É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 6
Capítulo 6 - Pequenas coisas




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O telefone está tocando. Foda-se. Eu não vou levantar daqui. E, além disso, não há ninguém no mundo que poderia estar me ligando que eu quisesse atender.

Argh... por que nós não escolhemos um toque menos irritante?

- Mãe... - chamo, mas depois lembro que estou sozinha em casa.

Sendo assim reúno todas as minhas forças e me levanto do livro de matemática no qual estou babando.

Corro pela casa atrás do telefone, minhas meias escorregando no assoalho. Onde ele se enfiou? Procuro embaixo das almofadas do sofá. Está lá embaixo, junto com um pacote de Doritos que alguém deixou de comer pela metade.

 - Alô. - atendo, com meus cabelos voando sobre meus olhos.

- Bellie. - escuto uma voz grossa do outro lado enquanto volto com o meu cabelo para o lugar e congelo. Quem sabe, não é aquele tal garoto? Me jogo em cima do sofá quando percebo o que estou fazendo. Ele não sabe o meu nome, muito menos o meu telefone.

- Ah, Jason. - suspiro.

Ele também suspira.

- Não está feliz em ouvir a minha voz? - Jason pergunta.

- Não muito. - respondo sem pensar.

Mordo meu lábio inferior quando percebo o que eu fiz. Meu Deus, eu falo demais.

- Não foi isso que eu quis dizer, desculpa. É que eu... eu não sei o que deu em mim.

- Eu sei. - a voz dele abaixa de tom. - Tensy me contou.

Vaca.

- Tá, mas o que foi?

- Ah... pegou os excercícios de química que a professora passou? Eu não copiei.

Dito o dever para ele enquanto penso em mil maneiras de matar a Tensy. Como assim, ela sai contando as coisas pra pessoas? Ainda mais para o Jason.  Porque, veja bem, eu o conheço desde a quinta série, quando alguém achou que era uma boa ideia roubar o bonezinho dele. Você sabe, crianças. Lembro-me então de algo como eu e Tensy dando um soco no garoto, ou alguma coisa parecida. Desde então ele é apaixonado por mim. O que é absolutamente ridículo, já que estamos no segundo ano e, se eu fosse uma completa idiota, ainda não teria reparado que ele gosta de mim, porque ele nunca tentou nada.

- Era só isso? - pergunto.

- Era. Só isso mesmo. Tchau.

- Tchau. - respondo, e desligo o telefone.

Volto para o livro de matemática onde eu estava dormindo.

Isso é patético. Quero dizer, a festa já tem mais de uma semana. Não dá pra ficar pensando nela o dia todo. Simplesmente não dá. Mas eu revivo aquele sábado na minha cabeça o tempo inteiro. Acho que estou meio obcecada.

O que as pessoas fazem quando estão obcecadas? Lotam a cabeça com outras coisas, não é? É isso mesmo que eu vou fazer. Pego um trabalho de história que estou para fazer há um tempão, sento no computador e abro um site que parece educativo. Não. Está muito silêncio. Ligo uma música. E vou escrevendo.

Aah. Minha mão está doendo, eu não aguento mais. Quero parar. Olho para ver o quanto eu escrevi. Quatro linhas. Me parecem quatro páginas. Esse negócio de trabalho não é para mim e acabou.

Por que eu tenho a sensação de que eu não devia estar aqui? Que horas são? Meu Deus, são quase três! Onde está a minha mochila? Ah, está aqui. Não, que nojo, é o saco de roupa suja.

E meu uniforme? Acho-o dobrado na minha cama. Rapidamente tiro a minha roupa e o coloco. Chego perto do espelho e faço um rabo de cavalo.

Na saída, pego um chiclete lotado de açúcar e minha joelheira. Pronta na medida do possível, corro para o colégio.

Eu chego lá e as meninas já estão treinando em duplas. Tensy para de jogar e corre na minha direção, meio suada e ofegante.

- Onde você estava? Peter está uma fera com você.

Peter é o nosso treinador. Bonito, alto, bronzeado, forte, olhos azuis, deve ter uns vinte e nove anos. Superei minha queda por ele na sétima série. Na verdade, eu e as meninas não prestamos muita atenção em quem nos treina. Nós nem paramos de jogar e o olhamos quando ele está de costas. Ok, talvez façamos isso um pouquinho. Mas só um pouquinho.

Ele está vindo até mim agora, desfilando. Não sei se ele realmente desfila enquanto anda, mas que ele rebola, rebola. Tiro os olhos do corpo dele e fito seu rosto. Ele está sério, bravo.

- De volta ao treino, Cartwright. - ele diz a Tensy, que sai me mandando um olhar que interpreto como 'boa sorte'. Reparo que ela dá uma olhadinha para trás e fixa os olhos na bunda dele. Não posso exatamente culpá-la por isso.

Peter está à minha frente, parecendo um deus. Como se tivesse sido esculpido ali.

- Bonito, Harper. - ele me diz. Peter é o único professor que insiste em nos chamar pelo sobrenome, como se estivéssemos no excército e sei que não sou a única que se incomoda com isso. O excército, aliás, é o lugar de onde ele tira a base do nosso treinamento. - O que você está pensando? Que isso aqui é brincadeira? Faça o favor de chegar no horário, a não ser que Vossa Alteza queira desistir do time.

- Eu sei, Peter, desculpe, eu esqueci, não vai acontecer de novo.

- Você disse isso da última vez. - ele assinala, e joga uma das bolas que carrega. Eu não havia nem reparado que ele carregava alguma coisa. - Vá se alongando. - ele ordena.

Coloco minha mochila no banco, arrumo meu cabelo e começo o alongamento. É a parte mais chata do treino inteiro.

Ouço o barulho do apito de Peter. É um barulho muito, muito chato. Só perde para o do meu despertador, às seis da manhã. Ele reune todas as garotas em volta dele, perto do banco onde estou.

- Vamos começar o coletivo mais cedo hoje. - enquanto Peter fala, percebo que Megan está do outro lado dele, me lançando um olhar meio furioso. Nem vou me dar ao trabalho de pensar o que eu fiz de errado. Ela me olha assim o tempo todo. - Harper, Parsons, vocês escolhem.

Ótimo.

Megan sorri de um jeito perverso. As meninas abrem caminho para que eu e ela possamos assumir nossos lugares no meio e escolher os times.

- Trisha. - Megan diz, contrariando todas as regras de educação que sugerem aquela coisa do par-ou-ímpar e escolhendo um de seus clones, que dá um gritinho de felicidade e se posta atrás dela.

- Tensy. - digo, na minha vez. Tensy vem para o meu lado decidida, e dá um tapa na minha mão esticada para ela.

Megan escolhe primeiro seus clones, e, depois, as que gostariam de ser seus clones. Eu sou do tipo que escolhe as novatas, que só precisam de um voto de confiança, porque são boas. E minhas amigas, antes de todas, claro.

Os times estão formados. Cinco meninas sobraram, que entrarão no time perdedor.

Peter, que estava arrumando a rede pouco tempo atrás, me joga uma bola e diz:

- Ei, Harper, pode jogar de levantadora hoje?

- Claro, Peter. - respondo. Ele sabe que essa não é a minha posição preferida, mas hoje eu faria qualquer coisa que ele me pedisse.

- Ah, e Parsons, quero você na rede também.

Megan olha para mim e apenas sorri. Peter sabe da rivalidade existente entre nós duas. Por isso normalmente nós somos as capitãs das equipes, porque "a rivalidade é muito importante".

Distribuo as garotas do meu time nas posições que eu acho que elas devem ficar. Coloquei Tensy na ponta direita e uma outra garota forte do primeiro ano na esquerda.

Olho para o outro canto e vejo que Megan não desfez aquele sorrisinho até agora. Então eu olho nos olhos de cada uma do meu time e digo:

- Meninas - todas prestam atenção no que eu falo. - Vamos acabar com elas.


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