Iron Mask escrita por Luisy Costa


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Aproveite e quem sabe um dia eu termino de contar a história



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Não havia tempo para passos comedidos e tranquilidade, Quill transpirava urgência em sua postura, Edward tão pouco parecia calmo. Uma fogueira semanas atrás significava apenas caçadores ou viajantes pernoitando às margens de uma queda d’água, como já houvera passado. Nas atuais situações, com um perigoso grupo de inimigos rondando em nossa procura, uma fogueira causaria pânico. 

Mesmo que aparentemente ponderados eu podia enxergar esse pânico nos olhos dos homens que estavam na praça, com suas posturas tensas, como se estivessem prontos para a luta ao primeiro sinal de ataque. Jasper estava no extremo oposto da saída do túnel, seus olhos analisavam cada um dos membros da guarda antes de relampejarem na minha figura. Olhares como esse já me haviam feito encolher nas minhas roupas, mas isso fora antes de aprender a lança-los. Edward pareceu não notar que todas as pequenas conversas pararam e que todos agora prestavam atenção em nós.

— O que mais, além de que há uma fogueira, vocês sabem?

 Para alguém que era um patético monarca que fedia a medo, o príncipe vinha se saindo muito bem em sua tarefa de mandar, isso serve para ganhar a confia dos homens, ou sua revolta.

— Estávamos esperando sua chegada alteza. A sua também Iron. – Todos se colocaram de prontidão. – Sabemos pouco além da fogueira, visto que as saídas do complexo foram vetadas. Sam e Jacob estavam patrulhando na trilha do topo quando avistaram a fogueira às margens da cachoeira. Eles viram dois homens, um sentado cuidando do fogo e o outro cuidando dos cavalos. Como são três cavalos, suspeitamos que haja um terceiro elemento na floresta. É tudo que sabemos.

Não havia dúvidas. Eram eles.

— São eles. – minha voz saiu quase como um fio, por um segundo eu fui a assustada Bella. – São eles, sem dúvida alguma. Alec é quem cuida do fogo enquanto Felix checa os mantimentos e cuida dos cavalos. Demetri deve estar caçando, só não posso dizer se a nós ou o jantar.

— Já suspeitávamos que fossem eles, ninguém antes veio aqui por muito tempo. – Sam falou com cautela.

— E quanto tempo acha que estão aí? – A confiança do príncipe havia caído um pouco nos últimos segundos.

— As rondas diurnas ficaram menos abrangentes, mesmo que sejam no alto da muralha, porém não havia ninguém na área antes do poente. – Aparentemente Jacob queria demonstrar eficiência.

— Chegaram há pouco tempo então, Demetri só para quando a última luz solar desaparece no horizonte. Desde que eles chegaram Demetri está na floresta, rastreando qualquer coisa que puder achar, o desgraçado conhece até a forma como a floresta se comporta para esconder rastros. Deve estar cavando por merda que virou adubo ou algum pelo solto. Vão ficar por alguns dias, talvez até uma quinzena e meia, espero que a paciência dos Volturi seja curta e que logo retornem, essa é a única chance de passarmos despercebidos.

— E se não passarmos? Você vai nos entregar a eles em uma bandeja?

— Jacob! Não temos tempo para esses disparates. – Jasper repreendeu sem rodeios. – Não quero insinuações desse tipo outra vez. Compreenderam bem?

Todos confirmaram com a cabeça.

— Iron, posso imaginar que as medidas serão intensificadas agora?

— Sem dúvida, a cozinha e o jardim são áreas completamente proibidas agora, há cavernas na área dos depósitos profundas o suficiente para cozinhar despreocupadamente, levando a fumaça mais para o fundo. Apenas precisam disfarçar a horta e o lago, nada parece menos natural do que jardinagem e eles perceberão isso. Façam isso imediatamente após o poente, eles irão se revessar em turnos, mas ainda não devem começar a escalar pela cachoeira, ou a procurar mais a fundo. Além disso, há outro lugar em que podemos colocar os cavalos?

— Talvez devêssemos os deixar no jardim. – Sibilou Jacob em um sussurro mordaz. Jasper apenas lhe lançou um olhar de advertência antes de meditar sobre a questão.

— Infelizmente não há. – Suas palavras concisas tiravam a oportunidade de garantir a segurança de Durna.

— Há alguma forma de bloquear a passagem da cachoeira? – Se não posso afastar do perigo, ao menos posso tentar aumentar a segurança da minha única amiga.

— Deixamos algumas rochas bem posicionadas ao longo do caminho, elas podem formar um muro e impedir a passagem de intrusos. – Apontou Sam com uma calma incomum, demonstrando como conquistou a confiança de Jasper.

— Paul, Quill e Jacob vão começar a levantar esta edificação, começando por recolher as rochas. Entretanto esperem até que passe o poente para levantar a parede. Sam e Emmett irão ajudar até o poente, depois vão cuidar do Jardim. Iron e eu vamos conversar com a Família Real, nos assegurando que conheçam as novas instruções.

Murmúrios e gestos de concordância foram efetuados enquanto cada um tomava seu posto. Mas os meus passos foram pesados enquanto seguia Jasper para a Ala Real, pois mesmo tendo apontado um planejamento de defesa, um sentimento amargo começava a se espalhar pelo meu corpo. Estas pessoas, cuja convivência me provocou tantos sentimentos, poderiam ser capturadas pelas pessoas que eu mais temia, com as quais partilhava a indigna profissão. Após uma curva os archotes da área de convivência entraram no meu campo de visão, trazendo luz para além do ambiente, para dentro de mim. Esta luz fez germinar uma ideia, que antes era apenas uma semente esquecida sob a terra, uma ideia que seria brilhante, mas igualmente desafiadora. Podia ouvir Jasper relatando a Rainha Esme e suas filhas sobre a fogueira, sobre as medidas tomadas e os comportamentos a serem seguidos. Porém mal registrava as palavras exatas, minha ansiedade crescente impedia que outra coisa interrompesse meu planejamento. Quando todas as nuances da ideia se solidificaram na minha mente, a mesma desceu como o estalo de um chicote para a minha língua.

— Eu tenho uma sugestão que talvez possa amenizar o medo de Vossas Altezas. Considerando que não teremos muito mais a fazer, e que estar preparados é a melhor defesa possível neste momento, sugiro que as princesas tomem aulas de esgrima e luta juntamente ao príncipe.

Os olhos na sala estavam chocados. Membros da realeza estavam tão acostumados a proteção continua que não se preocupavam em aprender a se protegerem, principalmente os membros femininos. Eu pude ver que Jasper estava prestes a levantar objeções, provavelmente citando os conhecimentos comuns sobre a delicadeza feminina, mas uma voz se sobressaiu atrás de nós, primeiramente.

— Tendo a crer que esta não seria uma ação convencional a princesas. Principalmente considerando que nossos inimigos são muito melhor treinados e bem mais dispostos ao ataque. Porém, antes de conhecer Iron, os melhores instrutores da arte da esgrima passaram pela minha tutoria, nenhum deles foi capaz de me ensinar uma mísera fração do que ele vem me ensinado. – Seu olhar queimava meus olhos, desencadeando sensações muito diferentes pelo meu corpo. – Então, se a Rainha Esme permitir, e as princesas assim desejarem, consinto a realização destas aulas.

— Perdão Alteza, mas a guarda é qualificada o suficiente para proteger a todos que aqui estão. Sem necessidade que corram riscos dispensáveis. – Dardejou um claramente irritado Jasper.

— Embora eu confie plenamente na eficiência da guarda escolhida pelo Rei, creio que as circunstâncias exigem medidas preventivas, que diminuam os riscos. – Lancei de volta a Jasper a minha resposta.

— Creio que não seja inerente a natureza das princesas o uso de aço e força, pelo contrário, seria melhor manter a todas as damas aqui reunidas, em caso de um ataque.

Meus olhos queimavam assassinos e meu coração parecia querer pular para fora do peito e da cota de malha, tamanha era a raiva em ouvir sobre não ser inerente a natureza de uma mulher se defender. Estava quase a ponto de pular em sua cara quando ouvisse um pequeno coçar de garganta.

— Na verdade acredito que esta decisão não caiba aos senhores. Dar os meios para que meus descendentes possam garantir a própria segurança é algo que qualquer mãe gostaria. Ainda que haja precedentes para situações como esta, até onde posso me lembrar estamos em guerra. Durante estes períodos é dado o consentimento real que cada um que aqui habita possua a permissão de aprender a se defender. Este consentimento é concedido pensando nas esposas, mães, filhas e filhos que são deixados para trás quando um homem vai lutar em uma guerra. Estou velha demais para tomar esta oportunidade, mas quero garantir que minhas filhas possam usufruir desta chance, se assim desejarem. Com isso deixo claro minha direta permissão para que as mesmas tomem estas aulas. E se o tranquiliza, pode acompanhar as sessões, Sir Jasper.

E sem mais delongas, a rainha estalou o seu leque aberto e começou a se abanar placidamente, esperando a audácia da argumentação. Calado, Jasper assentiu e se pôs meio passo atrás, indicando que não iria contrapor a ideia. Alice o observava atenta e Rosalie estava extremamente concentrada em sua reflexão. E assim perdurou por algum tempo enquanto a luz do archote tremeluzia suave com a corrente de ar que alimentava a câmara. Porém, em um instante, as princesas trocaram um breve olhar e gestos, após a troca rápida, se levantaram e vieram em minha direção.

— Nós aceitamos, quando começa o treino? — uma desafiadora Alice respondeu, enquanto fitava Jasper.

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Na manhã seguinte a tensão era palpável pelas cavernas, os homens se olhavam rapidamente e seguiam para suas tarefas, as criadas estavam cozinhando na parte mais funda possível do sistema de cavernas e os homens que haviam passado a noite levantando o muro agora estavam dormindo profundamente. Quando cheguei a sala de convivência os móveis estavam junto a parede, criando um salão para o treino. As princesas usavam roupas de equitação que pelas dobras e cintos improvisados, foram tomadas do príncipe.

— O primeiro passo básico é que vocês não estão adequadamente vestidas — sentada no fundo da sala, a rainha me questionou com um olhar certeiro. — Embora eu aprecie o conforto, vocês são damas da realeza e não usaram calças em seu cotidiano, portanto, sugiro que troquem para vestidos leves.

Sem reclamações, as duas desapareceram em seus aposentos para voltar pouco tempo depois usando vestidos. As conduzi para a mesa ao lado da rainha e abri o pacote que carregava, que além de duas espadas, contava com adagas e punhais de tamanho variado.

— Isso tudo é seu? — perguntou Rosalie com espanto. — Onde consegue manter tudo?

— Ainda que seja prevenido, vossa alteza, só parte destas armas me pertence, uma grande parcela foi emprestada pelos vossos guardas.

Sua resposta foi cortada pela nova presença na sala.

— Parece que vocês estavam prestes a começar sem mim.

Edward apareceu despreocupado demais para quem tinha a cabeça acobreada envolvida em uma guerra. Seu sorriso confiante parecia levemente contido, enquanto sua voz exprimia a leveza.

— Estávamos sim, vossa alteza — ele torceu levemente a boca, mas pareceu compreender o uso do termo. — Antes que interrompesse meu raciocínio, estava prestes a explicar como irei treinar suas irmãs.

— Ora, não seja por minha culpa, eu posso me aquecer enquanto você as orienta.

— Claro, seja um preguiçoso por alguns minutos, assim elas podem te derrubar até o final do dia.

As três mulheres assistiam a troca extasiadas, como se vissem dois pantomimeiros entretendo a realeza em um banquete, me deixando levemente desconfortável.

— Antes da rude interrupção, ia explicar que passei a noite refletindo sobre como treina-las — as circundei com passos largos, sendo acompanhado por todos os pares de olhos presentes. — Embora eu goste de levar ao chão vosso irmão, cheguei à conclusão que a abordagem bruta não é o melhor artifício. De forma que pretendo utilizar da aparente fraqueza do sexo feminino como a maior arma que possam ter.

Eu tinha que admitir, estava me viciando em os deixar chocados. Enquanto todos processavam a ideia, me aproximei da mesa, tomei um punhal e levei até as princesas.

— Vejam esse punhal, ele parece perigoso quando eu o mantenho a vista. Mas por baixo de um vestido esse punhal é como a víbora escondida na grama — me aproximei da pequena Alice. — Tome esse punhal, vossa alteza, sinto o peso dele, é quase tão leve quanto sua mão. É suave e discreto, algumas pessoas podem o confundir com uma faca frágil, mas esse aço foi temperado e afiado para ser letal. Enquanto você o esconder, possuirá uma chance de lutar por si mesma.

Me aproximei da mesa outra vez e peguei outro punhal, dessa vez o coloquei na mão da princesa Rosalie, que o avaliou lentamente, sentindo o peso e tateando os pequenos arranhões de uso.

— Esse é um pouco maior que o de Alice — ela me fitava um tanto irritada. — Não deveríamos ter armas iguais?

Fingindo pegar o punhal de sua mão, restringe um pouco nossa distância e me inclinei levemente para sussurrar a real motivação da diferença entre as armas.

— Sir Emmett insistiu que vossa alteza tivesse o seu punhal — me virei para a princesa liliputiana e segredei. — Assim como Sir Jasper me garantiu que esta era a arma ideal para vossa alteza.

O resultado foi rápido, Alice agarrou seu punhal e Rosalie deu um bote em minha mão para retomar o seu.

— Agora que todos concordam, a primeira lição é sobre como impedir um ataque — aparentemente elas pensaram que já iriam começar a apunhalar alguém imediatamente, mas não fizeram nenhum comentário. — Ambas precisam entender que primeiro tentarão restringir seus movimentos, por isso vão ter que usar qualquer vantagem para poder ter uma chance. Vossa alteza, vou precisar que mova essa bunda preguiçosa até aqui.

Me chamando de insolente, Edward se aproximou até parar ao meu lado. Era difícil agora separar quem eu deveria ser o tempo todo, um homem caçador de recompensas, de quem eu queria ser, a mulher despreocupada e apaixonada. Os poucos segundos de devaneio me permitidos passaram rápido, havia olhos demais para me permitir o luxo de vacilar.

— Vamos simular alguns tipos de ataques típicos, primeiro vamos devagar para que possam observar tudo — e então era hora de me aproveitar um pouco da situação. — Vossa alteza, pode me auxiliar sendo o agressor?

— Não compreendo, não seria melhor que fosse você o agressor?

— Temos uma diferença de estatura considerável e você não saberia explicar os movimentos certos.

— Está com medo de apanhar mais do que já apanha, irmãozinho? — Rosalie alfinetou e Alice contribuiu com risadas.

— Claro que não, apenas me diga o que eu tenho que fazer.

— Certo, primeiro, agarre minha cintura e tente me puxar para trás, o faça devagar — um tanto hesitante ele envolveu os braços pela minha cintura e imediatamente meu corpo superaqueceu. — Se um homem as segurarem assim e ele estiver sem armadura vocês, não tentem soltar as mãos dele. Se foquem no que seus braços e pernas podem fazer.

Em seguida pisei no pé do príncipe e dei um cotovelada nas costelas, ambos com força e velocidade mínimas, mas o mesmo soltou um leve gemido que fez o calor aumentar debaixo da máscara. Talvez eu resguardasse algo instinto masoquista.

— Se eu houvesse o atingido de verdade, estaríamos todos contemplando um príncipe desmaiado agora — ele revirou os olhos e as princesas deram pequenas risadas, a rainha apenas nos observava com atenção. — Tentem repetir o movimento na mesma velocidade em seu irmão, em seguida podem pegar pesado comigo.

A manhã inteira passou neste mesmo treinamento, com alguns movimentos mais sendo repassados, porém as amas interromperam tudo ao trazer a refeição da realeza. Com a permissão da rainha, me retirei do recinto e fui verificar como estava o jardim. No caminho passei por alguns membros da guarda que estavam carregando pedras para a entrada da cachoeira, aqueles que tinham certa simpatia por mim acenavam ou trocavam um leve cumprimento. Os que tinham certeza que eu ia jogar todos amarrados para fora do complexo me olhavam de soslaio e seguiam em frente.

Não estava ali por nenhum deles, mas jamais deixaria que os ferissem, ninguém merecia morrer pela mão do Carrasco da Morte.

Ao chegar no meu destino o encontrei quase irreconhecível, as pedras do lago espalhadas, a horta coberta por um arbusto e o lago sem sinais de convivência humana. Voltando devagar, fui para o dormitório e deitei na cama de sempre, descansando um pouco, algo me dizia que não seria assim por muito mais tempo.


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Notas finais do capítulo

A pessoa que escreveu o primeiro capítulo não é a mesma que escreveu o décimo. E mesmo que um rio e a água que nele correm não sejam sempre os mesmos, ainda se deve contar sobre o percurso.



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