Fronteiras da Alma escrita por By Mandora


Capítulo 6
O Começo Da Busca Por Shippou; O Começo De Tudo




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– Hei! Me tira daqui!

Na toca de Kouga, Shippou estava cercado por lobos em um canto úmido e escuro da caverna. Berrava chorosamente sem parar, o que já estava deixando Kouga irritado.

– Você quer calar essa boca, seu pirralho? Senão eu vou dar você de aperitivo para os lobos!

Os lobos gostaram da idéia e começaram a se aproximar de Shippou, com a baba escorrendo de suas bocas. Kouga se mantinha aborrecido em seu canto, preparado com uma cama feita de feno.

– Ahh!... Se você fizer isso comigo, a Kagome nunca vai te perdoar!

Kouga pensou um pouco e chegou à conclusão de que Shippou tinha razão. “Droga! Vou ter que aturar essa peste se quiser a Kagome de volta...” Olhou para seus dois companheiros, Hakkaku e Ginta, que apenas deram de ombros. Sem muita escolha, chamou a atenção dos lobos.

– Hei, vocês!

Ele levantou-se de sua cama de feno e afastou alguns lobos do caminho. Pegou Shippou pelo rabo e o jogou em um outro canto. Shippou logo se levantou irado e ficou alisando o rabo. Apesar disso, percebeu que podia lidar com o lobo de forma a tirar alguma vantagem.

– Isso doeu! Eu vou contar para a Kagome que você foi muito mau comigo!

– Ora, pare de reclamar!

– E eu também estou com fome!

– Mas como você é chato, moleque! Como é que eles te agüentam, heim?

Shippou apenas cruzou os braços e falou com um certo ar triunfante:

– O que a Kagome vai pensar de você se souber que me deixou passar fome, Kouga?

O lobo ficou um pouco desconcertado com aquele comentário. “Esse pirralho é mais esperto do que eu pensava...”

– Está certo, vou arrumar alguma coisa para você comer. Mas se você tentar qualquer coisa, vai virar lanche de lobo!

Enquanto Kouga saía, acompanhado de Hakkaku e Ginta, Shippou foi até a cama de feno e se esticou sobre ela, relaxando.

– He, he... Esse lobo está nas minhas mãos...

-x-x-x-x-x-

Inu-Yasha caminhava pelo pátio do templo Higurashi, um pouco aborrecido. Seus pés deixavam marcas profundas no solo, coberto de neve. A neve continuava a cair forte e mal dava para perceber como o sol estava alto. Era por volta de meio-dia e ele parou a alguns metros de distância do templo do poço Hone Kui, com os braços cruzados. Kagome vinha um pouco mais atrás, com sua mochila amarela nas costas e bocejando. Agora que não mais precisaria retornar correndo para ir a aula, Kagome não vestia mais aquele uniforme, até porque precisava de roupas mais quentes. Optou por uma calça preta com um pulôver azul claro de gola feito de lã.

– Vamos logo, Kagome!

– Eu queria tanto dormir mais um pouco, Inu-Yasha... Por que a pressa?

– Você já dormiu bastante, ainda não está satisfeita? “Se eu demorar muito por aqui, posso acabar encontrando aquele esquisito do Houjou de novo!” E também tem o Kouga... Ele deve estar arrumando encrenca do outro lado, já que tiramos os fragmentos dele... E além do mais, ainda temos que reaver os fragmentos da Jóia Shikon que estão com o Naraku!

Kagome, ainda sonolenta, apoiou a cabeça no ombro dele e fechou os olhos. Se eles estivessem abertos, teriam visto como o hanyou ficou vermelho.

– Err... Kagome...

– Jóia Shikon, Naraku, Kouga... Tudo o que eu quero é dormir mais um pouco...

– Sua preguiçosa... Acorda! – Gritou o hanyou.

Sem mais nem menos, ela abriu os olhos e foi silenciosamente até a porta do templo. Ele ficou sem graça, afinal ela parecia chateada.

– Kagome, eu...

Ela abriu a porta do templo, virou-se e o encarou. Ele já sabia o que ia acontecer.

– Senta!

E mais uma vez ele provou o gosto daquele chão coberto de neve.

– Maldição! – Levantou o rosto da neve. – Que culpa tenho eu se você é uma dorminhoca?

Olhou ao redor e ela não estava mais no seu campo visual. Sentou-se confuso na neve e coçou a cabeça. “Onde será que ela foi?” Foi quando a escutou de dentro do templo.

– Hei! Você vem ou vai ficar aí no chão o dia todo?

– Ora, sua... – Ele levantou num salto e correu para dentro do templo. Ela já estava sentada na beirada do poço, esperando por ele. – Foi você quem me jogou no chão para início de conversa!

– Inu-Yasha, não seja assim tão chato. Me dá um desconto, eu ainda estou com muito sono...

Ele se aproximou e sem perceber a profundidade de seu gesto, pegou na mão dela.

– Anda, é melhor eu segurar você, senão você pode acabar se perdendo.

Ela corou, mas o hanyou nem percebeu, pois havia saltado com ela para dentro do poço. E, enquanto atravessavam os séculos, Kagome sentiu seu coração encher-se de alegria, a alegria de estar ao lado dele. Ao chegarem na outra era, acharam estranho não haver ninguém para recebê-los. Geralmente Shippou e os outros sempre estavam por perto. Resolveram continuar caminhando até o vilarejo, onde todos talvez estivessem. Durante o trajeto, Inu-Yasha percebeu que Kagome caminhava meio cabisbaixa e, vez por outra, fechava os olhos. Ele parou diante dela fazendo-a parar.

– O que foi, Inu-Yasha?

– Eu que pergunto, Kagome. Você está muito quieta.

– Eu só estou um pouco cansada, só isso...

Ela continuou seus passos e forçou passagem por ele, mas ele deteve-se e segurou a mochila dela, retirando-a de suas costas.

– Isso está muito pesado, eu levo para você.

E saiu caminhando com a tal mochila debaixo do braço. Kagome ficou meio confusa, ele não costumava ser atencioso daquela maneira. “O que deu nele?” perguntou-se a moça, enquanto o observava caminhar. Notou que ele parou e olhou para ela.

– Qual o problema agora, Kagome? Quer que eu te carregue também?

– Não, eu já estou indo...

Ela deu uma pequena corrida para alcançá-lo e depois caminharam lado a lado até o vilarejo. Encontraram Kaede diante de sua cabana, como sempre com um cesto de ervas, separando as melhores.

– Inu-Yasha! Kagome! Ainda bem que voltaram logo!

A velha sacerdotisa tratou de contar-lhes sobre o desafio de Kouga e que Sango estava se recuperando do golpe que levara. Foi então que escutaram um barulho vindo de dentro da cabana, como que de algo quebrando.

– Eu acho que ela acordou...

– E porque ela quebraria algo ao acordar, velhota? – Perguntou Inu-Yasha.

– É que...

Antes que a sacerdotisa terminasse, notaram Sango saindo da cabana com sua arma, Kirara e um tremendo mau humor.

– Até que enfim vocês voltaram! Pensei que fossem ficar por lá para sempre!

– Qual o problema, Sango?

A pergunta de Kagome foi respondida quando viram Miroku sair da cabana, com um olho roxo e um galo na cabeça. Inu-Yasha cruzou os braços e ironizou:

– Humph! Esse monge é um tarado mesmo...

– Inu-Yasha, não é nada disso... Eu apenas estava cuidando da Sango...

– Cuidando de mim! – Sango levantou o punho e esbravejou. – Você estava passando a mão em mim enquanto eu estava desacordada!

– Mas se você estava desacordada, como pode ter certeza? – Perguntou Miroku, com um ar de meditação.

– Ora, seu...

A exterminadora avançou sobre ele, que se escondeu atrás de Kaede. Kagome segurou Sango por trás, tentando evitar que ela acertasse tanto Miroku, quanto Kaede.

– Calma, Sango! Agora não é hora para isso! Nós temos que ir buscar o Shippou, lembra?

Sango parou e se acalmou, mas ainda mantinha a feição aborrecida em sua face. Saiu caminhando, seguida por Kirara e logo depois por Inu-Yasha e Kagome.

– Então vamos logo! Eu tenho contas a ajustar com aquele lobo...

Miroku, ainda se protegendo atrás de Kaede, ficou observando assustado seus amigos seguirem adiante.

– Senhora Kaede, a senhora acha que ela guarda rancor por muito tempo?

– Bem, eu guardaria eternamente... – Se afastou para entrar na cabana. – E olha que eu sou uma sacerdotisa. Se você não correr vai ficar para trás. – Olhou para ele com uma certa frieza.

– Sim, senhora!

Miroku saiu correndo para se unir-se aos demais, enquanto Kaede dava um leve sorriso.

-x-x-x-x-x-

A neve que cobria as calçadas era densa. Limpadores de ruas já começavam seu árduo trabalho de retirar a neve, na tentativa de evitar acidentes. Mas numa Tókio moderna, cheia de donos de carros imprudentes, era meio complicado. Havia um logo à frente. Até o carro do corpo de bombeiros estava presente, tentando retirar as vítimas das ferragens dos carros que se colidiram. Houjou ficou observando aquela cena durante alguns instantes. “Como a vida humana é frágil...” pensou o rapaz. Em suas mãos, havia um pacote de mercado. Tinha empregados que fizessem tudo para ele, mas naquela tarde ele precisava sair e tomar um pouco de ar. Voltou a caminhar, retomando seu caminho de volta para casa. “Será que Inu-Yasha contou alguma coisa para ela?”

Finalmente chegou aos portões de sua casa. Uma mansão simples de dois andares, nada muito exibicionista, com um estilo rústico e antigo. Sua família vivia naquela casa há gerações. Havia um pequeno jardim antes da entrada da casa, cortado por um caminho de pedras. Só que a neve cobria praticamente tudo agora, inclusive o verde daquele jardim. Diante de sua casa percebeu com certo desânimo um carro conhecido. “Ele chegou... Não poderia ter sido em hora mais imprópria...” Respirou fundo e caminhou lentamente até a porta de sua casa, a qual abriu.

Apesar da casa ser aconchegante, também era sombria e quase que desprovida de móveis. Os poucos existentes eram de estilo bem antigo e rústico, combinando com o estilo da estrutura da casa. Não precisava de muita coisa já que morava praticamente sozinho. As paredes, desprovidas de quadros ou qualquer outro adorno, eram em tom marrom claro, com rodapés escuros, talhados em madeira. Destoava um pouco do estilo japonês das outras casas da região. A primeira vista não notou ninguém na sala, mas logo teve uma estranha sensação. Seu corpo pulsou e ele largou o saco de compras que caiu ao chão, espalhando seu conteúdo. Foi rapidamente até um canto daquele cômodo. Empurrou para o lado uma mesinha e retirou o tapete. Por baixo dele havia um alçapão com uma argola de ferro na tampa, que abriu e desceu pela escada embaixo dele. Passou alguns minutos lá embaixo. Quando finalmente subiu e fechou aquele alçapão, notou uma figura sentada no sofá, segurando sua espada.

– Houjou, meu filho, você já foi mais cuidadoso...

Seu pai tinha uma expressão cansada. Um senhor de meia idade, com barba e bigode. Seus cabelos também eram castanhos, assim como os de Houjou.

– Meu desculpe, papai. Mas foi necessário...

– Eu sei, seu amigo tratou de me contar o que houve. Mas entenda que esta espada não pode ficar sendo exibida por aí...

– Eu não a estava exibindo, papai. Eu... eu precisava salvar a Kagome...

– E você agora já a chama pelo primeiro nome?

Houjou ficou sem graça diante de seu pai. A face dele tinha uma séria expressão. De qualquer forma, sabia que não fora prudente ao deixar a Tessaiga daquele jeito, sobre o sofá. Com o olhar baixo ele respondeu a pergunta de seu pai.

– Só a chamo assim porque ela me permitiu.

O pai dele respirou fundo e cerrou os olhos por um momento. Ao abri-los novamente, levantou-se e caminhou até seu filho, a quem entregou a espada.

– Guarde-a novamente. Sua energia é muito poderosa, pode atrair bestas se não estiver devidamente lacrada.

– Sim, senhor.

– Eu vou ter que retornar no vôo da noite. Houve um problema na fábrica.

– Mas o senhor mal chegou...

– Não se preocupe. Voltarei em dois ou três dias.

– Está certo.

Houjou caminhou novamente até o alçapão e o abriu, mas, antes de descer, escutou novamente seu pai atrás de si.

– Meu filho, não cometa o mesmo erro que ele... Proteja a sacerdotisa, mas não se apaixone por ela.

“Então acho que estou completamente errado, meu pai...” Continuou a descer as escadas do alçapão.

-x-x-x-x-x-

Ao final da tarde, o sol dava seu espetáculo à parte, enquanto escondia-se atrás das colinas cobertas do mais puro branco. A área onde estavam era desprovida de vegetação, apenas os pequenos morros formavam a paisagem. A jovem correu até o topo de uma colina descampada, para poder melhor admirar o espetáculo do sol poente.

– Nossa, que lindo!

Inu-Yasha achou aquilo infantilidade e parou ao lado dela.

– Kagome, não seja boba. É só um pôr-do-sol. Você já deve ter visto um monte.

– Ah, mas eu não me canso de admirar... Não é a mesma coisa no meu mundo.

– Também, com aquele monte de casas altas e quadradas...

Kagome ficou um pouco confusa com o comentário, mas logo entendeu sobre o que ele estava falando.

– Os prédios, Inu-Yasha? É, realmente eles são muito altos...

– São mesmo assim tão altos? – Perguntou Sango, enquanto se aproximava seguida por Miroku.

– Feh! As casas no mundo da Kagome são tão altas que mal se pode ver o topo. As pessoas vivem amontoadas umas em cima das outras.

– Isso é incrível, Inu-Yasha. – Disse Miroku.

– É melhor irmos andando... Logo vai escurecer e ainda temos que salvar o pobre Shippou. – Completou a jovem.

O hanyou cruzou os braços e fez um ar de esnobe, em tom de brincadeira.

– Quem parou para ficar admirando a natureza foi você, Kagome.

Ele deu um leve sorriso e saiu caminhando, ainda com os braços cruzados. Miroku aproximou-se de Kagome, que observava Inu-Yasha com uma certa alegria no rosto.

– O humor dele melhorou muito... Desde que trouxe você de volta, Kagome. Em compensação o da Sango... – Olhou meio arrependido para a exterminadora que, com Kirara em seu ombro, seguia um pouco mais adiante. – Não consigo entender as mulheres...

– Ah, sim, claro... Você é um santo, Miroku.

Disse a jovem em tom irônico e saiu caminhando, ignorando o confuso monge.

-x-x-x-x-x-

Próximos à toca dos lobos, Hakkaku e Ginta estavam observando a planície, cortada por rios agora congelados, abaixo do penhasco onde se localizava a caverna. Kouga os havia mandado vigiar a passagem caso Inu-Yasha aparecesse. De repente, eles escutaram um barulho forte vindo da caverna. Kouga saiu de dentro dela, segurando um inconsciente Shippou pelo rabo.

– Kouga! Você matou o filhote de raposa! – Exclamou Hakkaku.

– A Kagome não vai ficar zangada? – Perguntou Ginta.

– Seus tolos. Eu não matei essa peste, só calei a boca dele! Algum sinal do cara de cachorro?

Os dois companheiros se entreolharam meio confusos e Ginta respondeu a pergunta de Kouga.

– Não, nadinha.

– Que droga! Devia ter trazido o monge ou a exterminadora... Eles devem estar dando uma festa porque eu trouxe essa praga de raposa! – Coçou a cabeça. – O que é que eu vou fazer agora? Será que a Kagome já voltou?

– Kouga, do que você está falando?

– Deixa para lá, Ginta...

Kouga ficou olhando a paisagem. Aquele verde vale agora estava coberto de branco, recebendo as carícias de um vento gelado. Mas apesar do frio, seu sangue fervia ao lembrar-se das palavras de Kagome: “Eu quero ficar com Inu-Yasha.” Observou Shippou em uma de suas garras, inconsciente. “Esse moleque não tem nada a ver com essa história.” Ele cerrou o punho e saiu caminhando, levando Shippou consigo.

– Hei, Kouga! Aonde você vai?

– Fique aqui com Ginta, Hakkaku. – Virou-se e encarou seus dois companheiros e os lobos atrás deles. – Fiquem de olho por aqui enquanto eu não estiver... Talvez eu demore para voltar.

– Que conversa é essa Kouga? O que quer dizer? – Havia preocupação no rosto de Hakkaku.

– Não é nada... – E se retirou.

-x-x-x-x-x-

O frio da noite era cada vez mais intenso. Os quatro jovens caminhavam por uma trilha na floresta que finalmente levaria até o vale onde Kouga vivia. Mas agora as árvores estavam totalmente nuas de sua folhagem. E apesar disso, ainda havia um pequeno youkai voador seguindo aqueles viajantes. Era um Saimyoushou de Naraku, um youkai inseto que ele utilizava para espionar seus adversários. O que era visto pelo youkai, era refletido no espelho de Kanna e Naraku observava-o atentamente.

– Esses idiotas, mal sabem o que os espera... – Sorriu maldosamente.

O grupo seguia desavisado de seu pequeno espião. Miroku, Sango e Kagome seguiam um pouco mais a frente. Inu-Yasha se deixou ficar para trás de propósito. Sua mente ainda latejava com as coisas ditas por Houjou. Já não tinha mais certeza do que estaria reservado para ele e para Kagome. “Kagome...” Parou e ficou observando seus amigos seguirem. Mais ainda ficou a observar Kagome e sentiu um aperto no peito. “Que sensação de angústia é essa?” Respirou fundo e olhou para sua espada, lembrando-se das palavras Houjou: “Eu sei que parece confuso agora, mas o tempo vai mostrar a você como utilizá-la, mesmo estando na forma humana. A Tessaiga é dominada pelo espírito daquele que a carrega, Inu-Yasha. Pelo espírito, independente dele estar no corpo de um hanyou ou de um humano...”

– Será mesmo, Tessaiga?

Kagome, notando que Inu-Yasha havia ficado para trás, parou e ficou a fitá-lo. Sango e Miroku perceberam a situação, se entreolharam e mutuamente concordaram em não se meter. Continuaram seguindo pela trilha, num passo um pouco mais lento, para deixarem Kagome e Inu-Yasha sozinhos. Quando os olhares do hanyou e da jovem finalmente se encontraram, ela pôde perceber uma certa tristeza naqueles olhos.

– Inu-Yasha, o que foi?

– Não é nada, Kagome. Vamos acampar por hora, já está muito tarde.

Ele continuou seu caminho e passou por ela rapidamente, como que não querendo que ela visse seu rosto. Mas ela não precisava ver para saber como ele estava preocupado. Escolheram uma clareira no meio de algumas árvores para acampar. Acenderam uma fogueira e Inu-Yasha e Miroku saíram do local para buscar mais lenha que suportasse a noite toda.

Sango e Kagome estavam sentadas diante daquela fogueira. Kirara repousava sossegadamente sobre o colo de sua dona. Kagome, por sua vez, encarava as chamas da fogueira com preocupação.

– O que você tem, Kagome?

– Não é nada, Sango...

– Não é o que parece... – Fitou as chamas. – Sabe, você não precisa se preocupar. Ele está muito melhor agora que você voltou.

– Eu não deveria ter fugido...

– Kagome, você não teve escolha. Ele praticamente expulsou você daqui. Mas não teve um único dia em que ele não ficasse pensativo pelos cantos.

– Sério? – A jovem não pôde disfarçar a alegria que sentia ao escutar aquelas palavras, mas não queria se encher de esperanças. – Talvez, ele estivesse pensando na Kikyou... Já faz algum tempo que não a vemos e...

– Não, Kagome. Ele estava pensando em você. Mas ele não queria admitir porque no fundo sentia muito medo, talvez ainda sinta...

– Medo?...

– De machucar você...

Kagome ficou encarando sua amiga. Talvez houvesse alguma verdade no que ela dizia. Foi quando chegou Miroku, com mais alguns gravetos e alimentou a fogueira. Não havia sinal de Inu-Yasha.

– Acho que chegaremos ao vale dos lobos amanhã pelo meio-dia... – Disse o monge.

– Miroku, onde está Inu-Yasha?

– Ficou lá atrás, Kagome. Disse que queria ficar sozinho. Você sabe como ele é.

– É... eu sei...

Kagome esticou os braços, espreguiçando-se e depois se levantou. Começou a caminhar na direção que indicara Miroku.

– Hei, Kagome! Ele me disse que queria ficar um pouco sozinho.

– Eu sei, Miroku... Eu sei...

Ela continuou seguindo por entre as árvores, após pegar um cobertor na mochila. Sem poder impedi-la, o monge sentou-se diante da fogueira para se aquecer, um pouco afastado de Sango. Ela olhava para ele com um ar muito reprovador. Ele fingia não perceber o olhar dela, fixava o seu próprio olhar na fogueira até que ela começou a se aborrecer com o silêncio dele.

– Miroku!

– Hã? O que foi, Sango?

– Como assim o que foi? Você não vai me pedir desculpas?

– Mas o que foi que eu fiz?

O jeito desentendido dele a deixava cada vez mais irritada. Mas, então, Sango parou e resolveu se acalmar. Voltou a olhar para a fogueira e esticou as mãos para aproximá-las do fogo e aquecê-las. “Esse Miroku... Ele nunca vai levar ninguém a sério... Como eu sou idiota!” Ela abraçou os joelhos e levantou o olhar para o céu. Estava meio nublado, as nuvens passavam rapidamente por causa da brisa gelada que soprava, mas ainda assim podia vislumbrar a lua que começava a sair de seu estágio de nova. Só então ela se deu conta de que o monge olhava-a diretamente, não de forma pervertida, mas com um pouco até de arrependimento.

– O que foi? Perdeu alguma coisa?

– Até quando você vai ficar zangada desse jeito por causa daquela bobagem?

– Bobagem? – Para não espancá-lo ali mesmo ela resolveu levantar-se e caminhar um pouco para esfriar a cabeça.

– Sango, aonde você vai?

– Vou levar a minha bobagem para outro lugar!

– Ora... – Levantou-se também e foi atrás dela. – Você sabe que eu faço essas coisas o tempo todo com todas as garotas, não é? Por que ficar zangada, Sango? É mais forte que eu...

– Pois eu queria que você fosse mais forte! – Parou e o encarou. – Eu não sou qualquer garota!

Finalmente ele caiu em si. Olhou para ela com ternura, tanta, que ela baixou o olhar, vermelha.

– Eu sinto muito, Sango... E você tem razão, você não é qualquer garota. Por favor, não fique zangada comigo desse jeito. Eu quero continuar ao seu lado.

Sango fechou os olhos um pouco e sentiu um frio no estômago. “Porque eu estou me sentindo assim tão insegura ao lado dele?” Levantou seu olhar e ele continuava a fitá-la. Ela ficou mais corada ainda quando ele sorriu. Acabou por arrancar-lhe um sorriso também. Porém, um estranho barulho atrás das árvores nuas, um vulto que passava por entre elas, chamou-lhes a atenção.

– O que foi isso? – Perguntou Miroku, colocando-se de guarda em frente a Sango.

Ela permaneceu parada, atrás do monge, vigiando ao redor e tentando identificar aquela presença. “Que estranho... Apesar de saber que tem alguém aqui, não sinto nenhuma energia maligna. E quem quer que seja, sabe se esconder muito bem, pois não há folhagens nessas árvores. Deve ser um humano muito habilidoso...” Só então ela se deu conta de quem poderia estar vigiando-os.

– Kohaku!


Continua no próximo cap...

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