Licantropo - o Livro de évora escrita por Ithuriel


Capítulo 11
A Caverna


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora... trabalhando muito.



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XI

A Caverna

 

 

No dia seguinte, os irmãos feiticeiros caminharam por entre a mata cerrada e atravessaram riachos a nado. Ao final da tarde de mais um dia, chegaram a uma pequena cachoeira no meio da floresta. Ela tinha pouco mais de 10 metros de altura e uma correnteza não muito forte que continuava em um riacho até o rio Amazonas mais ao sul.

- É aqui. – disse João, apontando para a cachoeira.

- Atrás da cachoeira, você quer dizer? – perguntou Miguel.

- Sim.

Então Miguel fez menção de projetar-se para dentro da água quando seu irmão segurou-o pelo braço.

- Conhecendo nosso mestre, tenho certeza de que ele deve ter acrescentado algum tipo de armadilha por aqui.

- Tem razão. – concordou Miguel, ligeiramente dando um passo para trás. – O que faremos então?

João não respondeu de imediato. Olhava ao redor assim como para o fundo do lago a procura de sinais de perigo. Depois começou a caminhar sobre as rochas que margeavam o riacho naquele ponto. Miguel seguiu-o, sem exatamente compreender o que o irmão estava fazendo. Por infortúnio, ou meramente patetice do mais novo, escorregou e caiu dentro da água.

- Saia daí seu idiota! – disse o irmão mais velho, retirando Miguel de dentro da água aos pescoções.

- Ai! Ai! Não precisa me bater... Foi sem querer...

Mas Miguel calou-se naquele instante, pois se ouviu um estranho rugido. Da parte mais funda do riacho, em frente à cachoeira, a enorme cabeça de um monstro surgiu de debaixo d’água. Tinha a cara fina e cumprida como a de um cavalo, mas sem orelhas e sem a crina. Seu pescoço era três vezes mais grosso e mais cumprido que o de uma girafa, isso levando em consideração apenas o que estava visível sobre a água. Então os irmãos perceberam que aquele não era o pescoço da criatura, mas sim seu próprio corpo.

- Uma Serpente Marinha... – disse João, abismado, com os olhos arregalados para a criatura e de boca aberta.

- Uma Serpente Marinha em águas doces? Quando é que você já viu uma Serpente Marinha em um rio?

- Quando é que você já viu qualquer serpente dessas?

- Só estou dizendo que Marinha não é de...

Mas Miguel calou-se com o rugido seguinte do monstro, independente de que criatura fosse, deveriam deixar a discussão para depois. 

A Serpente atacou e os dois pularam para trás para se esquivarem de seu bote. Miguel então retirou um rubi de dentro de um bolso e estava prestes a arremessá-lo na criatura quando seu irmão gritou:

- NÃO! Se usarmos magia o esconderijo se fechará!

- Então o que agente faz? Chama ele pra discutir isso democraticamente?

- Deixa comigo! – respondeu João e correu para cima do monstro.

Ele pegou impulso sobre uma rocha e pulou em direção a cabeça da Serpente, que abriu a boca para devorá-lo. João entrou dentro da boca do monstro sem ser atingido por seus dentes, que se fecharam um instante após os dedos dos pés de João cruzarem o arco daquela bocarra.

Miguel soltou uma exclamação, achando que o irmão havia sido devorado, mas quase que ao mesmo tempo, a Serpente soltava um novo rugido, não mais um ameaçador, mas como um rugido de dor. Então abriu a boca novamente e lá estava João, com a espada fincada no céu da boca da criatura, um sangue gosmento jorrando em sua cabeça. Então ele fez um pouco mais de força, e sua espada perfurou o crânio da Serpente, juntamente com seu cérebro minúsculo, se comparado ao seu corpo.

Agora morta, a Serpente volta a cair para o fundo do riacho com a boca fechada e João ainda preso ali dentro. Quando a cabeça inerte da cobra bate no fundo do riacho, João ainda não conseguira se libertar. Mesmo morta, era uma boquinha difícil de abrir a força. Miguel havia pulado na água para ajudar até que, quase sem fôlego, os dois conseguem voltar à superfície, sãos e salvos.

- Você é louco! – gritou Miguel para o irmão, enquanto nadavam em direção à cachoeira.

- Eu sei.

Havia uma caverna escondida atrás da cachoeira que eles descobriram ao passar por debaixo dela. Eles nadaram para dentro da rocha por alguns metros, até o nível da água começar a ficar raso e os dois conseguirem colocar os pés no chão e saírem da água para um chão rochoso.

A caverna ficava cada vez mais escura quanto mais a adentravam e a única fonte de luz parecia vir do estranho brilho de cristais presos à parede da pedra.

- Eles não precisam ficar expostos a luz para brilharem? – perguntou Miguel, indicando as pedras preciosas ao irmão.

- Cristais comuns, sim.

As paredes da caverna foram ficando mais largas até que chegaram a um salão arredondado. Havia diversas pedras preciosas agarradas às paredes daquele salão, além de pentagramas e outras formas geométricas representativas de diversos rituais. No meio do salão, envolto em um monte de cobertas esfarrapadas, um homem magrelo, com aparência de alto, careca, mas com uma barbicha e bigodes brancos, roncava tão alto que o barulho fazia eco naquele lugar.

João aproximou-se do homem, abaixou-se ao lado da figura adormecida e, rindo, deu-lhe um tapa na careca.

O homem levantou-se de um salto com o susto, pegou seu cajado que repousava ao seu lado no chão e apontou-o para os irmãos. O bastão era extremamente tosco. Parecia feito de vários galhos de diferentes tipos de árvores, unidos com algum tipo de massa colante. Na ponta superior, um feio rubi sem brilho, que parecia inclusive, rachado.

- Vocês dois! – disse o homem, já um senhor, com a cara bem enrugada e não parecendo mais tão alto agora que em pé, já que não conseguia manter as costas eretas devido a uma cifose, ou corcundez, oriunda de uma idade já bem avançada. Pelo aspecto geral, aquele velhinho não parecia ser muito poderoso, muito menos assustador. De fato, ninguém jamais pensaria que ele fosse um feiticeiro poderoso, mesmo considerando os trajes esfarrapados e o tosco cajado nas mãos. Um louco mendigo talvez.

- Fala velho! – cumprimentou-o Miguel, dando-lhe um abraço carinhoso.

- Querem matar este velho do coração? – perguntou Pelásio, o mestre dos dois, ainda com os olhos esbugalhados de susto, mas já esboçando um sorriso, enquanto soltava o abraço de Miguel e abraçava o outro irmão.

- Não dizem por aí que o senhor não morre por nada? – brincou João. – Você fez o que, 230 anos em junho passado?

- 235 se querem mesmo saber. – respondeu-lhe Pelásio, carrancudo.

- Credo! Você já é quase uma múmia. – agora foi a vez de Miguel implicar.

- Olha o respeito com seu mestre, seu moleque! Esses jovens de hoje em dia...

Pelásio então se voltou para os cristais na parede e ia apontando seu cajado de um em um, que pareciam piscar por um instante, mas depois brilhavam intensamente, acendendo como lâmpadas fluorescentes prestes a queimarem.

- A que devo essa tentativa de homicídio, ou melhor, visita? – perguntou-lhes o velho, batendo três vezes com seu cajado em um dos pentagramas desenhados na parede e fazendo três cadeiras duras de madeira, extremamente desconfortáveis, aparecerem do nada no centro do salão.

Cada um deles puxou uma cadeira para si e João iniciou a conversa que interessava.

- Viemos aqui para lhe perguntar como fez para entrar na Torre de Lótus da Ordem de Ébano e como foi que encontrou o Livro de Évora.

- Ah... Foi simples. Havia uma passagem secreta na Torre que os idiotas não conheciam.

- Como assim? A Torre pertence a eles, mas eles não conhecem todas as passagens do lugar? – perguntou Miguel.

- Bem, a Torre não pertencia a eles há uns 20 anos atrás, não é? Pertencia a minha antiga Ordem, a Ordem de Newman, mas nós fomos derrotados e eles pegaram a Torre para eles. Acho que eu sou o único sobrevivente da minha antiga Ordem hoje em dia. É preciso uns 200 anos andando pelos corredores daquela torre para conhecê-la da forma que eu conheço e eles a conquistaram não tem nem duas décadas. Não devem conhecer nem metade das passagens do lugar.

- Não é à toa então que você está escondido aqui. Os caras estão em peso atrás de você. – falou João.

- Escondido? – perguntou Pelásio. – Vocês acham que estou escondido aqui simplesmente para fugir da Ordem de Ébano?

- Sim! – responderam os dois irmãos ao mesmo tempo.

- Não acredito! Acham mesmo que seu mestre seria tão covarde?

Os dois irmãos se entreolharam antes de responderem juntos novamente:

- Sim!

- Pois se enganaram! Está certo que também funciona como um esconderijo, e devo dizer que isto realmente me é conveniente, mas minha verdadeira intenção é estudar uma forma de vingar minha antiga Ordem. Tenho feito experiências mágicas que vão além do que qualquer um já imaginou ser possível. Enquanto na Torre de Lótus, quando encontrei o Livro, pude dar uma olhada no Ritual do Anjo, antes de eu ser descoberto pelos capangas deles e ter que fugir. Se conseguir aperfeiçoar este Ritual, nem mesmo toda a Ordem de Ébano junta será capaz de me deter!

- Não acha que eles já devem até ter realizado este Ritual? – perguntou Miguel.

- Impossível para eles.

- Você tá ligado que os caras tão conjurando até tsunamis, né? – perguntou novamente o mais novo dos irmãos.

- Sim, estou ligado, mas eles não têm um dos ingredientes necessários para realizar este ritual em particular.

- Que seria...?

- Este rubi! – respondeu-lhes o mestre, mostrando a pedra preciosa grudada em seu tosco cajado. – Sem ele, os caras, como você diz, podem conjurar tsunamis, até mesmo cometas se quiserem, mas o Ritual do Anjo é impossível!

- Nossa! Que consolador! – disse Miguel.

 


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