Um odor de mofo inundava todo o local. Era um lugar escuro, úmido e tinha um leve cheiro de terra. A única iluminação possível vinha das velas posicionadas ao longo dos corredores, sendo que a maioria delas já estava no fim – elas queimavam há algum tempo.

Gritos de agonia podiam ser ouvidos ao longe, fato este que não contribuía em nada, a não ser, em tornar o ambiente mais macabro ainda. Fora isso, o lugar era relativamente silencioso.

Em uma das salas dos corredores, percebia-se a presença de dois homens.

O primeiro estava em pé, preparando alguma coisa. Misturava ingredientes, adicionava mais alguns, e logo depois despejou tudo em algo que parecia uma taça. O líquido que estava dentro apresentava uma aparência estranha; certamente causaria nojo em qualquer um que fosse obrigado a tomá-lo.

O rapaz devia ter uns vinte anos; tinha os cabelos de um tom acinzentado, quase grisalhos, e usava óculos.

- Aqui. Tome tudo. – ele disse em um tom respeitoso, entregando a mistura para o segundo homem.

Ah, sim. Este último certamente causaria um infarto em qualquer pessoa que o encontrasse nos corredores macabros e escuros desse lugar...

Tinha todo o corpo encoberto por grossas faixas de curativos, com exceção de metade do rosto; assemelhava-se bastante a uma múmia.

E os olhos...

O homem possuía um olhar assassino por natureza; seus olhos definitivamente não eram humanos. O leve movimento deles, a mera análise feita pelos mesmos a alguém causaria instantaneamente uma forte onda de arrepios de terror. Ele era puro terror.

Se apenas uma palavra pudesse ser escolhida para defini-lo, a que mais se aproximaria de fato nessa tentativa de descrever todo o seu ser, irrevogavelmente, seria cobra.

Ela faria jus a toda a sua personalidade: falsa, perigosa, traiçoeira...

E invejosa.

Ela insistia em querer voar, mesmo não possuindo asas, mesmo não possuindo pés...

- Onde ele está?... – Orochimaru perguntou com sua voz arrastada.

- Bem... Ele ainda não chegou... – Kabuto respondeu nervoso. – Orochimaru-sama, o senhor tem certeza de que ele...

- Ele já deveria estar aqui... – Orochimaru o interrompeu. – Alguma coisa... Alguma coisa o impediu.

Kabuto afastou-se lentamente da cama; sabia que Orochimaru não estava com um humor muito bom e, ficar perto dele nessas horas, não seria uma atitude saudável.

O sannin praguejava mentalmente; isso definitivamente não estava nos seus planos. E agora? Ele precisava do Uchiha mais novo – ele precisava do Sharingan...

Procurou uma solução mentalmente, entretanto, não encontrou nenhuma.

- Vamos esperar... Primeiramente, eu tenho que me recuperar. Depois... Depois eu penso em algo... – ele disse por fim.

Kabuto respirou aliviadamente; esperava uma grande explosão de fúria e maldições para todos os lados.

Observou seu mestre tremer levemente e se aproximou hesitante.

- Orochimaru-sama?... – ele murmurou com receio.

- Maldito Sarutobi... – ele sussurrou. – MALDITA KONOHAA!

                                                   ***

A rosada soltou mais um suspiro, seguido de um resmungo de impaciência. Como sempre, Kakashi-sensei estava atrasado. Isso já era típico. Porém, pela primeira vez na vida, Sakura aguardava-o sozinha – Naruto e Sasuke ainda não haviam chegado.

A kunoichi estava tensa; não sabia o que iria acontecer quando o Time 7 se reunisse novamente.

Apoiou-se na ponte e ficou a observar seu reflexo nas águas do pequeno córrego.

Fitou-se demoradamente, analisando toda a sua fisionomia.

Ela era bonita, não? Quer dizer, tudo bem, seus cabelos tinham uma cor um tanto que incomum, mas eles eram de certa forma charmosos, certo? Sua testa era grande, ela sabia, mas já tinha superado isso...  Sem falar nos belos orbes esmeraldinos que ela possuía... E sua pele não era nada ruim...

Ela também era uma garota muito simpática, disso ela tinha plena convicção. Ok, talvez tivesse o gênio um pouco explosivo e algumas vezes ficasse fora de controle, mas, no todo, ela era uma pessoa legal.

Não era tão forte como Sasuke-kun ou Naruto, mas se esforçava para alcançá-los – ou ao menos diminuir a distância entre eles.

Ela não era burra, inculta ou ignorante. Pelo contrário, era a mais inteligente de sua turma na Academia (Sasuke-kun uma vez chegou a elogiá-la!)...

Então por quê?

Por que ele não a notava?

Por que ele não a reconhecia?

Por que sempre, sempre que ela tentava se aproximar dele, conhecê-lo melhor, ele se afastava e a intitulava de irritante?

E por que ela continuava a tentar?

Sakura podia não ter as respostas para as perguntas anteriores, mas a desta última ela sabia desde o íntimo de seu Ser...

Ela amava-o.

Quando ela se declarou naquele dia, parece que ele não levou a afirmação muito a sério... Mas tudo bem, ela não o culpava. Por que o culparia afinal de contas? O garoto passou a vida toda sendo perseguido por garotas que diziam a mesma coisa – fangirls – sendo que, na verdade, o que elas viam era apenas a beleza do moreno.

Hoje ela admitia que era uma delas; não conhecia o verdadeiro Uchiha Sasuke. Bom, ainda não o conhecia, mas estava a caminho, disso ela tinha certeza...

Porém, estar com ele no mesmo time, fez com que ela finalmente enxergasse além das aparências, literalmente.

Ele não era perfeito, aliás, ninguém é. Mas isso só contribuiu para que ela se apaixonasse ainda mais...

Demonstrar sentimentos não era do feitio dele, ela sabia. No entanto, através de pequenos gestos – um olhar, um simples toque de mãos, uma ação protetora em batalha, um meio sorriso – Sakura notava as emoções mal reprimidas escapando de seu não tão impecável controle.

Quando se deu por si, já tinha acontecido.

Ela realmente o amava.

E ele nem sabia disso. Ou se sabia, não dava a mínima.

E isso doía.

Muitos podem dizer que ela age feito uma idiota apaixonada porque quer, sofre porque gosta, mas somente aqueles que nunca amaram de verdade pensam isso...

Não é que ela goste de sofrer, o problema é que, sendo a tola apaixonada que é ela está propensa em seguir seu pobre coração machucado (coração imbecil!).

Só Kami sabe o quanto ela tentou esquecê-lo... Mas, bem, ela acabou descobrindo que é um pouco difícil esquecer alguém que faz parte do mesmo time que você...

Sakura suspirou pesadamente mais uma vez.

- Oh, Kami... – ela exclamou baixinho.

Virou o rosto para o lado e avistou uma figura masculina se aproximando.

Estreitou os olhos e distinguiu a tão conhecida cabeleira loira.

“Totalmente bizarro...”, ela pensou. “Naruto se aproximar de mim – e de qualquer ser vivo – sem gritar? Bizarro.”

Enquanto ele chegava cada vez mais perto, a rosada percebeu que o ninja não a olhava; ele fixava a vista em um ponto logo atrás da garota.

Sakura se virou.

E se deparou com Uchiha Sasuke a um metro de distância.