E então, mais uma noite se passara, e seus esforços foram em vão, continuava a se perguntar como deteria aquilo, como conseguiria terminar tudo...

Ela respirou fundo, fitando a janela de seu apartamento com um olhar triste. Há muito já passara da meia-noite, mas ninguém viera dizer-lhe que era hora de dormir. Pusera-se a ler o livro que ganhara de sua amiga Heiko, porém este não prendera sua atenção.

Era um livro de aventuras fantásticas e felizes, onde as pessoas tinham poderes mágicos e viviam em harmonia com o mundo. Até que surgia o vilão, então os heróis o combateriam e venceriam, no final.

Tantas histórias eram assim, iguais. O herói, bom, amigo de todos, personagem cativande. O vilão, mau, não gostava das pessoas, assustador. Dois lados bem definidos. Pena que este não era o caso de sua história.

Ou talvez fosse - ela terida de ser a mocinha, não? Ela lutava pela vida e a justiça, ou pelo menos gostaria. Mas ela não era amiga de todos, nem mesmo uma pessoa cativante. Fora a muito custo que conseguira uma grande amiga, de quem gostava como se fosse sua irmã.

"Bem," pensou com sigo mesma, "preciso dormir. Estive com Heiko na rua até as onze horas, mas não conseguimos fazer mais nada se não observar o que acontecia". Graças às pedras negras - que Heiko identificara como duas ônix extranhamente escuras - não eram  vistas pelas sombras, mas tampouco eram vistas pelas pessoas normais. Voltaram para suas respectivas casas, assustadas, após ver as sombras engolirem uma pobre mulher, que saíra de sua casa iluminada para colocar uma sacola de lixo na rua.

Uma lágrima, tão rara, escorreu no seu rosto. Sentia como se o mundo estivesse se esgotando, lentamente, dia após dia...

A lágrima caiu na sua pedra.

Ela emitiu um brilho estranho. Não era um brilho reconfortante, muito pelo contrário. Era um brilho assustador. A garota sentiu seu coração gelar. A pedra continuou emitindo aquele brilho, parecia estar liberando todo o horror que encerrava.

Yuuki fechou os olhos, temendo que sua única proteção se transformasse em mais um perigo terrível. Quando os abriu, novamente, levou um susto.

Quando encontrara sua pedra flutuando, por acaso, quando fugia daquela terrível passagem onde descobrira o segredo, esta foi de encontro a garota que, perplexa, pendurou-a em uma fina corrente de prata que tinha no bolso, uma das poucas recordações que ganhara de seus pais.

A pedra de Heiko fora encontrada em circuntâncias parecidas. Elas estavam se preparando para enfrentar a noite, perguntando-se se uma única pedra protegeria as duas, quando acharam outra, flutuando do mesmo modo, que foi de encontro, desta vez, a Heiko. Ela a prendeu numa pulseira dourada, cheia de entalhes, que sempre trazia consigo.

Porém, agora, preso na corrente que formara o colar, não mais havia uma ônix extremamente negra. Havia uma miniatura de uma espada, prateada como a corrente, com minúsculos pontos negros, que pareciam ser fragmentos da pedra.

Yuuki pegou, ainda assustada, entretanto mais relaxada, a minúscula espada entre os dedos. Podia sentir que, mesmo naquele tamanho ínfimo, era muito afiada. No mesmo momento deu-se conta que era exatamente aquilo que precisava para lutar.

Com uma certeza inexplicável, segurou o punho da miniatura e imaginou-a como uma espada verdadeira, com um tamanho apropriado para lutar.

Mais uma vez aquele brilho extranho tomou o quarto, mas ao invés de assustá-la, o brilho encorajou a garota que viu, com espanto, a espada tornar-se do tamanho exato para que o punho ficasse confortável em sua mão pálida.

-- Sinceramente - ela disse - isso está ficando cada vez mais estranho. Só me falta um bichinho fofucho aparecer na minha janela dizendo que eu sou a reencarnação da princesa do não-sei-o-quê e que o meu dever é lutar pela paz e pelo amor na Terra.

Olhou irônica para a janela, como se desafiasse algum bichinho fofo a aparecer ali e dizer-lhe aquelas palavras.

-- Que bom que não vai aparecer nada - continuou - porque eu ia odiar lutar pela justiça e o amor na Terra. Eu vou lutar para acabar com essas coisas bizarras que estão acontecendo, e ponto. Quando acabar o papo sobrenatural, eu me retiro do cargo de guerreira.

Ela estava sorrindo. Havia um bom tempo que não brincava assim, falando sozinha, como se alguém a estivesse escutando. Se sentia muito bem quando fazia isso. Era como falar com alguém interessado em te ouvir, tão interessado que não o interrompia nem mesmo com sua presença.

-- Eu não sou uma mahou-shoujo - disse, a voz mais maliciosa - não vou dizer palavras bobas e me transformar com brilhinhos em volta. Não vou ser fofa, para que quem me veja continue me lembrando para sempre como uma super-heroína. Eu estou fazendo isso porque fiquei sabendo daquilo sem querer, então me sinto tão anormal quanto o que está acontecendo, o que, acho, me deixa na obrigação de resolver as coisas.

Os primeiros raios de sol entraram pela janela aberta. Yuuki respirou fundo novamente, contemplando a aurora. Acontecera muita coisa de uma vez só, e precisava contar urgentemente à Heiko.

Mas, primeiro, ia dar um cochilo. Estava exausta. Mentalmente exausta. Deitou na cama e adormeceu quase instantâneamente.

 §

Quatro horas depois, pulava pelo quarto, atrasada para a escola, perguntando-se por que demônios não ouvira o despertador.

-- Olá Heiko! - Cumprimentou a amiga ao chegar no colégio. - Tudo bem aí? O mundo nessa zona e a gente ainda tem que vir pra escola...

-- Yuuko! - Disse  Heiko, de repente. Ela olhava fixamente para a pequena espada no colar da amiga. - Você também conseguiu transformar sua pedra em espada? Muito estranho, não acha?

-- Aaah, a sua também se transformou. - respondeu, olhando a pulseira da amiga. - É, realmente, foi muito estranho. A luz que ela soltou... E se transformou com...

-- ... Uma lágrima? - perguntou Heiko, meio que rindo - Quando a minha se transformou com uma lágrima, achei que você nunca ia conseguir a sua. Nunca vi você chorando, nenhuma vez. Você é, sei lá, um pouco sem emoções. (N/A: GENTE BRISA! SORRY! SEI QUE NINGUÉM TINHA LIDO, MAS EU ESCREVI EMOYÇÕES SORRY MESMO!!! [ tá, cala a boca e continua a história ¬¬' !] Poxa, magoei 3'= )

-- Haha - riu sarcasticamente - Também nunca vi você chorando. Está sempre alegre, não é?

-- Bem, tenho que ver as coisas pelo lado bom, se não eu fico deprimida olhando pela janela a noite toda, tentando ler um livro chato!

Nisso, Yuuko resmungou alguma coisa sobre um programa de televisão.

-- Senhoritas Yuuko e Heiko, por favor, parem de conversar. Vocês estão atrapalhando a aula - disse a professora subitamente, e as meninas a olharam espantadas. Estiveram tão distraídas conversando que nem prestaram atenção ao entrar e sentar na classe.

-- Setimos muito, professora - disseram elas em uníssono.