É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 7
Capítulo 7 - Treino Errado


Notas iniciais do capítulo

As expressões voleibolísticas usadas (existe essa palavra? Acho q não. Mas tanto faz):

Bola flutuando: quando a bola é tocada de leve, e não é possível prever sua trajetória, enganando os jogadores adversários.

Levantamento: o segundo toque na bola, da pessoa que está na rede. É o último toque antes da bola ser cortada.

Subir: quando o jogador faz a passada e corta a bola pulando.

Recepção: o primeiro toque depois do saque.

Bloqueio duplo: quando duas pessoas fazem o bloqueio do mesmo lado, ao mesmo tempo.

Tie-Break: set de desempate. (terceiro set ou, nos jogos profissionais, o quinto set)

Invasão por cima: um jogador não pode tocar na bola enquanto ela ainda estiver no campo adversário. Se ele tocar, é invasão.

Beijoooos boa leitura ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/141789/chapter/7

"Eu jogo para ganhar, seja durante o treino ou num jogo real. E eu não vou deixar que nada fique no meu caminho e do meu entusiasmo competitivo para ganhar."

                       - Michael Jordan

O som do apito de Peter ecooa pelo ginásio, permitindo o começo do jogo.

O saque está com o meu time. Uma novata loira natural, alta, magra e branquinha de olhos azuis do primeiro ano está com a bola na mão. É o tipo de rosto que devia estar na capa de uma revista, e não em uma quadra de vôlei.

Ela joga a bola para cima. Enquanto ela faz o movimento, rezo e penso em mensagens positivas. Ela acerta com a mão na bola e o saque vai na rede. 

A menina parecida com a Elle Fanning me manda um olhar de desculpas enquanto as vadiazinhas do outro time comemoram o ponto com gritinhos, pulinhos e palminhas.

- Tá tudo bem. - falo para ela, com um sorriso e o polegar esticado.

O time de Megan está com o saque agora. Uma morena alta com a qual nunca fui com a cara saca e a bola passa flutuando. Nesse meio tempo, ela manda um sorrisinho do tipo "é-assim-que-se-faz" para a novata que errou o saque na rodada anterior. Com isso, minha vontade de ganhar triplica.

O saque da morena cai nas mãos de Tensy. Ela manda para mim com uma manchete delicada e eu levanto para ela de toque. Ela sobe e ataca, mas a bola para no bloqueio.

Mais gritos das meninas no outro lado. Meu Deus, quando elas vão parar de agir como se estivessem na sexta série?

Peter passa pela quadra, corrigindo um passe ou um ataque de uma ou outra de vez em quando.

Sinto que meu time todo está desequilibrado. Errando defesas e recepções que não deviam errar.

- Qual o placar? - pergunto à menina que está contando.

- Oito a três. - ela responde, e parece que também está odiando o time de Megan estar ganhando.

- Vamos, gente! Dá pra virar! - encorajo meu time.

Então ouço Megan gritar ao time dela:

- Mais dois pontos e a gente fecha!

Eu respiro fundo para não cometer um homicídio. Se bem que eu não sei se alguém pode morrer com uma bola de vôlei na cara. Só um hematoma já estaria bom.

Minhas meninas estão pegando o mesmo espírito que eu. O placar está virando.

- Quanto está? - recorro à garota de novo.

- Oito a oito.

Mando um sorrisinho a Megan pela rede.

- Vamos, time, dois pontos pra fechar! - provoco.

Tensy está no saque. Ela é boa. Vamos ganhar. Ela saca, mas a bola vai para fora. Megan comemora como se tivesse acabado de presenciar a descoberta da cura da AIDS e não uma bola errada.

Megan saca. A bola vai em uma novata que está no fundo, mas ela erra a recepção, então corro até o final da quadra e a pego com uma manchete, que foi tão forte que passou a rede, fazendo com que as meninas do outro time coloquem a bola no chão de nossa quadra com um bloqueio duplo. Acabou. Perdemos.

As adversárias se abraçam e gritam como se tivessem ganhado algum tipo de Prêmio Nobel coletivo. Pensando bem, elas estariam comemorando dessa forma se tivessem ganhado o prêmio de "Cabelo mais bonito" ou "Pele mais bem-cuidada". Porque é esse o tipo de pessoa que elas são.  

Peter nos convida a nos juntar a ele e começa um discurso sobre trabalho em equipe, como ele sempre faz. Elogiou algumas novatas, e eu acho que até o vi dando alguns sorrisos na minha direção.

Depois que ele termina de falar, nos dá permissão para iniciarmos o segundo set. As garotas do banco se recusam a entrar no jogo, alegando que dessa vez nosso time irá ganhar. Sorrio para elas quando penso no quanto é bom que elas já estejam percebendo como Megan Parsons é.

As garotas e eu entramos com energia renovada para encarar Megan. O jogo acontece de forma mais rápida e o placar termina dez a seis para o meu time. Envio a Megan um sorriso, imitando o anterior dela. Eu daria qualquer coisa para não ver aquele sorriso de novo.

O terceiro e último set começa. Peter observa nosso jogo com atenção, embora algumas vezes, reparo, ele fique olhando alguma coisa no celular.

O jogo demora. Está muito equilibrado e ambos os times querem a vitória mais do que tudo. Percebo que Megan está entrando na frente de todas do time dela para garantir que a bola vai certo, o que só mostra o quão estúpida ela é. É impossível jogar vôlei sozinho.

O bola vai de um lado a outro da quadra mas nunca cai no chão. De três toques do campo rival, dois são de Megan. Ela está me estressando muito com isso. Estou achando estranho Peter não ter falado nada até agora.

- Quanto está? - pergunto à menina que está contando.

- Dez a nove para elas. - a garota me diz.

Estamos perdendo. No tie-break. Temos que fazer alguma coisa.

Tento ter uma visão melhor do jogo. Quando consigo, passo a levantar mais para a menina do primeiro ano, pois percebo que Tensy está cansada.

Agora está quinze a quatorze. Ainda estamos atrás. Quero mudar de posição, mas acho melhor não contrariar a vontade de Peter. Ele pediu que eu ficasse aqui hoje.

Todas as meninas estão cansando. Menos eu, que treinei menos. Mas mesmo que tivesse treinado o dobro delas, eu ainda estaria fazendo a força que estou fazendo agora. Ganhar da Megan vale mais que um braço inteiro.

Está dezessete a dezoito. Mais um ponto e elas ganham. A bola desse ponto está durando mais, acho que ambos os times sabem que essa é a bola do ponto que decidirá o jogo. Ela já saltitou por todos os lados da quadra umas quinze vezes, mas ainda não se decidiu onde irá cair.

Acontece muito rápido. A menina do primeiro ano pega uma bola de manchete, que vai muito alta e muito perto da rede. Corro para alcançá-la e fazer o levantamento, mas vejo um bloqueio duplo subindo à minha direita. Uma das mãos encosta na bola e a empurra para o chão, que é para onde ela vai, perfeitamente.

- Invasão! - grito, acompanhada por todas do meu time.

As adversárias, que estão comemorando, param por um segundo e em seguida começam a discutir com a gente.

- A bola já tinha passado, não tinha, Peter? - Megan pergunta ao professor, que chegou para apartar a briga das jogadoras. Todas param de falar para ouvir a resposta.

- Eu... não sei - ele admite - Não estava olhando.

Megan interpretou como se ele tivesse dado toda a razão a ela.

- Mas é claro que tinha! - ela grita.

- Não tinha. Ela estava na direção da minha mão, Peter! - argumento, embora eu sabia que é inútil argumentar com o professor.

As outras garotas param de discutir. A única briga que se ouve agora é a minha e de Megan.

- A bola já tinha atravessado a rede, Harper. - Megan afirma, destacando cada palavra. A voz e o olhar ferozes.

- Estou te dizendo que não tinha. Vocês invadiram por cima. Acabou. Eu estava na rede, eu vi.

- Acontece que eu também estava na rede. É a minha palavra contra a sua. Não a leve a sério, Peter. É o desespero para ganhar e, claro, a falta de habilidade confundindo a cabeça dessas meninas. Vocês são loucas. Todas vocês.

Sinto vontade de matá-la. Sei que todas sentem o mesmo. Eu e Megan nos encaramos através da rede. Teria saído algum tipo de agressão física, se Peter não estivesse ali.

- Vamos repetir o ponto, então. - sugere timidamente uma novata baixinha de cabelos escuros e cacheados que, me lembro, fora derrubada por Megan quando aquela louca entrava na frente da bola de todo mundo.

A ideia é aprovada por quase todo mundo. digo quase todo mundo porque Megan e seus clones fizeram uma careta com a sugestão.

Já íamos nos reorganizar quando Peter falou:

- Não. Está tarde. Este jogo durou muito.

- Mas Peter...

- Não quero saber, Parsons. Tenho uma consulta médica e vocês estão me atrasando. Tenho que ir embora.

Normalmente é assim. 70% dos jogos em que as capitãs somos eu e Megan ficam sem resultado, pois nunca conseguimos terminar no tempo do treino, já que é tudo muito acirrado.

Enquanto ele arruma as bolas para levá-las ao depósito, a briga recomeça. Todas estão argumentando, inclusive as meninas do banco, que tomaram nosso partido.

- Acabou! - gritou Peter, de uma maneira que poucas vezes eu o tinha visto gritar antes.- Calem a boca! É só um jogo, superem. Voleibol é um jogo de equipe. Se vocês não conseguem ser uma equipe, ou pelo menos fingir que são uma, não merecem estar em nenhum time de nada. O primeiro jogo do Campeonato Municipal é nesse fim de semana. Quero ir para o Estadual, mas não quero um time assim, desunido.

Todo mundo está quieto, ouvindo. Até Megan, que parecia disposta a gritar mais, se calou.

- Quero que se concentrem. - ele continua, mais calmo, porém ainda grita - É só isso que eu peço. Algumas de vocês eu treino desde a quinta série e, acreditem, eu sei o quanto vocês querem esse Campeonato. Então, por favor, mereçam-o. Estão liberadas. Vão para casa, estudem, descansem. Espero vocês aqui depois de amanhã.

Pegamos nossas mochilas e caminhamos para a porta.

- Ah, e Harper, rivalidade dentro de quadra permanece dentro de quadra. - Peter fala.

Acontece que é muito fácil falar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!