Meu dia não podia ter mudado tão drasticamente. Meu dia começara tão calmo, mas logo eu fora atacado por perguntas e olhares. Perguntas que eu não sabia responder. Não indagado daquela forma. Começaram a falar que L poderia ter errado.Que ele não pegara o Kira. Que eu atirei em um inocente. Não queria ouvir aquilo. Eu tinha certeza. Queria não ter, mas eu sabia que o L estava certo. Me recompus depois de meia hora, uma, que se dane. Não sei quanto tempo aquele loiro falou sozinho. Também não quero saber.

Só entendera que havia a suspeita de um novo Kira. Novo. Eu sabia que era novo, mas não conseguia arquitetar defesas. Mais um louco - não, me nego a usar esse termo. Mais um que...elimina criminosos. Mais um com um poder destrutivo nas mãos. E um idiota berrando na minha frente. Um idiota dizendo que o L falhou. Que o Raito era inocente. E que eu sou um assassino - não que eu já não me sentisse um, mas me dizendo que eu teria outra escolha. Isso eu não poderia aguentar.

-Eu o conheci...Acredite, eu nunca teria disparado aquela arma, nunca, se eu não tivesse certeza. Eu nunca nem sequer pensaria nisso...Nunca... -Abaixei a cabeça. Não queria isso. Não os meus amigos. Não cabe a ele julgá-los, ele não os conheceu. Não tem direito. Nunca vai ter.

-Talvez tenham te iludido, talvez não fossem tão espertos assim, talvez nem ligassem tanto assim.

-Mas como pode ousar falar mal deles?  Falar mal de L- ele podia mexer comigo, mas com eles não, eu não aceitaria isso.-E você?  Você nem gosta de pessoas! Por que arrumou esse emprego? Por que , se, tudo isso não passa de uma brincadeira para você, um passatempo?  São vidas humanas seu idiota, não brincadeiras

-O que você quer ?Que eu chore? Que eu desista? Que eu me embebede mais do que já fiz quando perdi algum caso ?Eu não aguento! Meu corpo não aguenta! Eu não consigo continuar nisso se eu não agir como se fosse algo aceitável! Você consegue trabalhar com o peso de vidas humanas nas suas costas?EU NÃO! Eu finjo que não me importo porque me importo. Porque se eu for parar pra pensar no que esse trabalho significa...no que tenho que fazer e no que ocorre se o sacana sair livre, ou se eu mandar a pessoa errada pra cadeia...se eu parar eu não ajudo mais ninguém, eu não sigo em frente. Me chame de idiota. Pelo menos eu sou um idiota que se importa...que realmente se importa- e eu vi pela primeira vez meu chefe sem seu ar superior, sem seu jeito esnobe. E eu nem posso discordar dele...

-Perdão..-abaixei tanto o olhar quanto o tom de voz- Mas não é o Kira, ao menos não o original. Muitos detalhes do caso não foram divulgados, mas houve mais de um Kira e se a regra do caderno for verdadeira pode haver mais cadernos aqui. Pode ser um kira. Mas não o original. Duvido que este saiba usar o death note como o original ou que seja esperto como ele.

- Você tem provas de que não é o Kira original? Tem como me assegurar que não vai haver queima de arquivo?

-Não há muito arquivo a queimar-disse com meu peito dolorido- mas, eu não tenho provas, tenho os poucos arquivos dos suspeitos e algumas anotações que fiz achando que L poderia precisar, mas ele mesmo nunca precisou... Não tenho contato com N.

-Mas você está certo de que não seja ele?-Afirmei com a cabeça. Sim estava certo. Era Raito. Não gostava de pensar nisso, mas...era Raito sem dúvida alguma.

-Akane- a estagiária se voltou para ele ao ouvir seu nome ser chamado- Avise aos superiores que não se trata do Kira. Que pode ser alguém que use o mesmo método, mas que não é ele.

-Eles vão querer provas- ela olhou para ele, elevando uma sobrancelha.

-Diga que eu tenho informações de pessoas de confiança, que tenho meus contatos.- ela balançou a cabeça concordando com a informação.- Quanto a você-se virou para mim-Você parece certo disso, parece entender isso. Mas você deve saber o que vai te custar esse voto de confiança- apertei os olhos e olhei para ele. Me custar?

-O que eu devo fazer?

- Me ajudar a saber se esse cara tem um death note, e, se ele tiver, me ajudar a prendê-lo.  Preciso de tudo que você souber. E preciso de vocês- se virou para Akane- para me ajudar a saber se tinha algo em comum entre os mortos, preciso que me ajudem a ver se há um padrão. Estamos numa encruzilhada. Temos que trabalhar com duas hipóteses: um novo kira ou um assassino “normal” que conseguiu de alguma forma matar presos de parada cardíaca. Preciso que me emprestem seus olhos, suas mentes. Preciso que pensem o que não pensar e que vejam o que eu deixar passar. Se esse for mais um kira eu não posso deixar que haja mais um reino de terror.

Nos entreolhamos e sorrimos mais para nos encorajar do que nada. Sentamos diante a pilha de documentos. Ficamos horas e horas- perdemos o horário, dormimos sobre nossas mesas- revirando documentos. Eu não via nada de igual. Alguns haviam sido presos por estupro, outros por grandes roubos, homicidas que estavam em caminho ao corredor da morte. Homens jovens, idosos, ia dos vinte aos cinquenta e tantos. Parecia que bastava estar preso.

-Eu não entendo- cocei os olhos. Minha vista estava turva de sono.- O que tem de comum entre eles? Nem a época de prisão bate, como kira ou qualquer um faria isso? Por mais que eu olhe esse quadro- olhei para o esquema que havia feito- não vejo nada.- Peter se aproximou e olhou, logo após revirou os seus próprios arquivos e depois os de Akane e abriu um sorriso glorioso.

- Tem um padrão!- exclamou, anotando freneticamente dados num bloco.

-Peter, divida com a turma, que padrão é esse?

-Ora Matsuda, se foi você que o escreveu!- ele riu animadamente.

-O meu esquema, não há nada de igual lá!

-Olhe de novo- apontou para os dados básicos que eu havia anotado.-Todos vieram do mesmo presídio.- Sorri e logo após me perguntei, como deixamos de ver isso? Não importa. O que importa é que estamos um passo mais perto do assassino, seja ele Kira ou não.