-Olha...- Eu não sabia o que dizer, fiquei esse mês todo pensando no que dizer, como me desculpar... E ela estava na minha frente, fraca e insegura. Não poderia estragar mais. Já tinha feito muita coisa errada para uma pessoa só - Você sabe que eu nunca... nunca... Quis ser pai-

“Ela me olhou com raiva, como se fosse me matar a socos e chutes, mas rapidamente expliquei o uso de tal argumento nesse momento impróprio”

- Mas devo admitir que já pensei várias vezes em ser pai... Se você fosse a mãe- Agora ela deu uma espécie de sorriso, sem saber se podia sorrir e sem saber que podia realmente sorrir,pela raiva que ela devia estar sentindo de mim.Mas realmente,sua expressão mudou ela não me parecia mais tão frágil ou indefesa. Estava com aquela expressão forte e decidida que ela sempre teve e sempre terá.

 -Alguém mais sabe?- falei de maneira carinhosa, eu queria me redimir.
-Não, nem mesmo a Ashley... Pensei, com razão, que você devia ser o primeiro, a saber... Para pensarmos no que fazer antes de qualquer coisa-.
-Bom, você não vai tirar esse bebê, vai?- falei de maneira doce e ela me olhou com a mesma expressão de raiva.
-Eu tenho 18 anos! Não fiz metade das coisas que eu desejo. Não sei se é a hora certa para ter um filho, ainda mais seu!-  ainda mais meu? Que? Hãn? Absurdo! Menina abusada!

-Tipo, não que e-eu não que...- Ela parou rapidamente o que estava falando e mudou de assunto - Se eu ficasse grávida de uma garoto da minha idade, por exemplo-  A olhei censurando -Meu pai reagiria de uma forma... Mas ficar grávida de você... ele vai nos matar!- entendi, retiro o ‘abusada’.

-Ah... Sei bem o que você quer dizer... Mas... Mas você não pode tirar essa criança, Maya - falei meio gaguejando e segurei em sua mão.

-E porque não?- Ela tirou a mão rapidamente e colocou-a na cintura.

-Eu não estou dizendo que você não deva, entenderei se você tirar e tudo mais, você tem todo o direito de querer tirar essa criança... Mas eu ficaria desapontado se o fizesse, eu acho que devemos ter esse filho... E fazer de tudo para que isso aconteça direito-  QUE? QUE DEMONIO DESCEU EM MIM?! DESDE QUANDO EU SOU BONZINHO ASSIM?

-Que? Agora está dando uma de romântico incurável? Isso veio um pouquinho tarde. Você teve a época certa para isso... Não sei se agora vai adiantar muito você falar isso- Ela falou baixo, como se tivesse falando consigo mesma... Pelo jeito o demônio que desceu em mim acertou-a de jeito- Eu... Eu não sei Pierre... Realmente não sei. Você foi muito estúpido...Tá, mas... As coisas não funcionam assim.

-Nós... Quer dizer... Eu sei que já errei o suficiente por nós dois, eu admito... Mas, mas... você me mudou- Ela me olhava de maneira curiosa e claro que a entendia, eu também não esperava essas palavras saindo de minha boca e estava esperando o resto dessa diarréia verbal melosa- E eu acho que não devemos mais errar, sabe? Eu... estou pronto para contar para o seu pai-  Ai meu papai do céu, o que eu acabei de dizer? O que eu acabei de dizer? AI CACETE. É a Maya também não acredita no que eu acabei de dizer.

-Não fale esse tipo de coisa só para me agradar Pierre. Pense bastante... Você está certo... Eu não irei tirar essa criança....É muito horrível isso.... Mas não sei se estou pronta para contar para meu pai da gravidez ainda, muito menos que estou grávida de você. Porque obviamente essas duas serão contadas juntas, eu não posso simplesmente falar que estou grávida. É claro que vai vir um ‘e quem é o pai? ’ Ou algo do tipo, claro... Porque ele não é bobo nem nada... Por isso, pense bem se você quer fazer isso. Eu esperei muito tempo para você tomar essa decisão, e para falar a verdade, por mais que parecesse que você nunca a iria tomar, eu tinha esperança que você iria. Pena que precisou de uma burrada como essas para tomá-la. Agora temos que planejar as coisas e fazê-las da maneira certa. E eu não estou dizendo que eu já te perdoei, mas eu não posso fazer isso sozinha-.  

“Como uma menina de 18 anos pode ser mais madura que eu? Claro que eu cheguei a cogitar a idéia que ela já teria me perdoado, a vida em minha cabeça é muito mais fácil.”

-Então iremos falar com o Jeff quando você estiver pronta - falei de maneira suave e delicada, tentando ao máximo me redimir.

-Acho que eu poderia tentar falar com a minha mãe antes... Ela pode ajudar   -mas pode muito bem atrapalhar, contando por não conseguir guardar o segredo do Jeff - Mas pode acabar com tudo... Ela não gosta de guardar segredos de meu pai...-  viu só?Exatamente.

-Agora que você já sabe, temos que pensar no que fazer, no que dizer... Não podemos fazer mais besteiras... - desde quando ela ficou tão responsável?
-Sim...- falei por não saber o que mais falar.

         “Ficamos em silêncio, aquele mais constrangedor impossível, por alguns bons minutos. Acho que nenhum dos dois sabia exatamente o que falar, ou o que falar para que o outro não se magoasse ou sei lá. Só sei que ficamos em silêncio, olhando um ao outro. Não sabia se a abraçava, ela parecia tão frágil, ou se a convidava para tomar alguma coisa, acho que disso nós dois precisavam... Mas grávidas podem beber? Tem um negocio desses, não tem? Será que pode tomar café? Bom... Chá pode, não é... Chá tem que poder. Eu não sabia o que fazer.”

“Eu odiava isso, não conseguir me controlar, não saber qual seria meu próximo passo, como eu deveria agir e isso me deixava louco, gostava de ter controle das coisas a minha volta. Se bem que... Ham... Desde que ela chegou à minha vida eu não tenho mais esse controle. E talvez não seja tão ruim não ter.... Quer dizer, se o tivesse talvez não fosse pai em alguns meses.
CARALHO! Irei ser pai. PAI, irão me chamar de ‘papai’, aimeudeusdocéu. Caralho, como assim? Eu... Pai? Eu não dou para isso! Não sei trocar fraudas, e nem quero aprender. Não suporto voz de criança, imagina choro! Imagina aquela coisinha desdentada quase careca, chorando e com a frauda suja. Visão do inferno! CACETE, no que eu estou me metendo?
Parece que a Maya ouviu tudo que eu estava pensando, porque ela me olhou e disse:

-Você vai se sair bem... Tenho os mesmos medos-

“Bom... Os mesmos eu duvido... Garotas são sempre mais habilidosas em respeito de crianças... Se bem que tem mães que não dão para mães. Tanto não dão que sempre o filho vira um retardado. Eu pensei sobre isso outro dia... Houve uma época que a mulher não escolhia sabe... Sobre ser ‘dona de casa’ e tudo mais, então tinha que ser e ai dela se não fosse uma boa dona de casa e tal. Mas de uns tempos para cá, bom... De muito tempo para cá as mulheres começaram a escolher sobre isso, sabiam que não iam ser boas mães então ficavam pra tia. E eu sou o tipo de cara que fica para tio! Bom... Eu sou ‘tio’ da Maya e veja só no que deu.
Mas eu acho que ela será uma boa mãe.”

-Sabe Pierre, não é comum ser não bom na primeira vez, a gente se encaixou sabe? Por isso que eu sempre achei que daria certo...E cada vez ia ficando melhor e melhor- Realmente...Verdade. Acho até que pode-se considerar senso comum!- Eu não queria que chegássemos a esse ponto, realmente não queria - Ela usava um tom saudoso, sabe? Que bom... Eu não tenho certeza se isso é bom ou ruim.- Bom... deixa para lá, a gente mais coisa mais importante para resolver, não é mesmo?

-Queria que não tivéssemos - Soltei sem perceber e ela me olhou igualmente assustada, também não devia estar esperando.
-Não faz isso Pierre- Sei que não seria nada fácil ela me perdoar, ela tem um gêêêênio... Mas não custa tentar, muito menos insistir.- Eu preciso contar isso tudo para Ashley, cara...-
-Eu preciso contar para o David... Se não for ruim para ti... Tipo, ele não vai contar para o Jeff, nem nada...- Pelo menos eu acho que não.
-Não, tudo bem... Eu entendo.. Eu vou ligar para Ashley para ver se a acho e tu ligas para o David... Aí falamos com eles... O que você acha?- Que compreensiva!
-

Tudo bem por mim - respondi e logo peguei meu celular enquanto via Maya fazer o mesmo...Que merda, ninguém atende! Garanto que ele está com medo que eu esteja carente novamente e não quer me atender, que escroto.

(continua...)