16 Constelação de Pegasus escrita por Sereny Kyle
Era tarde da noite, mas Tay não conseguia dormir. O trailer estava silencioso quando ela saiu do quarto. Desde que arranjaram colchonetes, os Get Backers dormiam no chão do quarto delas.
Ela foi até a cabine de direção e sentou-se, apertando-se dentro do casaco pra se proteger do frio.
Desde que Kay se ferira, todos os serviços das Kamy Spys sobrecarregavam Tay e ela sentia-se perdida. Sozinha naquela escuridão, ela permitiu-se chorar como há muito não fazia.
Ban saiu do quarto e foi atrás dela.
-- Perdeu o sono? – ele disse, sentando-se na poltrona do lado dela. Ela enxugou os olhos e ele se assustou ao vê-la chorando. – O que foi? – ele disse, preocupado e ela estranhou.
-- Não é nada não.
Ban olhou pela janela e disse:
-- Você me disse que eu não estava sozinho, não disse? Isso se aplica a você também, sabia?
Tay piscou os olhos, espantada. Ban a vinha surpreendendo muito ultimamente.
-- Eu não sei quanto tempo eu ainda vou agüentar fazer os serviços das Kamy Spys sozinha. E eu não posso deixar a Kay perceber, pra ela não se sentir culpada.
-- Entendo.
-- E o próximo trabalho que eu recebi não vai ser nada fácil.
-- Não vai?
-- Nem um pouco.
-- Por quê?
-- Trabalho disfarçada. É um lugar onde pessoas muito poderosas se encontram e eu fui contratada pra espionar um grupo que...
-- Do que você vai se disfarçar?
Tay ficou extremamente corada e desviou o rosto.
-- Existem algumas apresentações musicais lá... Kay e eu sempre fazemos um número nesse tipo de missão... Mas, não sei se tenho coragem de fazer sozinha...
-- Você dança?
-- É.
-- Eu poderia te ajudar.
Tay olhou interrogativa pra ele e Ban sorriu.
-- Nos serviços de espionagem. Ginji e eu nos disfarçamos às vezes, mas no serviço de recuperação isso é só o último recurso. Pra não te sobrecarregar tanto, até a Kay se recuperar, eu posso ser seu parceiro.
Ela ergueu as sobrancelhas, desconfiada.
-- Só tem um problema... Eu não danço – ele deu risada.
-- Você vai me ajudar? Por quê?
Foi a vez de Ban desviar o rosto.
-- Ginji e eu não estamos conseguindo muita coisa e se você tiver que recusar serviço por estar sozinha, vamos estar perdidos.
-- O que vai querer em troca dessa ajuda? – Tay perguntou desconfiada e Ban voltou-se indignada pra ela.
-- Não quero nada em troca! Mas se não quiser a minha ajuda... – ele se levantou, mas ela agarrou sua mão.
-- Espere. Eu aceito a sua ajuda. Só fiquei surpresa, desculpe. Você sabe tocar algum instrumento?
-- Toco – ela ergueu as sobrancelhas. – O quê? Eu toco sim. Toco violino, flauta, piano...
-- Piano pode ajudar! – ela exclamou, contente.
-- Então, posso ajudá-la.
-- Muito obrigada, Ban. Eu vou providenciar tudo!
Ela voltou para o quarto, muito mais aliviada e Ban sorriu, olhando-a.
“Eu estou perdido mesmo”, ele pensou, voltando para o quarto e deitando-se no colchonete. “Perdidamente apaixonado”.
Na manhã seguinte, eles contaram a Kay e Ginji, que ficaram muito surpresos e apreensivos.
-- Vocês vão o quê?
-- Ban se ofereceu pra me ajudar.
Kay e Ginji trocaram olhares preocupados, os companheiros nunca se deram bem, seria um desastre os dois trabalhando juntos. E se brigassem?
-- Kay, preciso da sua ajuda com os disfarces. Eu não encontro minha roupa de apresentação e nós teremos que visitar “aquela pessoa”.
-- “Aquela pessoa”? Por quê? Eu não quero ir vê-la!
-- Eu preciso encontrar alguma coisa pro Ban usar. Ele não pode usar nada do que temos aqui.
-- Quem é “aquela pessoa”? – Ginji perguntou temeroso.
-- É a costureira que faz nossos disfarces. Ela é assustadora.
-- Não seja exagerada, Kay. Iremos à tarde.
A costureira atendia em um enorme galpão. Era uma senhora de cabelos grisalhos e grandes óculos de contas, que usava roupas de cores muito sérias e muitas fitas métricas no pescoço. Estava em sua máquina de costura quando entraram e nem ergueu os olhos para cumprimentá-los.
-- Como vão, garotas? – a voz dela era rouca e seca, nada bondosa como se espera que seja a voz de uma velhinha. – No que posso ajudá-las dessa vez?
-- Preciso de uma nova roupa pra apresentação de dança, Sophia e de uma roupa que sirva no Ban.
A velha se levantou e se aproximou de Ban, sem que Tay precisasse indicar quem ele era. Kay se agarrou ao braço de Ginji quando ela passou por eles.
-- Ele é corpulento, mas acho que tenho algo que sirva! Vai aonde dessa vez, senhorita Tay?
-- Na Constelação de Pegasus.
-- Ah, por isso vai levá-lo com a senhorita? Venha cá, rapaz – ela chamou Ban e entregou um paletó.
-- O que quer dizer?
-- Aquele lugar é um covil dos mais perigosos. Não, não é esse. O que vai tocar? – ela perguntou a Ban.
-- Piano – ele tentou não parecer assustado com a senhora, mas ela lhe causava arrepios.
-- Acho que sua apresentação ficará belíssima com piano, senhorita Tay. Mas realmente precisará de algo novo, que combine com o pianista, com a boate e que lhe dê mobilidade. Ele também entrará em ação? Acho que precisa de algo resistente. O que acha de usar algo mais provocante dessa vez, Tay?
-- Sophia, acho que não combina comigo... – Tay respondeu, envergonhada. – Sabe que não devemos chamar atenção.
-- Quando está sozinha com sua irmã, eu concordo, mas terá esse rapaz forte para protegê-la. Tome, vista que eu acho que precisa de um pontinho. Ande menina – Tay foi contrariada se trocar, enquanto Kay e Ginji riam. – E você, Kay? Ainda está machucada?
-- É – Kay parou de sorrir e segurou firme a mão de Ginji.
-- Que pena. Vocês seriam um quarteto belíssimo. Como está? – ela perguntou, quando Ban terminou de pôr o terno e ele consentiu.
Tay voltou, num vestido azul escuro, um pouco curto que brilhava ao refletir a luz. Ela parecia pouco à vontade vestida daquele jeito, mas ficara muito bonita. Ban ficou olhando-a, boquiaberto.
-- Eu disse que ficaria bem, com sua sandália preta ficará magnífica. Venha aqui – Tay foi até a senhora, que começou a arrumar a barra.
-- Não vá deixar mais curto, Sophia! Eu serei uma dançarina, mas posso precisar lutar com alguém.
-- Está bem, está bem. Kay, faça o cabelo dela do mesmo jeito que ela usou no Lift. Victor ficou perturbado ao vê-la daquele jeito, lembra? Talvez nem precise lutar.
Kay deu risada enquanto a irmã voltara a ficar vermelha.
-- Já encontrou a roupa do Ban, Sophia?
-- Já, já. Vocês até que combinam.
-- O quê? – Tay ficou ainda mais envergonhada e Ban desviou os olhos dela pela primeira vez. Kay e Ginji gargalharam.
-- Fique quieta ou vai se espetar nos alfinetes. Sabe que Victor foi visto na Constelação, não sabe? É claro que sabe, você sempre sabe desses detalhes. Está indo atrás dele dessa vez?
-- Não. Quem o viu na Constelação?
-- Uns clientes. Mas ele veio aqui umas duas vezes.
-- Viu Victor? Faz quanto tempo? – Tay pareceu interessada e Ban olhou-a triste e furioso, mas desamarrou a cara e ficou admirando-a novamente.
-- Faz algumas semanas. Perguntou se eu sabia sobre você.
-- É, pra ele tentar me matar de novo. Se eu encontrá-lo na Constelação ele que vai ser morto!
-- Pronto. Viu? Eu disse que um vestido assim lhe cairia bem. Agora o resto do disfarce do seu namorado...
-- Sophia, Ban não é meu namorado! – Tay disse, envergonhada e Ban deu risada, recebendo o resto das roupas.
-- Claro, claro. Tome cuidado, hein, rapaz? Essa mocinha chama muita atenção e naquele ninho de cobras muitos homens comprariam o mundo pra tê-la! – Ban ficou assustado e, enquanto ela conduzia os quatro pra fora, sussurrou pra ele – ela percebe o jeito como você a olha. É o primeiro que eu a vejo permitindo isso.
Os quatro entraram na Joaninha, prontos pra irem embora, olhando a senhora voltando para o galpão.
-- Viram por que ela é assustadora?
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mereço reviews????