- Eh... E então... Andrew, por que você foi preso? 

 Eu ia morrer. Eu definitivamente ia morrer.

 ...

 O que vai ser dos meus jogos?!

 Cher... Andrew. ANDREW. Eu preciso me focar no primeiro nome dele senão eu vou querer rir de novo.

 ...

 Mas o Mello realmente tem algo contra mim, né?

 Mais cedo, na hora do almoço...

 - Matt, o que é que você tem?!

 Eu tentei. Com todas as minhas forças, mas não dava mais para aguentar. Comecei a rir. A rir muito. Ri tanto, que minha barriga começou a doer e lá grimas se formaram nos meus olhos.

 Mello olhava para mim como se eu tivesse enlouquecido. E isso só fez eu rir ainda mais.

 Sabe quando você está em tal estado, que qualquer coisa que você olhe ou ouça, qualquer coisa mesmo, faz vocÊ continuar rindo cada vez mais? Pois é.

 Mas me deixe contar algo um tanto quanto óbvio mas que é possível que algumas pessoas não saibam: não é uma boa idéia ter um ataque desse tipo no meio do refeitório de uma prisão. Todos os presos ficam te encarando como se você estivesse rindo deles. Ô paranóia.

 - Matt! Se controle! - Mello me segurava pelos ombros e me sacudia nem um pouco de leve.

 Eu tentei respirar fundo para me recompor. Foi preciso acho que umas 10 tentativas no mínimo para eu conseguir. Isso porque toda vez que eu inspirava, algo me fazia rir de novo e todo o esforço ia pro lixo.

 - Mas que merda deu em você?!

 - Ai, se eu falar eu vou voltar a rir. Deixa pra lá - minha garganta estava doendo e minha voz saiu rouca.

 - Posso falar agora ou ainda tem mais? - Mello voltou para a cadeira dele daquela mesa quadrada, de frente para mim.

 - Pode falar.

 - A gente vai ter que conseguir alguma informação sobre essas mortes. Tente falar com o seu companheiro de cela sobre isso.

 - Você está brincando né? Por favor me diga que você está brincando! - eu sabia. Ele não estava brincando. Se ele tivesse dito isso antes, eu teria parado de rir na hora!

 - Comece perguntando por que ele foi preso ou alguma coisa assim, sei lá. Puxe assunto.

 - O quê?! - Você viu o tamanho do cara... - choraminguei.

 - Não reclama que eu também não quero fazer isso - ele fez um careta.

 Eu já era...

 - E por que você quer saber? - Cher... ANDREW caramba! Enfim, ele perguntou desconfiado.

 - Bom, como nós estamos dividindo a cela, achei que seria bom, sabe, trocar experiências.

 "Trocar experiências"? Fala sério, eu podia ter pensado em algo melhor.

 Mas ele pareceu aceitar minha resposta, porque para minha total surpresa ele começou a falar.

 - Eu matei meu vizinho - ele disse naturalmente. Muito naturalmente.

 - Por que? - não consegui deixar de perguntar.

 - Porque ele era folgado. E um pedófilo desgraçado. Tantou abusar da minha filha.

 Ele falavasem nem mudar de expressão, e eu ali, aposto que de olhos arregalados. Acho que mais pelo fato dele ter me respondido do que pelo conteúdo da resposta em si.

 Aquele era um bom motivo. Quero dizer, pelo menos ele teve um motivo. Não foi simplesmente "Ah, que tédio. Acho que vou matar meu vizinho porque o cachorro dele é barulhento." ou algo assim.

 - Está esperando julgamento?

 Ele afirmou com a cabeça e logo em seguida perguntou - E você? O que fez para vir parar aqui?

 - Eu? - me surpreendi por ele ter perguntado - Eu... Ahn... - tenho um amigo insano não serve como resposta, né? - Fui arrastado por um amigo para roubar uma loja. Não deu muito certo.

 - Aquele loiro? - ele perguntou - O que estava sendo agarrado por aquele travesti?

 - Esse mesmo - ah, aquela cena foi realmente hilária.

 Espera, eu estava conversando normalmente com o gorila? E mais importante: eu estou vivo? Quem diria, hein.

 Depois de um momento de silêncio ele falou, estendendo  sua enorme mão - Eu sou Andrew M. Cherry.

 Eu não queria nem saber o que esse "M" siginificava.

 Um pouco relutante eu apertei a mão dele. Ela pareceu sumir ali, sério.

 - Pode me chamar só de Matt.

 Segunda lição: as aparências enganam.