Uma Garota Sombria escrita por cessiuh


Capítulo 5
Encotros e primeiras impressões


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente queria pedir desculpas pela demora. Estava numa época um pouco complicada, mas agora que estou de férias( aleluia! o/)posso me dedicar a essa linda história. Sei que esse cap. não é grande coisa, e que provavelmente não vai agradar muito, mas é importante. O próximo será melhor. Palavra de autora. Mas não quero desanimá-los, boa leitura a todos.Espero que gostem.



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Fazia anos que eu não vestia algo assim. O vestido era rosa bem claro. O meu rosto estava quase angelical e o meu cabelo tinha cachos perfeitos. Eu me sentia desconfortável. Mas não reclamei de nada enquanto minha tia e as empregadas me arrumavam empolgadas.

Agora, eu via uma estranha em meu próprio corpo. Era como estar fantasiada. E de certo modo, eu ia mesmo participar de um verdadeiro teatro.

- Você está linda. – Falou minha tia, ao entrar no quarto.

- Obrigada. – Obrigada soava diferente para mim.

- Isso! Não se esqueça de agradecer todos os elogios.

Não seria difícil. Eu estava sendo obrigada a ir aquele almoço. Dizendo obrigada ao receber elogios seria a mais pura verdade.

- Eu tenho uma surpresa para você, Anne.

- Uma surpresa?

- Além dos Longatto, eu convidei outra família para almoçar conosco hoje.

- Tia, mas que família é essa? Quem a senhora convidou? Porque não me contou antes?

- Calma Anne. Eu não lhe disse que se tratava de uma surpresa? Você vai gostar, tenho certeza. É uma surpresa boa.

- Por favor, tia Elissandra. Eu não gosto de surpresas. Quem está vindo almoçar?

- Eles já chegaram. Estão na sala. Venha, não quero deixar a família Pezzini esperando.

- Charlotte? Charlotte está aqui?

- Está muito animada para te ver. – Eu sorri. Mas fazia tanto tempo que eu não a via... A última vez que ela veio me ver foi uns três meses depois da morte de meu pai. Mas naquela época, eu não falava com ninguém.

Nós éramos melhores amigas, mas após a morte de minha mãe, eu tentava me isolar ao máximo. Eu passava o dia todo no cemitério e não queria receber ninguém. Ela tentou falar comigo várias vezes. Mas quando eu estava em casa, eu me trancava no quarto. Eu estava triste de mais para qualquer coisa.  

E quando meu pai morreu, ficou pior. Como se fosse possível. Eu não tinha forças para mais nada.

Eu não queria conversar. Não queria ser consolada. Era uma dor profunda de mais. E é claro, uma hora minhas amigas desistiram de me ver. Charlotte foi a que mais tentou me visitar, mas eu nunca a recebia.

E eu tinha certeza que ela havia ficado com raiva de mim. Mas assim que me viu, ela correu em minha direção e me abraçou. Ela parecia muito feliz em me ver. Charlotte era sempre alegre e sorridente. Ela parecia ser a mesma de dois anos atrás.

- Eu estava com saudades, Anne. Você não queria me ver.

- Desculpe Charlotte.

- Está tudo bem, Anne. Nós ainda somos amigas... Não é?

- Claro. Claro que somos.

Ela abriu um largo sorriso.

- Temos tanto o que conversar! Estou tão animada Anne.

- Ah, tenho certeza que sim querida. Porque não senta e conversa um pouco com sua amiga, Anne? – Sugeriu minha tia.

- Sim. Ótima idéia. – Respondeu Charlotte quase que imediatamente.

Cumprimentei os pais de Charlotte e fomos para o meu quarto. Ela falava sem parar. E me fazia várias perguntas. Tentou contar tudo o que havia feito, visto e aprendido nos últimos anos. Contava sobre os rapazes da cidade e falava com muita empolgação de um amigo do seu irmão, chamado Fausto.

Ela queria que eu também lhe contasse novidades, mas o que eu poderia dizer? Enquanto ela se arrumava para chamar atenção dos rapazes, eu me escondia e passava todas as tardes no cemitério. A única novidade que eu tinha, era a do dia anterior. Um suposto homem misterioso que havia falado comigo. Cada vez mais, eu tinha menos certeza do que havia ouvido. Seria um erro dividir isso com Charlotte? Ela estava sendo sincera comigo, ela era uma grande amiga que havia me perdoado. Seria justo esconder a única coisa que eu precisava falar a alguém? Mas o que ela pensaria de mim?

- Anne? Anne, você está me ouvindo?

- Sim. Claro que estou.

- Parecia distante... Ah Anne! Ele é tão bonito! Você não tem idéia. É amigo de meu irmão e... Adivinhe!

- Eu... Eu não sei.

- De Marcony também! São amigos há anos! Isso não é ótimo?

- Sim, é ótimo Charlotte.

- Eu e Marcony somos amigos de infância. E ele é como um irmão para mim. Ele disse que só falará coisas boas ao meu respeito. E óbvio, meu irmão também. Eu vou conquistar Fausto, você verá! – Ela deu um risinho. – Eu já posso até imaginar. Nós quatro almoçando juntos e nossos filhos correndo no jardim.

- Quatro? Nós quatro? Como assim nós quatro?

- Eu, Fausto, você e Marcony. Que cara é essa minha amiga?

- Charlotte, eu não quero me casar com Marcony.

- Mas você nem conhece ele ainda! Não me diga que ouviu alguém inventando histórias e acreditou! Eu o conheço desde criança e posso te garantir que ele é um ótimo rapaz e se ouviu alguém falando mal dele, foi por pura inveja. Ele é um ótimo partido!

- Mas não é isso...

- Eu sei, eu sei. Eu te entendo.

- Entende?

- Você não o conhece ainda e tem medo de que não seja bonito. Mas é um bom pretendente e não pode recusar.

- Não posso recusar?

- Anne você não pode recusar o filho dos Longatto! Principalmente na sua situação.

- Que situação?

- Anne, na cidade já existem boatos sobre você.

- Boatos? Mas eu não ligo para boatos. Eu nunca liguei. E... Você também não se importava com essas coisas.

- Nós éramos meninas. Agora somos mulheres. Temos que pensar no nosso futuro.

- Eu não quero esse futuro! Será que ninguém entende isso? Casar com um homem rico, ter filhos, talvez netos, e morrer. Vai ser essa minha vida?

- E o que mais você poderia querer? Você vê as coisas de forma tão pessimista! Marcony é um homem charmoso, bonito, inteligente, educado... Vai te fazer feliz. Você vai amar ele!

- Eu tenho outra opção? – Perguntava não só a ela, mas a mim mesma. Eu não podia desafiar minha tia.

- Eu não quero te preocupar. Você vive isolada nesta casa e talvez não saiba. Mas provavelmente não haverá outro pretendente para você. Sabe como é, Anne. Boatos maldosos. Esses empregados, não sabem fazer outra coisa que não seja fofocar a vida dos patrões. E aumentam tudo e inventam histórias! Eu... Ouvi dizer... Que você foge de casa durante as noites! E ontem, ouvi uma senhora comentando na loja de tecidos que a jovem Cavenaghi não faz outra coisa além de ficar no cemitério! Que gosta de ficar entre os mortos! Já ouviu coisa mais absurda? A sua reputação está sendo manchada. Você tem de se casar o mais rápido possível. Eu sei que esses boatos não são verdade, mas...

- É verdade.

- Anne?

- Charlotte, eu preciso te contar. Eu estou assustada. Ontem um homem falou comigo. – As palavras saltaram da minha boca num impulso. - No cemitério.

Agora não havia outro jeito do que contar tudo. Ela era minha amiga, e eu sabia que poderia confiar nela.

- Eu vou te contar uma coisa, mas... Você tem que prometer não contar a ninguém. Certo?

- Eu prometo.

* * *

Eu contei tudo. Exatamente tudo, com todos os detalhes. E eu me sentia bem sendo verdadeira com ela. Nós nos abraçamos, e eu sabia que poderia contar com ela.

Tia Elissandra bateu na porta e entrou em seguida. Como sempre elegante e segura. Ela ainda não tinha dito, mas eu já sabia o que era. Eles haviam chegado. E estavam esperando a doce e gentil Anne Cavenaghi aparecer. Levantei e olhei mais uma vez no espelho antes de ir ao encontro de meu pretendente “perfeito”. Eu estava ridícula. Porque as mulheres deveria se arrumar daquela forma? Aquele vestido começava a me sufocar. Charlotte ainda estava meio atordoada pelo o que eu havia contado. Descemos em silêncio. E no final da escada, estava um rapaz a minha espera. Ele sorriu ao me ver e seus olhos brilharam. Era ele. Aquela seria uma situação embaraçosa, mas eu não podia evitá-la. Eu ia tentar ao máximo não odiá-lo, e se conseguisse, talvez houvesse a pequena possibilidade de eu aceitar me casar com ele para o bem de minha família. Mas eu sabia que não ia amá-lo.

Eu não tinha ilusões. Eu acreditava no amor, mas sabia que não era para mim. Eu não esperava um romance e um homem perfeito, porque eu sabia que não aconteceria.  Principalmente sendo tudo uma obrigação. Era uma obrigação me casar. Era uma obrigação amar aquele homem. Eles queriam muito de mim! Mas eu não era como as outras. A vida mostrou sua verdadeira face para mim cedo demais. E eu pude conhecer a realidade naquele cemitério. Conheci a dor, o sofrimento e a injustiça. O assassino de meu pai nunca foi encontrado. Eu me tornei órfã. E agora queriam me casar com Marcony! Mas eu só não o queria, como não queria ninguém. Não agora pelo menos. Não queria almoços e fingimentos. Eu não queria me tornar prisioneira de um homem. Eu ainda não me sentia preparada, eu não passava de uma garota insegura, com medo da própria vida! Ele me olhava admirado agora, mas aceitaria a verdadeira Anne? Ou só queria uma boneca muda e obediente a ele?

- Senhorita Anne, muito prazer. – Ele pegou delicadamente minha mão e a beijou. Eu o olhei nos olhos. Todos ficaram em silêncio, enquanto olhávamos um para o outro por um longo tempo. Os olhos escondem os maiores mistérios e segredos de um homem. Mas aqueles olhos me pareceram muito sinceros. Talvez um olhar ingênuo, puro. Em uma primeira impressão, eu diria se tratar de um jovem alegre e bem humorado. Mas nunca se pode confiar em primeiras impressões. Seu rosto bonito não significava nada para mim. Ainda.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? No próximo cap. vocês conhecerão melhor Marcony. E aí? Qual foi a primeira impressão de vocês?



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