É Segredo escrita por Phallas


Capítulo 21
Capítulo 21 - Não diga nada




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            "Breve é a loucura, longo o arrependimento."

                                   Friedrich Schiller

                           

Eu sempre achei que eu gostasse de vôlei. Mas agora eu vejo que eu amo vôlei. Sim, porque tem que amar muito uma coisa para vir à tarde no colégio ser treinada por uma pessoa que você odeia.

Não posso acreditar até agora que ele contou à professora sobre a cola. O que ele estava pensando? Que dedar os colegas ia ser legal? Vinni pareceu querer estrangular Griffin, mas acho que desistiu de bater nele quando a professora ameaçou expulsá-lo do colégio se ele arrumasse confusão. Ou, como os meninos dizem, "pegá-lo na saída".

As meninas estão um pouco mais desanimadas, mas parecem não estarem nem um pouco aí se o ídolo delas as deixou de detenção ou não. Contanto que possam olhar a bunda dele, tudo continua ótimo.

Griffin chega agora e todas se levantam. Ele não parece alegre, não chega nem perto de estar como estava sábado, e parece meio cansado.

Ele nos manda começar o alongamento, mas não nos manda cantar ou brincar de rodinha. As garotas estranham, mas não perguntam.

Quando ele inicia o coletivo, a última coisa que quero fazer é jogar. Sento-me na arquibancada e Griffin entende que não deve me colocar em nenhum time. Ele dá permissão para começarem o jogo, e eu me levanto para beber água.

Quando termino de beber e levanto a cabeça, vejo que Griffin está atrás de mim, já que a bola do jogo foi isolada para perto dos bebedouros. Depois que ele a devolve, olha para mim e se encosta na parede.

- Por que não quer jogar? - Pergunta.

Não respondo. Não sei o que falar. Acho que ele se assusta com o meu silêncio, porque diz, rapidamente:

- Pensei que estivesse tudo bem entre a gente.

Olho para ele frustrada.

- Eu também pensei. Porque eu achava que você era um cara legal.

- E por que não acha mais? - Ele indaga, o rosto ficando meio preocupado.

- Como se você já não soubesse. - Respondo, indo embora.

Griffim coloca o ombro na passagem. Ficamos próximos demais por um momento, até que faço força para passar e ele cede.

Quando saio de lá, corro para a aquibancada, pego minha bolsa e vou embora, sem pensar mais em nada.

                                      ○               ○               ○

Tensy me metralhou de perguntas depois do treino, por telefone. Não soube exatamente o que dizer a ela, e não me lembro bem do que respondi. Ela disse que Griffin ficou sentado na arquibancada o resto da tarde, e olhava sempre com muita fúria para a quadra. Ele deve ter ficado bravinho, mas não tem esse direito. Eu é que devia estar com raiva dele. E estou.

- Seja o que quer que você tenha feito com ele, deixou o senhor Gostoso muito bravo. - Tensy me fala.

- Eu não fiz nada. - Me defendo.

Sabrinna está tagarelando sobre algum monge filósofo que não recordo o nome quando ouve-se uma batida na porta.

- Sim. - Ouvimos a professora falando, com a pessoa que bateu. - Certo, vou chamá-la.

Sabrinna coloca a cabeça para dentro da sala e fala:

- Bellie, pode ir à sala da sra. Mckingdom por um instante? Ela quer falar com você.

Os alunos parecem surpresos com isso e comentam. Não esboço nenhuma reação - deve ser alguma coisa a ver com aquele voluntariado idiota.

Quando chego na sala da diretora, ela me manda entrar e fechar a porta.

- Sente-se. - Ela convida, apontando a mesma cadeira onde Griffin se sentara da última vez em que estive aqui.

Sento na cadeira e ela, já sentada, cruza os dedos na mesa.

- O assunto que tenho para tratar com você é meio chato... - Ela começa.

Dou um longo suspiro, interrompendo-a.

- O trabalho de voluntária. Eu sei, sra. Mckingdom, que eu tenho sido meio negligente em relação a isso, mas eu prometo que eu vou...

- Não, não é isso. - A diretora fala, dando um tapinha no ar. - Você fez um ótimo trabalho limpando minha estátua de cavalo, aliás.

Eu sorrio de volta para ela, ficando meio nervosa.

- Então sobre o que quer falar? - Indago, com medo.

- Bom, acho que sabe sobre o muro do nosso colégio...

Ela continua, mas eu não a escuto, como se minha audição estivesse bloqueada. O muro do colégio. O mesmo muro o qual pichei ano passado, quando fui desafiada pelos meus amigos bêbados, com os dizeres "A sra. Mckingdom fede" com uma infeliz tinta preta que ninguém conseguiu retirar.

"E então me vejo contando a ele [...] de como já pichei o muro da escola quando fui desafiada, com uma tinta preta sobre o muro branco que até hoje ninguém tirou."

Ele não pode ter feito isso comigo. Não isso.

"- Você pichou um muro?!

- Pichei. Estava bêbada, não sabia o que eu fazia.

- Igual agora? - Ele me beijou.

- É, igual agora.

- O que a pichação dizia?

- Qualquer coisa xingando a diretora, não me lembro direito.

Ele contorceu os lábios perfeitos.

- E não tiraram?

- Não. Pelo visto, a tinta que eu usei é bem forte.

- Mas uma hora alguém vai ter que pintar por cima.

- É, mas essa alguém não vai ser eu. - Falei, rindo."

- E eu não quero ofender nem nada, não leve para esse lado. - Volto a escutar o que a diretora, quase morrendo de sem-graça, me fala. - Mas me disseram que você... hum... sabe quem foi.

- S-se eu sei quem foi?

- Sim. - Ela fala, limpando o suor da testa com um lencinho. Acho que poucas vezes sra. Mckingdom precisou repreender alguém. Alguém que, você sabe, não seja um idiota que narra vôlei.

- Olha sra. Mckingdom, eu realmente...

- N-não precisa se precipitar. Só me contaram que você estava presente no dia e vamos receber uma visita de um inspetor em breve para uma olhada geral na escola e acho que talvez possa prejudicar nossa instituição se virem o nome da diretora sendo denegrido com falsas acusações. Assim, alguém tem que arcar com os custos de um muro novo.

Isso é um teste ou ela realmente não sabe quem foi?

- Porque é mentira, certo? Eu não cheiro mal, não é? - Ela pergunta, toda preocupada, enquanto coloca o nariz perto do xale de crochê que está vestindo e dá uma fungadinha.

- Ah, que isso, sra. Mckingdom, a senhora não fede. - Respondo, mas acrescento rápido para não entregar a mentira: - Parece com o cheiro da minha avó.

Sabe, se ela fosse engolida por uma gambá ou coisa assim.

- Ah, sim, obrigada. - Ela diz, mais tranquila. - Agora, por favor, o que tem a me dizer?

A diretora está esperando. Não sei o que tenho que fazer. É melhor arriscar. Ainda posso desmentir Griffin, no final, se for preciso.

Ah, espera. Não sei mentir. O que eu vou fazer agora? Tenho que respirar fundo.

" - Preste atenção. - Lembro-me que Tensy me disse uma vez. - Você é uma garota. E sabe o que as garotas fazem quando querem muito ou precisam muito fazer alguma coisa?

- Procuram no Google? - Arrisquei.

Tensy revirou os olhos para mim.

- Não. Elas mentem."

É isso. Simples, fácil, rápido. Tomo fôlego e começo:

- Eu realmente estava lá, sra. Mckingdom. E não sei quem disse isso à senhora, mas o muro deve ter sido pichado depois, ou... - Não consigo mais continuar com a mentira.

- Entendo. - Ela fala, empurrando os óculos velhos para cima. - Deve ser difícil para você entregar um amigo...

Ela não sabe que fui eu. Tenho que me segurar para não respirar aliviada.

- Embora eu muito aprecie sua lealdade, senhorita Harper, nós precisamos de um nome. Qualquer um que você ache que possa estar envolvido em alguma coisa com relação a esse muro.

- Quem te contou isso, sra. Mckingdom?

Ela limpa a testa com o lencinho de novo.

- A pessoa pediu anonimato. Tudo o que chegou aos meus ouvidos por ela você já escutou. A fonte disse que você provavelmente falaria.

Claro, porque a fonte ouviu, um belo dia, todos os meus segredos de mim.

- Diretora, eu realmente não sei...

- Bom, teremos que punir a escola inteira. - Ela suspira. - Vou mandar um comunicado avisando que todos deverão permanecer no turno da tarde amanhã para pintar o muro de novo... a visita do inspetor está em cima da hora, é nessa quinta feira...

Meu Deus. Hoje é terça.

- Se eu não receber um nome até lá, vou ter que tirar pontos de comportamento de todos e o culpado vai sair completamente ileso...- Ela fala, me dando olhadinhas de vez em quando para ver se eu me comovo com a triste história do "vou ter que ferrar com todo mundo."

- Eu gostaria mesmo de ajudar sra. Mckingdom, mas é que eu...

- Sim, sim, esqueça isso, querida. Espero que fique amanhã à tarde para pintar o muro e não se importe de perder cinco pontos de comportamento, assim como todos os outros, tudo bem?

Eu não posso fazer isso. Não posso fazer isso com a escola toda. Se você tem menos de cinco pontos de comportamento, você não pode treinar em nenhum time do colégio. E são dez pontos no comportamento todo, de modo que todos os times esportivos, inclusive o de vôlei, perderiam praticamente todos os titulares, até que esses conseguissem juntar mais de cinco pontos de novo. O que é muito difícil se você não for nerd ou puxa-saco.

Encaro a diretora por um longo tempo. Por fim, suspiro e digo:

- Fui eu, sra. Mckingdom.

- Você o quê? - Ele me olha confusa.

- Fui eu que pichei o muro do colégio.


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Notas finais do capítulo

Um capítulo pra vocês surtarem... 'rsrsrs

Muito obrigada a quem leu! ;)