E vagava, sem sair do lugar. Sem rumo, carregando o peso do mundo nas costas. E se eu pudesse ser o seu hoje, você usaria seu tempo para quê?

Nesse mundo no qual o amor pode ser declarado fugaz em tempo talvez não decorrido de forma correta e satisfatória, despertei-me ainda com uma dor possessiva. Era mais um daqueles dias que você preferia não acordar nunca. Em meio à bagunça do hotel, me vesti e coloquei um sorriso meia-boca no meu rosto.

Mais um Expresso com algumas gotas de adoçante. Me dirigi até a porta e fui até o ponto de táxi mais próximo. Queria dar umas voltas pela cidade.

Rádio ligado, nossa música tocando.

- Por favor, me permite cambiar la musica?- meigamente eu “supliquei” (sim, esse verbo existe). Ah, e obrigada pelas aulas particulares de espanhol, mãe. Adiantou alguma coisa.

- ¿Molesta a usted, señorita? - o taxista respondeu sem parecer grosso. 

- Me recuerda a cierta persona. Es algo un poco personal.

- Seguro. ¿Qué prefieres?

- Cualquier cosa menos que esta canción.

A tal música estúpida me fazia pensar e pensar nele. Só estava tentando ignorar a dor.

(…)

Cheguei ao meu destino. Thyssen, um museu em um bulevar local. Aquelas cores (laranja e uma cor meio creme) davam um toque alegre ao museu. Incrível. Museu me faz querer dormir.

Massssssssss, eu estava em uma outra cidade, em outro país, então.

Viajando em meio a tantas pinturas do neoclassicismo, trombo-me com alguém. De novo. Claro, tinha que ser não é? Erick.

- Ah, oi… de novo. - resolvi ser educada e cumprimentá-lo pelo menos uma vez na vida.

- E aí garota bonita? Como vai a senhorita?

- Senhorita não, por favor. - risos - Chame-me de “você”.

- Então tá. Como vai “você”?

- Vou bem, e você?

- Estaria melhor… - ele fez uma cara de safado.

- Não abusa, garoto.

Saí andando tentando evitar. Todos os garotos são assim. Ele até que tentou ir atrás de mim com uma cara arrependida mas eu sempre esquivava-me.

Em plenos dezesseis anos… Sempre igual… Resolvi mudar meu estilo. Pra agradar quem? A mim mesma. É.

Saí do museu e peguei o mapa da cidade que tinha no meu bolso traseiro.

Um salão ali perto… Onde? Depois que reparei que tinha um em cada esquina.

Peluquería né?! Peguei outro táxi até Alheña Peluqueros, um salão na rua Embajadores. 

Estava prestes a ser notada de uma forma diferente. Era como se eu me despisse da antiga chata e enjoada Isabella e entrasse em uma nova fase. Bom, talvez funcionasse de alguma maneira. Não tinha como saber se não tentasse não é? Só queria ver a cara da minha mãe.