- Acabei de ter sucesso na minha missão.

- Você falhou.

- Não, eu realmente consegui, juro que não estou mentindo para ganhar minha recompensa. –ri.

- Não, você realmente falhou. – disse sério.

         Junho virou-se e foi andando, eu tive que apertar o passo para alcançá-lo, mas ele não parecia querer ser alcançado. Subimos no elevador num silêncio absoluto, ele estava agindo friamente, e eu não sabia o que fazer.

        Quando chegamos ao nosso andar ele continuou andando na minha frente em direção ao nosso quarto, mas de repente ele mudou o caminho, dirigiu-se ao quarto de Nichkhun e Wooyoung, e quando estava perto da porta virou-se para mim:

- Wooyoung  me pediu para trocar de quarto pois ele brigou com Khun. Agora você pode passar mais tempo com Nichkhun. – sorriu amargo e cínico, porém dava para perceber tristeza.

        Antes que eu pudesse dizer algo, ele abriu a porta e entrou. Por que ele estava me tratando assim? Será que estava com ciúmes de Nichkhun?  Fiquei paralisado no corredor por um instante, era tão doloroso tudo sendo estragado. Eu só esperava que ele não tivesse feito isso com intenção de me descartar como se eu não tivesse significado nada para ele. Era melhor que tivesse um motivo, por mais ruim que isso fosse. Seria muito duro saber que ele não valia nada, por isso eu preferia que o erro fosse meu.

        Entrei em meu quarto, as camas estavam separadas, e Nichkhun estava parado olhando pela janela, mas ao ouvir meus passos secos virou-se, vindo em minha direção.

- Parece que não demos sorte.-riu, parando em minha frente.  Esperou que eu respondesse, mas eu nem se quer conseguia pensar direito.

– Você está bem? Que cara é essa? –novamente não esbocei reação nenhuma. – Wooyoung ainda não me deu chances de me desculpar, é só por isso que vocês ficarão longe essa noite, não fique assim. –continuei intacto. – Você está com medo que os dois façam algo? Não seja assim, eles nunca fariam isso. Ou será que Wooyoung seria capaz? Do jeito que está zangado talvez, mas Junho nunca...-pausou o que dizia e observou-me por alguns segundos. – Ei, Junsu! – cutucou-me.

- Junho está bravo comigo. – disse num tom fraco, levando meu olhar até ele.

- Wooyoung também está bravo comigo. Estamos juntos nessa parceiro.

- Não é tão fácil assim. No seu caso você sabe que é só esperar amanhecer, então pedir desculpas, se declarar e tudo ficará bem. Mas e eu...eu nem sei o que houve, não sei se o que me espera amanhã é bom ou ruim. E tem jeito de ser ruim. – aumentei meu tom de voz.

- Só espere até amanhã, tudo se resolverá, você sabe que não fez nada de errado, quem não deve não teme. A menos que Junho seja um idiota e tenha te usado. Mas ele não é assim. – tentou concertar.

- Quer saber, vou me deitar. Por favor, apague as luzes e se for ver TV não demore pra desligá-la.

       Me joguei na cama, e me cobri até a cabeça, me virei opostamente a cama de Nichkhun para que ele não visse que eu estava acordado e aflito ao invés de dormindo. Mas eu não tinha nem um pingo de sono, a minha angústia consumia minhas forças, mas ao mesmo tempo me castigava não me deixando descansar ao me atormentar tanto.  Eu tinha muito medo da possibilidade de perder Junho, isso me afligia muito mais que qualquer coisa. Nunca que me apaixonei deu certo, sempre houve algo pra estragar de última hora, mesmo quando parecia que não tinha como dar errado. Eu pensei que dessa vez seria diferente, afinal o amo de um jeito diferente, de um jeito mais forte. Preciso colocar na minha cabeça que amar mais não quer dizer fim de problemas, quer dizer sofrer mais.

       Na manhã seguinte Nichkhun e eu nos levantamos cedo, ele estava super entusiasmado, não via a hora de ir falar com Wooyoung. Já eu era totalmente a imagem oposta dele, uma pilha de nervos e quase capotando de canseira. Nós dois saímos do quarto e como num passe de mágica, Wooyoung e Junho saíram logo depois que fechamos nossa porta. A cena parecia de filme, os quatro encarando cada um seu respectivo par, mas logo Nichkhun chamou Wooyoung pra conversar e os dois desceram pelo elevador. Eu e Junho ficamos ali no corredor, era um clima tenso, nem parecia que nutríamos sentimentos bons um pelo outro.

-Jun, o que está havendo?- perguntei preocupado.

-Jun? Não me chame assim, nunca chamou por que agora o faria? É culpa?

- Eu não estou entendendo o que eu fiz?

- Nossa, nem culpado você se sente então.  Que decepção!

-Do que você está falando? –desesperei-me

- Você quebra promessas tão facilmente...

- Ah, é isso. – minha expressão foi tipo “que droga”. – Me desculpe, por favor, me desculpe, Nichkhun não contará pra ninguém, confio nele, então não se preocupe. E eu só disse porque tinha que ajudá-lo.

- É, talvez ele, diferente de você, saiba honrar sua palavra. E não tente se explicar, eu estava lá se esqueceu? Eu ouvi e vi tudo, você sabia o que ele estava passando mesmo sem escutar as palavras da boca dele, então por que teve que fazê-lo dizer? Você saiu dizendo o que não devia dizer só pra escutar o que já sabia.

- Por que é que é tão importante pra você que os outros não saibam de nós? Nós convivemos com outras cinco pessoas, uma hora alguém iria descobrir.

- É importante pra mim, não por que eu tenha vergonha de ser assim, mas porque alguém muito importante pra mim deu a palavra de que seria nosso segredo. Só nosso, ninguém mais teria que saber porque dividíamos isso, era uma coisa que só nós tínhamos, de uma forma era especial pra mim. Achei que fosse pra você, mas me enganei.

- Era especial pra mim, muito especial.

- Não, não era, se não você não teria contado numa simples chantagem. – me interrompeu.

-Eu sei que eu errei, mas me perdoa, me perdoa, eu nunca mais vou errar com você. Só me perdoa, é tudo que te peço. – implorei.

- Não acredito mais em você. Vamos parar por aqui, não quero me machucar mais. De hoje em diante finja que nunca tivemos nada. – virou-se, entrou no elevador e desceu.

          Minha dor era imensa, ao perdê-lo de vista minha ficha caiu, eu não tinha mais ele. Minhas lágrimas começaram a cair lentamente, meu coração foi se apertando mais, doía tanto, é a pior sensação do mundo. Não conseguia nem me manter em pé, tanto que desabei no chão e meu choro começou a sair desesperadamente. Ficaria deitado naquele chão gelado eternamente se me deixassem.

          ...

          ...

          ...

- Junsu, acorde, temos que ir!

Abri os olhos lentamente e vi Taecyeon em pé sobre mim. Eu havia adormecido, bem que eu tinha a mais profunda esperança de que tudo não houvesse passado de um pesadelo mesmo, mas quando senti o frio daquele chão me toquei de que estava vivendo a pura e dolorosa realidade.

- Por que estava dormindo no chão?

- Acabei pegando no sono sem querer.

- Mas por que estava no chão? Ah, é porque está calor e queria se refrescar, não é? Hoje realmente está quente, e ficar enfurnado naquela van até Seul é bastante incomodo, entendo.

- É isso mesmo. – ri falso.

   Taecyeon era tão fácil de enganar, eu tinha pena dele por isso, mesmo nos menores casos, mas dessa vez precisei mentir pra ele. E tecnicamente não menti, só concordei com ele. Ele ficaria magoado se a conclusão dele tivesse errada, não é mesmo?

     Estavamos de volta a Seul, no nosso apartamento, eu mal havia trocado uma palavra com os outros, estava sem ânimo pra tudo. Fiquei somente deitado.

- Ei, você está pior que ontem.  Ele te deu um fora? – ouvi a voz de Nichkhun do nada.

- Super sensível você hein. – virei-me vendo-o sentado ao meu lado na cama. – Não quero falar sobre isso agora. Mas como estão as coisas entre você e Wooyoung?

- Boas. – sorriu.

- Então vocês estão juntos?

- Não.

- Como não? Você não pediu desculpas?

- Pedi.

- Nichkhun, pare de ser monossilábico e explique o que não funcionou.

- É que só pedi desculpas. – encheu os olhos. –Aí ele me abraçou aceitando elas, foi quando minhas pernas começaram a tremer, perdi as palavras e não consegui mais pronunciar nem um a. Então não consegui dizer o que sinto por ele.

- Ah, Nichkhun, como você pode ser tão lerdo?