IX

Santa Madre Cassino

                É incrível como alguém pode provar do bom e do melhor e ainda acabar no fundo do poço. Foi exatamente isso que aconteceu com Giuseppe Maldini, antigo dono de um grande cassino em Las Vegas. Uma breve biografia deste obeso, careca e bigodudo faz-se necessária para o segmento dos fatos.

                Conhecido apenas como Maldo, nasceu na província de Bérgamo, na região da Lombardia, Itália, em 1956. Mudou-se com sua família para a cidade de Chicago nos Estados Unidos quando tinha apenas 6 anos.

                Aos 14, seu pai foi preso por tráfico ilícito de entorpecentes e a ele ficou o cargo de chefe da família e o dever de sustentar 2 irmãos mais novos. Maldo, no entanto, nunca foi bom trabalhador, nem braçal, nem intelectual. Acabou entrando também para o mundo do tráfico.

                Trabalhava para um mafioso chamado J. D. Crawford, que tinha Maldo como um protegido. Quando Crawford foi assassinado pela polícia, Maldo estava cotado para ser o herdeiro de seu império ilícito, mas a morte de seu mentor assustou-o.

                Fugiu para Las Vegas. Foi morar com uma tia, que lá trabalhava como prostituta. Ela arrumou-o um emprego em um cassino como crupier, profissão na qual fez grande sucesso, pois tinha muita habilidade com as mãos.

                Passou três anos trabalhando e conseguiu juntar quase 30 mil dólares ao término desse período. Foi então promovido para Assistente Pessoal do dono do lugar, Derek Hamels, com o qual Maldo rapidamente criara uma amizade. Mais uma vez ele se encontrava na posição de protegido. Seu carisma fazia-o crescer rapidamente na vida agora. Em 8 anos tornou-se vice-presidente do Cassino e então pode realizar o plano pelo qual passara tantos anos arquitetando.

                Dera um golpe em seu chefe, Derek Hamels, e agora era dono do Cassino. Tornou-se magnata. Mulheres, hotéis 5 estrelas, a posição que impunha perante a sociedade... Mas tudo mudou em uma noite de bebedeira.

                Maldo havia passado a noite com uma prostituta brasileira que trabalhava em Las Vegas. Seu nome era Antônia da Silva, mas chamava a si mesma de Black Cat. Tinha pele morena e cabelos castanhos, lábios carnosos e um corpo maravilhoso.

                No fim da noite, os dois acabaram casando-se em uma capela qualquer, mas Maldo não se arrependeu na manhã seguinte. Antônia não dava sinais de querer aplicar-lhe um golpe, mas apenas fugir da profissão a qual pertencia.

                Por um mês, tudo foi ótimo, até Maldo descobrir que, não se sabe como, Antônia havia passado todos os seus bens para o nome dela. O Cassino, um hotel que ele havia comprado, sua conta no banco agora estava zerada... Ele provara do próprio veneno. Tudo o que lhe restara era o dinheiro que havia guardado em um cofre secreto em sua residência, no qual Antônia não tivera conhecimento.

                Ela negociou o cassino e o hotel rapidamente e com todo aquele dinheiro, desapareceu do mapa. Maldo foi até o Brasil atrás dela, atrás de vingança, mas não fazia idéia de onde ela estava, ao menos, não a princípio. Mas é fácil de achar novos milionários, basta seguir a trilha do dinheiro.

                No Brasil, com o dinheiro que lhe sobrou do cofre secreto, abriu um cassino clandestino, o Santa Madre Cassino e lentamente começou a recuperar tudo o que havia perdido.

                Tal cassino era um lugar freqüentado normalmente por pessoas suspeitas, cuja origem do dinheiro era desconhecida. João e Miguel ali estiveram em certo momento quando procuravam por um feiticeiro chamado Aquiles.

                Maldo fez então um trato com os dois irmãos.

                - Encontrem essa mulher e eu lhes dou o paradeiro de Aquiles. – disse ele, mostrando-lhes uma foto de Antônia.

                - Nós sabemos quem é! – disse Miguel, surpreso com a coincidência.

                - Vocês a conhecem? – perguntou Maldo, desconfiado.

                - É uma mercenária conhecida como Black Cat. – agora quem respondeu foi João. – Não consegue realizar grandes rituais, pois não passou pelo Ritual de Iniciação, mas é capaz de usar vários artefatos e armas mágicas. Esse tipo de pessoa é chamada de Mercenário, e ela é uma.

                Maldo era um dos poucos homens comuns familiarizados com a Feitiçaria. Não sabia realizar nenhum ritual, mas seu cassino era freqüentado por todo tipo de gente. Histórias de magia e feitiçaria já não o impressionavam mais. Seu medo eram os licantropos.

                - E sabem onde ela está?

                - Sabemos, e a traremos para você. – respondeu João. – E quando o fizermos, é bom que suas informações sobre Aquiles estejam bem precisas.

                - Não se preocupem quanto a isso.

                Black Cat estava ligada com uma das duas ordens de feiticeiros ainda existentes no Brasil, a Ordem de Cícero. Não era diretamente da Ordem, pois apenas reais Feiticeiros podem ser membros, mas realizava missões para eles ocasionalmente em troca de dinheiro na maioria das vezes.

                Naquele dado momento, eles sabiam que ela estava na cidade do Rio de Janeiro, preparando-se para cometer um assassinato. O alvo era Carlos Setuba, um outro mercenário que havia extraviado informações importantes da Ordem de Cícero com a intenção de vendê-las a Ordem de Ébano, com a qual estavam em guerra.

                Black Cat não chegou a realizar o serviço. João e Miguel prepararam uma emboscada. Quando ela caminhava sorrateiramente por uma rua deserta durante a madrugada, os dois prenderam-na usando a mesma corda mágica que João posteriormente viria a usar contra o irmão quando este último quase atacou inconscientemente a cidade de São Cipriano.

                - Me larguem! – gritava ela. – Quem são vocês?

                - Um velho conhecido seu quer bater um papinho. – disse Miguel, mostrando um sorriso lupino. Não era geralmente assim, mas tinha ódio de Mercenários. Era o pior tipo de gente na opinião dele. Faziam qualquer coisa por dinheiro.

                - Vamos logo, antes que nos vejam. – disse João, retirando uma pedra preciosa do bolso. Era um rubi e brilhava intensamente. Sua luz vermelha iluminando as janelas dos edifícios mais próximos.

                Miguel segurava firmemente na corda que prendia a Mercenária com uma das mãos, e com a outra, tocou o cristal. No instante seguinte, com um clarão forte de luz vermelha, os dois desapareceram, deixando a rua completamente deserta agora.

                No exato instante, há quilômetros e quilômetros dali, os dois surgiram dentro dos aposentos de Maldo nos fundos de seu cassino. Era um lugar sujo e úmido. Ele não dormia mais ali. Aquele fora apenas um domicílio temporário no início de seu cassino. Agora que já conseguira recuperar uma boa parte da sua antiga riqueza, morava em um grande apartamento em São Paulo. Aliás, seu cassino clandestino era localizado nesta mesma cidade.

                Sentado na cama cheia de mofo, encontrava-se o próprio Maldo. João e Miguel deixaram a mercenária cair sobre seus pés e arregalara os olhos para a visão do homem a sua frente.

                - Bom vê-la novamente, querida. – disse o milionário, mostrando seu sorriso repleto de dentes de ouro.

                João e Miguel encurralaram o feiticeiro Aquiles que estavam perseguindo no dia seguinte, escondido em uma caverna no Uruguai.

                Quase 3 anos depois desse ocorrido, os dois irmãos voltam ao lugar para reaverem seus bens que ali haviam deixado em segurança com o amigo para só então seguirem jornada rumo ao norte do país.