CAPÍTULO II. O CONVITE

- Rachel, minha querida, que trajes são esses?

Paul, o amigo gay. Sim, gay. Ele tinha assumido o seu “caso” com o seu “irmão” Dave, no meio do ano passado... Ele sempre fora um tanto afeminado, mas, desde que decidiu sair do armário, aboiolou de vez.

Rachel simplesmente o amava.

- Sai de casa.

E, sim, ela ainda estava com o belo vestido prateado amarrotado e sujo de vinho. Rachel passara o resto da madrugada vagando sem rumo pelas ruas de Hogsmeade e, quando notou que já tinha amanhecido, pegou o Noitebus para Londres, onde tomou um bom café da manhã e depois foi direto pra ministério.

Talvez não houvesse outra expressão para defini-la: deplorável.

Stephen, ao ouvir que ela tinha deixado a casa, imediatamente se aproximou, enquanto Paul se limitava a ficar calado com um semblante perplexo.

- Como assim? O que ele fez pra você.

- Esqueceu o nosso aniversário e chegou de quatro da manhã em casa.

A voz de Paul, finalmente, ressoou.

- Só!

Os dois olharam para o amigo.

Stephen o censurou imediatamente.

- Mais uma vez, Paul, você não ajuda! Como pode dizer uma coisa dessas?

Mas Rachel apenas respondeu à interjeição do amigo.

- Claro que não foi só isso, Paul! É tudo! Essa relação já nasceu pra acabar, você sabe disso!

- Mas vocês se amam! E, julgando por tudo que você já fez por aquele homem, vocês se amam desesperadamente! Você não pode simplesmente deixá-lo... Você tem que relevar!

Stephen, sentando-se em cima da mesa, não concordou.

- Eu disse que você nunca devia ter deixado de casar. – Rachel e Paul rolaram os olhos. – É verdade, Rachel! O tempo está passando! Até eu me casei! O Paul só não se casou por que não é permitido, ainda! E você?

Rachel se recolheu ao pequeno sofá que tinha no canto da sala.

- E eu nada... E nem noiva eu fiquei. E ele nem mostrava sinais que um dia iria me pedir em casamento.

- Eu lhe alertei sobre ele. Disse que ele não era homem pra você, que ele era... pior que eu.

Stephen sempre fora um conquistador. Mesmo sério e certinho, como ele sempre foi, nunca deixou realmente se apaixonar. Até conhecer Marisa, uma bela Argentina, e se casar com ela.

Talvez Severo fosse exatamente como ele... Só nunca tinha encontrado a sua Marisa... Era duro de admitir, mas ela talvez não fosse a Marisa.

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Sexta-feira.

As atividades de diretor pareciam dobrar com a proximidade do fim de semana. Agora, ele estava num de seus raros momentos de solitude.

Severo se recostou à cadeira, tentando assimilar os acontecimentos da noite passada.

Fora tudo tão rápido... Ela tinha ido embora.

Era isso que ele precisava que ela fizesse, mas, ainda assim... Ele não se lembrava de algum dia ter se sentido tão mal.

O farfalhar das asas da sua coruja negra quebraram o silencio da sala temporariamente vazia.

Ele quase sentiu o coração disparar, pensando que pudesse ser notícias dela.

Pegou a carta.

As belas letras em dourado já antecipavam que o envelope nada tinha a ver com Rachel.

Nele, lia-se:

“Para Sr. Snape e acompanhante”

Ele suspirou. Provavelmente mais uma das festas chatas que ele sempre era convidado apenas porque a impressa descobrira, há um ano, que ele tinha participado ativamente da guerra como espião, e não como comensal frio e calculista... E pintara-o como um quase mártir, um herói de guerra.

‘Inferno!’

Abriu. E se surpreendeu com o convite inusitado e completamente diferente de qualquer expectativa que ele pudesse ter.

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- Terminei! Já posso entrar na minha hora do almoço?

Stephen rolou os olhos para o comentário de Rachel.

- Não, você não pode ir para a hora do almoço antes da hora do almoço.

Paul, jogando-se no sofá, disse.

- Ah, deixa a menina! Ela já deve ter feito uns quinhentos relatórios hoje! Ela merece!

- Não, Paul, ela fez dois. E chegou tarde.

Já fazia algum tempo, Stephen ganhara um tipo de promoção: Ele estava meio que bancando o chefe da subdivisão de venenos do departamento de poções. Ou vice-chefe. Ou auxiliar de chefe. Bom, enfim, como o chefe de fato nunca dava conta de nada, ele ganhou essa promoção pra colocar um pouco de ordem.

Isso, é claro, acabou com alguns privilégios que todos os aurores tinham, o que incluía as saídas mais cedo de Rachel para o almoço.

Batidas na porta.

Paul suspirou e se levantou. Abriu-a. E fechou-a com um baque.

Virou-se, lívido, para Rachel.

- Ele!

Ela franziu a testa.

- Quem? Dave?

- Não! – Ele sussurrou – o Morcegão!

O coração dela desacelerou.

Stephen se levantou imediatamente.

- Paul, hora do almoço para nós!

E os dois “amigos” de Rachel simplesmente saíram, deixando a porta da sala escancarada e, nela, um Severo Snape que a olhava com uma expressão fria, quase indiferente... quase como sequer a conhecesse.

Lentamente, ele invadiu a sala. Fechou a porta.

Rachel pode perceber um tipo de envelope que ele trazia nas mãos.

- O que foi? – ele se virou para encará-la. – Já vou logo avisando, se você veio pra me pedir pra voltar pra casa, pode tirar o seu cavalinho da chuva! Eu nem cogit...

- Quem disse que eu vim te pedir pra voltar?

Foi quase como um soco no estômago.

Respirou fundo e ergue a cabeça.

- Claro que não! Você jamais se rebaixaria ao ponto de admitir que queira ficar com alguém! Não, não senhor! O nosso querido herói de guerra é auto-suficiente! Sempre! Sempre que nós ac...

- Eu não disse nem que quero que você volte pra casa, Rachel. Eu não quero.

Mais um soco, esse pior. O ar se esvaiu dos seus pulmões. Ela controlou-se pra não chorar.

- Pois bem. Eu não volto. Creio que você veio tratar d...

- Você pode ficar com a casa, eu tenho outra.

- Eu não quero!

Ele suspirou.

- Posso falar por que eu vim?

Ela, agora, pode sentir o ódio subir, deixando as suas faces rosadas.

- Diga.

Ele se aproximou, semblante irritado. Entregou o envelope que dizia ‘Para Severo Snape e acompanhante’.

Ela abriu num gesto quase irritadiço.

E se surpreendeu quando viu que se tratava de um convite para passar a semana que antecederia um casamento numa ilha, junto com os noivos...

E o noivo era Remo.

E a noiva era Tonks!

Uma pontinha de ciúmes e despeito correu por Rachel.

Como Lupin poderia se casar primeiro que ela, se ela tinha encontrado outra pessoa antes dele? E TONKS? Rachel não era muito convencida, mas tinha a mais absoluta certeza de que era melhor que aquela bruxinha!

E Lupin dizia que gostava tanto dela! Como pode ter arrumado um casamento tão rapidamente?

Se bem que cinco anos não podia ser considerado tão rapidamente assim...

Rachel tentou disfarçar o seu semblante despeitado, mas, aparentemente, não funcionou, pois um sorrisinho sarcástico se formou na curvinha do lábio de Severo.

- O que? Você vai?

- É o convite de um colega da Ordem. Não posso faltar.

Ela mordeu o lábio.

- E quem você vai levar?

Ele rolou os olhos.

- Você sabe tanto quanto eu que esse convite foi endereçado a nós dois!

Rachel olhou de novo as costas do convite.

- Sinto, querido, mas aqui está escrito “Severo Snape e acompanhante”. Creio que eu não seja Severo Snape e muito menos a sua acompanhante, no momento.

Ele crispou os lábios.

- Eu vou. Se você quiser ir, vá. Mas fale comigo antes, para que nós cheguemos juntos – ela pareceu ultrajada. – O convite é para mim. Você não quer ser penetra, certo?

Sem dar chances de que Rachel respondesse de forma mal-educada, ele saiu.

Suspirou, querendo, talvez, correr para os braços dele e dizer que ainda era a sua acompanhante.

Mas não faria isso!

Ela iria apenas falar com Tonks e congratulá-la pelo casamento.

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Ninguém mais além de Tonks, que via animadamente revistas e mais revistas com fotos de vestidos de noiva, se encontrava naquela sala.

Rachel entrou, sem bater.

A mulher largou a revista, perturbada pela intromissão.

- Ah! Silverstone. O que foi? Estou um pouco ocupada.

Rachel franziu o cenho: aquela era realmente a Tonks de quatro anos atrás?

- Er... Bom, eu só vim agradecer pelo convite. – sorriu, constrangida. – Parabéns. Eu fiquei feliz com a notícia do casamento.

- Já estou com Remo há algum tempo. Já estava na hora. E, quanto ao convite, os créditos são todos dele. Não me agradeça. Agora, se você puder me dar licença, eu realmente estou ocupada.

Lívida, ela saiu da sala sem dizer uma só palavra.

Se Rachel tinha feito alguma coisa para magoar Tonks, ela não se lembrava... Não merecia o tratamento que recebera.

Tonks tinha deixado tão óbvio que não a queria no seu casamento, dizendo que os créditos do convite eram todos de Remo... O que aconteceu com a auror doce e divertida que ela conhecera?

De qualquer forma, Rachel tinha ficado zangada, e, juntando isso ao despeito que estava sentindo por Remo estar se casando e ela não, ela tomou uma decisão:

‘Não me quer lá, Tonks? Pois eu vou!’

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