E lá estava eu.

 Sem meu irmão, com uma garota tsundere e uma lagarta drogada (sem ofensas Gumi) estávamos em busca do Len, que poderia estar sendo torturado por uma rainha malvada. Será que poderia ficar pior?

 Querida vida, quando eu digo “será que dá pra ficar pior?” é uma pergunta retórica, não um desafio. Só pra constar, sim, dá pra ficar pior.

 O Kaito estava parado na minha frente, curvado em uma mesura, esperando que eu apresentasse alguma reação. Olha, não é nada contra ele, é um amigo muito querido e tudo mais... Só que de todas as pessoas no mundo que poderiam me ajudar nesse momento difícil, tinha que ser o Kaito?

 O Chapeleiro Maluco (mais conhecido como Kaito) usava uma cartola, guarda-pó e calças e sapatos sociais, todos de cor azul.

 -Desde quando?-Perguntei, olhando pra ele esperando uma resposta, e rápido.

 -Desde um tempo, já faz um tempo que eu estou trabalhando no plano de invasão!-Disse sorrindo, e depois convidou a todos para se sentarem-se à mesa perto da Lebre do caxinguelê. Ele nos introduziu a ambos, A Lebre de Março começara um monólogo muito interessante sobre como a loucura dela fica mais forte em meados de março (graças á Deus, não era março) e o caxinguelê, bom, ele estava dormindo.

 -Bem, Kaito... -Não tive êxito em terminar a frase.

 -Chapeleiro!-Corrigiu-me o próprio.

 -Certo, Chapeleiro... Plano de invasão?

 -Correto, eu e alguns outros companheiros viemos trabalhando em um plano de invasão ao castelo da Rainha de Copas, para resgatarmos a Princesa de Branco, estávamos esperando pela sua liderança, Alice!-Disse Kaito, pela primeira vez, soando como uma pessoa séria. Ah! Fala sério, até você me chamando de Alice?

 -Porque não me contou sobre o plano de invasão e sobre ser o Chapeleiro? E princesa de Branco?-Perguntou Teto, como se lesse meus pensamentos.

 -Não sabia que era a Duquesa, só planejava me revelar à Alice, e a Princesa de Branco é... -Ia responder, mas foi interrompido.

 -Miku!-Afirmou Gumi, quando havia terminado de comer sua torrada com geléia.

  Fiquei feliz, eu tive tanto medo de que ela fosse a Rainha de Copas ou algo assim. Não poderia suportar se fosse assim. Mas ela foi sequestrada? Isso é horrível!

 -Correto... Como sabes?-Perguntou, verdadeiramente interessado enquanto bebericava um pouco do seu chá.

 -Eu prevejo algumas coisas que vão acontecer, sei de muitas coisas... -Tinha começado a explicar, mexendo o seu chá com uma colher.

 - Mas não pode revelar todas?-Chutou o Chapeleiro.

 A Lagarta fez que sim com a cabeça.

 -Tampouco sabe o desfecho disso tudo?

 -Seria impossível pra mim saber!

 -Entendo.

 -Aposto que entende...

 -Acho que devemos ir andando, certo Rin?-Declarou Teto, depois de um longo momento de silêncio.

 -Ela tem razão! Temos que ir atrás de Len o quanto antes!-Disse, me levantando da cadeira.

 -Len? Ele foi capturado?-Perguntou Kaito.

 -Sim, como deve saber, ele é o Gato de Chershire!-Disse Teto, e depois ela deu uma rápida explicação do que ocorreu.

 Ouvindo tudo com atenção, Kaito encostou-se à sua poltrona, fechando os olhos, dando um ar de seriedade. É incrível como ter sua “namorada” sequestrada faz as pessoas ficarem desse jeito.

 -Então querem entrar no plano de invasão?-Disse abrindo um dos olhos.

 -Seria perfeito!-Respondi.

 -Então vamos lá!-Declarou, se levantando de maneira animada da cadeira e cantando uma música animada enquanto seguia por uma trilha. Eu retiro o que eu disse. Esse cara é e sempre será um idiota. Mas esses são os mais felizes.

 -Espere, ele não está executando o plano... Está?-Perguntei a Teto, em pânico, quando Kaito já estava marchando à frente.

 -Não, esse caminho vai dar no Castelo Branco...Acho que vamos discutir os detalhes do plano lá!-Respondeu, e saiu andando atrás dele e de Gumi, fiz o mesmo. Deixando assim, a Lebre de Março e o Canxiguelê pra trás, me perguntei que dos meus conhecidos poderiam ser eles enquanto a lebre jogou uma xícara que quase me acertou a cabeça.

 Não queira saber sobre o caminho até o castelo. Foi desagradável. Cheio de pedras, curvas, bifurcações, obstáculos e etc. Valeu à pena. Era uma enorme construção de paredes brancas no estilo gótico, havia um enorme jardim cheio de roseiras brancas, e duas garotas, que usavam vestidos brancos e simples, estavam na porta. Espere, eu as conheço.

 -Chapeleiro! Você trouxe a Alice!-Correu uma loira, com o cabelo preso em uma única Maria-chiquinha longa e olhos azuis, veio correndo na nossa direção e me agarrou como se eu fosse um bem precioso:

 -Agora podemos salvar a princesa!-Disse a outra, com o longo cabelo branco preso por um laço e olhos vermelhos, ela deu indícios de que choraria em breve. Não estava errada afinal.

 Depois de ambas terem se acalmado, Kaito disse que eram Neru e Haku, duas garotas da classe de Miku que estudavam no nosso colégio, elas seriam as damas de companhia da Princesa Branca. Na verdade, elas tinham acabado de se transferir pro colégio, e pelo que me disseram, haviam nascido no sonho.

 As duas garotas nos guiaram para dentro do palácio, onde pude admirar as enormes paredes brancas, os adornos de flores e enfeites prateados. Era lindo, mas melancólico, como você deve imaginar que é um castelo sem sua princesa. Chegamos á uma grande sala, com alguns sofás e poltronas no estilo vitoriano, aonde nos sentamos e começamos a discutir sobre a invasão:

 -O plano de invasão “Abaixo à tirana” começou à cerca de uma semana, com o objetivo inicial de combater a tirana e derrotar o Pargarávio, que está sobre a sua tutela, depois de um incidente, o objetivo inicial passou à ser resgatar a nossa adorada princesa, e recentemente, o Gato de Chershire!- Iniciou a explicar Kaito, se servindo de mais um pouco de chá.

 -Pargarávio?-indaguei, o simples pronunciar o nome me deu um arrepio na nuca.

 -Sim! A besta deve ser enfrentada apenas por Alice!-Disse Haku, me olhando como se eu fosse a pessoa mais corajosa que ela já vira em vida. Mas eu não era. Eu não queria isso.

 -E-Eu?-Meu rosto estava branco, por certo.

 -Naturalmente, e já deve tê-lo visto antes!-Respondeu-me, calmamente, não me pareceu satisfeito com o açúcar posto e despejou todo o recipiente no chá, provando-o, e depois sorrindo com satisfação. Claro que ele está calmo, ninguém disse que ele devia matar um monstro.

 Quando ele falou isso, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi à escuridão, seria aquilo o tal Pargarávio que eu devia enfrentar? Olhei pra Gumi, com uma expressão de pânico, ela me fitou por alguns segundos e fez que sim com a cabeça. Estou perdida.

 -Vai enfrentá-lo?-Perguntou Kaito, mas não era o tom de como se eu tivesse muita escolha.

 -Eu aceito!-Disse, suspirando cansada. Não havia jeito de enfrentar aquela coisa, eu sou muito fraca, mas tenho que tentar.

 -Tudo pelo Lenny, certo?-Exclamou Gumi, animada, levantando uma de suas mãos.

 -Vamos logo com isso!-Afirmou Teto, ninguém queria invadir aquele lugar mais que ela. Ok, talvez o Kaito.

 -Calma, precisamos de mais planejamento!-Disse Haku, e Kaito e encolheu na cadeira, como se tivesse escutado isso mais do que gostaria. Teto também o fez, desanimada, acho que a minha reação foi à mesma. Deve ter sido o sentimento geral, inclusive, da própria Haku.

 -Precisamos reunir o máximo de pessoas o possível para atacar! Nunca saberemos o que aquele monstro pode fazer!-Falou Neru, batendo com uma de suas mãos na mesa, percebi que quando disse monstro, se referia à Rainha, não ao Pargarávio. Me pergunto que tipo pessoa horrível e cruel essa Rainha deve ser.

 -E quanto tempo isso vai levar? Eu quero o meu irmão!-Perguntei, parecendo uma criança mimada que vai ter que esperar mais um pouco pra receber seu brinquedo.

  -Muito tempo, provavelmente... Mas isso não será necessário tudo isso pra ter o Gato e a Princesa de volta!-Disse Gumi, mordiscando um biscoito.

- O que quer dizer?-Indagou Teto, exaltada, Kaito ergueu as sobrancelhas.

 -Acabei de prever isso!-Respondeu ela.

 -Isso o que?-Perguntei, de novo, me levantando da cadeira com a tensão.

 -Vai acontecer... Exatamente...Agora!-Declarou a Lagarta, finalizando o eu biscoito.

 Quando ela disse a palavra “Agora” uma luz branca cegou minha visão e Len e Miku estavam sobre uma mesa de centro vitoriana, completamente quebrada, ambos gemendo de dor.

 -Len!-Eu e Teto gritamos ao mesmo tempo e corremos para abraçá-lo, Kaito ajudou Miku á levantar-se delicadamente.

 -Ai! Ai! Ai!-Gritou ele, de dor, quando o abraçamos.

 -O que houve?-Indagou Teto, aflita.

 -Machuquei as minhas costas!-Afirmou, fazendo uma careta de dor.

 Quando todos se acalmaram, Len começou a contar tudo que havia acontecido, vez ou outra, parava para comer um biscoito, estava faminto, machucado e sujo. Era tudo culpa minha.

 O Piko era na verdade a Rainha de Copas... E, aparentemente um travesti. Eu queria tanto matar aquela garota.... Garoto...Não sei! O Piko! Ele me deu seu ombro para que eu chorasse quando ele mesmo tinha me feito chorar. Irônico, não? Muito. Eu quis chorar... Mas decidi que ele não merecia que eu chorasse mais por causa dele, vou guardá-las pra quem merece. Afinal, Len e Miku voltaram isso era motivo pra ficar feliz e abrir o meu melhor sorriso...Não é?

 -Cara, o Piko é a maior DRAG QUEEN!-Riu-se Gumi, chegando a rolar no chão.

 -Ela te viu sem camisa?-Perguntou Teto, para Len, se referindo à Miku, sua voz era ameaçadora-Quem é essa tal de Lenka assanhada que fica te dando lacinho de cabelo hein? Quem é?-Gritou, pisando sobre ele sem piedade, mas ainda evitando acertar-lhe as costas. Ele lhe beijou as mãos, como um cavalheiro francês:

 -Nem imagina como eu senti sua falta!-Declarou, sorrindo de uma maneira quase sedutora. Meu irmão está estranho.

 -Eu... Eu... Ora! Óbvio que sentiu! Afinal eu sou sua dona!-E depois virou de costas, tentando esconder seu rubor.

 Eu comecei a rir, afinal, ele havia voltado, eu preferia não admitir isso pra mim mesma, mas Len era uma das únicas pessoas que me fazer sentir segura, afinal, ele era da família, eu não pensava sobre isso, mas Gumi, Gakupo-san e Luka-san também eram partes da minha família. Essa família não era grande, tinha defeitos, era doida e sem noção. Mas era boa, era aconchegante. Era assim com meus amigos certo? Gosto de ficar entre eles, e não é a Rainha de Copas que vai me tirar dali. Não vou deixar.

 No meio dessa alegria toda, não pude deixar de notar que Len não falou tudo o que sabiam sobre as duas pessoas estranhas que dividiam o caminho do labirinto ao meio. Estava me escondendo alguma coisa, disso eu tenho certeza. Como eu sei disso? Não tenho certeza, mas acho que em todos esses anos eu acabei aprendendo a Ler suas expressões. Mais tarde, vou pressionar o Len sobre isso.

  Miku me entregou a Espada Vorpeira, afinal, eu não sou mais tão indefesa assim, parece que ela deverá ser usada para enfrentar o Pargarávio, isso ainda me gela a espinha. Senti que não seria capaz de enfrentar aqui, não ainda, não tem como eu fazer isso. Senti que iria decepcionar todos.

 Nós prosseguiríamos com o plano de invasão, afinal, apesar de estarmos em clima de comemoração, o tempo corria e haviam vidas em risco nesse jogo, eu aprendi da maneira mais difícil. Isto é, quase perdendo meu irmão e uma amiga.

 Em breve, colocaremos os preparativos pós-batalha em prática.

 Discutimos algumas estratégias e tomamos algumas decisões;

 Depois disso, acordamos;

 Afinal...Isso ainda era tudo um sonho, não é mesmo?

 Resgatamos duas peças perdidas, se esse mundo é como um jogo de xadrez... Então... Quem vencerá?

 Continua...