A Brave New World escrita por Maria Salles


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

"- Para alguém com uma autoestima tão boa, Rose, você se subestima demais."



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Dizem que quanto mais ansiosas estamos, quanto mais queremos que o tempo passe rápido, mais devagar ele passa. Ou, pelo menos, é assim que parece. Mas, por incrível que parece, a semana passou mais rápido do que eu imaginava.

Dimitri havia iniciado uma sessão mais rigorosa de treinos, o que manteve minha mente ocupada por bastante tempo. Yeva também fez sua parte em me manter ocupada, e vivia arrumando desculpas para que eu carregasse algo para ela. Entre isso e checar Lissa regularmente para ver como ela estava, quase não tinha tempo para pensar sobre... o tempo.

A escuridão também não deu sinais de existência. Oskana havia me entregado o anel com Espirito na manhã em que acordamos lá. Quando ela fez, eu não sei. Mas não parecia muito debilitada. Ou talvez apenas não quisesse mostrar fraqueza diante de nós e nos preocupar. O fato, é que desde aquele dia eu havia me sentido mais leve e limpa, de certa forma. Mark me recomendou usa-lo até a viagem para Omks. Depois guarda-lo bem até a próxima vez que a escuridão começar a pesar sobre mim.

Eu descobri que Lissa estava me evitando. Havia bloqueado parte de sua mente, ficando impossível acessar seus sentimentos e o que ela andava fazendo. Apenas via o que ela estava vendo, e não parecia nada grave ou perigoso. Andava pela Corte com algumas figuras que nunca vi na vida, mas ninguém parecia uma ameaça. Mas Adrian tinha um ponto de vista diferente.

- Ela anda rude e perturbada. E aqueles amigos podem não ser como Avery, mas também não são como você.

Na noite anterior à da viagem, Adrian resolveu aparecer em meu sonho. Fiquei esperando por ele a semana toda, mas nao era algo que eu poderia controlar. Pelo menos ele havia aparecido, o que era um alívio. Além de Lissa, havia outros assuntos para tratar com ele.

- Adrian, por que sempre que você vem me visitar é por conta de Lissa?

Reclamei me deitando na grama verde e macia ao seu lado. Estávamos na campina de sempre, no morrinho debaixo da arvore. Adrian passara a me deixar escolher minhas próprias roupas, e com o frio que estava na Russia, era um alivio usar shorts e blusa.

- Por que minha prima me preocupa. – respondeu ele simplesmente, olhando para o céu azul – E você também, Rose. Lissa também de afeta. Você não pode sempre depender de um anel.

A primeira coisa que Adrian percebeu a me ver foi o quase completo desaparecimento da Escuridão ao meu redor. Ele disse que sempre teria um pouco comigo, por causa da ligação com Liss e do meu estado de shadow kiss, mas que havia muito mais aura dourada que negra, e ele ficava feliz por mim. Expliquei a ele sobre o anel e Adrian se mostrou interessadíssimo. Disse que iria tentar na Corte e, quem sabe, o anel não funcionaria com Lissa também?

- Que seja. Agora estou muito bem. E não graças a Lissa. – respondi dando nos ombros - Adrian, você tem que concordar comigo. Lissa é minha melhor amiga, minha irmã. Eu a amo demais, mas está se portando igual a uma garotinha mimada!

- Rose... – ele suspirou e virou a cabeça para mim – Lissa é uma garotinha mimada.

Não me preocupei em respondê-lo. Já havíamos tido esta conversa, semanas antes, e não havia dado em nada.

- Eu sei...- me sentei na grama, olhando a imensidão do campo abaixo de nós. – Sei disso. Parte de mim quer voltar para a América. Mas parte de mim quer ficar.  E uma parte ainda mais egoísta queria encontrar uma maneira de ir para a América e levar a Rússia comigo.

Adrian não me respondeu. Sentou-se e me abraçou de lado, e me deixei ser confortada pelo seu cheiro conhecido de cravos. Era uma parte de mim que estava longe, mas parecia estar perto, e queria um pouco mais.

- Rose, você sabe que te amo não sabe? – meu coração apertou ao ouvir essas palavras. – Eu, provavelmente, vou sempre amar você. Uma vez, eu li em algum lugar que quem ama quer a felicidade do outro. Achava que era idiotice. Que quem ama, quer o amado em seu lado. Mas eu estava errado. E só descobri isso depois de te conhecer. Eu estarei ao seu lado sempre, Rose. Não importa qual decisão tomar.

Entrelinhas, Adrian estava dizendo que se eu quisesse ficar na Rússia, ele me apoiaria e ficaria ao meu lado, mesmo que isso o dilacerasse por dentro. O que era lindo e nobre de sua parte. O que apenas me deixava ainda mais culpada. Havia pessoas que eu amo e me amam nos Estados Unidos. Eu estaria disposta para abrir mão de toda uma vida lá?

- Não estou te pedindo pra escolher, Rose. – havia um sorriso na voz de Adrian. Me encanta o como ele e Dimitri conseguem me entender tão bem. – Só estou deixando claro isso. Que te amo, e que sempre estarei ao seu lado.

Ergui os olhos para olha-lo. Sentia falta de seus abraços e de suas conversas. Do seu cheiro. Sim, sentia falta dos flertes dele, apesar de tudo. Poderia não ama-lo como ele me amava, mas havia amor ali, definitivamente. Eu amava Adrian demais, um pouco além de amor de irmãos, considerando tudo o que passamos. Mas, infelizmente, não era o suficiente.

- Chega. Você tem uma viagem daqui a pouco, uma reunião de guardiões que, honestamente, não sei onde que é legal. Você tem que estar animada, pequena damphir.

Eu ri me levantando com ele, preparando-me para nos despedir.

- Ah, Adrian, se você encontrar o Abe, peça a ele me encontrar em Omsk? Queria conversar com ele sobre esse meu castigo e tudo o mais.

- Se eu não encontrar com ele na Corte, eu consigo encontra-lo aonde quer que esteja. – me prometeu com um sorriso e me beijou a testa – Até breve, pequena damphir.

O sonho se dissolveu, a ultima coisa que vi foram os olhos radiantes de Adrian e a escuridão me envolveu por alguns segundos antes de abrir os olhos para o quarto escuro de Viktoria.

- Bom dia, Roza.

Sorri involuntariamente enquanto me espreguiçava, o braço esquerdo de Dimitri rodeando minha cintura, deixando uma sensação quente e conhecida.

- Bom dia. – suspirei e então um estalo na minha mente me fez sentar-me depressa – Ai, meu Deus! É hoje! Vamos para Omsk!

Ajoelhei na cama de frente à Dimitri, e mesmo apenas sendo possível ver o leve contorno de seu corpo na escuridão, sabia que ele sorria. Eu poderia praticamente ouvir seus lábios se torcendo para trás.

- Porque ainda me iludo e penso que acordou cedo por estar virando responsável?

- Hey! Eu sou responsável! Nunca ouviu dizer que é dormindo que se aprende?

- Nunca ouviu dizer que é nas primeiras horas de sono e não em todas as doze horas que você dorme?

- Eu não durmo doze horas!

- Detalhes...

Puxei o travesseiro debaixo de sua cabeça com agressividade e joguei nele com força. Dimitri riu e eu me levantei da cama, vestindo o robe e indo até a minha cama, que estava esquecida há muitas noites, para pegar as roupas que havia separado na noite anterior.

- Rose acordada, levantada e indo se arrumar às sete da manhã? – Dimitri ergueu uma sobrancelha com um sorriso e se levantou da cama indo até mim – Meu Deus... se está assim agora não quero nem imaginar depois!

- Você vai ficar ai falando ou vai se arrumar? – retruquei tentando não parecer afetada com sua proximidade – Sério, Dimitri. Vamos tentar chegar à Omsk antes do anoitecer.

Ele riu e me abraçou por trás rapidamente para me dar um beijo abaixo da orelha, que me fez arrepiar.

- Okay, Srta. Eu-sou-responsável.

Ele me deu outro beijo de leve na bochecha e saiu do quarto, imagino, rumando o banheiro.

Uma hora e meia depois, após termos nos arrumado, tomando café e posto as malas no carro, Olena, toda preocupada, nos encheu de recomendações. O de sempre, como: não corra demais, atenção. Se acontecer alguma coisa e o carro quebrar procurem abrigo antes do anoitecer. Eu não podia condena-la por isso. O número de mortes na região, causadas por Strigois, havia aumentado, e haviam rumores de um grupo deles rondando por ai. Era esse o motivo da reunião em Omsk. Iriam discutir a situação e decidir como proceder. O ataque a Academia alguns meses atrás havia repercutido o mundo todo e ninguém queria que algo assim repetisse.

Sendo assim, deveria ser quase nove quando saímos de casa. Dimitri, apesar de meus protestos, foi bem firme com questão ao volante: ele dirigiria. Apenas ele. O que não achei muito justo.

- Qual é, camarada! Eu tenho carteira!

Já estávamos na estrada, fazia meia hora mais ou menos que havíamos saído e eu estava, pela enésima vez, tentando convence-lo.

- Não significa que saiba dirigir.

Revirei os olhos, virando-me no assento. O cinto começou a me incomodar e eu desatei ele sem pensar duas vezes, provocando um olhar reprovador de Dimitri.

- Coloque o cinto de volta.

Ele ordenou. Um erro. Dimitri, de todas as pessoas, devia saber que não era assim que as coisas funcionavam. Não comigo.

- Me deixe dirigir então.

Retruquei teimosa.

- Sem condições, Rose.

Dimitri olhava a estrada impassível, e eu sabia que essa era uma batalha perdida. Por agora.

- Chato.

Ele riu e não me respondeu. Ao invés disso, ligou o rádio e colocou mudou de estação para estação até que encontrasse uma que lhe agradasse.

- Ah! Pelo amor de Deus! – reclamei ao ouvir Prince – Dimitri, você nem é tão velho assim! Dá para colocar uma estação de rádio decente? Tipo, algo que toque musica dos anos dois mil?

- Eu não sou tão velho assim? – ele pareceu divertido com meu comentário  - Rose, ainda estamos em treinamento aqui.

O que?

- Treinamento? E o que estamos treinando aqui? Como ter paciência para não quebrar o rádio?

- Não. Estamos treinando seus ouvidos. – replicou, dando um olhar de relance para mim – Ouvir boa música deve ser incentivado.

- E quem disse que não existe boa música nos anos dois mil?

- Me dê pelo menos um nome, Rose. E por favor, não diga Miley Cyrus ou algo assim!

- Qual o problema da Miley? – ele me olhou e revirei os olhos afundando no banco – okay. Temos Avril Lavigne. A fase antiga dela. Não que agora ela esteja muito ruim. Mas rock princess não é meu forte. E ela tá mais pra pop princess na verdade.

- Okay. Não vou discordar. A fase skater da Avril realmente não foi mal. Mais alguém?

- Coldplay. Muse. Blink. Tem o One Republic e o Nickelback também. Panic! At the disco!  Tá bom ou quer que eu pare? Eu posso continuar a viagem toda.

Dimitri riu e aumentou o volume do som.

- Okay, me convenceu. Mas por hora vamos ouvir o rock clássico. Na volta o rádio é todinho seu!

Eu apenas sorri. Uma batalha parcialmente vencida!

***********************************************************************************

- Estou com fome.

Fazia duas horas que olhávamos para o nada. Apenas a grande extensão da estrada deserta. Não havia sinal de vida além de uns casebres abandonados aqui e ali. Fora isso, tudo era inóspito e tedioso.

- Já? – indagou Dimitri surpreso, mas sorrindo – Rose, mas tomamos café agorinha. E não foi um simples pãozinho com manteiga.

- Não sou eu que decido ter fome, é meu estomago.  E ele está com fome agora, oras.

Dimitri balançou a cabeça como se não acreditasse no que ouvisse e sorriu.

Daqui uns dois quilômetros tem um posto com restaurante. Já parei lá, a comida é boa. Aí a gente almoça, pode ser?

- Combinado.

Depois dessa, me peguei olhando para ele. Admirando seu perfil contra a luz, absorvendo cada traço, cada nuance. Deus, Dimitri conseguia acelerar meu coração apenas por respirar! Seu cheiro preenchia todo o carro e me deslumbrava. Não por ser forte, mas por ser... dele. Era tão bom que me deixava tonta. Faz sentido?

- O que foi? – me perguntou me olhando de relance e eu sorri.

- Nada. Só estava... te olhando. – ele ergueu uma das sobrancelhas e revirei os olhos – De olho na estrada, Dimitri. De olho na estrada.

Ele riu e tirou a mão do volante para pô-la sobre a minha, em meu colo. Entrelacei os dedos nos dele e me recostei no banco. Havia uma tranquilidade e conforto que nunca antes havia sentido. Era tão bom estar com Dimitri. O cheiro de sua loção pós-barba tomava conta do carro, e ao mesmo tempo em que me relaxava, acelerava meu coração e me deixava ansiosa.

Quando na vida pensei que estaria assim? Amando alguém com todo o meu coração do jeito que amava Dimitri? Quando foi que eu imaginei que ficaria dividida entre meu dever e minha vida, como estava agora? Nunca. A resposta é nunca para ambas as perguntas.

- Que horas começa a reunião? – indaguei um tempo depois.

- Umas oito, nove horas. Depende de a maioria ter chegado.

- Hm... Bem, vai dar tempo de olhar o hotel, pelo menos. Tem piscina lá? Se tiver, eu posso esperar a reunião começar lá, não posso?

Dimitri riu. Não era a minha risada favorita, aquela aberta e cheia de dentes que fazia meu coração acelerar rapidinho. Mas, definitivamente, era uma risada.

- Acho que você não entendeu.  A reunião é as oito, nove horas da manhã.

Afundei no banco.

- Está falando sério? – ele me olhou por um instante, sorrindo, antes de virar para a estrada – Droga, você está falando sério. Que merda...

- Sem estresse, Rose. Não sofra por antecipação.

- “Nâo sofra por antecipação” – repeti numa má imitação de sua voz – Imagine alguém que odeia acordar cedo, Dimitri. Eu sou mil vezes pior.

Ele riu e não me respondeu, limitando-se a apertar de leve e com carinho minha mão.

Foi aí que me dei conta de algo: teríamos a noite livre. Quero dizer, a gente ia chegar à Omsk no meio da tarde mais ou menos. Teríamos parte da tarde e da noite livre, para ficarmos juntos. Mas juntos de verdade, como um casal! Não como dois adolescentes namorando escondido.

Com esse pensamento otimista, meu humor tornou-se definitivamente melhor, atraindo a curiosidade de Dimitri.

- Você vai me fazer perguntar ou vou ter que adivinhar por que tanto bom humor de repente?

Eu sorri brincando com o garfo. Estávamos no tal posto que ele havia me dito e era lindo. Era todo de madeira e de muito bom gosto. Não estava muito cheio, a comida era ótima e não tinha nenhum moroi ou damphir ali, então podíamos ficar de mãos dadas e nos beijar sem nenhum problema.

- Nada. Só estou animada. Desde que saí da Academia não tenho feito nada de legal. Quero dizer, todos se portam como se eu fosse uma adolescente que não sabe de nada. Me deixam por fora de tudo e só o que faço é ficar com Lissa. É um porre. É quase como se eu fosse... inferior. Mas então eu chego aqui e é como se eu fosse um de vocês... sei lá. É diferente.

- Rose. – o tom de voz gentil de Dimitri me fez erguer a cabeça para olha-lo – Você é minha igual. Pode ser mais nova e mais impulsiva, mas nem de longe você é uma adolescente que não sabe de nada. Atrevo-me a dizer que sabe mais do que muito guardião experiente por aí.

Eu sorri totalmente orgulhosa. Era a primeira vez que Dimitri dizia que me considerava igual a ele. Ele era sete anos mais velho que eu, sabia muito mais e já havia passado por diversas situações, mas mesmo assim ele não se portava como se fosse superior. Uma das coisas que mais amava em Dimitri era que todos eram iguais para ele. Não importava se fosse um guardião inexperiente ou afastado. Ele acreditava que todos podem contribuir para o bem final. Sinceramente, depois de passar esses quase três meses com ele, eu também acreditava nisso.

- Você é bonzinho demais para o seu próprio bem. – eu ri me inclinando sobre a mesa.

- Bonzinho?  - Dimitri se inclinou também, nossos rostos, agora, a centímetros de distancia. – Você me chama de carrasco e eu agora sou bonzinho demais?

- É. Todo mundo é bom pra você, admita. Você não vê maldade nas pessoas, ainda mais nas que estão a sua volta. Como se só os strigois fossem do mal aqui.

- Você está querendo me dizer que você é digna da dúvida? Que é.... ‘do mal’?

- Isso mesmo. Pense bem, Dimitri. Sou a instabilidade em pessoa. Com a escuridão da Lissa e a minha personalidade, se for sequestrada por um strigoi é capaz de me juntar a ele em um dos meus ataques do Espirito.

Dimitri pressionou os olhos e se levantou, contornando a mesa para vir sentar na cadeira ao meu lado. Virei para ele, afastando o prato vazio na minha frente, e Dimitri pegou minhas mãos, me fazendo olhar em seus olhos.

- Eu não acredito nisso. Acredito que você se esforçaria ao máximo para se livrar deles e mata-los. Que se dependesse de você, você morreria para salvar aqueles que, por ventura, estivessem com você.

- Ah é? – retruquei cética – É por que você afirma isso? Não tem como saber como me portaria diante de algo desta magnitude.

- É por que eu te conheço, Rose. – uma de suas mãos soltou a minha e se ergueu para tocar meu rosto com suavidade – Eu sei que você não é capaz de fazer mal as pessoas. Pelo menos, não desse jeito. Você defende quem ama. Isso é o que você é.

- Chega a ser assustador a fé que você deposita em mim.

Percebi tarde demais que havia pensado alto, e senti que meu rosto esquentou. Dimitri apenas sorriu, como se estivesse fascinado com o que via.

- Para alguém com uma autoestima tão boa, Rose, você se subestima demais.

Minha resposta malcriada foi abafada pelos seus lábios que pressionaram os meus.

- Podemos ir? – seu tom de voz era de ‘ponto final’. – Temos ainda boa parte do caminho até Omsk.

- Vamos, vamos. – ele ainda estava perto de mim e dei mais um beijo nele antes de me levantar – só me deixa comprar alguma coisa pra comer. Aí não precisamos parar.

- Não tem problema nenhum parar, Rose. – ele veio para meu lado, enlaçando minha cintura – O numero de postos aumenta a partir daqui.

- Tá, mas eu não quero parar. Quando mais cedo chegarmos, melhor.

Talvez eu não tenha sido tão sutil quando eu gostaria. Dimitri ficou em um silêncio pensativo por um momento antes de rir baixo, vir pra trás de mim e me abraçar. Ele abaixou a cabeça até que sua boca estivesse na altura do meu ouvido.

- Iria adiantar alguma coisa pedir pra se acalmar?

- Mas eu estou calma! – mentira. E ele sabia. – Dimitri, não enche tá legal.

Ele riu, sua respiração quente tocando minha pele de uma maneira boa e conhecida.

- Claro que está. – ele beijou a área logo abaixo da orelha e eu em encolhi – Vamos logo, então. Quanto mais cedo chegarmos, melhor.

Sua voz estava mais controlada que a minha, mas eu podia ouvir, por baixo de seu autocontrole, a tensão e ansiedade dele próprio. E por mais que eu me sentisse igual, talvez até pior que ele, sentir isso vindo logo de Dimitri me fez arrepiar e ficar ainda mais nervosa.

O resto da viagem foi tranquilo. Paramos apenas mais uma vez para ir ao banheiro e me recusava a simplesmente parar na estrada – e Dimitri concordava comigo em parar em um posto. Eu havia comprado salgadinhos para comer no caminho, mas conforme nos aproximávamos de Omsk, eu perdia a fome. Meus estomago se revirava e parecia que havia milhares de borboletas tentando sair dele.

Chegamos à Omsk mais ou menos no meio da tarde. As ruas não estavam vazias, mas também não estavam lotadas, facilitando nosso caminho. O hotel no qual Dimitri parara em frente era menor e menos luxuoso do que o da primeira vez que vim aqui com Abe, claro. Mas não ficava muito atrás. Ainda sim era grande e lindo, com aquela arquitetura típica da Russia, onde o moderno e o antigo se misturavam e se completavam.

- Rose. – Dimitri segurou meu pulso antes que eu pudesse abrir a porta. O manobrista esperava que saíssemos do lado de fora, em frente ao carro – Rose, não é como se você não tivesse escolha aqui. Você não é obrigada a fazer nada que não queira.

Ele me olhava sério e tive um vislumbre de insegurança em seus olhos. Sorri suavemente, tocando seu rosto e o trazendo pra mim.

- Eu sei que não, camarada. – encostei a testa na sua, sem tirar a mão de seu rosto – Eu não estou aqui obrigada. Eu não estou com você obrigada. Eu te amo, Dimtiri. É por isso. Não posso deixar de ficar nervosa, por motivos óbvios, mas não é por que eu não quero. É exatamente o contrário.

Ele sorriu. E era o meu sorrio. Aberto e cheio de dentes brancos. Era o tipo de sorriso de parar o transito e causar um acidente. E então me beijou de verdade.


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Notas finais do capítulo

Gente, eles irão para os FINALMENTE próximo capítulo? Querem ler? deixem MUITOS reviews ;)