É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 24
Capítulo 24 - Presos




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"Corações trancados... porque têm medo do sentimento. Sentir dá medo."

                                      Lea Waider

- Estamos trancados. - Falo, tentando inultimente pela última vez abrir a porta e dando um chute nela quando não consigo.

Griffin se encosta na parede, as mãos nos bolsos.

- Não me diga.

Estreito meus olhos para ele, mas não respondo nada.

- Tem que ter um jeito de sair daqui... - murmuro, para mim mesma.

- Não tem. - O garoto diz. - Vamos ter que esperar alguém aparecer.

- Você enlouqueceu? Bebeu a cerveja de Vinni? Estão fazendo inspeção aqui. Eles sempre trancam as portas dos banheiros e vestiários para que nenhum aluno possa entrar e fazer alguma merda igual à que Vinni acaba de fazer. Só vão abrir quando o inspetor já tiver ido embora e, é claro, olhado aqui dentro.

Griffin contorce os lábios. Por fim, senta-se no chão.

- Não temos escolha.

- Podemos escolher não ficar parados aqui para não sermos expulsos quando abrirem a porta, que tal?

- E qual é o seu grande plano? - Ele pergunta, sarcástico.

- Não tenho um grande plano. Podemos ver as janelas...

Não, elas são impossíveis de passar. Pequenas demais. Quando minha ideia inicial dá errado, tenho vontade de socar a porta e implorar por ajuda.

- Griffin, não está entendendo a gravidade da situação? Se nos pegam aqui, nos expulsam na hora. Se levante e faça alguma coisa para ajudar.

- O que você quer que eu faça? Que eu comece a cavar um buraco no meio do banheiro? Ah, espera, o que você acha de eu tentar derrubar a parede? Esquece, Bellie. Estamos presos aqui.

- Tem que ter um jeito! - Exclamo, decidida.

Olho em todo lugar que vejo - dos cantos das paredes até atrás das pias e aceito que realmente estamos trancados e sem opção. Me sento derrotada na parede à frente de Griffin de modo que ficamos nos encarando.

Ficamos uns cinco minutos em silêncio quando ele abre a boca como se fosse dizer algo e depois a fecha novamente, como se tivesse pensado melhor. Trinta segundos depois, ele fala:

- Por que você não gosta de mim?

Por que eu não gosto dele? Ele tem coragem de me perguntar isso? Considero não responder por um momento, mas não quero bancar a infantil - não se eu tiver que ficar trancada com ele.

- Por causa de tudo que você fez. - Falo, ficando com raiva.

- E o que eu fiz?

Quase dou um soco nele quando Griffin me faz a tal pergunta.

- O que você fez? Você simplesmente saiu espalhando minhas coisas por aí! De onde você tirou que seria boa ideia contar sobre a cola e o vestiário para a sra. Nichols? E o muro do colégio?

O rosto dele é tomado pela compreensão.

- Ah, isso. - Ele sorri, o que me irrita mais ainda.

- Você é doente! - Sem perceber, estou gritando. - Por que não respeita os outros? Melhor ainda, por que não cuida da sua própria vida? Com uma de suas gracinhas, você nos deixou sem treinador! Está feliz agora?

Griffin abaixa a cabeça.

- Não estou.

- Jura? Que bom! Pelo menos uma coisa boa aconteceu: você ficou longe do time de vôlei. Meu time de vôlei. Quem sabe passe a ficar longe de mim também.

- Bellie...- ele começa.

- Griffin. - Interrompo-o. - Não me interessa o que você tem para falar. Sério, não gaste seu tempo comigo. Você tem tantas meninas correndo atrás de você, por que precisa de mais uma?

- Não é isso, escute.

- Não vou escutar nada que venha de você. - Cuspo as palavras, me levantando. - Você é nojento. Não acredito que já pensei bem de você algum dia. É ótimo que agora eu possa ver tudo claramente.

Griffin também se irrita.

- Você não pode falar assim comigo.

- Ah, claro! - Exclamo, abrindo os braços. - Eu não posso falar algumas verdades para você, mas você pode sair declamando meus segredos para quem quiser e não quiser ouvir!

Ele se levanta, como eu.

- Talvez você não ficasse tão desesperada se não tivesse tantos! Já pensou em ser honesta de vez em quando, só para variar?

O quê?

- Não diga bobagens! Eu sou honesta o tempo inteiro!

Ele balança a cabeça e solta um risinho irônico.

- Não, você não é. Quer que eu te lembre o motivo pelo qual você e Megan se odeiam tanto?

- Você não sabe do que está falando. - Falo, a voz tremendo pela primeira vez.

- Ah, eu sei sim. Sou o único que sabe, aliás. Curioso, não?

Tenho que me segurar para não avançar para o pescoço dele agora.

- Mantenha seu bico fechado, Griffin, e não teremos problemas. - Digo, ficando cara a cara com ele e apontando-lhe o dedo no nariz perfeito.

- E se eu não quiser? - Ele questiona, desafiador.

Ainda estou apontando para ele quando ouvimos passos no corredor. Esquecemos completamente do que estamos falando e nos olhamos aterrorizados.

- Boxe. - Ele sussurra.

Nós corremos para o boxe do canto e fechamos a porta ao mesmo tempo que ouvimos a sra. Mckingdom anunciar "E esse é o banheiro masculino".

Nós ouvimos a porta ser destrancada e o som do que parece três pessoas entrando no banheiro. Eu e Griffin nos apertamos em cima do vaso sanitário, para que nossos pés não fiquem visíveis. Consigo sentir o cheiro dele de onde estou, e sou obrigada a confessar que fica mais difícil raciocinar.

Nossos corações disparam em sincronia quando ouvimos o barulho do inspetor entrando em cada uma das cabines. Griffin coloca um dos pés no chão cautelosamente e fecha a porta com a tranca enferrujada silenciosamente. Soltando alguns ruídos que não identificamos se seria de aprovação ou reprovação, o inspetor faz força para abrir o boxe onde estamos. Graças a Deus, ele não consegue. Tenta de novo. E de novo. E mais uma vez.

- Bem... esse boxe deve estar com um probleminha - Ouvimos a voz da sra. Mckingdom, que parece estar suando tanto quanto nós. - Mas o senhor já viu as pias? São de granito. - Ela completa, claramente em desespero.

O inspetor se afasta e Griffin fala, sem som, apenas movendo os lábios cheios:

- Temos que dar o fora daqui.

- Não diga. - Sussurro.

Ele me olha como se dissesse que eu devia agradecer por não ser homem, porque se eu fosse, minha cabeça ia estar flutuando no vaso junto com a cerveja de Vinni.

- Sim, realmente, sra. Mckingdom, suas pias são fantásticas - Escutamos o inspetor falar, embora não acredite muito no que diz em relação às pias -, mas eu preciso mesmo ver essa cabine...

Ele faz força para empurrar de novo. Eu fecho os olhos e Griffin respira fundo tentando não fazer barulho...

- Um pé. Eu vi um pé aqui dentro. - O inspetor diz, rapidamente.

Sra. Mckingdom e outra pessoa (imagino que seja Janet) fazem um som de surpresa ultrajada.

- O senhor deve estar vendo coisas, sr. Forts. - Janet sugere, com cautela. - Trancamos este banheiro dez minutos antes da inspeção começar.

- Desculpe-me, senhorita, mas eu estou velho, não cego. Eu vi um pé aqui dentro. Quero saber o que esse pé faz aqui.

- Tenho certeza que o senhor deve ter se enganado. - Sra. Mckingdom fala, com a voz doce. - Nossa escola é muito rígida no que diz respeito a...

- Sra. Mckingdom, por favor. Sou inspetor há trinta anos. Sei reconhecer um pé quando vejo um. E esse pé, especificamente, usa um sapatinho de garota.

Griffin me olha com uma expressão mortífera. Eu lhe mando um sorriso amarelo.

Janet e a diretora permanecem quietas. Devem pensar que o inspetor endoideceu de vez depois de passar trinta anos analisando e dando notas para privadas. E eu concordaria com veemência, se meu pé não estivesse escorregando do vaso sanitário em que Griffin e eu estamos, pronto para dar 'olá' para o sr. Forts de novo.

- Creio que esse pé não tenha permissão para estar aqui. - O inspetor continua. - Por favor, me expliquem o que ele...

- O senhor já viu nossas pias? - A sra. Mckingdom pergunta de novo, em um visível sinal de pânico. - Granito de primeiríssima qualidade.

- Sim, diretora, já vi suas pias. - O inspetor responde, impaciente. - Por favor, se comunique com a aluna dona desse pé.

Embora eu não possa vê-la, sei que sra. Mckingdom hesita. Deve estar dando aquela coçadinha no pescoço ou limpando a testa com um lencinho, o que ela sempre faz quando está nervosa. Por fim, se rende à exigência do inspetor maluco e fala, mais alto:

- Olá? Tem alguém aqui?

Griffin tampa minha boca. Ainda tem o cheiro da cerveja vagabunda de Vinni. Ele coloca o outro dedo indicador sobre os lábios me orientando a fazer silêncio.

- Sim? - Ele responde, me fazendo sacudir sob sua mão. O que ele pensa que está fazendo?

- Senhor Carmichael? - A diretora continua, com um pouco de receio.

- Sra. Mckingdom? - Griffin indaga, como se percebesse pela primeira vez a "discreta" presença da diretora aqui. Eu ainda danço debaixo da mão dele, tentando dizer a ele que não faça isso, ou qualquer coisa parecida.

- Por favor, me diga, o que você está fazendo aqui?

- A senhora me mandou guardar algumas caixas aqui ontem, não se lembra? - Ele mente.

Sra. Mckingdom não responde. Tenho medo do que vai acontecer.

- Não foi, diretora? - Griffin responde de novo, destacando cada palavra. - A senhora me pediu para vir aqui guardar algumas coisas que ficam no ginásio antes da visita do inspetor. Eu esqueci uma das caixas e vim trazê-la aqui há pouco tempo, mas a porta foi trancada.

Sra. Mckingdom, pela sua voz, segura um suspiro de alívio.

- Ah, sim, entendo. - Ela diz, entrando na mentira. - Por favor, me comunique quando acabar. Vamos agora, inspetor? A não ser que o senhor queira dar mais uma olhada nas pias...

Sr. Forts, provavelmente cansado das pias, não responde.

- E o sapato de menina? - Ele interroga, mas abaixa o tom de voz, perguntando a Janet e sra. Mckingdom. - Ele é g...?

- Não, não! - Responde Janet rapidamente.- O que tem a dizer sobre o sapato, senhor Carmichael?

-  Ah, isso deve ser que alguma das meninas do vôlei esqueceu e um dos funcionários pôs em uma das caixas. Estão muito cheias, as coisas ficam caindo...

- Sei. Vamos embora, sr. Forts? - Chama sra. Mckingdom.

- Não. Por favor, abra a porta senhor...?

- Carmichael. - Sra. Mckingdom completa. - Olhe, inspetor, Griffin Carmichael é um aluno exemplar. Está ocupado no momento, mas tenho certeza que...

- Sra. Mckingdom. - Ele interompe. - Eu quero ver o que tem ali dentro.

- Não, o senhor não quer. - Diz Griffin, agora começando a entrar em desespero.

- Desculpe-me, mocinho? - O inspetor fala, no limite de sua impaciência.

- Sr. Forts. Ainda não vimos o resto do colégio, e temos que visitar o auditório antes que o fechem... - mente Janet.

- Sim, certo. Vou embora, então. Se cuide, senhor Carmichael. - Ele fala, a desconfiança em cada nota de sua voz.

- Sim, senhor. - Griffin responde.

Quando ouvimos a porta ser fechada novamente, eu e Griffin respiramos completamente aliviados. Nos olhamos por um momento, quando ele fala:

- Vamos voltar para a aula.

- Vamos. - Concordo.

Nós empurramos a porta, agora destrancada, e voltamos para a sala, afastados e em silêncio.


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