Seres da Noite escrita por GabrielleBriant


Capítulo 18
A Condessa Leigh e o Vampiro de Hogsmeade




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CAPÍTULO XVIII

A CONDESSA LEIGH E O VAMPIRO DE HOGSMEADE

As horas daquele dia se passaram de uma forma assustadoramente rápida e, quando pouco faltava para o sol se pôr, Mina finalmente resolveu falar com Van Helsing sobre a sua missão; sobre a derradeira tentativa de descobrir que era o misterioso assassino que assombrava os arredores de Hogwarts.

Incerta sobre como começar, depois da conversa do dia anterior, ela caminhou pelos jardins da propriedade até o lugar favorito dele: a beira do lago.

Ela se sentou, recostando-se ao grande tronco de uma árvore.

- Ele não é culpado, sabe?

Van Helsing apenas bufou.

- Nunca confie num ser que não respira.

- Eu já estudei tanto sobre eles... Sr. Van Helsing, os vampiros mais perigosos são aqueles cujo abraço despertou sua natureza violenta! Aqueles de natureza sensual, não são... E o Sr. Snape é de... –Mina se censurou imediatamente, corando. Pigarreou antes de se retratar. – O Sr. Snape não é perigoso. Só isso.

- Imagino que você tenha se apaixonado enquanto ele lhe demonstrava a sua natureza.

Mais uma vez, o calor subiu às suas faces e ela corou.

- Não! Ele nuc... Nós nunca...! Eu sei disso por causa do dia em que ele me mordeu!

- Eu sabia que ele tinha lhe mordido! Mais alguma dúvida de quem é o vampiro que procuramos, Mina, depois de ele quase ter lhe matado?

- Não! Você não entende! Sr. Van Hel... Gabriel, eu deixei ele me morder! Ele estava morrendo por falta de sangue, e foi minha culpa, pois eu tinha pedido as sementes frescas de Tentáculos Venenosos e ele ficou sem ingredientes para preparar a poção que o alimentaria! Ele passou fome, e, mesmo assim, não saiu por aí se alimentando dos outros, não dá pra você perceber?

- Não é suficiente. Eu já disse, se no fim desse dia você não tiver prova, eu o mato.

Bufou.

- Certo! Você quer provas, eu lhe darei provas! Sabe quem mordeu Severo?

- Provavelmente aquele cara mencionado por Drácula.

- Não! Foi Scarlet Leigh! A própria Condessa Leigh, o que o faz pertencente ao seu clã. E não ao do Drácula.

Van Helsing deu de ombros.

- Nunca confiei nessa ciência em torno dos vampiros. Prefiro uma abordagem mais prática. Mina, me traga o nome do vampiro, e eu o deixarei vivo. Se você não trouxer, o mato por via das dúvidas. Se ele não for o nosso vampiro, teremos um vampiro a menos no mundo, de qualquer jeito. E quem vai sentir pena de um vampiro não-registrado? De um perigo para a sociedade?

Não adiantaria argumentar. Mina sabia que, quando queria, Van Helsing poderia ser um homem bem teimoso.

- Muito bem. Eu conseguirei a prova!

Levantou-se e deixou o lugar.

O sol brilhava fraco no horizonte e as trevas estavam prestes a consumir os jardins. Mina só tinha, agora, que falar com Snape para que, finalmente, pudesse ir ao encontro da Condessa Leigh...

E só podia rezar para que ela soubesse de algo.

XxXxXxX

Dentro do castelo de Hogwarts, Severo Snape olhava para a sua janela através das cortinas negras. Ele esperava que anoitecesse mais depressa; queria saber logo se precisaria ou não enfrentar Van Helsing num duelo.

Um conhecido ranger anunciou que a porta atrás dele estava se abrindo; lentamente ele virou-se, para ver o rosto sorridente do vice-diretor Horácio Slughorn.

- Severo! Preocupado?

Snape se levantou da sua escrivaninha, encaminhando-se para o robusto homem.

- Sim, para falar a verdade. Van Helsing descobriu ontem a minha... condição. Me deu um ultimato para descobrir quem é o vampiro.

O vice-diretor ergueu uma sobrancelha.

- E se você não descobrir, Severo?

- Bem, das duas uma: ou ele me mata e dá o caso por encerrado, ou eu o mato e acabarei novamente do lado errado da lei.

Slughorn tentou sorrir.

- E o que você vai fazer?

- O que eu não queria. Visitarei Scarlet. Se esse vampiro nasceu durante a guerra, ela certamente sabe quem ele é.

- Mas...

- Eu já vou, Horácio. Deseje-me sorte.

E Snape não viu o semblante preocupado no rosto de Slughorn enquanto ele sussurrava quase inaudivelmente:

“Boa sorte.”

XxXxXxX

O céu estava completamente escuro quando Severo Snape, acompanhado por Mina Stoker – que voltara a adotar o visual bizarro do blazer xadrez mal-alinhado, cabelos presos no coque horrendo e óculos que lhe cobriam e deformavam o rosto – finalmente aparataram em frente àquele mosteiro.

Parecia um pequeno castelo abandonado. A arquitetura em estilo gótico dava ao lugar a nítida impressão de ser muito antigo... E esta impressão era confirmada pelo tom amarelado das suas paredes descascadas e pelas grades enferrujadas que cercavam cada janelinha; bem como enfeitava o pesado portão na sua entrada.

O portão estava aberto, dando acesso a um jardim mal cuidado. Plantas secas estavam em todos os lugares, para combinar com o cenário um tanto árido em que a construção se situava. À esquerda, um pequeno cemitério trazia lápides e cruzes. Mina percebeu a expressão de dor no rosto de Snape ao meramente cruzar os olhos com as inúmeras estátuas de Jesus Cristo; tanta fé, infelizmente, lhe fazia mal.

O lugar ficava entre duas montanhas, no meio do nada. Sequer o piar agudos das corujas ou o uivo insistente dos lobos e coiotes eram ouvidos ali. Mina e Severo duvidavam muito que alguém além da cúpula central da Santa Sé soubesse da existência daquele lugarzinho.

Snape já fora àquele mosteiro muitas vezes. Assim que se tornou vampiro, foi na companhia de Scarlet Leigh que o aprendeu a viver, a se cuidar. Ela o ensinou a controlar a besta que morava dentro dele, sempre sedento por sangue fresco.

Era ao mesmo tempo uma benção e uma maldição ter que voltar a visitá-la.

- É aqui. Vamos?

Mina assentiu. O casal subiu o lance de escadas desgastadas até, enfim, chegar a uma grossa porta de ferro com uma grade cruz de madeira e, logo abaixo dela, a inscrição em latim:

QUI SEQUITUR ME NON AMBULABIT IN TENEBRIS SED HABEBIT LUCEM VITAE

Um sorriso apossou-se imediatamente dos lábios de Mina. Sem segurar sua língua, sussurrou.

- Quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida.

- O que disse?

- É o que tem escrito na porta. São palavras de Jesus... segundo João, se não me engano. É uma mensagem de esperança para todos os seres que vêm aqui. Significa que todos têm salvação, mesmo seres das trevas... basta caminhar com Ele.

Snape crispou os lábios. Aquela era a primeira vez que a ouvia falar da sua religião... Ele nunca foi um homem muito crente. E nunca entendeu como alguém poderia dedicar a sua vida a uma coisa que talvez nem fosse real.

Com um desdém típico da sua personalidade, disse:

- Bem, é muito difícil caminhar com Ele quando você é um vampiro.

- É uma questão de fé, Sr. Snape. Se você acredita, não será tão difícil assim.

- Se você realmente acha isso, espere até ver a minha amiga. Ela tem muita fé.

Com um tom de desafio na voz, Snape bateu na porta.

Um ranger que a fez lembrar imediatamente do castelo de Drácula denunciou o abrir da porta.

Os corredores vazios do Monastério eram percorridos lentamente. O cheiro de mofo era dominante e a pouca luz do local provinha de tochas esparsas e de algumas janelas redondas cortadas com barras de ferro que formavam uma cruz. Vez por outra podia se observar um ou outro homem caminhar escondido em seu capuz amarronzado e envelhecido. Nenhum cumprimento... como se os dois simplesmente não existissem.

- A maioria dos monges que você vai encontrar aqui fez voto de silêncio – Snape explicou, enquanto continuava a guiar Mina.

Finalmente, aqueles corredores findaram em um pátio, onde, no centro, destacava-se uma capelinha com os seus vitrais coloridos com motivos religiosos e santos.

Snape suspirou. Ele não podia dizer que era agradável entrar ali. Era como se todas as estátuas, cada imagem lá dentro o olhasse, ameaçando... acusando... deixando bem claro o quão amaldiçoado ele era.

Os portões estavam abertos.

A cúpula estava bem iluminada com as suas velas douradas. No altar, as belas imagens de anjos e santos e no canto esquerdo destacava-se a chama divina – a luz vermelha que denunciava a presença do Espírito Santo naquela capela.

Luz que parecia querer queimar os olhos de Snape.

Os bancos estavam vazios, exceto por uma criatura que, ajoelhada, rezava em voz baixa.

Ela trajava um longo vestido azul e os seus cabelos ruivos caíam debaixo do seu véu de renda branca, até a cintura.

Snape colocou as mãos nas costas de Mina, empurrando levemente, permitindo que ela fosse a primeira a pisar aquele território. Sem medo ela fez o sinal da cruz e deu o primeiro passo – sentia-se segura ali. Severo a seguiu.

Seus passos ecoaram pelo silêncio e atrapalharam a fervorosa oração.

Lentamente, a figura virou.

Mina chocou-se.

Os olhos vampirizados eram marcados por lágrimas de sangue e a expressão de dor no belo rosto feminino era indescritível. As suas mãos que seguravam o rosário estavam enegrecidas e bolhas deixavam clara a gravidade das queimaduras.

Reconhecendo o rosto de Snape, ela tentou sorrir.

- Severo! Você veio!

A mulher se levantou. À medida que ela se aproximava, o seu rosto sofrido e aspecto vampírico esvaíam-se. Os seus olhos tomaram um tom azul escuro, quase violeta, e as suas chagas se fecharam tão-logo ela guardou o objeto sagrado, perdendo contato com ele. A Condessa Leigh era exatamente o oposto de Mina: muito alta e exibindo uma beleza rara, ela imediatamente intimidou a miúda vampiróloga com a sua presença marcante.

Quando chegou perto do casal, estava deslumbrante – exceto pelas marcas de lágrimas de sangue que ainda maculavam o seu rosto pálido. Tais marcas foi o que mais assustou Snape – nunca vira tal chaga antes.

- Seus olhos...

- Oh! – Scarlet pegou em seu bolso um lencinho umedecido limpou as marcas de sangue. – Estava olhando para a chama divina enquanto rezava. Era a minha penitência de hoje. – Guardou o lenço. – É uma surpresa lhe ver aqui, Severo. Posso fazer algo por você?

- De fato, você pode, Scarlet. Preciso da sua ajuda. Essa aqui é Mina Stoker, do Centro de Vampirologia.

A vampira deu um tímido sorriso, estendendo a sua mão para apertar a de Mina. Educada, ela aceitou.

- É um prazer lhe conhecer, Srta. Stoker. Eu sou Scarlet Leigh.

- É, eu sei... – Mina disse com a voz um pouco tremida.

- Mas me digam – Scarlet caminhou para um dos baquinhos da capela, convidando o casal a fazer o mesmo. – No que eu posso ser útil?

- Nós estamos com um problema. – Mina começou, já com a voz mais firme, enquanto sentava-se. – Há algum tempo estão acontecendo ataques vampíricos em Hogsmeade, e eu fui designada pelo Centro de Vampirologia para investigá-los. No meu caminho para encontrar o vampi--

- Van Helsing quer me matar – Snape simplificou.

A bela vampira apenas sorriu placidamente.

- Van Helsing sempre quer matar os nossos. Já tentou me matar algumas vezes... e eu quase o mordi.

- Ele quer me matar porque pensa que eu sou o responsável pelas mortes que estão acontecendo em Hogsmeade.

- Mas isso é um absurdo! Qualquer um que lhe conheça sabe que você não é capaz de matar... Pelo menos não apenas pelo sangue. Mas eu acho que entendi por que vocês vieram me procurar... Vocês querem que eu diga o nome do vampiro. Muito bem. Ele é um dos meus?

- Não – Mina interviu. – Ele é do clã do Conde Drácula.

- Da família de Vladmir...? Então...?

Snape segurou as mãos da vampira – Mina sentiu uma pontinha de ciúmes pelo gesto íntimo entre os dois.

- Scarlet, você esteve junto com Drácula na guerra. Ele disse o nome do vampiro-pai. Armand Rosentod.

Scarlet estreitou os olhos, como se procurando uma antiga e adormecida lembrança... e, finalmente, abriu a boca em sinal de reconhecimento.

- Sim, sim! Armand era louco, uma das melhores armas de destruição do lado dos vampiros! Ele sempre matava as suas vítimas... Seguia as minhas ordens, apesar de eu comandar junto com o Fenrir apenas o exército de lobisomens. Não sei por que, mas nunca conseguiu obedecer Drácula, que comandava os vampiros.

“Eu me lembro bem, Severo, da única vez que ele deixou uma vítima viva. Parece que ele o conhecia e se arrependeu, então o tornou vampiro. Eu acho que você até o conhece! O nome dele era Horb... Horn... Slughorn! Isso! O nome dele era Horácio Slughorn!”

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