Capítulo 01. Os olhos

07 de Outubro de 2011

2:27 a.m.

O ar lhe entrava nos pulmões com força, sendo soltos em baforadas pesadas. Ela já podia sentir uma fina camada de suor se formando nas costas e os músculos ardiam há muito tempo. Estava exausta, mas a única coisa que não podia fazer era parar para descansar.

Se eles a alcançassem, morreria. No sentido literal da palavra. Pensou se Shikamaru e Shino estavam no mesmo apuro que ela. Provavelmente não, já que mesmo que os três estivessem cansados da missão realizada há poucas horas, eles não haviam usado chakra para curar os ferimentos alheios.

Deu um salto em falso e acabou caindo no chão, a pancada retirando todo o ar de seus pulmões e deixando-a incapacitada por alguns segundos. Tais segundos foram o suficiente para que um dos ninjas mascarados a avistasse e partisse para o ataque.

Num esforço que parecia sobre-humano, conseguiu retirar alguns sebons da bolsa que carregava e atirá-los no inimigo, acertando um de seus pontos vitais e fazendo-o cair morto no chão. Se apoiando num dos cotovelos olhou para os lados em busca de sinal dos outros e conseguira ouvir apenas alguns farfalhar ao longe, mas se aproximando rapidamente.

Conferiu quais armas tinha e se descobriu apenas com duas kunais, e duas kunais não eram o suficiente contra um grupo ninja altamente treinados. Concluindo ser um suicídio tentar se defender, Sakura se levantou, voltando a correr e procurando um lugar para poder se refugiar.

Eles tinham planejado tudo muito bem, ponderou. Não haviam conseguido impedir o roubo dos pergaminhos, mas armaram uma armadilha perfeita para quando o trio montasse acampamento a algumas milhas de distância.

Num momento estava ajeitando seu saco de dormir e conversando amenidades com os parceiros, noutro estava se vendo obrigada a correr numa direção qualquer, completamente cercada.

Merda, Sakura. Merda.

Apertou o passo e mudou o rumo levemente para o leste ao ouvir o som que se assemelhava ao de uma queda d'água, poderia despistá-los facilmente se conseguisse se camuflar com o barulho. Contudo para isso precisava de tempo e isso com certeza não possuía.

Assustada desviou de uma kunai que passara a milímetros de seu rosto e tropeçou numa das raízes de árvore. Sem se dar tempo para recuperar voltou a correr, mesmo que cambaleante e trocando as pernas vez ou outra.

O som de água caindo se tornava cada vez mais alto e sabia que suas forças já estavam nos limites há muito tempo. Mais movida pela adrenalina do que pelas energias que possuía, conseguiu acelerar um pouco mais até irromper num pequeno descampado que ladeava um rio .

Olhou para o lado de onde deveria estar a queda d'água e lamentou saber que estava exatamente acima dela. Se quisesse escapar teria de pular, mas sem poder enxergar direito a altura que cairia, tal movimento poderia ser fatal.

Parou em cima de uma pedra perigosamente perto da beira olhando para trás a tempo de ver ao menos cinco jounnins aparecerem no exato lugar em que ela se encontrava momentos antes.

Que Kami me ajude!

Pensou, saltando da pedra e caindo no vazio. Não levou mais que três segundos para sentir a água na pele, num baque doloroso, mas, felizmente, não letal. Tendo tempo apenas para uma meia golfada de ar, sentiu-se puxada pela água e arrastada pela correnteza.

As pedras com que se chocava arranhavam sua pele e provavelmente lhe dariam dezenas de hematomas pela manhã, porém essa era uma de suas menores preocupações, tinha era que tratar de conseguir respirar, e rápido.

Movendo os braços de forma quase violenta, conseguiu subir novamente, puxando um pouco de ar, para ser tragada pela água de imediato. Pelo menos eles não a seguiriam, pensou sarcástica, havia ganhado pelo menos uma hora de vantagem, já que provavelmente tentariam dar a volta na cachoeira para seguirem o curso do rio.

Depois de minutos cheios de desespero, a correnteza começou a amenizar e com um pouco de esforço conseguiu direcionar-se para o leito, saindo da água usando um galho como apoio.

Jogada no chão e já afastada da beira, deu-se ao luxo de descansar alguns minutos, normalizando a respiração e cuspindo toda a água ingerida no meio do caminho. Passado tempo o suficiente para que o cansaço começasse a cobrar seu preço, ela levantou. Precisava encontrar um lugar seguro, certamente mais para dentro da floresta para finalmente conseguir passar a noite.

Já sem muita pressa foi entrando no labirinto verde, em busca de algo. Encontrara uma pequena caverna, mas considerou ser o primeiro lugar que eles procurariam e desistiu dessa ideia. Andou mais um pouco e encontrou uma imensa árvore, parecendo mais o acoplado de muitas, intrinsecamente ligadas.

Rodeou-a e sorriu ao encontrar uma pequena falha entre suas raízes altas, perfeitamente camufláveis com folhas secas. Passou o corpo delgado sem muita dificuldade pela abertura e conteve um engasgo ao se deparar com um ambiente maior do que havia imaginado. A arvore era praticamente oca!

Num suspiro satisfeito deitou-se na parte extrema da pseudo-caverna, permitindo-se fechar os olhos e repousar as forças à muito exauridas.

Não parecia sequer ter passado meio minuto quando sobressaltou-se com um barulho próximo. Levantou num ágil movimento, tomando cuidado o suficiente para não se denunciar e esgueirou-se para a entrada, procurando por entre as frestas das folhas o causador do som.

Nada, pelo menos não no seu campo de visão limitado, mas mesmo assim não se permitiu relaxar. Estava absolutamente escuro ali, mas ao menos conseguia sentir que seu corpo conseguira recuperar parte das forças. Poucas, mas o suficiente para matar um ou dois e fugir.

Minutos se passaram sem a mínima movimentação e a rosada chegou a conclusão de que quem quer que tivesse passado por ali, já havia ido embora. Soltando um leve suspiro de alívio deu um passo em falso e teve apenas tempo de encolher os ombros ao ouvir o barulho da folha em que havia pisado.

Maldito outono e suas folhas barulhentas! Se ainda houvesse alguém à espreita, conseguira se denunciar.

Agachou-se e voltou a ficar alerta, em busca do som do passos que pudessem vir em sua direção, e teve a sensação de ter escutado um leve farfalhar, que certamente poderia ser proveniente do vento.

Com movimentos cuidadosamente calculados a rosada afastou uma pequena camada de folhas para poder enxergar melhor e quando se assegurou que não havia nada, nem ninguém na área, pôs a cabeça para fora e logo depois todo o resto do corpo. Seria melhor se afastar, enquanto tinha tempo e sentia-se melhor para correr mais algumas milhas.

Estava retirando a perna quando um vulto fez virar a cabeça rapidamente na direção e acabou por conter um engasgo com o que vira, quase caindo para trás.

O coração pareceu conter-se assim como a respiração, pois ali, entre as árvores estavam duas esferas vermelhas, brilhando feito brasas ardentes. E ela só sabia de uma pessoa que possuía olhos assim, seu coração gritava descompassado a resposta.

- Sasuke...

Continua...