A Second Chance escrita por Between the moon and the sun


Capítulo 2
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Eu continuei no hospital por alguns dias, e como um milagre, a única coisa que tinha sido afetada além da minha memória era minha perna esquerda, mas nada que não tivesse jeito.

Para um acidente tão “grave” a ponto de me fazer perder a memória e me deixar em coma, mas ao mesmo tempo não me deixar com nenhuma sequela pior, eu acho que tinha até que agradecer.

Hoje era 17 de dezembro, eu fui atropelada dia 13. O médico parecia me manter aqui porque não acreditava que eu pudesse estar realmente bem depois de tudo, mas eu estava.

Eu conversava... Às vezes, pois eu realmente parecia precisar de um certo esforço pra gastar minhas palavras. O engraçado é que eu tinha milhões de pensamentos, mas eu não conseguia compartilha-los com as pessoas. Quando o médico me perguntou por que eu estava tão quieta e eu falei isso, ele brincou e disse que isso era muito egoísmo da minha parte.

Enfim, passados esses dias, a coisa mais próxima de “mundo lá fora” a que tive contato, foi a janela do meu quarto.

Eu conseguia ver a chuva cair branda na janela, ouvir o vento soprar e balançar as árvores, ver a neblina, e raramente, ver o sol. Com certeza, não era verão.

Hoje eu passei por uma série de exames, e depois de todos esses exames, o médico concluiu que eu estava boa o bastante para ir pra casa. Finalmente.

Fui muito bem atendida aqui, mas tenho que confessar, a curiosidade para ver o lugar onde eu morava, estava me corroendo por dentro.

No período em que eu permaneci no hospital, tudo o que descobri foi o meu nome, meu aniversário e minha idade.

Meu nome era Vanessa – Eu não gostei muito do nome, acho que eu preferia... Vanny. Isso, as pessoas deveriam me chamar de Vanny.

Eu tinha 17 anos e fui atropelada no meu aniversário. Que belo presente, pensei ironicamente.  

Tudo isso eram “flashes” da minha vida.

Minha suposta mãe, a qual era realmente muito difícil reconhecer como minha mãe, não falou quase nada nas vezes que veio me visitar e nem eu falei muita coisa. Parecia que éramos completas estranhas e ela ainda não tinha me respondido como eu poderia não conhece-la se ela era minha mãe. Eu tenho boa memória. Quer dizer... Deixa pra lá, mas eu não vou me esquecer de perguntar isso pra ela depois. A menos que eu sofra outra amnésia... Mas acho que sofrer um acidente como esse de novo, seria muito azar pra uma pessoa só.

Outra coisa que eu fiz enquanto estive aqui, eu desenhei. Nem sei ao certo o que desenhei, ou melhor, quem.

Na verdade, eram dois olhos. Aparentemente eu desenhava bem. Os olhos de alguém, eu nunca tinha visto tais olhos na minha “nova vida” e eram olhos lindos. Eu desenhei com um simples lápis de escrever.

Os olhos eram brilhantes, contornados por uma maquiagem forte. Aqueles olhos falavam muita coisa. De quem eram aqueles olhos? Mas que droga, como eu me irritava por não saber porra nenhuma da MINHA vida.

Eu estava desenhando de novo, tentando continuar aquele rosto, mas tudo o que eu conseguia me lembrar, eram os olhos. Então eu ouvi alguém girando a maçaneta e a minha “mãe” entrou devagar pela porta do quarto, eu continuei olhando fixamente pra folha de papel. O nome da minha “mãe” era Lucy, e assim eu a chamava. Ela se aproximou e olhou por cima do meu ombro.

-Desenhando de novo? – Eu assenti com a cabeça de leve.

-Lucy, você não sabe mesmo de quem são esses olhos?

-Eu não faço idéia... Mas são muito bonitos, não?

-Sim... Eu tenho que encontrar o dono desses olhos.

-Ou a dona, né? Porque a maquiagem... – Não sei por que, mas aquele comentário me deixou meio irritada.

-É um dono. E não tem nada de errado com a maquiagem.

-Ok querida, me desculpe, foi só um comentário.

Permanecemos em silêncio por mais algum tempo, enquanto ela me via fazendo as sombras e os mínimos detalhes do desenho.

-Sobre achar o dono desses olhos... Espero que ele não esteja aqui. – Então eu parei de desenhar e a olhei.

-O que você quer dizer com isso?

-O que você acha de se mudar?

-Eu não sei nem onde eu estou!

-Você está em Paris, capital da França.

-E pra onde você quer se mudar?

-Bom, na verdade, eu não vou me mudar... Você vai. A minha casa é na Alemanha. – “A MINHA casa” Reparem no “minha”. Não era nossa, era dela. Eu me sentia uma completa intrusa conversando com Lucy, algo era muito estranho e algo me dizia que aquilo não era nada “mãe e filha” como deveria ser.

-Então... Porque eu estou na França?

-É uma longa história, vou te explicar com calma, eu juro. Mas e então... Quer ir morar na Alemanha comigo?

Eu me sentia como se não tivesse escolha. Quer dizer, algo dentro de mim me dizia que essa era uma ótima idéia. Ir pra um novo lugar onde ninguém me conhecia. Aqui eu não conhecia ninguém mesmo, pelo menos em outro país não seria tão estranho dizer “Oi... Quem é você?” já que eu seria nova por lá.

E a Alemanha não era tão longe afinal, certo? Se é que eu me lembro...

Se eu tivesse metida em confusões por aqui, pelo menos, eu não sofreria consequências sem nem saber o porquê, já que eu estaria fora do país.

Falta, por aqui, eu não faria, creio eu. Quer dizer, nesses dias em que eu estive no hospital, ninguém além de Lucy veio me visitar, ninguém perguntou de mim, ninguém mesmo. Eu não devia ter muitos amigos, pelo jeito.

De certo modo, eu achava isso bom. Eu estava totalmente livre pra viver a minha nova vida, sem ninguém da minha velha vida preso em mim.

Mas também achava isso ruim, pois ninguém me ajudaria a me lembrar do passado, de quem eu era. E Lucy parecia saber menos do que eu mesma.

Bom, talvez essa nova aventura na minha vida seja uma boa idéia...

Eu espero estar certa.


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