A Filha dos Raios escrita por Eleanor Blake


Capítulo 23
Traição e lágrimas


Notas iniciais do capítulo

Oi!Tem alguém acompanhando a história?Eu gostaria de um comentário aqui pra saber a opinião do leitor sobre o que ando escrevendo.



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Amanheci ouvindo a chuva bater no telhado e o dia cinza cobrir o acampamento.

Nox dormia em cima de um travesseiro enquanto eu me sentava abraçando as pernas.Tudo doía, não fisicamente,mas não deixava de doer.

Meu coração batia pesado,meu peito apertado me sufocava entre as respirações.

Levantei-me e coloquei botas,uma calça jeans por cima de um moletom preto,prendi o cabelo num rabo e saí pra encarar o dia.

Passei pelo refeitório e todos me olhavam em silêncio como se eu fosse surtar a qualquer instante,a tensão no ar era palpável enquanto eu me sentava no canto mais afastado possível pra comer.

Passei meu dia no campo destruído treinando com a lança até que os movimentos se tornassem automáticos,os pés de moviam ,o quadril impulsionava os movimentos e meus braços giravam e estocavam sem parar enquanto a chuva voltava a cair pesadamente.

Durante todo o dia ninguém veio falar comigo,mas eu sabia que o boato de uma filha de Zeus completamente descontrolada quase arrancando a cabeça de Annabeth circulava pelas cabanas sabe-se lá em quantas versões diferentes.

Até que chocando-se contra minha lança,uma espada dourada veio segurada por um garoto com o sorriso mais imprudente que eu já tinha visto.

Tentei me afastar mas ele bloqueava meu caminho com seu corpo e sua espada dançava na minha direção.

Firmei a lança e com o cabo eu forcei minha passagem jogando o garoto no chão.

—Voce é boa

Sua voz era baixa e tranquila enquanto ele se levantava tentando limpar a lama das calças.

Seus olhos eram verdes,seu cabelo dourado como palha constrastando com a pele queimada do sol e o cheiro de sal que emanava de seu corpo esguio.

Olhei-o de cima a baixo e me virei caminhando pelos troncos queimados.

Pelos roncos de meu estômago deveria ter passado da tarde quando eu ia em direção ao chalé de Ares pra poder chegar ao refeitório.

Até que o que vi me fez parar.

Uma garota loira estava no colo de Lucius que beijava seu pescoço enquanto ela gemia entredentes enrolando seus dedos finos nos cabelos dele.

Respirei fundo guardando a lança e o som fez Lucius se soltar da garota.

Seus olhos se abriram em surpresa enquanto minha sobrancelha se erguia e eu acenava voltando a caminhar.

Ouvi passos conhecidos se aproximando pelas minhas costas e num aceno meu uma árvore queimava com raios que faiscavam pelo chão.

Virei-me ,olhei Lucius de cima a baixo e cuspi no chão.Seus olhos faiscaram enquanto ele bufava sem poder avançar.

Caminhei pelas árvores cada vez mais distante do acampamento até chegar ao velho pinheiro e me deitei em suas raízes.

Eu me sentia entorpecida.

Não senti raiva, não sentia mais fome,o frio da chuva não me afetava enquanto o sol se punha tímido no céu.

Cascos apressados se aproximavam de mim enquanto Grover enrolava seus dedos nos barbantes de uma jaqueta.

—Preciso da sua ajuda -ele murmurou encarando seus pés.

Levantei os olhos até encontrarem os seus e vi urgência ali.

Caminhamos em silêncio até a enfermaria e Dionísio me esperava na porta com Daeria e Percy.

—Voce batalharam ontem não é? - ela perguntou insegura

Concordei com a cabeça enquanto Percy dava um passo pra frente.

—Ela não está se curando,eu não consigo curá-la,parei o sangramento mas as feridas não se fecham.

Suas mãos tremiam,seu rosto mostrava o quanto ele estava cansado e se esforçava pra se manter desperto.

Olhei pra Grover confusa e ele só entrou na enfermaria mantendo a porta aberta.

Segui-o de perto até chegar a uma maca que estava protegida por uma cortina verde.

—Os cortes que você fez estão demorando muito pra cicatrizar, nós tentamos de tudo,mas se não fecharem ela vai morrer.

As palavras cortavam minha respiração enquanto ele abria um vão na cortina e eu tive que me segurar na lança pra não cair no chão.

Não parecia humano.

Annabeth estava roxa,respirava pesadamente enquanto cada corte profundo estava queimado.

Os choques,meus choques.

A cada corte da minha lança cada corte era cauterizado pela eletricidade deixando as feridas num estado além do que era possível e aceitável pra um combate entre campistas.

Sentei-me ao lado dela respirando pesadamente enquanto tocava seus dedos frios e começava a me concentrar.

Minhas mãos brilharam prateadas enquanto as correntes corriam pelo corpo que relaxava ao meu toque.

Mas as feridas não se fechavam.

Tentei por horas seguidas curá-la mas nada acontecia,o nervosismo tomava conta de mim enquanto Grover murmurava preocupado ao meu lado.

Até que eu me lembrei.

Alice.

—Eu não posso curá-la

No segundo seguinte Percy entrava na barreira de cortina e me agarrava pelos braços.Seus olhos eram frios e seus dedos começavam a me machucar enquanto sua boca se contorcia num sorriso sarcástico.

—Voce a retalhou e não pode consertar?Ou não quer consertar.

Sua voz era cortante.

Segurei seu queixo com a mão e mandei uma corrente elétrica forte o bastante apenas pra que ele me soltasse.

—Esses ferimentos foram piorados, não foi minha lança porque se fosse eu já a teria consertado.

—Então o que você acha que aconteceu?

Minha espinha enregelou quando a voz de Nico veio por trás de mim.

Virei-me respirando fundo enquanto o aparelho de frequência cardíaca de Annabeth disparava frenético.

Corri até ela e Percy fez o mesmo enquanto tocava seu peito e um redemoinho de água se formava entre seus dedos.

Mandei cargas elétricas de cura por minutos sem fim até que ela se acalmou mas eu sabia que não duraria muito tempo.

—Alice de Atena, uma garota de olhos verdes e cabelo cacheado curto que eu curei veio me agradecer e me deu algo que tornaria minha lança mais resistente pra batalha.

Daeria saía com Lucius atrás dela enquanto Dionísio vinha enfurecido até que sua barba tocou minha orelha.

—Você pode estar próxima de matar uma filha de Atena por que aceitou algo de alguém que você não conhecia -ele rosnou

—Ela era uma filha de Atena,é claro que eu não  pensaria que uma irmã faria mal a ela -respondi mandando outra corrente.

Dionísio suspirou pesadamente coçando a cabeça enquanto os olhos de Percy queimavam os meus.

—A culpa é sua!Tudo é culpa sua!Você fez o que fez no Olimpo, nós nos arriscamos por você,quando você voltou me fez passar pelo inferno na terra e agora você a matou!Você é um monstro Annice de Zeus!

Sua voz era baixa e cortante,seus olhos eram inexpressivos enquanto as palavras escorriam feito ácido por meus ouvidos.

—Voce está certo.-respondi

Levantei-me e caminhei até a saída enquanto meu coração queimava no peito.Minha visão estava embaçada enquanto eu começava a correr pelo campo.

Era por isso que estavam todos assim comigo,eles pensavam que eu era um monstro.

Não estavam tão errados.

Cheguei até uma clareira e me escondi antes que pudessem me ver.

Alice cochichava com um homem de capa que dava a ela um saco de pano e uma corda.

O homem no segundo seguinte evaporava numa névoa cinzenta enquanto eu corria até eles.

—Alice o que você fez?

Gritei sacando a lança e o escudo enquanto ela se virava rindo.

Seus olhos eram alucinados,sua boca sorria enquanto ela sacava uma espada e vinha pra cima de mim.

Annabeth era uma criança descoordenada perto dela.

Sua espada dançava em movimentos rápidos e precisos,ela ria enquanto se esquivava de mim e voltava a avançar.

Ela abria finos cortes em mim,eu chegava perto mas nunca o bastante.

Aquilo tinha que acabar, Annabeth estava ficando sem tempo.

Num segundo de distração dela eu consegui me impulsionar contra um tronco e a ataquei com um tapete elétrico que a jogou no chão.

Seu corpo caía debilmente enquanto eu chutava sua espada e a agarrava pelos cabelos fazendo seus olhos encontrarem os meus.

—Voce vai fazer o que?Me matar?

Sua voz era estranha e engolfada enquanto seus olhos me desafiavam.

Soquei seu rosto e mandei mais uma.carga fazendo um grito ecoar pela floresta.

—Socorro!Ela vai me matar!Socorro!

Sua voz tinha voltado ao que eu conhecia enquanto mãos frias me imobilizavam.

Aquilo era um teatro armado.

Lucius minha com Daeria e Nico e eles me olhavam apavorados enquanto o rei fantasma me segurava num aperto de ferro.

—Eu estava quieta,ela me arrastou pra cá e me atacou,eu nem sequer tive chance…

Sua voz era embargada é falsa enquanto lágrimas corriam por seu rosto.

Aquilo me dava nos nervos.

—To sem saco pra isso

Pisei no pé de Nico e me joguei agarrando Alice pelos cabelos.

Quando um grito se formava na garganta dela eu descarreguei energia o bastante pra ela desacordar.

—Eu não a embosquei,ela estava aqui com um homem de capa que sumiu na névoa quando me aproximei.Ele deu a ela uma corda e um saco de pano que estão ali- apontei pros itens aos nossos pés.

—Nico por favor nos leve até a enfermaria,estamos ficando sem tempo.

Ninguém se moveu, Daeria e Lucius não acreditavam em mim.

Lágrimas começavam a correr enquanto eu me segurava pra não gritar.

—Voces podem me levar diante de Zeus se quiserem,minha palavra será a mesma,mas nesse momento Annabeth está morrendo e precisamos ajudar,Nico por favor…

Supliquei com toda a esperança que eu tinha e ele assentiu.

No segundo seguinte eu estava envolva na escuridão com os dedos firmemente agarrados aos cabelos de Alice.

Chegamos no outro instante dentro da enfermaria sendo recebidos pelo olhar incrédulo de Percy quando me viu segurando Alice que começava a despertar.

Joguei-a numa cadeira e a prendi no lugar com a eletricidade.

—Socorro,ela está…

Minha mão foi mais rápida e a esbofeteou lançando uma corrente que a fez ficar sem forças.

—Eu não me importo de te matar pra você falar o que deu pra mim pra usar na minha lança contra Annabeth.

Minha voz era cortante enquanto eu segurava seu rosto e fazia seus olhos se encontrarem com os meus.

De uma expressão de pânico seu sorriso se derreteu em risos guturais que soavam pela enfermaria.

—Não vou dizer nada!Você a rasgou,eu só te dei um elixir pra fortalecer sua lança!

Bati mais uma vez e Lucius veio por trás de mim imobilizando meu corpo.

—Chega,tem outro jeito de fazer ela falar -Lucius disse me apertando mais forte.

Nico se aproximou e tocou minha cabeça.

Uma dor cortante passou por mim enquanto eu revivia tudo o que tinha acontecido,minhas visões,as lutas,meu esforço pra me manter longe de Percy.

—Solte ela

Caí de joelhos segurando o choro enquanto Alice se debatia tentando fugir das mãos de Nico.

Seu corpo todo endureceu enquanto ele tocava sua cabeça e por minutos sem fim ele ficou ali imóvel, até que a soltou e Alice caiu desacordada.

—Prendam-na e a levem pra cabana de Dionísio,eu vou logo em seguida -ele ordenou pra Lucius e Daeria.

Grover me levantou me envolvendo num abraço enquanto Nico vinha pra perto.Seus olhos eram curiosos e seu sorriso frio me faziam ter náuseas.

—Voce foi envenenada sem nem perceber.O que ela te deu foi uma poção maldita que fez seus raios serem mais potentes do que você poderia sentir e o elixir da sua lança continha veneno.Voce não percebeu essa intenção por que desde que a tocou pela primeira vez ela já tinha te contaminado, não foi sua culpa,tem muito mais nisso do que você imagina.

Sua voz era tranquila e sua expressão tinha se transformado numa expressão que talvez tivesse a ideia de me tranquilizar.

—Vai acontecer de uma forma ou de outra, não adianta fugir dele ou com ele,apenas esteja pronta e deixe seu coração te dizer o que fazer.O amor tem dessas coisas minha criança.

Nico saiu e suas palavras rodavam pela minha cabeça.

Perdi as forças me entregando ao desespero enquanto sentia o chão me engolindo,tudo ao redor me sufocando e meu corpo fraco começando a sucumbir à escuridão.

Vozes me chamavam enquanto dedos frios me tocavam e o medidor apitava frenético ao nosso lado.

Engoli em seco me soltando de Grover e corri pro lado de Annabeth agarrando os dedos trêmulos de Percy.

—Eu vou curar enquanto você tira o veneno.Grover,arranje um balde de água!

A adrenalina fazia meu coração bater tão alto que eu mal ouvia os sons ao meu redor.Se eu não fosse rápida o bastante Annabeth morreria diante de mim.

Puxei toda a energia da enfermaria deixando todos nós na escuridão da noite e formei uma corrente que envolvia o corpo de Annabeth como um cobertor brilhante.Pressionei os dedos de Percy e toquei minha testa na dele que suava frio.

—Eu preciso que você se concentre aqui Percy,preciso que drene o veneno enquanto eu a curo - eu disse.

Como um chicote de água,correntes revolviam sob o corpo de Annabeth brilhando sob minhas correntes elétricas entrando e saindo dos ferimentos enquanto a luz corria pelos cortes que começavam a sangrar.

—Concentre-se Percy- gritei puxando mais energia ao meu redor.

Por horas minha testa estava apoiada na dele,nossos dedos entrelaçados e nossos dons correndo pelo corpo de Annabeth restaurando lentamente os talhos que se fechavam diante de nossos olhos.

Eu começava a tremer sentindo o esforço mas continuei colocando tudo de mim na cura dela.

Horas se passaram quando depois de muita água e energia eu soltei as mãos de Percy e desfiz o contato de nossas testas.

A luz voltava lentamente depois de eu ter sugado tanto e eu aproveitei pra recarregar as energias enquanto me levantava.

Annabeth abria lentamente seus olhos quando eu dei as costas a todos eles desprezando o olhar de Lucius e Daeria enquanto eu passava.

Enquanto eu descia cambaleante mãos frias seguraram minha cintura e sem nenhuma palavra me levaram até minha cabana.

Cheguei quase desacordada pelo cansaço até a porta de uma cabana que não era minha.

Olhei com mais atenção e vi que era a cabana de Percy.

—Voce fica aqui hoje -ele murmurou abrindo a porta.

Arfei recobrando meus sentidos e me agarrei a maçaneta impedindo nosso avanço.

Suas mãos me firmaram,seus olhos encontraram os meus enquanto ele me beijava.

Desesperado,com as mãos me prendendo,puxando meu cabelo enquanto os lábios dele buscavam os meus,sua língua explorava minha boca e seu contato me fazia tremer.

Lágrimas caíam enquanto eu o beijava sentindo o amor rasgar meu coração,sentindo toda aquela dor,sentindo a saudade enlouquecedora que eu tinha dele.

Até que voltei a mim.

Com uma corrente súbita eu o derrubei no chão e disparei a correr pela noite sendo acompanhada de perto pelos passos dele.Dei tudo de mim e me joguei nas portas de minha cabana trancando a fechadura atrás de mim.

A noite foi cortada pelos meus gritos enquanto eu era recebida pelo chão frio.

Lágrimas desceram enquanto ele batia na porta e passos se aproximavam.

Sob protestos Percy foi tirado de lá talvez por Grover,pelo leve barulho de cascos na madeira.

Chorei agudamente até perder minhas forças e minha voz,Nox se deitou ao meu lado não permitindo que as irmãs se aproximassem enquanto eu era engolida pela escuridão.

No instante seguinte Nico estava sentado a beira da minha cama tirando minhas botas em silêncio.

—Voce não precisa lutar sozinha,pode usar a ajuda dele e…

—Cale a boca,você não sabe de nada Nico! Vá embora!Por favor vá embora e me deixe em paz!

Minha súplica quase sem som fez Nico suspirar e desaparecer no instante seguinte.

Eu queria morrer.

Enquanto as horas se passavam eu implorava pela morte,pelo fim do sofrimento que consumia minha alma.

Enquanto o sol despontava eu me entregava ao cansaço pedindo aos céus pra nunca mais acordar.

 


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