Fronteiras da Alma escrita por By Mandora


Capítulo 7
O Passado Que Condena




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Distante do acampamento, Inu-Yasha estava sentado sobre o galho de uma árvore, observando as nuvens que passavam rapidamente. A brisa gelada beijava seu rosto, mas o frio não o incomodava. Não mais do que seus próprios pensamentos. “Minha vida pertence a Kikyou, mas a Kagome...” Pegou sua espada, retirando-a da cintura e ficou a observá-la. Finalmente, Kagome o encontrou, mas ele estava tão distraído que não percebeu a aproximação dela.

– De que me adianta querer tanto alguém se meu destino já está selado por você, Tessaiga...

Kagome sentiu-se triste com aquelas palavras. “Ele deve estar falando da Kikyou.” Resolveu sair dali e deixá-lo sozinho, mas deteve-se ao ouvi-lo novamente.

– Kagome...

Ela achou que ele a tivesse visto, mas, ao virar-se, notou que ele observava as estrelas agora. “Será que ele estava falando de mim?” Ela respirou fundo, enchendo-se de coragem, e resolveu mostrar-se.

– Inu-Yasha?...

Ao escutar a voz dela, ele se assustou e acabou deixando a Tessaiga cair. “Será que ela me escutou?”

– Kagome, o que está fazendo aqui?

– Vim trazer isso para você, está muito frio. – Mostrou o cobertor. – Desculpe se o assustei, Inu-Yasha.

– Ora... Eu não me assustei! – Tentou disfarçar, mas estava completamente sem graça. Saltou do galho onde estava e, ao chegar ao solo, pegou sua espada. – Você está aqui há muito tempo?

– “Se eu disser que sim ele vai ficar ainda mais sem graça do que já está...” Não, eu acabei de chegar e te chamei. Nossa! Você se afastou muito do acampamento...

– “Ufa!” É melhor voltar para perto dos outros. – Sentou-se no chão, encostado à árvore.

– Mas por quê?

– Porque é perigoso...

Notou que ela se aproximou e sentou ao lado dele, com o cobertor no colo, mas ele manteve-se de braços cruzados e olhos fechados.

– Eu me sinto segura quando estou com você, Inu-Yasha. – Ele mexeu um pouco as orelhas. – Me desculpe...

– Por quê?

– Por ter fugido e ter deixado você sozinho.

Ele não conseguiu olhar para ela, ao invés disso, abriu os olhos e ficou a observar a escuridão a sua frente.

– Se eu me transformasse agora, você não se sentiria assim, Kagome.

– Não me importa no que você se transforme ou o que você faça, Inu-Yasha. Eu quero ficar com você.

Aos poucos ele foi virando o rosto para encará-la. Quando seus olhares se encontraram, ela deu um sorriso que ele retribuiu. Então, ela desdobrou o cobertor e passou pelo ombro de Inu-Yasha, cobrindo-lhe as costas.

– Pronto, agora você vai ficar quentinho.

Ele ficou vermelho e desviou o olhar. Sem qualquer palavra, ele a abraçou e a aninhou em seu peito, meio que sem jeito e a cobriu também com parte do cobertor.

– Inu-Yasha, o que foi?

– Está frio, não está? Você pode se resfriar. – Disse ele, com um tom emburrado.

Ela se agarrou nas vestes dele e manteve seu rosto escondido. “Calma, Kagome... Fique calma...” pensou ela.

– Você ainda está com frio, Kagome? Está tremendo...

– Não é nada, não se preocupe.

– Você mente muito mal... – Disse ele, em tom irônico.

– Eu não estou mentindo!

Ela levantou o rosto e o encarou. Foi então que ele percebeu o brilho úmido nos olhos dela.

– Eu sempre faço você chorar...

– Não é você, Inu-Yasha...

Àquela altura, seus rostos estavam tão próximos quanto seus corações. Uma lágrima rolou pela face dela, pela qual ele passou a mão delicadamente, afastando aquela lágrima. Ela repousou o rosto sobre aquela mão calorosa e fechou os olhos. Mas abriu-os novamente ao sentir o calor dos lábios dele, junto aos dela. Um tocar de lábios tímido, mas verdadeiro. Quando ele se deu conta, afastou um pouco o rosto.

– Me desculpe... – Sussurrou ele.

Sua mão ainda estava no rosto dela, sentindo o calor de sua pele. Podia até sentir o sangue que corria abaixo da pele, impulsionado pelo coração dela, batendo forte. O seu próprio coração também batia forte e acelerado, ansiando pelos lábios dela. Em um impulso, ela se jogou nos braços dele, aos prantos. Ele ficou sem saber o que fazer para acalmá-la. Mesmo abraçando-a com toda sua alma, sentia-se um pouco desesperado, não entendia o que acontecia com ela, até ela sussurrar três doces palavras.

– Eu te amo...

Euforia e angústia, ao mesmo tempo, invadiram seu coração de hanyou. Ele queria repetir as mesmas palavras, mas elas não saíam de sua garganta. Era como se houvesse um nó, impedindo-as de sair. Ele respirou fundo, embora o ar entrasse duramente em seus pulmões, e a abraçou ternamente.

– Kagome... Eu só vou fazer você sofrer...

Sentiu um calor tocar seu rosto. Era a mão dela fazendo o mesmo carinho que ele lhe fizera momentos antes. Quando ela levantou o rosto e o encarou novamente com aqueles grandes olhos castanhos, foi como se ele se perdesse dentro deles. Naquele momento, ela era tudo o que preenchia sua mente e seu coração.

– Ficar longe de você é o que me faz sofrer, Inu-Yasha...

Ambos aproximaram seus rostos para que seus lábios se encontrassem novamente. Mas dessa vez, não havia timidez ou insegurança naquele beijo, apenas a certeza de querer que ele durasse eternamente. Havia tanto desejo em seu coração, que ele segurou o rosto dela entre suas mãos, provando daqueles lábios macios e quentes. Eternos minutos se passaram, até que finalmente interrompessem o contato de seus lábios para se envolverem em um suntuoso abraço.

Um pouco distante dali, uma figura feminina observava o casal. Ela se afastou com seu arco e flechas, sendo seguida por seus Shinidamachuu. Estava perturbada com a visão que tivera.

– Inu-Yasha... Sou eu quem deveria estar nos seus braços... Mas acho que é tarde demais, o seu coração está preenchido pelo amor de outra mulher...

Enquanto Kikyou caminhava, sentia-se estranha, como se estivesse perdendo o controle de si mesma. Parou e caiu sentada sobre os joelhos. Gotas umedeceram o solo, mas não eram gotas de chuva. Ela levantou o olhar para a lua, um olhar brilhante, cheio de lágrimas e de ira.

– Eu não vou perder você, Inu-Yasha!

Alheios a tudo, os dois jovens permaneciam abraçados, enrolados naquele cobertor. Conforme os minutos foram passando, Kagome adormeceu, mas Inu-Yasha se manteve desperto. Queria ficar observando aquele anjo que dormia em seus braços. De repente, ele escutou um barulho de árvores sendo arrebentadas bem atrás deles. Kagome acordou e ambos se levantaram, com Inu-Yasha a frente de Kagome, protegendo-a.

– Mas o que é isso? – Perguntou-se o hanyou.

Uma enorme nuvem de poeira negra subiu aos céus, escondendo as estrelas e obstruindo a pouca claridade existente. Relâmpagos saiam dessa nuvem, que avançava na direção dos dois. Árvores eram engolidas por ela, que parecia ter vindo da direção do acampamento onde ficaram Miroku e Sango. Um dos raios lançou-se na direção de Inu-Yasha, que pegou Kagome no colo e saltou, desviando. No local atingido fora aberta uma enorme cratera. Afastando-se um pouco, Inu-Yasha colocou Kagome no chão e virou-se encarando aquela nuvem. “Como é que eu posso lutar contra o que não posso ver? Se ao menos eu pudesse usar o Kaze no Kizu...” Colocou a mão sobre a espada Tessaiga em sua cintura.

– O que foi, hanyou? Não vai usar sua espada? – Disse uma voz masculina cheia de ironia.

Era uma voz que saía de dentro da nuvem, surpreendo Inu-Yasha. “Essa coisa fala?”

– Maldição! Você por acaso é mais uma cria do Naraku?

– Naraku? Quem é Naraku? Ele tem algo a ver com a Jóia Shikon?

Inu-Yasha analisava curiosamente aquela massa de poeira diante de si. “Mas se não é uma cria do Naraku, como sabe sobre a Tessaiga? Será apenas mais um youkai atrás dos fragmentos?”

– Ora, vamos, seu covarde! Você vai lutar ou vai ficar se escondendo atrás dessa nuvem?

Uma gargalhada insana tomou conta do local, inibindo qualquer outro som. Inu-Yasha sacou sua espada que, por causa do peso, tombou ao chão diante dele.

– Há, Há, Há, aquele homem estava certo... – Inu-Yasha surpreendeu-se com o comentário. “Homem? Mas de quem ele estará falando?” – Ele me disse que um hanyou estava juntando os fragmentos da Jóia Shikon, graças a uma sacerdotisa de roupas estranhas. – Kagome deu um passo para trás. – E que se eu matasse o hanyou e levasse a sacerdotisa para ele, eu poderia ficar com todos os fragmentos que o hanyou possuísse. Mas se é por causa dessa mulher que você consegue achar os fragmentos, por que eu haveria de entregá-la a um estranho, que ainda por cima vestia uma pele de babuíno?

– “Um babuíno?” Seu miserável! Você não vai levar a Kagome!

– Ah, é? E como você pretende me impedir? Esse homem também disse que você não poderia usar sua espada porque ela estava muito pesada! E vejo que isso é verdade!

Inu-Yasha encheu-se de ira. “Maldição! O miserável do Naraku deu todas as informações para essa coisa!” Observou aquela nuvem atentamente. “O pior é que não consigo ver nada!”

– Morra, hanyou!

Após estas palavras, raios partiram da nuvem em direção a Inu-Yasha. Ele pulava e rolava pelo solo, escapando dos golpes. Kagome assistia impotente a toda aquela cena. “Se eu pelo menos estivesse com minhas flechas, poderia fazer alguma coisa!” pensou a jovem. Por ainda estar segurando a pesada Tessaiga, a velocidade de Inu-Yasha havia diminuído e, vez por outra, era atingido por algum raio. O último o lançou contra uma árvore e atirou a Tessaiga longe. A espada fincou-se no solo, destransformando-se. Parecia que os ossos de seu corpo gritavam, alguns até já estavam quebrados. Inu-Yasha permaneceu em pé, apoiando seu corpo na árvore contra a qual fora lançado, para se sustentar. “Tessaiga...” Fez um esforço e abriu os olhos ao ouvir alguém chamar seu nome. Era Kagome, que corria em sua direção.

– Inu-Yasha!

Só então, de dentro daquela negra nuvem, surgiu o primeiro membro visível da criatura. Era uma negra mão, coberta de pintas vermelhas, com garras compridas, que foi em direção a Kagome. Inu-Yasha arregalou os olhos e tentou se mover, mas percebeu que tinha quebrado algumas costelas. Diante de seus olhos, aquela mão agarrou Kagome e a ergueu em pleno ar.

– Finalmente peguei você! – Disse a criatura dentro da nuvem.

– Kagome! – Gritou o hanyou.

Nesse momento, o desespero tomou conta de si e ele sentiu seu corpo pulsar. “Maldição!” Ele sabia o que estava para acontecer. Se não se acalmasse, acabaria se transformando em um youkai completo e não só poderia acabar com o monstro, como também poderia ferir Kagome. “Tem que haver outro jeito!” Novamente sentiu seu corpo pulsar e seu sangue ferver. Tratou de afastar-se do tronco da árvore e cambaleou em direção àquela nuvem.

Kagome batia incansavelmente nas garras que a prendiam, tentando, inutilmente, se libertar.

– Você acha que vai conseguir se soltar desse jeito, sacerdotisa?

– Me solte, seu monstro! Você vai se arrepender!

– E quem vai me fazer soltá-la? Aquele hanyou acabado?

“Inu-Yasha...” Ela tratou de procurar pela paisagem abaixo, tentando encontrá-lo com o olhar. O viu caminhando com dificuldade, aproximando-se.

– Hei, você ouviu o que ela disse? Solte-a! – Gritou Inu-Yasha.

– Como se você pudesse fazer algo contra mim...

E novamente ele escutou aquela criatura gargalhar como se tivesse vencido a luta. “Mas que cara mais convencido!” Olhou para o lado e visualizou a Tessaiga. “Não vou poder lutar se estiver segurando essa espada...” Então ele viu que a mão do monstro começou a retroceder para dentro da nuvem, levando Kagome também. E apesar da dor lancinante que sentia, Inu-Yasha saltou sobre aquele braço enorme e o retalhou com suas garras. Agarrou Kagome em pleno ar e afastou-se um pouco.

– Seu hanyou miserável! Vou acabar com você de uma vez por todas!

A matéria da qual a nuvem era feita começou a fazer círculos, girando cada vez mais rápido e subindo aos céus, revelando a verdadeira forma da criatura dentro dela. Um enorme youkai rato, com presas de dente de sabre. Seu corpo negro era coberto por manchas vermelhas e vermelhos também eram seus olhos reluzentes. Inu-Yasha colocou Kagome atrás de uma árvore e resolveu seguir em direção ao youkai, mas Kagome o deteve, colocando a mão em seu ombro.

– Inu-Yasha! Esse youkai é muito forte e você está muito ferido...

– Ele tem algum fragmento? – Perguntou sem ao menos olhar para ela.

– Não, não tem, mas...

– Kagome – virou-se e a encarou – preste muita atenção... Eu quero que você vá embora daqui agora.

– O quê?

– Não discuta comigo! Vá embora! – Ele recuou uns dois passos e saiu em disparada na direção do monstro.

– Espere, Inu-Yasha! – Kagome olhou com um certo receio para o lado e viu a espada cravada no solo. “Ah, não! Ele deixou a Tessaiga!”

O youkai levava uma pequena vantagem sobre Inu-Yasha, afinal, mesmo estando sem um dos braços, ele não tinha nenhum osso quebrado e ainda cuspia raios pela boca. E por umas duas vezes acertou Inu-Yasha em cheio, tão forte, que abriu um trilha entre as árvores. O hanyou parecia que tinha sido abatido, caído entre os pedaços de troncos. Kagome correu até ele, mas deteve-se ao escutá-lo.

– Fique aí, Kagome!

Na verdade, ali caído no meio daqueles destroços, ele já sentia seu sangue de youkai ferver novamente dentro de si. Se ela se aproximasse, não sabia do que seria capaz de fazer. Seu corpo começou a esquentar e a insegurança deu lugar à ira e à enorme vontade de matar, não importasse quem. Logo, seu rosto começou a mudar, seus olhos tornaram-se vermelhos, suas garras e caninos cresceram mais um pouco e duas faixas lilases apareceram de cada lado do rosto. Aos poucos perdeu a consciência de si mesmo e só pode fazer um único pedido antes de se transformar completamente.

– Kagome! Fuja!

Kagome rapidamente se escondeu atrás de uma árvore e sentiu um vento forte passar por ela. Ao atrever-se a olhar para onde estava o youkai rato, também pôde ver Inu-Yasha lutando contra ele. Mas não era o mesmo Inu-Yasha de sempre. Estava transformado e lutava apenas por extinto, arrancando pedaços do youkai a sua frente. Parecia até estar gostando de fazer aquela criatura sofrer ao invés de acabar com ela de uma vez. Finalmente deu o golpe final, atravessando o corpo do youkai e abrindo um enorme buraco em seu peito. A criatura caiu por terra, morta, e Inu-Yasha permaneceu de pé, diante daquele corpo sem vida, olhando para suas garras ensopadas de sangue. Ainda não era suficiente. Queria matar novamente, era só o que o movia. Subitamente olhou para trás e percebeu Kagome. Ela assustou-se com seu olhar insano, mas manteve-se imóvel.

– Inu-Yasha... – Recuou um pouco quando ele deu dois passos em sua direção. – Está tudo bem agora, Inu-Yasha... O perigo já passou.

Ele parecia não ouvir as palavras dela. Não reconhecia sua face. Continuou a avançar na direção dela e, na metade do caminho, ergueu seu braço para acertá-la.

– SENTA! – Gritou a jovem.

O colar no pescoço dele brilhou e ele foi direto de cara no chão. Ela respirou aliviada, mas sentia-se culpada ao mesmo tempo. “Não gosto de fazer isso com ele quando ele está neste estado, mas...” Notou então, que ele se ergueu. Sua face não havia mudado. Sua expressão de insanidade não havia mudado. Ainda estava transformado em um monstro ansiando apenas por uma coisa: derramamento de sangue. “Por que o koto-dama não funcionou?” perguntou-se ela. Se deu conta de que talvez ele estivesse mais perdido do que das outras vezes em que se transformara. Que o monstro que agora veio à tona talvez o tenha lançado tão dentro da obscuridade de sua alma, que não conseguia achar o caminho de volta. E, mais uma vez, ele investiu com suas garras na direção dela.



Continua no próximo cap...

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