The One escrita por SleepySeven, Lgirlsclub


Capítulo 1
Capítulo Único




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Olhei ao redor. Uma tênue luz entrava pela janela semi-aberta. Essa luz iluminava tudo, chegava a iluminar até mesmo o que eu não queria ver. Ela castigou meus olhos e meu coração. O que raios houve mesmo? Eu apenas não sabia. Passei a mão pela minha testa e respirei fundo. Se eu pudesse apagar certas coisas...

De repente me pego pensando que as coisas se tornaram tão patéticas e rídiculas. Vi desertos, subi montanhas, cheguei a lugares que nenhum homem jamais pensaria em ver em só uma vida. E agora estou eu aqui, de volta, da mesma forma que estava quando iniciei minha jornada: um zé-ninguém miserável, nem um pouco diferente da maioria dos outro homens que encontram-se nas cidades grandes da vida.

Mas o que realmente me faria especial? Aonde fui e quem enfrentei, ou o que eu sou, o que sinto, o que meu coração diz? Muita aventura, nenhum motivo. Apenas vá, enfrente tudo, seja o mais forte.

Do que me adiantou?

Eu apenas consegui isso. Uma casa vazia, um peito vazio. Nada ao meu redor e apenas um raio de sol insistente a me lembrar isso. E raio de sol que me irritava a vista, me obrigando a esticar as mãos na tentativa de tampá-lo. Liguei a televisão para então me deparar com um noticiário chato em que mal prestava atenção. Joguei-me no sofá e fiquei olhando a tela sem realmente ver nada.

Era domingo. Nada pra fazer.

Não sei quanto tempo depois, ouvi o telefone da sala tocar e tive de me levantar. Atendi o telefone dando um pequeno "alô". Era minha amiga de viagem, uma que arrastei comigo, que levei ao mesmo fim. Ela me falava animada sobre quando voltaríamos a viajar. Eu não sei como ela aceitava aquilo tão bem. Talvez para me animar. Cortei-a e perguntei a ela o que ganhamos com tudo isso.

Foram longos minutos de silêncio.

Estava cansado e sinceramente não tinha mais ânimo para ter que abandonar tudo de novo, encaixotar tudo, me preocupar com vistos e me organizar mais uma vez.

Dei uma risada sem-graça e disse que era apenas brincadeira, mas o clima que se seguiu a conversa não foi lá o dos melhores.

 "Você... está bem?" por fim ela me questionou. "Você sabe ... o porquê de estarmos fazendo isso, não sabe? Você...sabe o seu motivo?" Ela soava preocupada. Cocei minha cabeça e suspirei fundo. Os meus motivos? Eu tinha algum? Ao menos algum melhor que eu quero ver o mundo? No momento me sinto como se nada fizesse sentido. Suspirei fundo e comecei a sussurrar um estou bem no fone que de nada adiantou, ela apenas continuava fazendo as mesmas perguntas. Dei uma desculpa qualquer e desliguei, suspeitando que mais tarde receberia mais um telefonema e talvez até mesmo uma visita preocupada. Resolvi então aceitar o convite que meu irmão tinha feito, assim que cheguei de viagem - ele havia me chamado para jantar no domingo na casa dele, com a família toda reunida. Ia dar outra desculpa em cima da hora para não ir, mas me parecia melhor zanzar por aí do que ficar e em casa naquele momento.

Abraços de pessoas que já não pareciam mais me conhecer, risadas e piadas de tempos que pareciam distantes demais. Saí da casa dele já planejando o que dizer para que não tivesse que voltar para lá mais tarde. Cheguei em casa e vi a porta aberta. Já sabia quem estava lá. Lá vamos nós. Já sabia que seria assaltado por perguntas e olhares preocupados pela pequena ruiva que me seguia para onde quer que fosse.

Fingi que não notei a porta aberta ou o casaco dela no sofá, nem os sapatos dela jogados num canto. Logo me deparei com seus olhos sobressaltados me encarando, inquisidores. Dei um "oi" desanimado e não muito bem recebido.

"Quemvocêpensaqueépradesligarotelefonedaquelejeito?"

"Respire", eu disse mais de uma vez para ela, que se aproximou me olhando preocupada. Eu não sabia se eu levaria um tapa ou um abraço. Na dúvida me mantive na defensiva. Ela corou um pouco e abaixou o rosto. "Você está bem? Seja sincero dessa vez, eu já sei quando mente." As frases saíram da boca dela apenas uma vez, mas ficaram sendo repetidas em minha mente. De novo, de novo e de novo. Eu estava bem? "Estou", foi o que respondi. Foi mais um reflexo do que qualquer outra coisa. Um instinto humano programado desde o nascimento para evitar interações sociais desnecessárias. O problema é que sem dúvida não era aquilo que meu rosto certamente dizia naquela hora, pois a vi fazer uma careta preocupada e meio reprovadora.

Eu não estava bem. Com certeza.

"Eu terei que te dar um tapa ou vai falar a verdade pra mim?"

Estranhamente com a mão aberta a ruiva de menos de um e setenta parecia uma gigante. Mas não me assustava. Ela estava preocupada e só. Ela já segurava nervosamente seu cordão, como sempre fazia quando seu coração apertava. Por que ela se preocupava tanto? Abaixei os olhos e lhe perguntei isso.

Mais uma fez o silêncio se fez presente.

O tapa que esperava não veio, mas a cara que ela fez foi muito pior do que isso. Não sei o que ela gritou naquela hora, só a vi pegar o casaco e berrar alguma coisa, preparando-se para sair como um tufão. Segurei-a pelo braço antes que ela pudesse fazê-lo e pedi que esperasse.

-Você está brincando comigo? Há quantos anos? Eu estou cansada. Por favor me deixe ir. - As lágrimas corriam levemente pelo rosto dela e eu não conseguia entender o porquê. Eu não a soltava e ela se deu por vencida apenas abaixando o rosto o máximo que conseguia.

Há quanto tempo? Brincar com ela? Por que isso? Onde posso ter tocado para desesperá-la tanto? Ela.. está bem? Me senti um pouco culpado e penalizado por vê-la daquela forma. E triste. Era triste vê-la chorando. Ainda sem largar seu braço, puxei-a para perto de mim e a abracei, beijando sua testa e sussurrando um "desculpe" sincero.

-Não se desculpe, a culpa não é sua eu não posso obrigá-lo a ...-ela se cortou e se tentou se afastar um pouco. - Me deixe ir... - Ela me olhou, mas logo desviou o olhar. Não queria soltá-la e realmente ainda não o tinha feito. Mas ela negava-se a me abraçar de verdade. Tentava se afastar mas eu não deixava.

E ficamos nesse jogo de gato e rato, esperando que alguém tivesse coragem de falar.

E então, nessa hora, algo de novo nasceu em mim, uma ideia singela e pequena, mas destruídora e um tanto caótica desde sua concepção: eu não queria fazê-la infeliz e isso era da mais extrema importância agora.

Naquele mundo, existiam cachoeiras onde brotavam águas cristalinas de sabor inigüalável, guardadas por senhores e senhoras de idade em montanhas altíssimas. Em um ponto onde o mundo parecia ser só branco de pura neve e o calor parecia ter dado as costas a ele, havia um sol no meio da noite, mas nada daquilo parecia ser impressionante agora.

Ao certo não sabia o que agora crescia em mim. Era algo forte, mais forte do que qualquer coisa que jamais pensara em sentir. Ela se instalava em mim. Eu ora negava e ora aceitava o que ela me dizia. Algo mais surpreendente do que tudo que eu já vira. Meu coração acelerou e minha boca entrou em greve. Eu não conseguia formular as palavras. Manter minha respiração em ritmo normal já era trabalho suficiente para toda a minha concentração.

Sem me olhar, ela repetiu as mesmas perguntas que sempre me fizera todos estes anos,"Você está bem? Você é feliz?" Balancei a minha cabeça a fim de desanuviá-la e a olhei nos olhos que novamente só demonstravam preocupação.

Eu era feliz? Me pergunto o que andei fazendo da minha vida por todos esse anos. Aquilo era felicidade? Não, eu duvido muito que fosse. Ou ao menos não tinha certeza. Felicidade devia ser algo muito maior e infinitamente mais precioso. Fechei os olhos por um momento, soltando um suspiro. Eu não ia suportar mais viver correndo daquela forma.

- Por que não me responde? Todos esses anos não valeram de nada? ... Você... nunca pode se dizer feliz?- Ela lutava novamente com as lágrimas.

Ela sempre esteve ali. Sempre.

Sempre a puxava junto para todo e qualquer lugar e ela sempre dava-se por vencida me oferecendo um sorriso singelo. Mas por quê? Esse nunca foi o sonho dela. Para me fazer feliz? Ao pensar isso, vi algo no olhar dela que me confirmou a resposta, e nesse momento eu me senti pela primeira vez feliz. Verdadeiramente feliz.

Puxei-a para mais perto de mim de novo, depositando agora um beijo em seus lábios, beijo que foi retribuído com um carinho que me acompanhou desde o início de minha jornada, por mais que não o percebesse.

Dali pra frente, viagens somente até a padaria, para renovar o estoque de pão francês e doce de leite do armário de casa. Quem nos visse, diria que éramos um casal tão caseiro, que até ficava brega.

Ela me olhou nos olhos ainda no meu abraço, me sussurrou um eu te amo que respondi com gosto. Que respondi com um eu também, só não havia percebido isso. Ela me perguntou mais uma vez se eu era feliz, e pela primeira vez não tive receio e nem dificuldade para respondê-la.

Sorri para ela e disse que era muito feliz. Muito feliz por ela estar ao meu lado. Muito feliz por tê-la conhecido. Muito feliz por amá-la e ser amado. E nesse momento tudo que eu fiz em minha vida encheu-se de significado, pelo puro e simples fato de ter tido ela ao meu lado o tempo todo.

Puxei-a novamente no que seria nosso segundo beijo, e espero que seja sucessão de muitos mais, por muitos anos. Por toda a minha vida.


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