Seres da Noite escrita por GabrielleBriant


Capítulo 17
Rosmerta




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CAPÍTULO XVII

ROSMERTA

Não faça isso, pai! Eu o amo!’

O mundo pareceu congelar por um momento. Mina fechou os olhos e, cabisbaixa, deu um longo e sofrido suspiro: os dois segredos que ela guardava com tanta obstinação haviam sido revelados daquela maneira tão... displicente.

Os dois homens, com razão, esqueceram completamente a briga ao ouvir aquelas palavras. Em choque, encararam-na. Por longos minutos, a única coisa que podia ser ouvida era o som da floresta.

Van Helsing foi o primeiro a se recuperar do choque momentâneo. Respirando fundo, perguntou:

- O que você disse? Do que você me chamou?

Com a voz muito mais baixa do que de costume, Mina respondeu:

- Nada de importante, Sr. Van Helsing. Eu apenas queria que vocês parassem de brigar.

- Você disse que eu sou o seu pai?

Mina suspirou mais uma vez. Sentiu os seus olhos queimarem, e teve de reunir uma força sobre-humana para não deixar as lágrimas caírem. Obrigou-se a olhar os olhos de Van Helsing.

- Sim, Gabriel Van Helsing, eu disse isso. O senhor é meu pai.

Van Helsing assentiu lentamente. A expressão que tomou conta do rosto dele quase assustou a Vampiróloga: era como se, pela primeira vez, aquele homem, sempre tão forte e seguro, simplesmente não soubesse como agir.

Com o seu coração doendo, Mina deu um passo em direção a ele e pousou levemente a mão sobre o seu ombro. O toque pareceu despertar Van Helsing. Rapidamente, ele se afastou. Suas feições contorceram-se em fúria e ele se voltou para Severo. Com a voz dura, disse:

- Eu lhe darei uma chance, um prazo: você tem até amanhã para descobrir o responsável pelos ataques. Se não conseguir, eu te mato e dou o caso por encerrado.

E, andando mais rápido que conseguiu, apesar dos seus passos cambaleantes, rumou para o castelo. Na sua mente, um turbilhão de pensamentos e lembranças... uma filha! Como ele nunca soube? Por que Emily não lhe contara?...

Apenas uma coisa era certa: naquela noite ele não mais tinha condições de matar Snape ou qualquer outro: queria apenas pensar no passado e remoer antigas mágoas...

Alheios aos conflitos de Van Helsing, Severo e Mina continuavam parados na floresta. Snape de certa forma já sabia a algum tempo da paixão de Mina... Quando o Conde Drácula falou, momentos antes, que ela estava apaixonada por um vampiro, ele teve certeza. Mas nada foi tão espetacular quanto ouvir a confirmação pelos lábios dela.

Snape nunca foi um homem romântico... Mas estava, sim, sentindo algo diferente e impossível de ignorar... Era uma sensação boa, leve como uma brisa, que parecia acender algo dentro dele. Era diferente da atração... Diferente do mero desejo sexual que ele sempre sentira por outras mulheres – e, mesmo quando ele chegou a sentir um afeto real por essas mulheres do passado, jamais se sentiu com elas do jeito que agora se sentia com Mina... E ele estava gostando daquela sensação nova. Gostando tanto que decidiu que jamais a perderia.

Cuidadosamente, começou:

- Agora que Van Helsing se foi, imagino que queira dizer algo sobre a sua... revelação?

O coração de Mina falhou por um momento. Com um pesado suspiro, ela simplesmente disse:

- O que eu tenho a dizer? Você me ouviu.

Severo se aproximou dela.

- Eu já desconfiava.

- Não era a minha intenção, eu juro... Mas aconteceu. Eu estou disposta a esquecer.

Ele se aproximou mais um pouco. Suas mãos foram ao queixo dela, forçando-a a erguer o seu rosto e encará-lo. Mina perdeu o fôlego.

A lua refletia em seus olhos azuis, fazendo-os brilhar – Snape constatou. Os lábios entreabertos lhe convidavam. O coração dela batia tão forte que quase o ensurdecia... A mão dele escorregou para os cabelos dela, acariciando-os e, com um sussurro, ele disse:

- Não esqueça.

Mina suspirou, deixando um sorriso nervoso esboçar-se em seus lábios... isso foi pouco antes de erguer um pouco o seu rosto, oferecendo àquele homem os seus lábios. Seus olhos se fecharam. Desejo. Antecipação. Ele estava tão perto. O coração acelerou. As mãos suavam e tremiam...

E os lábios frios tocaram gentilmente os seus...

E um grande puxão em seus cabelos a fez gritar e cair para trás.

- EXPELLIARMUS!

O ataque foi tão repentino que Snape não teve tempo de antecipá-lo. A sua varinha foi jogada para longe e, quando ele deu por si, viu Rosmerta, a sua antiga amante, aproximar-se da mulher caída com uma expressão maníaca em seu rosto.

- Rosmerta!

Ela sequer virou-se para ele. Mina tentou se levantar e empunhar a sua varinha, mas foi impedida por um empurrão da agressora... que ela finalmente pôde identificar como a mulher seqüestrada pelo vampiro. Finalmente o medo tomou conta de cada célula do seu corpo. Rapidamente, Rosmerta pegou a varinha da vampiróloga e a atirou longe.

- Deus!

A mulher estremeceu e recuou um pouco à mera menção do Criador. Foi suficiente para que Snape chegasse por trás dela e a segurasse violentamente pelos cabelos e pela cintura, erguendo-a e tentando arrastá-la para longe de Mina...

...Tentando, pois, passado o susto, Rosmerta empunhou a sua varinha e a apontou para Snape, fazendo-o inevitavelmente recuar.

- Cuidado, Snape! – ela avisou. O seu rosto não era apenas maníaco... aquela expressão não podia ser humana. – Não me faça ter que usar essa varinha!

- Deixe-a em paz, Rosmerta – ele falou, sua voz, como sempre, controlada, apesar da tensão do momento.

Mina finalmente conseguiu se levantar. Olhou para Snape em desespero, como quem pergunta o que deve fazer em seguida.

Imediatamente, ela sentiu como se os seus olhos estivessem sendo perfurados pelos olhos negros dele e, em sua mente, ela pôde claramente ouvir a sua voz aveludada:

Fuja.

Ela deu um passo para trás.

- Não se mexa! – A voz cortante de Rosmerta a fez paralisar. – Você, Stoker, deixe esta escola! Volte para a sua casa e os seus ridículos afazeres, ou será a próxima vítima! Seu sangue será saboreado como se fosse um licor raro.

Mina estremeceu. Procurou com o olhar a varinha de Snape... e, quando finalmente a viu, percebeu que ela estava muito longe. Não daria tempo...

Rosmerta se voltou para Snape, ainda apontando contra ele a varinha.

- E você... você merece isso!

Com um misto de medo, impotência e curiosidade, ele viu Rosmerta pegar uma seringa aproximar dele. Poderia ser algo letal? Um veneno não o mataria, ele sabia... Mas, talvez...

Segurou com força a mão de que aproximava a seringa – ela imediatamente forçou a varinha contra a garganta dele.

- Não me faça ficar violenta, Severo!

Sem outra alternativa, ele soltou-a.

Tudo, então, aconteceu muito rápido: Rosmerta conseguiu furar o seu pescoço, mas, antes que ela pudesse despejar o conteúdo em seu corpo, Snape apenas ouviu um gemido engasgado escapar da garganta dela e, em seguida, o seu corpo morto deslizar ao chão.

E então ele pôde ver Mina que, com um olhar assombrado, segurava trêmula uma ensangüentada estaca de prata.

Uma lágrima caiu dos seus olhos – era tão claro que jamais matara alguém –, enquanto ela soltava a estaca e abraçava o seu próprio corpo.

- Perpendicular, entre as costelas. Diretamente no coração

.

Snape olhou para o cadáver enquanto pegava a seringa para checar o seu conteúdo.

- Ela está sangrando muito. Isso não deveria acontecer.

Mina suspirou, enxugando as lágrimas.

- Isso quer dizer que ela não era uma vampira, Sr. Snape. O verdadeiro vampiro a fez tomar um pouco do seu sangue e, assim, a escravizou. Ao eliminar o vampiro, ela voltaria ao normal... o que quer dizer que, tecnicamente, eu sou uma assassina e posso ser responsabilizada por isso.

Snape ficou calado, enquanto buscava a sua varinha. Quando voltou para junto do corpo, toda emoção pareceu deixar o seu corpo. Rapidamente, conjurou o feitiço da desilusão no cadáver de Rosmerta:

- Sendo assim, – disse – não comentaremos isso com ninguém. Ela já foi dada como vítima do Vampiro. Ninguém vai procurá-la.

Mina sentiu um calafrio e se perguntou como alguém conseguia ser tão indiferente?... Ainda assim, esconder aquela morte era a coisa mais sensata a se fazer – embora não fosse a coisa certa.

Sem mais querer pensar em seu crime, Mina desconversou:

- O que tinha na seringa?

- Sangue de Lobisomem – ele respondeu sem emoção.

- Isso lhe mataria em dois tempos.

- Mataria. Mas isso não me preocupa. O que me preocupa é que, seja quem for o nosso vampiro, ele está perto. Não conheço outro lugar onde se possa encontrar sangue de lobisomem nas redondezas, se não na sala onde estoco ingredientes para poções.

Mina mordeu seu lábio, sentindo-se um pouco mais nervosa – aparentemente, o vampiro tinha acesso ao castelo.

Os dois retomaram a sua caminhada.

- Mas como vamos identificá-lo, se voltamos a estaca zero?

- Não voltamos. Esse vampiro recebeu o seu abraço durante a guerra, e Scarlet Leigh sabia de todas as ações dos vampiros, naquela época... E eu tenho uma relação muito especial com ela.

Mina o olhou com espanto: Scarlet Leigh era uma das piores vampiras que já andaram pela terra. No quesito crueldade, talvez ela perdesse apenas para Drácula e para o próprio Lúcifer! Como ele poderia ter uma relação com ela? Como qualquer pessoa conseguia manter uma relação com ela?

Com se lesse a repulsa nos olhos de Mina, Snape explicou:

- Foi Scarlet Leigh quem me deu o abraço.

XxXxXxX

O caminho para o castelo foi percorrido sem mais palavras.

O único diálogo que tiveram foi para combinar de ir ao encontro de Scarlet no fim da tarde do dia seguinte. Com sorte, eles descobriram quem era o maldito vampiro e evitariam um duelo entre Snape e Van Helsing.

Ele deixou Mina na porta do seu quarto.

Ainda se olharam por um tempo, mas o beijo não aconteceu.

Assim que Mina entrou em seu quarto e acendeu as luzes, tomou um susto: silenciosamente sentado em sua cama estava Van Helsing.

Ela colocou a mão no peito, sentindo o exaltado coração e suspirando um pouco aliviada.

- Você quase me matou de susto!

- Precisamos conversar.

Mina suspirou. Apesar de querer adiar aquela conversa, sabia que Van Helsing tinha todo o direto de saber a verdade. Um pouco relutante, ela caminhou até a cama e sentou-se ao lado dele.

- Eu estava procurando o melhor momento para lhe contar... Van Helsing, eu não sei por onde começar!

O homem deu um suspiro cansado.

- Comece por me chamar de Gabriel.

Ela deu um meio-sorriso, finalmente o olhando.

- Gabriel... Soa tão estranho para mim.

- Agora você começa do começo.

Suspirou. Precisaria de coragem.

- Tudo bem. Eu sempre pensei que fosse filha... bem, de papai. Foi pouco antes de morrer que mamãe me contou toda a sua história... e minha história, por conseqüência.

“Ela me disse que tivera, em sua juventude, um grande amor. Um amor tão grande que parecia ser até maior que a própria vida. Era por você, Gabriel.” Ele desviou o olhar. “Pesquisando vampiros, ela lhe conheceu e se apaixonou. Pedidamente. O tempo passou, mas o amor não diminuía.” Ele abriu um sorriso tão melancólico que tocou profundamente Mina. “Mas certo dia ela percebeu que estava envelhecendo e você não. Que você teria que vê-la definhar até morrer... e ela decidiu que simplesmente não era justo. Que você não merecia o sofrimento. Ela, então, procurou um vampiro para satisfazer a sua sede de imortalidade, mas, no meio do caminho, descobriu que estava gerando uma criança... eu. Também não era justo, ela concluiu, que eu fosse condenada a ter pais diferentes, imortais, enquanto era fadada à mortalidade até decidir pelo contrário. E também não era justo para você viver assombrado pela possibilidade de perder a sua família para morte a qualquer momento... ‘Gabriel merecia paz, e você merecia um lar normal; essas foram as exatas palavras que ela usou... Assim, mamãe decidiu pelo que não era justo para ela: Casou-se com papai.

“Ela era muito companheira do meu pai e parecia ser feliz, mas sempre houve uma sombra em seu olhar, como se algo faltasse. A morte de papai foi o estopim. Ela entrou em depressão e com alguns meses morreu. Mas, em seu leito de morte, me contou a sua história e me pediu para me tornar uma vampiróloga. Pediu-me para encontrar você como colega de profissão, conquistar a sua amizade e, enfim, revelar esse segredo. E é isso. Acho que cumpri a minha promessa.”

Olhando para o chão com um semblante de cortar o coração, Van Helsing passou alguns minutos em silêncio antes de perguntar:

- Quais foram as últimas palavras dela?

Mina tentou sorrir, apesar do nó em sua garganta.

- Mamãe estava delirando, quando morreu. As últimas palavras dela foram “meu caçador”.

Van Helsing deu uma risada rouca e enterrou o rosto em suas mãos. As primeiras lágrimas de Mina finalmente rolaram pelo seu rosto.

- Ela me chamava assim.

Mas um longo silêncio se instalou...

- Eu sempre amei a sua mãe... Queria poder estar com ela agora.

Mina segurou a mão dele.

- Eu também.

Van Helsing a olhou.

- Obrigado Mina. Obrigado.

XxXxXxX


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