Para Provar que se Tem Um Coração escrita por Tenteitudo


Capítulo 7
Pequenos Tremores de Terra




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Diário particular de Rachel Barbara Berry

Faz duas semanas e meia desde a última vez que escrevi aqui… Desculpe a negligencia, mas os eventos que se passaram nos últimos dias me deixaram realmente… Estática? Deus! Eu não sei… Acho que Quinn conseguiu me deixar sem palavras novamente. Sei que da ultima vez em que nos vimos, eu estava um tanto receosa sobre meus sentimentos e principalmente, sobre os sentimentos dela, mas tudo – absolutamente tudo – mudou.

Esse não é exatamente o melhor momento para escrever, já que são quase cinco da manhã e eu ainda não dormi, mas eu simplesmente preciso por para fora tudo isso que parece querer transbordar de meu peito. Oh, sim, eu quase esqueço de mencionar... Quinn está deitada ao meu lado agora. Ela meio que é o motivo da minha insônia. Não por que nós tenhamos feito algo mais, mas por que ela é simplesmente linda e eu não consigo raciocinar quando seu corpo está tão perto do meu.

Já é difícil me manter sã quando estou acordada e, sinceramente, eu tenho medo de molestá-la enquanto durmo. Não que eu tenha tendências ao sonambulismo, mas meu corpo age por conta própria quando está perto dela. Só a leve pressão de suas costas contra o meu braço já faz minha cabeça girar. Por isso estou acordada.

Sei o que você está pensando, isso não é nem um pouco saudável e eu preciso das minhas oito horas de sono para poder me desenvolver bem, mas, puxa vida, Quinn Fabray está dormindo na minha cama! E usando um dos meus pijamas! E a pele dela é tão macia e seus cabelos têm um cheiro tão bom e... Eu quase perdi minha virgindade ontem à noite.

Eu realmente não sei o que me segurou. Ela estava me tocando de formas... Bem, ninguém nunca havia me tocado lá antes... Só meus pais e só quando eu era bebê. E foi tão bom, diário! Deus, eu não imaginava que fosse possível desejar alguém com tanta intensidade... A perna dela deslizava contra a minha– Ok, acho que não é muito seguro registrar isso, seria totalmente embaraçoso se alguém lesse. Se Quinn lesse...

O que importa é que nós estávamos totalmente envolvidas uma na outra e as coisas quase foram longe de mais. Eu a deixei avançar todos os sinais e eu realmente não me arrependo. Afinal, essas semanas só serviram para confirmar os meus sentimentos por ela. Mas eu quero que ela sinta o mesmo. Quero saber se as borboletas atravessam seu estomago a cada toque e se seu coração acelera quando me vê. Preciso ter certeza que ela me ama de volta. Eu não posso deixá-la me machucar...

Quinn se move um pouco, mudando de lado. Seu nariz encosta levemente contra o braço da diva e a morena levanta os olhos do diário rapidamente. A loira continua respirando tranquilamente e Rachel tem certeza que ela ainda dorme.

Eu acho que deveria aproveitar essas duas ultimas horas antes de acordar, ou seria levantar? Viu o que a falta de sono faz comigo? Não consigo mais formar sentenças coerentes!

Bem, de qualquer forma, eu vou aproveitar essas ultimas duas horas para observá-la enquanto dorme...

E agora eu pareço uma perseguidora... Ok, eu só vou guardar você e sentir um pouco dela, sabe, abraçá-la e fingir que estou dormindo, de repente acordá-la daqui a pouco com café, minhas panquecas vegans são incríveis!

Será que isso é demais?

Argh! Tanto faz, já chega de escrever. Prometo voltar a falar contigo depois da aula.

... E agora eu estou falando com um pedaço de papel como se fosse uma pessoa de verdade! Deus!

A morena fecha o diário e o empurra para baixo da cama. Seus olhos caem sobre a menina ao seu lado e ela sorri, se reposicionando com cuidado sob os lençóis, elas estão tão próximas que Rachel pode sentir a respiração de Quinn contra sua face. Com toda a delicadeza do mundo, a diva levanta uma mão e acaricia o rosto da loira com a ponta dos dedos, espantando alguns fios de cabelo e contornando seus traços. Ela congela quando a loira emite um som estranho, mas nada acontece e ela continua seus movimentos com ainda mais cautela.

As mãos da ex líder de torcida repousam entre seus corpos e perto de seu rosto, a morena pega uma delas e entrelaça seus dedos, levando aos lábios e fechando os olhos. Ela respira profundamente e Quinn se move, se aproximando um pouco mais com um pequeno sorriso nos lábios, como se estivesse sonhando com algo bom. Sua mão aperta a da diva e Rachel suspira.

"Eu queria que isso pudesse ser de verdade." Murmura ela, sentindo suas pálpebras pesarem. "Eu queria que você me amasse tanto quanto eu te amo..." Mais uma vez, seus lábios deslizam pelos nós dos dedos da loira, entrelaçados aos seus. O peso de suas próprias palavras faz com que todo o ar deixe seus pulmões e um trilha de lagrimas silenciosas umedeça sua face. "Por que você, Quinn?" A noção de que aquele sentimento todo era amor, amor de verdade, nunca havia se feito clara antes e o impacto era devastador. "Aonde foi que eu me meti..."

O que ela sentia era tão intenso que chegava a doer fisicamente e ela não queria se sentir dessa forma. Ela não entendia como era possível se apaixonar por alguém que nunca havia lhe feito bem algum, mas não conseguia evitar. Ela morde o lábio em uma tentativa de refrear os sons de seu choro.

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Quinn ouve um barulho suave e distante, ela tenta distinguir o que aquele som significa, mas parece tão baixo e abafado. Um leve aperto em sua mão parece puxá-la de volta a realidade e ela abre os olhos lentamente, piscando algumas vezes até que sua visão entra em foco. Ela esboça um sorriso quando vê a morena de olhos fechados a sua frente, mas esse sorriso logo se transforma em preocupação quando ela percebe a forma como o corpo de Rachel treme.

Os sons que antes pareciam indistinguíveis acabam se revelando pequenos soluços abafados e o rastro das lagrimas é claro através da luz suave que se infiltrava pela janela. Seu coração parece quebrar e ela abre a boca para falar alguma coisa, mas o que poderia dizer? Ela não sabia por que a diva estava chorando e muito menos se Rachel queria ser vista nesse estado. Ela ponderou suas opções e quase decidiu fechar os olhos e fingir que dormia, mas a cantora parecia tão frágil...

Quinn decide seguir seu impulso mais forte e liberta sua mão do aperto da morena, só para envolvê-la em um abraço igualmente apertado. Seus lábios grudam em sua testa e ela murmura coisas incoerentes que as pessoas normalmente falam nessas situações. Rachel enterra o rosto contra a curva de seu pescoço e retribui o abraço, agarrando-se ao pijama amarelo que havia emprestado para a loira.

Sentir os braços de Quinn em volta de si só fez com que o choro aumentasse e Rachel não queria largá-la nunca mais. Aquele abraço era a coisa que ela mais precisava e ao mesmo tempo, o que mais a amedrontava.

Quinn nunca fora boa com coisas desse tipo, ela sabia muito bem com fazer alguem chorar, mas consolo? Não era com ela. A loira simplesmente ficou parada e deixou que Rachel se acalmasse, suas mãos acariciavam o cabelo castanho gentilmente e a cada pouco, ela depositava beijos na testa da morena. Quando os soluços pareceram diminuir, ela se arriscou a falar.

A ex líder de torcida se afastou um pouco e secou algumas lagrimas que ainda escorriam com seu polegar. Rachel fungou algumas vezes e mordeu o lábio com força, Quinn sorria levemente e seus olhos estavam cheios de preocupação. "Eu vou..." Começa ela, prendendo uma mecha de cabelos escuros atrás da orelha da cantora. "Eu vou pegar um copo de água para–" Ela é interrompida pelos lábios da morena sobre os seus e uma perna envolvendo seu quadril enquanto uma mão se agarra ao seu pescoço.

O beijo tem um gosto salgado e os olhos de Rachel estão vermelhos e cheios d'água quando elas se separam. "Eu não preciso de água, eu só..." Ela enterra o rosto no pescoço da loira novamente e a abraça com força. "Fica comigo, por favor, eu preciso de ti..."

Quinn concorda com a cabeça e beija o ombro da cantora por cima do pijama. "Está bem..."

Elas ficam abraçadas por um bom tempo, em silencio, a loira não faz ideia do que dizer e ela reza para que Rachel diga alguma coisa.

"O que foi?" Pergunta ela, tentando entender a situação.

A morena muda um pouco de posição e respira fundo algumas vezes antes de responder, com a voz carregada. "Só... Dor." Ela não esperava que Quinn entendesse, mas ela não sabia como explicar para sua amiga o que estava acontecendo sem entregar seus sentimentos.

"Que tipo de dor?" A loira afasta os cabelos de Rachel para trás e repousa uma mão em seu pescoço, traçando pequenos círculos com o polegar na pele bronzeada. A perna da diva ainda estava sobre as suas e Quinn deita de barriga para cima, a morena se aconchega a ela, usando seu ombro como travesseiro, a nova posição tem um efeito estranho sobre elas e as duas se sentem instantaneamente mais calmas. Perante a falta de resposta, a ex líder de torcida decide tentar novamente. "O tipo de dor que a gente precisa chamar um medico?"

A morena pressiona a testa contra seu queixo e corre as mãos por seu braço. "Eu acho que é pior que essa..."

"O que isso significa?" Murmura Quinn, olhando para o teto. A luz agora já era relativamente mais forte e ela podia distinguir tudo no quarto, alem de conseguir ver Rachel com mais clareza.

A cantora abre e fecha a boca, o que tudo isso significava afinal? Era tudo tão confuso... O motivo de sua dor era quem a estava consolando, e ela gostava disso, gostava da ideia de estar nos braços de Quinn, ela se sentia segura. Mais segura do que com qualquer representante do sexo masculino. Isso é totalmente contraditório. A única pessoa que a fazia sentir assim era aquela que mais poderia machucá-la no momento. Ela fecha os olhos e sente que vai voltar a chorar novamente. "Eu não sei Quinn. Eu estou confusa..."

"Eu consigo entender isso..." Ela sorri suavemente, suas unhas traçando a curva do quadril da diva. "As coisas tem sido muito estranhas ultimamente."

"Em que sentido você está falando?" Pergunta Rachel, hesitante.

"Tudo, eu acho..." Ela franze a testa e continua olhando para o teto. "Quero dizer, isso." Ela faz um gesto com o braço, indicando o quarto inteiro. "Veja o que nós estamos fazendo Rachel. É totalmente... Eu nunca pensei que..." Que o que? Pensa ela? Que eu iria me apaixonar por Rachel Berry? Ela morde o lábio. Eu estou apaixonada por ela? Seus olhos percorrem o rosto da diva, que ainda aguarda por uma resposta. "É como se tudo tivesse se confundido e eu não sei mais o que estou fazendo..." Ela fala em voz alta, sem querer, se referindo ao seu plano inicial e a como tudo parecia ter seguido o caminho errado. Quinn congela, mordendo a bochecha por dentro, sem acreditar que havia deixado tal frase escapar, mas a cantora não parece entender o que ela quis dizer.

"Eu sei... Eu nunca realmente acreditei que pudéssemos nos tornar amigas, muito menos isso..." Sussurra ela. "Amigas com... com benefícios..." Ela levanta os olhos. "Sabe, eu sempre achei que fosse ser o contrario."

"O contrario?" Quinn franze a testa.

"Eu já me imaginava envolvida nesse triangulo amoroso, mas nunca imaginei que eu entraria pelo seu lado." Ela decide que está tudo bem se abrir, nem que seja só um pouquinho... "Você está traindo o Finn comigo. Isso é realmente surreal..."

"Você acha que o que estamos fazendo realmente pode ser definido como traição?" Quinn sabe que a resposta é obvia, mas pergunta mesmo assim.

"E o que mais seria?"

"Eu realmente gosto de ti Rach..." Murmura a loira.

"E isso muda alguma coisa?" Pergunta Rachel, antes de conseguir evitar. "Você está namorando o Finn e se encontrando comigo às escondidas. Ele te tem oficialmente." Ela se sentia exausta demais para refrear qualquer coisa.

"Você... Você me quer?" Ela para o movimento de suas mãos sobre a pele da morena, seu estomago revira, como se milhões de borboletas estivessem sapateando lá dentro. Ela não deveria se sentir assim e ela tinha consciência disso, mas isso não significava que a sensação não fosse maravilhosa.

Seu coração acelera e Rachel pode sentir a mudança, ouvir seus batimentos contra seu ouvido. A diva sorri, talvez elas pudessem dar certo, talvez Quinn a amasse. "Eu não sei..." Ela responde, não querendo elevar demais suas expectativas. "Eu já disse que estou confusa..."

A loira não responde, por algum motivo, tudo o que ela consegue sentir é desapontamento e um aperto desagradável no peito, como se pudesse chorar a qualquer momento.

"Você me quer?" Pergunta a morena, muito baixinho, depois de alguns minutos. "Você acha que... Se o Finn não estivesse no meio, nós poderíamos continuar fazendo isso? Só nós duas?" Seu cansaço pareceu triplicar e seus olhos se fecham involuntariamente. Ela nem mesmo percebe o que acabou de perguntar, a falta de sono da noite anterior e todo o peso emocional da madrugada pareciam ter sugado todos os seus pensamentos coerentes.

Quinn pensa por um momento, já não parecia mais que ela estava namorando com Finn, fazia tanto tempo que eles não se beijavam, ou tinham qualquer tipo de relação para falar a verdade. Depois de beijar Rachel, a ideia de tocar Finn parecia totalmente... nojenta. E todas as vezes que ela de fato estava com ele, bom, não era Finn que ela via a sua frente...

O aperto que a morena tinha em seu braço se afrouxa e a loira olha para baixo novamente, a cantora tem os olhos fechados e sua respiração parecia tranqüila. Ela respira aliviada por não ter que responder e fica observando Rachel dormir. O modo como sua respiração faz com que as mechas loiras de seu próprio cabelo se movam em seu ombro é totalmente hipnótico.

Ela sente a tensão deixar o seu corpo e olha para o relógio na mesinha ao seu lado. Quase sete horas. Eu vou fechar os olhos, só por um minuto... Ela descansa a bochecha contra o topo da cabeça de Rachel e boceja. Só descansar um pouquinho...

====/====

Quinn's POV

Que barulho estranho...

Abro os olhos quando o tilintar aumenta, muito estranho... A luz está bem mais forte do que estava há um minuto atrás e a mão de Rachel não estava sobre o meu seio quando eu fechei os olhos. Não consigo evitar um sorriso, ela é tão quente sobre mim...

Ok, pensamento estranho... Que horas são mesmo? Me espreguiço um pouco e a mão da Rachel desce pelas minhas costelas. Faz cócegas. Relógio, relógio... Viro para o lado e, Oh meu Deus! Nove horas! Sento abruptamente e Rachel solta um gritinho, rolando para o lado da cama e sentando também enquanto esfrega os olhos.

Ela parece totalmente perdida e olha para mim com aqueles grandes olhos castanhos e o cabelo desgrenhado, a marca da costura de meu pijama estampada em sua bochecha. "O que..." Sua voz sai rouca e ela limpa a garganta antes de tentar de novo. "O que foi?" Seus olhos se arregalam. "Você ouviu isso?"

"O que?" Paro de me mexer e olho em volta. O barulho de uma porta se fechando no primeiro andar literalmente faz com que ela de um pulo. (Eu só pulei por que me assustei com o pulo dela.)

"Rachel?" Uma voz masculina ecoa pela casa e trocamos um olhar preocupado.

"Que horas são?" Sussurra ela, levantando da cama. Aponto para o relógio. "Merda." Suspira ela. Não posso deixar de arquear uma sobrancelha ao palavrão. "Pai?" Ela abre a porta do quarto e coloca a cabeça para fora. Eu fico parada por que realmente não sei o que mais poderia fazer, ela olha para mim e tenho certeza que ela também não sabe.

"O que você está fazendo em casa?" A voz está mais perto agora e tenho certeza que é Frank. "E por que tem um carro vermelho estacionado na nossa entrada?" Engulo com dificuldade e olho para as costas da Rachel, ela é realmente delicada, como nunca reparei nisso antes?

Cubro o rosto com as mãos e deito novamente. Eu não devia estar pensando essas coisas... Alem de ser totalmente inapropriado... Bem, é Rachel Berry! Meu Deus, que quase... Eu quase... transei com ela ontem a noite. Oh Deus! Sinto meu rosto esquentar e já não ouço mais nada do que ela está conversando com Frank até que a porta do quarto se abre totalmente.

"Bom dia Quinn." O obstetra sorri para mim e eu me sinto ainda mais vermelha. Eu quase fiz sexo com a única filha dele. No chão da sala.

"Er... Oi."

"Eu sugiro que vocês duas se apressem se quiserem chegar a tempo na escola. Sei que perderam o primeiro período, mas se correrem podem chegar antes do intervalo."

Ele fica parado no meio do quarto, entre nós duas, com um sorriso totalmente bizarro no rosto e o ar parece ficar mais pesado, eu estou me sentindo desconfortável e Rachel está olhando para o chão, acho que ela está com vergonha também...

"Querido." A cabeça de Thomas se materializa pela porta. "Elas só vão poder se vestir se você sair do quarto..."

"Oh!" Ele olha para mim e aperta os olhos em desconfiança. Ótimo, era tudo o que eu precisava. Um pai desconfiado de uma garota que nem mesmo é minha namorada... "Não demorem..." Ele fala antes de deixar o aposento.

"Acho que..." Eu levanto.

"Você não tem roupas não é?" Rachel me interrompe e eu percebo que realmente não tenho, eu não pretendia passar a noite aqui.

"Er... Não."

"Eu não sei se algo meu vai te servir, o pijama ficou visivelmente curto..." Ela me olha de cima a baixo e eu tenho vontade de encompridar os shorts quando ela se demora em minhas pernas.

"Eu acho que eu tenho uma calça jeans no meu carro, eu estava usando segunda e fui para casa com os shorts da educação física mesmo..."

"Ok, você quer ir pegar a calça? Eu vou ver se tenho algo para você aqui." Ela sorri timidamente e meu estomago dói. Acho que estou com fome.

Não falo nada e simplesmente saio do quarto. Seus pais não estão em lugar nenhum e não demoro muito para encontrar o jeans dobrado dentro do porta-malas. Não vejo ninguém no caminho de volta e Rachel está me esperando perto da porta com uma camisa xadrez que reconheço como parte do seu figurino de Sing e uma toalha branca que parece realmente fofa.

"O banheiro de hospedes fica no fim do corredor a esquerda."

"Ok." Aceito o que ela me oferece e sigo suas indicações. As coisas entre nós estão um pouco desconfortáveis e eu não gosto disso. Nós estávamos abraçadas a alguns minutos atrás e agora ela parece fria... Entro no chuveiro e alcanço pelo shampoo que encontro ali, não é o mesmo que Rachel usa, mas á bom também, tem cheiro de camomila.

Eu não sei por que o modo como ela está agindo me incomoda tanto, não é como se eu me importasse, não é mesmo? Não tem condicionador. Imagens da noite anterior preenchem minha mente e a voz de Rachel parece reverberar pelas paredes do banheiro. "Eu não te amo Quinn." Por um momento, respirar dói, ponho a mão sobre o peito e alcanço pelo sabonete liquido que tem o mesmo cheiro que o shampoo. O banho termina rápido demais, nunca gostei de tomar banho na casa dos outros, sei que soa idiota, mas parece que estou usando a água de outra pessoa.

Me seco rapidamente e visto as roupas que Rachel havia me dado, a camiseta xadrez fica um pouco justa e as mangas são curtas, mas fora isso, serve perfeitamente e combina com as calças. Verifico meu reflexo no espelho antes de voltar para o quarto.

A porta está encostada e eu espio pela fresta antes de entrar, só estou espiando para ver se Rachel está totalmente vestida... E ela não está. Consigo vê-la de costas, de frente para o armário, seu corpo está precariamente enrolado por uma toalha igual a que ela havia me emprestado e seus cabelos escuros grudam em seus ombros. Eu não posso negar que ela é atraente, muito. Engulo um pouco da água que encheu minha boca, essa reação é totalmente involuntária e eu me sinto estranha, como se meu corpo todo tremesse, principalmente da cintura para baixo. Ela deixa a toalha cair e... Deus! Ela está só de calcinha.

Ok, o que é isso? Eu já vi milhões de mulheres nuas antes, quando era líder de torcida. Nunca me afetou tanto... deve ser por causa do que nós estamos fazendo, acho que se você está... O que eu estou afinal? Argh! Por que eu não consigo desviar os olhos? Eu consigo ver a curva de seus seios e meu coração acelera totalmente. Por que ela tem que ser tão bonita?

Fecho os olhos e conto até dez. Quando os abro novamente, ela está virada de frente, fechando o sutiã. Solto o ar com força. Será que devo entrar agora? Como ela ainda não percebeu que eu estou espiando? Eu estou espiando uma outra menina se vestir! Eu me sinto tão Puckerman agora...

Ela pegou a toalha e está enxugando os cabelos agora, ela umedeceu os lábios e isso me deu arrepios estranhos. Mas a pior parte nesse quadro é saber que eu posso entrar e simplesmente beijá-la agora e ela não vai me impedir. Isso parece errado de certa forma... Rachel não é minha, mas nós duas agimos como se fosse.

"Posso saber o que você está fazendo?" A voz grave e a grande mão em meu ombro me trazem de volta para a terra e tenho certeza que meus olhos triplicaram de tamanho quando me virei para encontrar Thomas Berry, me analisando com as sobrancelhas arqueadas. Ele é realmente muito grande. "Eu presumo que você esteja espiando a minha filha se vestir, já que seus olhos parecem os de uma criança que foi pega com a mão no pote de biscoitos."

"Eu... Eu..." Meu rosto parece queimar em vergonha e eu queria que o chão pudesse se abrir e me sugar para dentro...

"Eu não me importo que você olhe por que sei que a minha princesinha não é tímida em relação ao próprio corpo e também não é nada que você não tenha visto antes." Continuo balbuciando coisas incoerentes enquanto ele fala. "Eu só quero dizer, Quinn, que Rachel não precisa me falar nada para que eu saiba exatamente o que está acontecendo. Isso é totalmente errado. Eu prometi que nunca me intrometeria nas escolhas da minha filha, mas eu vou me intrometer nas suas." Ele olha diretamente em meus olhos e eu engulo com dificuldade. "Eu não faço ideia do que você está planejando com isso, mas posso dizer que você realmente gosta dela. E ela gosta de ti também. Mas eu sei que isso não vai ser o suficiente para que você aceite esse relacionamento e o que ele verdadeiramente significa." Ele respira fundo e seus olhos parecem se suavizar um pouco. "Eu sei como é ser gay e adolescente e toda a pressão que vem junto com isso. Você vai passar por muito sofrimento durante o processo de aceitação e eu não quero que você leve a minha filha contigo."

"Eu nunca disse que era gay..." Consigo murmurar.

Thomas sorri tristemente. "Claro que não..." ele limpa a garganta. "O que eu quero dizer, Quinn, é, não a machuque. Não importa quanto tempo você levar para assumir o que sente ou quanto vai demorar para que vocês possam sair em publico abertamente, só, por favor, não deixe ela sofrer. Eu sou um pai pedindo pelo bem da minha filha. Espero que você entenda e respeite isso..."

Acho que o meu coração pode ter caído do peito. O que eu devo dizer a isso? A porta do quarto se abre antes que eu possa formular qualquer coisa e Thomas desaparece pelo corredor. "O que houve?" Pergunta Rachel, parando atrás de mim.

"Nada." Viro-me para ela e forço um sorriso. Ela me olha com incerteza, mas concorda com a cabeça.

"Ok..." Seus olhos se desviam para o meu corpo e ela sorri. "Serviu!" Sua mão corre pelo tecido xadrez que cobre meu braço, parando na bainha das mangas. "Só... As mangas ficaram um pouco curtas, mas eu posso ajeitar..." Ela engancha seus dedos nos meus e me puxa para dentro do quarto. "Eu vi o meu pai..." Começa Rachel, ela enrola as mangas da minha camiseta para cima, de forma que elas não pareçam mais tão curtas. "Ele falou alguma coisa?"

"Sim, mas eu realmente não quero falar sobre isso Rach..." Ela termina com a minha camiseta e eu coloco minhas mãos em sua cintura. Ela puxa o meu queixo para baixo de modo que nossos olhos se encontrem.

"Está bem..." Sua mão se abre em minha bochecha e guia meu rosto para perto dela, unindo nossos lábios em um beijo delicado. "Nós deveríamos ir agora..."

"Sim."

====/====

Finn's POV

Eu não sou tão idiota quanto pareço. Eu percebo as coisas ao meu redor, a maioria das vezes pelo menos. Eu sei que ela está me traindo de novo. Está estampado nos olhos dela. E ela fica me botando para trás o tempo inteiro e inventando desculpas para não encontrar comigo. Eu sabia que não devia ter confiado nela de novo, ela é uma traidora, sempre foi e é claro que sempre vai ser.

Ela está me ignorando totalmente, quero dizer, eu sou o namorado dela e estou sentado do lado dela no almoço. Eu esperava que ela me desse um pouco de atenção, mas não. Desde que essa amizade totalmente estranha e aleatória começou é só Rachel. Rachel, Rachel, Rachel. É como se ela não soubesse falar sobre outra coisa, às vezes até parece involuntário, como se ela nem se desse conta do que está fazendo. E o pior, é que Rachel está igual.

Eu ainda não acredito que Rachel realmente desistiu de mim, isso é totalmente... uma droga. E ver as duas assim, super amiguinhas... É totalmente estranho. Kurt falou que eu devo ser muito cego para não perceber o que está havendo, mas eu realmente não sei por que ele disse isso. O que tem pra ver? É claro que Quinn não está me traindo com a Rachel, isso só poderia acontecer em uma outra realidade, tipo um videogame ou num mundo estilo Sucker Punch o que seria super hot, e assustador ao mesmo tempo, por que Quinn e Rachel juntas? Seria como explodir uma bomba dentro de um microondas ou algo assim...

Nós já discutimos varias vezes sobre isso e ela nega o tempo inteiro. Eu já pensei em terminar, mas eu não tenho mais a Rachel, o que significa que eu teria que ficar sozinho se a gente terminasse e eu não gosto de ficar sozinho...

E ela está rindo agora. É sempre assim. Elas conversam, riem, ai brigam e então a Rach vai embora e a Quinn corre atrás dela. E elas não voltam. Eu não sei o que elas fazem, mas algo bom não deve ser. Sei que deveria ficar feliz que Rachel finalmente tem amigos, mas eu não acho que a Quinn tenha boas intenções, ela nunca tem...

Espera um pouco. O que é isso? Não pode ser! É a prova que eu precisava! Como ela vai explicar isso agora?

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Fim Finn's POV

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Finn estende um braço e afasta os cabelos de Quinn que cobriam o seu ombro, ela para de rir e se vira para ele com uma careta.

"O que foi?" Pergunta ela, afastando sua mão.

"Posso saber o que essa marca roxa significa?"

"Do que você está falando?"

"Eu sabia que você estava me traindo, eu sabia!" Exclama ele, ficando em pé e chamando a atenção de todos no refeitório.

Quinn e Rachel trocam um olhar, a cor parece deixar todo o rosto da morena.

"É claro que eu não estou te traindo!" Responde a loira por entre os dentes, ficando de pé também.

"Então de onde veio esse chupão no seu pescoço Quinn?" Ele afasta seus cabelos de novo e todos os olhos se grudam nela.

Droga, droga, droga! Ela leva uma mão à pele machucada. "Foi você quem fez Finn."

Rachel morde o lábio.

"O-o que?" Finn parece completamente confuso, a expressão em seu rosto se suaviza por um segundo antes que ele aperte os olhos.

"Você não lembra?" Ela dá um passo à frente e puxa os cabelos para o lado, expondo a região para que ele possa ver melhor.

Rachel desvia os olhos para seu almoço, sentindo-se totalmente sem fome e um pouco enjoada.

"Não." Diz ele firmemente.

"Você é um idiota sabia?" Quinn aponta para ele. "Você nem ao menos lembra o que fez! Eu achava que esse relacionamento fosse importante pra ti, mas aparentemente eu estava enganada." Ela nem sabe o que está falando, as palavras fluem de seus lábios por conta própria e a única coisa que ela quer no momento é que ele desapareça. A atenção indesejada é totalmente desagradável.

"Eu não sou idiota, eu sei que está acontecendo alguma coisa. Primeiro essa amizade estranha com a Rachel..."

Eu acho que vou vomitar... Pensa a diva, passando os dedos pela testa, como se estivesse tentando se esconder dos olhares que agora estavam voltados para ela.

"O que a minha amizade com a Rachel tem a ver com qualquer coisa?" Ela engole com dificuldade antes de falar a próxima frase. "Não é como se eu estivesse te... traindo com ela..."

Rachel se levanta abruptamente. "Com licença." Murmura ela, antes de deixar a mesa, sem nem ao menos recolher suas coisas.

"Você só está tentando me confundir!" Finn praticamente grita. "É o Sam, não é?"

"O que? Não!" Ela está começando a perder a paciência, seus olhos encontram os de Rachel no exato instante em que a morena está fechando as portas de vidro que dão para o pátio da escola. "Eu realmente não sei o que eu ainda estou fazendo namorando você Finn. É obvio que não existe confiança alguma nesse relacionamento!" Ela da às costas para ele e para o resto das pessoas, seguindo o mesmo caminho que a diva havia acabado de fazer.

A tristeza que ela havia visto naqueles grandes olhos castanhos havia mexido com algo dentro dela e a loira não podia deixar que Rachel fosse embora.

"Aonde você está indo?" Pergunta Finn, ainda mais alterado.

Ela não responde.

"Isso significa que nós terminamos?" Grita ele, fazendo-a se virar novamente.

"Se é isso que você quer Finn, então sim, nós terminamos." Sua voz sai baixa e inalterada, repleta de ódio e frustração contida que fazem o menino tremer.

"Ótimo então!" Ele faz um gesto obsceno antes de tomar o rumo oposto ao de Quinn, chutando uma cadeira contra a parede.

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