Realmente acho que com o passar do tempo fica mais difícil de contar. ‘Mas então Jeff, eu tô com a sua filha há dois anos e por pura ironia do destino ela engravidou. Uma merda não é mesmo? Então, tu vai ser avô, pensa desse lado que é bom’. Já estou sentindo o soco na minha cara e vendo o roxo na mesma, também já estou ouvindo o choro da France e o circo armado. É um outro tipo de visão do inferno, essa é beeem dolorida.

Me encontro novamente de frente a televisão, assistindo a ESPN classics, como sempre, eles nunca falham. E comendo algum desses salgadinhos de supermercado.

-Bom dia Pie- Maya fala ao sentar ao meu lado.
-Bom dia- Respondo com uma espécie de sorriso- Eu estava pensando sobre o teu pai-
-Nem me fale sobre isso. Não sai da minha cabeça um segundo. Mas ainda não sei se estou pronta para falar com ele agora, mas também não sei se espero a barriga aparecer e tudo mais. Mas eu sei que não quero esse tipo de estresse agora-  e eu não o quero nunca, gracinha.
-Uhum. Mas a gente tem que pensar sobre isso, nas palavras que iremos usar e tudo mais. E pensar muito- 

-Claro, temos que pensar em que palavras usar,tem algumas que mexem com o meu pai- Super verdade, eu e os caras descobrimos isso quando morávamos juntos.

-Me lembro de um dia que eu cheguei em casa de manhã,super chapada e meu pai estava me esperando, vermelho, com muita raiva. Até parece que ele nunca passou por isso, não é? Mas enfim, não discordei dele. Já que ele ama estar com a razão. Ai ele foi mais compreensivo entende? E depois ficou todo querido, achando que tinha sido rígido. É só saber jogar com isso. E minha mãe me ensinou isso direitinho!- A France? Mentira! Para que será que ela usa esse poder sobre o Stinco? Meu deus, melhor nem pensar.

-Ahh sim... Então eu estou falando com uma expert no assunto Jeff!- falei irônico.
-Pode-se dizer que sim- ela virou para a tv- Ainda assistindo ESPN classics?-
-Clássicos são imortais, então claro, ainda os assistindo-  É um pequeno vício.
-Pierre...- ela falou e eu continuei assistindo meu jogo - Você acha que o bebê está bem?- agora eu me virei para ela.
-E porque ele não estaria?- não é? Porque não estaria?
-Por causa de ontem... Será que tem problema transar nos primeiros meses? Eu não sei não é... E será... Imagina se ele viu! Aimeudeus-  

A louca entrou em desespero. Mas nada de ficar sem sexo. E ainda mais agora! Por favor, o bebê não pode atrapalhar antes de nascer. Senão já vai nascer em defict com o seu pai.
-Não sei, mas eu acho que não... Se quiseres a gente pode descobrir - Ela assentiu e eu voltei minha atenção para a televisão.

Ficamos em casa naquela tarde, fazendo coisas que para mim foram inteiramente tediosas, como procurar informações e ver tv mesmo. Só que para ela foram boas e eu tinha que ser simpático e educado para não perdê-la novamente.
Antes de dormir, Maya ligou para casa e a empregada informou que seus pais haviam saído, então, pelo que eu ouvi, ela pediu para avisar que não iria dormir em casa. Também não era hora de aparecer na casa do Jeff e contar, a operação ‘contar para o Jeff’ fica para amanhã.
Deitados em minha cama, Maya e eu não resistimos e transamos novamente. Mas foi tranqüila, acho que depois de ter as ‘informações necessárias’ sobre sexo durante a gravidez uma parte da preocupação foi embora. Não disse que não foi bom, nunca será ruim. Mas foi realmente tranqüila, quase conjugal em sua singeleza. E depois, com a intimidade dos casados, viramos cada um para o lado e dormimos.

-Pie, te fiz café- que atenciosa. Mentira, de certeza deve querer algo em troca.

-Obrigada - levantei ainda tonto de sono.
-Vou para casa daqui a pouco. Meu pai acha que eu estou na casa de algumas colegas, numa ‘noite das meninas’ e estou mentindo... - Não sei como ele nunca desconfiou de nós.
-Sem problemas-, mas que eu ia ficar desacostumado, ia.
-Me leva? Se você puder, claro...
-Não, porque tenho muita coisa melhor para fazer, como... Assistir televisão... Claro que te levo-  A cara dela estava ótima - Vou só trocar de roupa- voltei para o quarto e coloquei um jeans e uma blusa preta.
-Pronto?- Ela perguntou sentada no sofá.
-Claro minha linda, pegou tuas coisas?- nesse instante peguei a chave do carro e arrumei meu cabelo de frente ao espelho.
-Preferi deixar aqui-  Sorri, sorri abobado mesmo. Se ela preferiu deixar aqui é por que... É porque ela vai voltar.

-Que bom- falei com sutileza.

Durante o trajeto dividimos beijos sempre que dava. Era tão bom ter tudo aquilo novamente; as músicas, os filmes, os cheiros, as bebidas. Era como se naquelas semanas eu tivesse em ‘off’ não estivesse vivendo a minha vida, tivesse apenas a assistindo e era tão bom vivê-la novamente. Tinha voltado a protagonizar o ‘Bouvier Show’. Porque podemos pensar na vida de alguém como um programa de televisão. E o meu não era uma novelinha qualquer com vários personagens. Convidados nem sempre eram bem vindos, só que apareciam uma vez ou outra. Mas eu era o principal. Mas de uns tempos para cá tinha uma co-apresentadora, digamos assim, ou um outro personagem principal. Acho que o público sentiu tanta falta dela quanto eu.