Lua Eterna escrita por Emmy Black Potter


Capítulo 5
Alguns são tão irritantes




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Capítulo 4 – Alguns são tão irritantes

Amy Luna

         Quando recobrei a consciência, parecia que eras haviam passado. Meu corpo pesava toneladas, e minha cabeça era algo vazio, o que não ajudou a me lembrar dos fatos rapidamente – e quando abri os olhos, já com tudo que tinha acontecido em mente, desejei não ter lembrado.

         Engoli o bolo de lágrimas que se formou na minha garganta, completamente irritada por demonstrar fraqueza somente por ter perdido um livro – o único livro sobre meu passado, ou quase isso.

- Tudo bem com você? – depois de tudo que presenciei, acho que Moore perguntar se eu estava bem era uma pergunta aceitável e não muito esquisita.

- Eu pareço bem para você? – perguntei rudemente, colocando meus braços abraçados a minha cintura.

         Ele sorriu torto, como se minhas respostas mal criadas o divertisse muito: - Na verdade, não – e vendo que eu estava prestes a socá-lo, acrescentou rápido – Olhe por si só.

         E me entregou um caco de vidro, uma parte quebrada de um espelho – que veio sabe-se lá da onde.

         Minha aparência era no mínimo péssima. Meus cabelos loiros prateados estavam despenteados e também senti uma longa hora tirando os nós das pontas. Meus olhos verde água estavam quase... Cinzentos – não era um cinzento tempestuoso e quase desafiador de Nicholas, era um cinzento triste. Se minha pele já era branca, agora eu era uma defunta. Vi um arranhão pequeno – que mesmo sabendo que sumiria em um ou dois dias, - na minha bochecha, que me incomodou.

         Suspirei, jogando o caco de vidro no chão, então me toquei onde estávamos. O orfanato era longe de Nova York, mais para a parte rural, ou algo do tipo. E nós, de fato, estávamos na parte rural... Mas nem mesmo havia escombros da explosão, nada que pudéssemos ver para identificar como a explosão ocorrera. Era somente um capim alto balançando ao vento, uma cerca de madeira a distancia, eu e Nicholas. Excelente.

- Como viemos parar aqui? Que dia é hoje? O que aconteceu? – desatei a perguntar.

- Não sei, quando acordei já estávamos aqui. Faz dois dias que você estava desacordada, mas não sei que dia é hoje. E, bem, quando explodiu – ele corou violentamente – protegi você e, quando acordei, você estava do meu lado, e nós estávamos aqui.

         Eu não sorri, mas, pela primeira vez na vida, me senti grata por Nicholas estar lá comigo – e ter me salvado, porém, sendo quem ele é, não vou agradecer. Somente acenei com a cabeça, um mínimo de "desculpa".

         Levantei, tirando a terra da calça jeans rasgada nos joelhos.

- Bem, vamos andando.

- Pra onde? – ele perguntou interessado – Estamos no meio do nada!

- E vamos continuar aqui se não andarmos, vem logo, seu mongol.

- Não tem para onde ir, Amy Luna, entenda isso – olhei para ele.

         E baixei os olhos a grama, não, eu não tinha idéia do que fazer, entretanto, aqui estamos nós, e morreremos se continuarmos parados. Cansados, começamos a andar e eu percebi o quanto estava fraca, e meus tornozelos doíam como o inferno, mas caminhei, caminhei porque sabia que não havia outra opção. Também sentia fome, sede, eu estou horrível.

- Amy... – ele me chamou quase hesitante, depois de uns vinte minutos de silêncio. E era a primeira vez que ele me chamava pelo primeiro nome – O que você acha que foi tudo aquilo no orfanato? Será que estamos com nossa sanidade mental afetada?

- Se quer saber, acho que sempre estivemos – comentei, pensando nas letras que sumiam dos papéis, dos sons esquisitos que eu ouvia quando caminhava no jardim do orfanato, entre outras coisas bizarras – Mas, não, não sei o que foi tudo aquilo.

- Espero que não estejamos loucos – ele riu estrondosamente.

- Espero que estejamos perto de um Burger King, ou algo do tipo, que fome! – chiei, pondo as mãos sobre minha barriga. Ele revirou os olhos.

         Andamos por mais alguns minutos, quando senti meu corpo fraquejar e tombar no chão. Meus joelhos ralaram e eu tentei levantar, porém eu ofegava, cansada, exausta, fraca demais para continuar.

- Amy? – Nicholas estalou os dedos na minha frente.

         Com irritação afastei sua mão próxima a minha cara, por mais que sua ação fosse gentil, era irritante. E muito confuso estar tonta com alguém estalando dedos na sua cara.

- Continue andando, mais a frente tem uma estrada... – ofeguei, respirando fundo, continuei, sem ter idéia de como sabia disso – estamos em Long Island, continue andando por mais alguns minutos e encontrará um... Acampamento... Peça ajuda.

- Não vou te deixar aqui – Moore prometeu.

- Não é hora de ser um cavalheiro, Moore, aja como o idiota que você sempre foi, vá pedir ajuda – emburrei-me. Ah, tá. Eu aturo a criatura por onze anos, loooongos anos, e agora ele quer me ajudar, numa situação de vida ou morte? Ai, ai. As pessoas são muito bizarras.

         Somente senti quando o chão começou a se afastar de mim. Eu estava sendo erguida, sendo carregada no colo e o pior: pelo meu maior "inimigo"! O mundo está pirando cada vez mais, fato!

- O que é isso? – esperneei, mas só pareceu um tremelique com minha fraqueza – Me põe no chão!

- Não – ele retrucou, carregando-me como se eu fosse uma pluma, vi os músculos do seu braço (E que músculos... Foco, Amy, foco!) se tencionando - eu te disse que não ia te deixar lá, e se você não consegue vir sozinha, eu vou te carregar até esse acampamento que você falou.

         Cruzei os braços, no entanto, permiti-me relaxar, encostando a cabeça em seu peito quente, minhas pálpebras de repente pesavam quilos e me corpo era mole de sono.

- Aliás, como você sabe sobre esse acampamento? Já veio aqui antes? – Nicholas perguntou.

- Não... Nunca – respondi sonolenta, antes de fechar os olhos, vi, ao longe, uma sombra grande, com asas, ao lado de um grande pinheiro.

         Quando acordei novamente, sentia-me mil vezes melhor. Bocejei, passando quase por instinto a mão no cabelo, com certeza, cheio de nós, mas estranhamente, minha mão deslizou ali. O cabelo impecável.

- Penteei para você – falou uma voz feminina do meu lado.

         Então reparei que estava numa cama, confortável e aconchegante. Do meu lado tinha uma garota com seus dezessete ou dezoito anos de idade. Seus cabelos eram castanhos e picotados até um pouco acima dos ombros, os olhos eram azuis claros e enérgicos, o sorriso era divertido. Ela, seja lá quem for, usava uma camiseta laranja berrante escrita: Acampamento Meio-Sangue. E suas calças jeans eram surradas. Reparei que ela tinha um canivete no bolso.

- Oi – ela sorriu – sou Jéssica Collins.

- Ãhn... – tá, e esse lugar é o que? – Sou Amy Luna Chase.

- Eu sabia! – Jéssica fez uma dancinha contente – Lils vai ter que me pagar dez dólares, sabia que você era uma Chase.

         Franzi o cenho: - Como assim "uma Chase"? Existem mais de minha família? – e Jéssica parou, como se soubesse que tinha falado demais.

- Quíron irá lhe explicar melhor, eu não posso falar nada, entretanto, até que ele volte... Bem vinda ao Acampamento Meio-Sangue! – ela desejou, de braços abertos.

         Jéssica me lembra alguém, somente não consigo imaginar quem. Pela soleira da porta passou uma garota que devia ter minha idade. Os cabelos eram castanhos e compridos, uma mecha atrás da orelha presa por uma flor. Os olhos castanhos terra e sua roupa também era uma camiseta laranja berrante, porém ela usava um short jeans sujo de terra.

- Que bom que acordou – ela disse para mim, sorrindo – sou Lilith Maison. Provavelmente nos daremos bem, tenho quatorze também – sorriu mais, apontando para Jéssica – agora, com essa aqui... Bom, ela tem dezoito, ou seja, idade "histérica, besteirol e aiiiiiii, ti amu!", então, eu tomaria cuidado se fosse você.

         Ergui uma sobrancelha. Esse lugar é tão estranho.

- Bom, vim avisar que Quíron e o Sr. D já estão a sua espera, junto com seu amigo Nick – ela riu, como se fosse uma piada.

         Puxa, é impressão ou todos são malucos? Acompanhei Jéssica e Lilith por um corredor e, descendo as escadas, vi uma sala de estar. Havia uma mesa no centro e um homem gorducho, com uma camiseta havaiana de tigres e olhos roxos. Ao seu lado, um homem de barba preta, jaqueta de motoqueiro meio empoeirada e estava na cadeira de rodas. Vi que Nick – não, até que o apelido que Lils deu pega – estava ali também, e vestia a mesma camiseta laranja berrante. Moda geral: zero.

         Mais ao canto, em um sofá, estavam sentados dois garotos. Um alto, com muitos músculos, cabelos castanhos mel, olhos claros e sorriso tão branco que chegava a ofuscar a visão por alguns minutos. O outro, ao seu lado, pareia mais novo, mas também tinha tanto músculo quanto. De cabelos castanhos escuros, olhos similares aos meus – um azul esverdeado o dele, eu diria – e um sorriso normal. Que bom, se houvessem dois holofotes ambulantes eu não agüentaria.

         Jéssica e Lilith foram naquela direção, também sentando-se no sofá. Eu, meio confusa, caminhei até a mesa.

- Ahn... Oi – falei hesitante.

         O homem gorducho mal olhou para mim quando falou: - Sabe jogar pinochle? – antes que eu respondesse – Ótimo, senta logo aí, Amaluísa Check.

- Amy Luna Chase – eu disse entre dentes, mas me sentei ao lado de Nicholas, que sorria como se dissesse: "Ele também erra meu nome". E imaginei se o gordinho tinha somente uma memória ruim ou mau humor mesmo.

- Como vai, Amy Luna? – perguntou o homem na cadeira de rodas para mim.

- Chame-me... Chame-me de Lua.

- Sou Quíron – ele se apresentou e assentiu com a cabeça, como se, do que eu tivesse falado, ele não tivesse esperado outra coisa além disso – Esse é o Sr. D.

- Sr. D? – que diabos, por que alguém gostaria de ser apelidado de "Sr. D"?

- É, Dioniso – o homem gorducho respondeu irritado – você é sempre assim, é? Tão lerda quanto o pai se quer saber.

- Meu pai? – perguntei quase gritando.

         Sr. D fez uma taça de vinho aparecer.

- Sr. D... – Quíron repreendeu.

         Com um aceno emburrado, Dioniso fez a taça de vinho sumir e aparecer uma lata de Diet Coke: - Velhos hábitos custam a morrer – eu duvidava que ele tivesse feito a taça aparecer por causa de "velhos hábitos".

- Meu pai vocês conhecem meu pai? – indaguei novamente. Nicholas desviou os olhos, quase... Com medo do que eu faria se soubesse que sabiam algo sobre meu pai (não a frase não é confusa).

         Quíron remexeu-se, desconfortável: - De certa forma sim.

- É, seu pai é um lerdão que só porque tem uma ilha pensa que pode mandar no mundo junto com sua mãe piriguete – disse o Sr. D, abanando a mão distraidamente.

         Senti o sangue subir na minha cabeça: - Como é? – eu quase soletrei.

         Ouvi meus novos amigos prenderem a respiração quando o Sr. D olhou irritado para mim. Senti um peso sobre meu corpo, uma raiva e com certo desconforto comecei a reparar, de repente, por que o Sr. D era "Dioniso".

         Mas continuei lançando meu olhar mortífero.

- Não falaria assim comigo se eu fosse você, Anabia – ele resmungou, voltando sua atenção para as cartas. Mas o "peso de sua raiva" não deixou meu corpo.

- Amy Luna – retruquei murmurado.

- Bom – começou Quíron num suspiro – imagino que já tenha lido sobre meio-sangue no seu incrível livro grego.

- O quê?

- Um livro que você tinha, de capa lisa, o único que você consegue ler, certo? – ele perguntou e quando confirmei, indagando-me como diabos ele sabia disso – Então, acho que você já leu sobre semideuses, ou meio-sangue.

- Sim... – respondi aonde isso iria levar? – Filho de deuses gregos com seres humanos mortais não é?

- Exatamente – ele respondeu parecendo orgulhoso.

- Então, você é uma semideusa, e eles existem – adiantou o Sr. D antes de todos, ele jogou uma carta na mesa, resmungando novamente.

- O QUÊ? – berrei. Aimeudeus, esse gorducho aí é doido, pirado, insano!

         Nicholas olhou para mim, pedindo calma.

- Quando você descobriu isso? – acusei.

- Há três dias, quando chegamos a Colina Meio-Sangue – ele murmurou – você estava certa, tinha um acampamento aqui.

- Jura? – veio com ironia essa parte.

- Calma, Lua – disse Jéssica sorrindo torto então percebi com quem ela parecia: Nicholas.

         Perdi completamente a linha de pensamento com essa observação.

- Você... Você é filha do mesmo deus ou deusa que o Moore, não é? – perguntei.

- Sim, você é rápida para pensar – ela comentou e, rindo, fez uma reverencia de brincadeira – Jéssica Collins, filha de Zeus.

         Olhei com meus olhos arregalados para Nicholas: - Você é filho de Zeus? Tá, e eu sou filha da Angelina Jolie de certo.

- Sou sim, Chase, que coisa, por que você é tão descrente? – Nicholas retrucou, já começando a voltar para sua velha forma chata.

- Porque convivi com um idiota durante onze anos! – e, mesmo não fazendo sentido, parecia a melhor coisa a se dizer.

- Não é por isso, é porque você é uma semideusa, mas não quer acreditar! Do contrário, o que teria sido aquela galinha gigante há alguns dias?

- Cocatrice, era uma Cocatrice, enfie na sua cabeça de bosta, Moore! – berrei na sua cara. Ele levantou-se também. Uma faísca passou por seus cabelos.

- Bosta o caramba, sua gorda miserável!

- Do que você me chamou? – empurrei ele, irritada.

-Além de gorda miserável também é surda, Chase? – ele riu sarcástico, me devolvendo o empurro.

         Mas, ao invés de somente ir para trás como eu tinha feito com ele, eu voei, batendo minhas costas na parede, ainda sentindo espasmos de choque que percorriam meu corpo.

- Nicholas, Lua... – avisou Quíron, lembro de ter lido em meu livro que ele era o treinador dos "heróis, semideuses, meios-sangue", então, devia ser, tipo, chefe de atividades, ou seja, ele pode ordenar, se quiser – parem.

         Mas eu estava enraivecida demais para ser mandada.

- Olha aqui, seu filhozinho de Zeus, não me importa de quem você é filho, se é de fulano, beltrano ou cicrano, para mim, você continua o mesmo estrupício de anos atrás!

- Ah, agora eu sou um estrupício? Mas eu não era um estrupício até alguns dias, quando te carreguei até aqui, com sua barriga flácida?

- Como é? Como é? – eu rosnei, ah, não, ninguém, nem mesmo um filhinho de Zeus, me xinga assim – Eu não sou gorda, e também não pedi para você me carregar! Na verdade, acho que preferia estar me decompondo morta em um campo agora, do que estar aqui vendo sua cara feia de bicho morto! – gritei frustrada.

- Pare de ser arrogante, Chase!

- Pare de ser idiota, Moore!

         E eu senti minha alma se desprendendo de meu corpo, vendo-o tombar na minha frente.


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