxinha de frango caída no chão e uma mancha de óleo em seu rosto.  Eles estavam embaixo de um prédio em construção e provavelmente alguém jogou pro alto o resto do almoço.

–Merda, que nojo.  – Susan disse com uma cara terrível.  – Ela olhou para cima, pareceu que tinha encontrado o culpado da coxinha voadora e deu o dedo pro alto.  James ficou tenso.  Poderia ser outro sinal, mas o que tudo isso tem a ver com uma coxinha de frango, James não se tocou no momento.

Quando se deu conta, estava na esquina da rua do hospital.  Estavam agora numa rua mais movimentada de São Francisco. Entraram na rua e a entrada do hospital, era lá no fim.  O hospital era enorme, ocupava todo aquele quarteirão e ainda mais um pouco do outro.

James sempre que se deparava com o hospital, olhava par cima, para checar a altura. Era automático.

–Oi? – Olharam para o lado e era Emma.  Aparentava estar saudável mas ainda tinha aquela expressão pesada no rosto.

–Emma, o que faz aqui? – Julie perguntou.

–Tava com a minha mãe, ali na farmácia, e agora tô indo pra funerária ali na frente.  – Olhou para o chão – Combinei com a mãe de Michael. . .

–Ah sim, sei.  – James interrompeu – Sentimos muito Emma.

–Eu sei. Obrigado por ontem James.  Err, aonde vocês vão?

–Vamos buscar Peter.  Ele se machucou um pouco ontem.  – Susan disse.

–Mas ele tá bem?

–Tá sim.

–Olha, a funerária é ali perto da entrada do hospital, posso ir com vocês? - Emma perguntou.

–Claro que pode, vamos.

Seguiram em silêncio, Emma tirou o celular da bolsa e começou a teclar, provavelmente mensagens.

Estavam quase lá, então James tropeçou na calçada, mas se segurou num poste de luz, e os quatro olharam assustados para a lâmpada, envolta por um globo de vidro, lá em cima, que estalou e balançou loucamente.

–Ok, isso foi muito tenso.  - Susan disse.

–Isso foi um sinal, não é? - Julie perguntou.

–Com certeza.  Mas não acho que essa queda na calçada me mataria.

Emma se despediu dos três e saiu em direção a funerária. Ao atravessar a faixa de pedestres, voltou a mexer no celular e se chocou com um mecânico, que derrubou um litro de óleo na rua, que estourou.

–Ah, desculpa mesmo, eu pago moço, desculpa.

Os três observaram o óleo escorrendo no asfalto, e depois Emma entregando dez dólares ao mecânico, visivelmente estressado.

–Isso pode ser perigoso  - James disse, olhando para o óleo.

–E como.  - Julie disse tensa - Vamos.

Atravessaram a rua e passaram pelas portas automáticas da entrada e logo chegaram a recepção do hospital.

–Peter Burke, por favor?

A atendente checou o computador e disse:

–Décimo terceiro andar, quarto 180.

"Merda" James exclamou, e elas olharam assustadas a ele.  "Desculpa".

Subiram as escadas. Para o bem de James e desespero das meninas e com muito descanso, chegaram ao tal do quarto 180.  Todos no quarto estavam bem, visivelmente. E por esse fato, James concluiu que Peter também estava.

Peter estava sentado na cama, de costas a eles olhando para a janela entreaberta.

Peter tinha uma boa visão de onde estava. Vestia a roupa do hospital.

–Peter. . .

Mesmo estando atrás de Peter, James conseguiu ver suas feições formarem um grande sorriso. Peter se virou e exclamou.

–Olha, vieram mesmo!

Eles o abraçaram.

–Você tá bem cara? - James perguntou.

–Tô sim, até achei que tinha quebrado a perna, mas não. Só fiquei aqui porque tava com um mal estar.  Tomei soro.  - E apontou para uma manchinha vermelha no braço dele - doeu.

–E seus pais? - Susan perguntou.

–Meu pai tá trabalhando, como sempre, e minha mãe não achou jeito de vir me buscar hoje, e eu falei a ela por telefone que vocês viriam.

Não era novidade a ninguém que Miles, o irmão mais velho e mais inteligente de Peter era o preferido de seus pais. A família Burke, os homens pelo menos, eram todos advogados, médicos ou algo do tipo. O irmão dele estava no tal caminho, estudava em Harvard. Ganhou a bolsa. Ele era dois anos mais velho que Peter, mas na idade de Peter ele já tinha conseguido muita coisa.  Doía fundo em James quando Peter falava de algumas coisas que haviam acontecido em sua casa.  Peter aprendeu a viver com aquele desprezo de seus pais durante todos aqueles anos, então parecia que ele não se importava mais.  Não era justo. Principalmente por que o assunto preferido dos Burke era o Miles, que estava a mais de mil quilômetros.

Peter sorriu e suspirou, olhando para a vista em frente ao hospital.

–Vai ser liberado hoje né! - Julie perguntou e se virou pra observar a vista também. Entreteve-se com um dos letreiros do hospital, que ficava bem em baixo daquela janela.

–Cuidado levar um choque aí! - Peter alertou Julie - Acho que o médico já deve estar vindo me liberar.

"Plóc" Julie riu, conseguiu arrancar um grande parafuso do letreiro e mostrou a eles, rindo. Soltou o parafuso ali no canto.

–E aí cara, você ainda é o próximo, como veio aqui, deveria ter ficado em casa sabia?

–É eu sei - Olhou sério para Julie e Susan.  - Mas achei melhor vir.  É, sou o próximo.

Peter ficou sério.

–Repasse a lista, por favor.

James ficou sério agora, e antes que pudesse reclamar, Peter disse.

–Anda logo, preciso saber de um negócio.

James hesitou, mas decidiu falar logo:

–Eu sou o próximo, e depois começa com vocês de novo.  - Encarou Peter e Susan - depois Emma, Julie e eu.

Peter confirmou e voltou a olhar pela janela.

–Sabe. Eu andei pensando num jeito de acabar com isso.  - Peter disse e suspirou de novo.

–Como? - Os três perguntaram em uníssono.

–Vocês vão saber, na hora certa.

–Só sei que depois que eu sair daqui, eu vou me trancar em casa, até achar um jeito.  - James disse, meio rindo, mas era a verdade. Ele iria revirar a internet, atrás de Ming e outros casos, fazer de tudo para descobrir como parar aquilo.

–Senhor Burke? - Uma voz grossa os assustou. Era o médico.  - O senhor pode ir embora quando quiser - e falou mais alguns termos técnicos que ninguém se preocupou entender.

Os quatro comemoraram rapidamente a notícia e Peter pediu.

–Susan, pode pegar minhas roupas ali naquele armário? - E apontou para um armário branco e grande.

–Ok Peter.

–Segura minhas coisas James - Peter disse entregando o celular, carteira e outros negócios a James - Vou trocar de roupa.

"Bam" Susan abriu o armário e pelo menos vinte ursinhos coloridos caíram do armário, chamando a atenção de todos no quarto.

"Pôneis malditos" Susan disse séria empurrando tudo de volta ao armário. Todos riram.

–Toma essa droga Peter - Ela disse e riu jogando um monte pequeno de roupas que todos sabiam que eram dele.

–Já volto - Peter disse e entrou no banheiro do quarto.

–As pernas dele já estão boas.  - James disse.

–É.

Peter logo voltou, sentou-se cama e disse:

–Olha: não posso me abaixar, quem vai amarrar meus cadarços?

Julie se abaixou e começou a fazer o nó que só ela entendia.

– Não sei amarrar essa droga.

–Vamos? - Peter disse e se ergueu.

–Olha, sei que já disse isso, mas quero que me prometam agora, que tudo o que forem fazer, terão muito cuidado. Todos estão na mira dela e estou até estranhando essa demora, pra. . me pegar.  - James disse.

Todos no quarto olharam tensos, mas ambos entenderam bem.


Desceram as escadas rindo e James não pode esconder a tensão que sentiu ao passar por uma médica com umas seringas. James até mudou seu rumo, só pra ela atravessar. Peter e elas ficaram sérios.

–Ele está certo - Peter disse - Eu faria o mesmo.

Atravessaram outra vez as mesmas portas automáticas e pararam em frente ao hospital.

–E agora? - Julie perguntou - Aonde vamos?

–Não sei, será que deveríamos ir ali à funerária, e sei lá, chamar Emma para tomarmos um sorvete? - Julie disse.

–Emma? - Peter perguntou.

–Sim, ela tá ali na funerária.

–Seria bem estranho, sair da funerária pra tomar um sorvete - Susan disse e riu.

–Só quis achar algo pra fazer.  - Julie disse triste.

–De qualquer jeito, eu acho melhor, eu ir andando.  - James disse e no momento em que pisou na rua, sentiu alguém agarrar sua blusa e o derrubar na calçada - Julie gritou - Um táxi passou a uma velocidade assustadora - Iria atropelar James.

James olhou assustado para ver quem era o seu salvador. Era Susan. Ela levou a mão à boca, assustada com o que tinha feito. E James se virou, assustado, encarando Peter, que era o próximo.

"Sim, é isso mesmo" Peter disse e saiu correndo, pisou no tapete em frente ao hospital, a porta se abriu, ele virou para trás e disse:

"Isso é para vocês"

 Peter entrou no hospital, Susan gritou e todos eles o seguiram até a porta do hospital se fechar com força, devido a força do impacto com que James pisou no tapete. Faíscas se soltaram lá de cima e James não foi capaz de abrir.

"Merda!" James gritou e as meninas começaram a se perguntar preocupadas o que Peter iria fazer.

James deu várias cotoveladas e chutes no vidro, que mal se mexeu, e lá dentro, os funcionários gritavam algo a ele.

Então nesse momento, ele soube o que Peter iria fazer. E iria o impedir.

Então James recuou até onde pudesse ter uma visão do prédio inteiro e olhou para o alto, esperando Peter aparecer no parapeito do hospital.

–Mas o quê? - Susan gritou e começou a chorar olhando para o alto e recuando cada vez mais, até mais do que James.

James olhou de novo, mas a porta do hospital ainda estava trancada.

A cabeça de James voltou a doer. O corpo de Peter apontou lá em cima. Nesse momento todos começaram a gritar, para que ele não pulasse. Peter achou que o suicídio seria a solução. Esse era o plano dele. James ouviu a voz de Emma ao seu lado, então um flashback voltou a acontecer em sua mente. Detalhes esquecidos e até nunca vistos por ele.

O olhar de Julie pedindo a lição, os carros se chocando e corpo de uma das gêmeas caindo, uma lataria atravessando a outra gêmea, Stephanie e Josh sendo arremessados para fora da ponte, o corpo de Oliver se rachando na cerca, sangue de Peter voando em sua direção, sentiu a mão de Susan escapando da sua, o crânio dela sendo partido por um poste, o asfalto ruindo, uma explosão engolindo Emma e Michael, Julie caindo e ele na direção de um carro.

Recobrou a consciência num choque, mas se viu preso sendo engolido em outro flashback antes de poder reagir.

Sarah em algum lugar conversando com um homem numa cena que James nunca havia visto, depois ela parada no shopping e o ventilador a devorando, Stephanie empurrando o balanço que parou lá em cima e se voltou contra ela, sua cabeça ensanguentada afundando no ferro, Josh bêbado e em seguida sua cabeça rolando na vitrine, a explosão da panela, e o pedaço cinzento do cérebro de Oliver preso no garfo, Peter e Susan presos dentro da lavanderia, como se James estivesse lá, Peter e Susan caindo sobre ele , Michael virando cerveja em seu braço, Emma colocando um vergalhão na beira da janela, a motosserra escorregando da mão de Michael e cortando seu pescoço, James sentiu o vergalhão raspando em sua costa, a mangueira, Peter salvando Julie, o táxi seguindo sem eles, ele tropeçando e entortando o poste, Emma derrubando óleo na rua, Julie soltando o parafuso e amarrando o cadarço de Peter e então as palavras de Ming:  "Ela tem um esquema a seguir" e ele voltou a si.

Foi como se recebesse uma dose de adrenalina. Tudo clareou em sua mente. Ele estava terrivelmente errado.

Haveria uma ligação, um esquema entre elas, e sinceramente, as mortes em ordem eram só um padrão a ser seguido.

O grande esquema era usar eles contra eles mesmos. Praticamente, todas as mortes, eram como um suicídio nunca planejado. Eles guiaram seus próprios caminhos até suas próprias mortes, sem ter consciência disso. A morte brincou com eles, jogando com as armas que eles mesmos tinham. Pareceu que ela usou o suicídio uma forma tão banal de um adolescente morrer com eles.

Nesse momento, James entendeu. Já que o suicídio é algo próprio, de cada um, talvez cada um tenha o seu próprio esquema, que só pode ser destruído por si mesmo. A questão nunca foi salvar todo mundo, é sim salvar a si mesmo. Quem sabe não era evitar o seu suicídio que você nunca planejou?

Como se recebesse outra dose de adrenalina, ele voltou a si. Peter ainda estava lá em cima, indeciso.

A porta do hospital ainda estava trancada. Mesmo que fosse algo insano, puxou o celular do bolso e discou o número de Peter.

Como se fosse à coisa mais normal do mundo, Peter lá em cima puxou o celular do bolso e atendeu, mas sem responder.

–Evite o seu suicídio! - James gritou.

Então as coisas aconteceram como deveriam ser. James nunca soube se Peter o ouviu.

James acompanhou o celular de Peter caindo até estatelar no chão em vários pedaços. Alguém gritou.

Como se tivesse um lance de zoom instantâneo em sua mente, ele enxergou Peter olhar horrorizado para a rua, ali em baixo.

James se virou e viu Susan no meio da rua. Um grande caminhão escuro, descontrolado, seguia em direção a ela. Ela encarou o caminhão cada vez mais próximo dela, mas não se mexeu.

Ela poderia escapar se quisesse, mas não, ela voltou a olhar firme para Peter lá em cima.

Como se pudesse fazer algo, Peter se jogou.

James gritou. O corpo de Peter voava. James viu um dos tênis de Peter se soltar de seu pé e acertar o letreiro do hospital, então a cena até agora lenta se tornou a cena mais rápida, cruel, brutal e dolorosa que James viu e sentiu na vida.

Peter caiu brutalmente sobre Susan, um barulho de ossos se quebrando foi ouvido, um baque e em seguida o corpo de ambos foi atropelado pelo caminhão. Um jato de sangue e algo mais atingiram James, Julie e Emma gritaram. O caminhão não parou e se chocou com algo mais ali na frente, mas os corpos dos dois ficaram destroçados ali na rua.  Misturados, destruídos, irreconhecíveis, embolados em sangue, ossos e tripas, da pior maneira possível. Triste fim.

Emma ouviu o grito de James sobre evitar o próprio suicídio, e foi mais esperta do que um dia James pode imaginar. Ele, tonto, observou a poça de óleo, então o mesmo taxista voltou a toda naquela rua. Sem controle e bêbado.

Terrivelmente, passou com o carro sobre os restos de Peter e Susan, e com o soco, virou o volante, derrapou no óleo e seguiu em direção a Emma na parede do hospital.

Ela sabia o que fazer e então no seu possível último segundo de vida, ela pulou sobre a lataria e caiu do lado mais do que viva evitando seu próprio suicídio. O táxi invadiu uma ala do hospital.

James soube o que deveria acontecer logo em seguida e avistou o letreiro do hospital, que Julie havia soltado um parafuso, e que o tênis de Peter havia afrouxado. Ele se soltou lá de cima, e com tal velocidade adquirida na queda, ele acertou a cabeça de Julie, explodindo.

O corpo dela tombou para frente enquanto o letreiro entre faíscas estourou no chão. Emma gritava e algo mesclo de cabeça, pele, cabelo, sangue, crânio e olho de Julie espirrou sobre James.

James arregalou os olhos e recuou, soltando o maior berro que conseguiu. Coberto de sangue, mal conseguia acreditar em tudo o que tinha acontecido no minuto anterior. Os corpos de Peter e Susan estraçalhados na rua e o corpo de Julie decapitado e esmagado, jorrando sangue ali na sua frente. Pedaços de sua vida, ao longo da rua.

Era o fim mesmo e ele mal soube o que fazer nesses segundos que sucederam. A morte mais brutal aconteceu com as pessoas que ele mais amava. James simplesmente rezou para que outra merda caísse daquele céu maldito e o rasgasse pelo meio. Ele era o próximo, mas simplesmente, não ligava mais para isso. Ele chorava. Mil olhares estavam voltados a ele agora e Emma chorava em qualquer outro lugar ali ao redor, coberta de sangue.

Sem destino nenhum, inconsciente, James se levantou e saiu mancando pela rua, pingando sangue, mas sem nenhum machucado físico.  Não olhou para trás ao se afastar do corpo de Julie. Talvez Emma tenha gritado, talvez. Ele nunca soube. Atravessou a rua, tonto e sujo, sem olhar para os corpos de Susan e Peter. Apoiou-se com força em algo antes de cair no chão. Então se tocou de onde estava. Abriu os olhos e reagiu bem a tempo de ver a mesma lâmpada no mesmo globo de vidro daquele mesmo poste que ele havia se apoiado antes se soltar e indo em direção a cabeça dele. Ele desviou e escapou, evitou seu próprio suicídio. Mal sentiu aquele globo cair sobre seu braço, se estilhaçando no chão, mas antes fazendo um corte enorme no braço dele. Ele estava salvo, finalmente sabia disso. Ming havia lhe falado dessa sensação.

Era essa mesma sensação que ele sentia agora, mas era tarde demais para comemorar. Foi tarde demais quando ele descobriu como acabar com aquilo. James sentiu alguém o tocar, mas já não importava mais.

Então assim, o ciclo da morte se fechou. Não para o mundo, e sim pra eles, aqueles dois. Emma e ele sobraram. Ainda caído no chão, olhou para seu braço que começava a arder. Observou o número 180 estampado na lataria amassada do táxi e viu um filete de seu próprio sangue riscar o asfalto.

Um pingo de chuva o ajudou a fechar os olhos.




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Notas finais do capítulo

Enfim, sim, eu sei que foi forte.
Ainda não acabou!



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