Memento Mori escrita por gwenhwyfar


Capítulo 2
Stranger Things


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Mais informações nas Notas Finais, boa leitura!



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“Aquele mesmo, ainda rapaz, cantara os ardores de Fílis
e da tenra Amarílis, em versos bucólicos”.


Ovídio, Tristia 2


MEMENTO MORI

2.Stranger Things

Harry e Linoue aparataram para uma ruela suja e mal cheirosa, toda de pedra, que ficava fora do Beco Diagonal. Era composta por mais casas do que comércios, embora houvesse farmácias e bares de aparência duvidosa, como o Lenhador Ceifeiro.

Linoue assoviou.

- O que Luna e Neville estavam fazendo num lugar como esse?

- Eu não sei – respondeu Harry, apertando a varinha entre os dedos -  Talvez eles não estavam aqui. Talvez eles tenham sido seqüestrados.

- A questão é: como? Como é que conseguiram pegar Neville, que estava em Hogwarts, e como pegaram Luna, que estava na Irlanda com Dean Thomas? E porque Luna e Neville?

- Era isso que nós estávamos dizendo lá na cozinha. Tem alguma coisa de muito errado acontecendo aqui, só não conseguimos descobrir o que exatamente.

- Você acha que isso tem relação com o assassinato de Ron Weasley? – perguntou Linoue.

- Tenho certeza. A questão agora não é saber como, mas quem – quem está por trás disso. – respondeu o moreno sombriamente – Talvez não seja mais uma só pessoa, como no tempo de Voldemort, mas algum grupo ou sociedade secreta.

- Mas isso não pode significar os comensais – ponderou Linoue, enquanto eles avançavam cautelosos pela ruazinha – Afinal, as vitimas até agora foram três sangue-puro. A não ser que...

Harry fez um sinal para que ele se calasse. Tinham chegado na porta do bar, que estranhamente continuava vazio e silencioso. O pessoal do ministério ainda não havia chegado.

- Espere um momento. – disse Harry e apontou a varinha para a construção.

- Specialis Revelium. – Não aconteceu nada.

- Não tem ninguém – disse Linoue curioso – O assassino provavelmente está bem longe há essa hora.

Depois de uma pequena hesitação, Harry chutou a porta e entrou ao mesmo tempo em que Linoue conjurava um escudo mágico. Os dois ficaram parados e tensos, olhando em volta, à procura de qualquer movimento, ou armadilha.

O local era obviamente protegido por encantamentos fortes e provavelmente ilegais. Havia pêlos brilhantes de animais na parede, que lembrava nitidamente a pelagem de um unicórnio e uma grande presa esverdeada encostada num dos cantos.

Harry começou a andar em direção à presa, e sentiu os sapatos fazerem um barulhinho esquisito contra o chão de madeira. Ele olhou para baixo e arregalou os olhos. Linoue, que havia ficado para trás, disse com uma voz tensa:

- Harry, olhe para sua direita.

Ele olhou e precisou se concentrar para distinguir, entre as sombras na parede de madeira, uma coisa clara brilhando entre uma tábua e outra. Dessa coisa saía sangue, que escorria entre os vãos das tábuas e faziam um caminho mórbido até eles, como uma grande e brilhante cobra vermelha.

- Meu bom Deus – exclamou Linoue e Harry também percebeu. Era uma mecha de cabelo louro platinado, parecendo fios de uma espiga de milho, de tão emaranhados e sujos que estavam.

- Para trás e fique atento – disse Harry para o parceiro, e se aproximou daquela parede.

Seus sapatos faziam o mesmo barulhinho, como se estivessem molhados, e de repente, um forte cheiro acre pode ser percebido e Harry sentiu náuseas ao perceber que era o cheiro que um necrotério deveria ter: sangue e carne em decomposição.

Ele se aproximou o suficiente da parede para ver a mecha comprida de cabelo, impregnada de sujeira e sangue. A parede, na verdade, era uma enorme porta sem fechadura, que se fundia com a parede do aposento. Ele encaixou os dedos numa das tábuas e chacoalhou a porta escondida, mas esta parecia estar trancada.

- Harry – sussurrou Linoue atrás dele e o auror se virou, assustado, para ver o homem suando, o rosto branco esverdeado.

- O que? O que é?

- Eu acho que vou vomitar.

Harry arregalou os olhos para ele. Era capaz de o ruivo destruir a cena do crime e apagar as provas nojentamente.

- Saia, saia. Eu preciso de retaguarda aqui.

- Eu ficarei de olho – concordou o outro e saiu do bar a passos lentos, sem esquecer de se desiludir antes.

Era estranho, porque o Malakhai era um dos aurores mais profissionais que Harry já trabalhara e nunca tinha tido uma reação daquelas nos casos em que investigaram. Harry franziu a testa e voltou-se para a porta de madeira.

Aquilo só podia estar fechado com magia, mas ele não podia destruir a cena do crime com um feitiço de corte ou explosão. Ele teria que arranjar um jeito de abrir aquela porta do modo tradicional, mas não percebia como o assassino poderia ter fechado aquela porta por fora.

Vamos, pense, pense disse ele consigo, fechando os olhos e vasculhando sua mente, à procura de alguma informação útil que tivesse aprendido na Academia ou na escola.

O que Hermione faria no meu lugar? Isso é uma coisa pra ela, resolver essas malditas charadas.

- Porque não tenta um Alohomora? – disse uma voza baixa, em tom de riso. 

Aquele ambiente confundia a mente e atrapalhava os sentidos, porque ele percebera um pouco tarde a sombra que se mexia suavemente atrás de si. 

Sua mão ainda estava fechada no cabo de varinha, mas todo o seu corpo estava paralisado. Ele olhou boquiaberto para o homem que se aproximava e tirava o capuz da cabeça, sorrindo de modo sádico.

Você? Harry gritou em sua mente, mortificado.

- Eu, suponho – disse o outro despreocupado – E então, não havia percebido? E pensar que você comanda o departamento de segurança do ministério.

O homem perdeu o ar de riso tão rápido quanto surgira das sombras e sua expressão se fechara para a carranca de assassino psicótico. Harry piscou, mal sabendo o que sentir, pensando o quão diferente ficava o rosto do outro sem o costumeiro sorriso na face.

O assassino aproximou-se e arrancou a varinha da mão de Harry, fazendo um aceno com a própria logo em seguida e libertando o auror do feitiço.

- Seu filho da puta bastardo – cuspiu ele – porque está fazendo isso? O que é que você está querendo, Malakhai?

O outro fechou os olhos, como se o nome lhe doesse, e lançou um olhar frio para o outro:

- Você pensa que o mundo gira em volta de você, não é mesmo Harry?  Pensou mesmo que o Riddle era o malvado? Essa ingenuidade de vocês heróis é até engraçada.

- Do que você está falando?

- De um novo mundo que está pra ser construído, sem os ideais tolos e fanáticos de Tom Riddle.

- Um novo mundo? – perguntou Harry atordoado. – Deve ser um negócio bom pra você abandonar a decência e ir viver na clandestinidade.

- Na verdade eu estou vivendo clandestinamente – respondeu o outro, girando a varinha que estava apontada para o peito de Harry – Mas não por muito tempo. E você um dia ainda vai me agradecer pelo o que eu estou fazendo por todo mundo, Potter.

Harry deu uma risada sem humor, e olhou disfarçadamente para a janela. Se enrolasse mais um pouco, talvez o ministério chegasse à tempo de pegar Linoue.

- Agradecer? Você está louco, demente.

- Confesso que não tenho estado no meu juízo perfeito ultimamente – disse o outro polido, com um encolher de ombros – mas estou lúcido suficiente pra saber que você ficou vivo tempo demais para minha própria segurança.

- Quem é, Linoue? Quem é que te fez mudar de lado?

- A necessidade, Potter – disse o outro sombriamente – Ou vocês morrem, ou vocês morrem. Pense só, se não fosse eu, seria qualquer outro. E olha que eu sempre dou uma morte rápida para as minhas vitimas.

- Grande consolo. – disse o auror amargamente – Agora eu já posso morrer em paz, obrigado.

- Engraçado você, não é? Vamos ver se o demônio tem a mesma opnião.

- É claro que é, estou vendo ele na minha frente – retrucou Harry.

- Então você precisa mudar o grau do seu óculos – disse simplesmente e levantou a varinha – Adeus Potter.

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- E então? O que tem pra mim hoje?

O homem sorriu um sorriso perfeitamente cruel e jogou um pacote de aparência duvidosa em cima da mesa de jacarandá. Havia manchas escuras mórbidas no tecido e algo na própria alma daquele homem exalava carne, sangue e metal.

- Veja o senhor mesmo Sr Malfoy.

Malfoy lançou um olhar arguto para o assassino e pegou o pacote sujo delicadamente com as pontas dos dedos. Ele puxou a corda e desfez a amarra, virando o embrulho de ponta cabeça. A mesa rapidamente se encheu de sangue e Malfoy pulou da cadeira, afastando os papéis rapidamente e lançando um olhar perigoso para o homem.

- Você quer brincar, Xeosnar? Porque se quiser entrar numa competição de astúcia, você vai perder.

O homem chamado Xeosnar balançou os ombros:

- Estou só cumprindo minha parte no plano. Você não vai verificar os donos?

Malfoy baixou os olhos e, num gesto sem emoção, apontou a varinha para o primeiro dos dedos decepados, murmurando um encantamento. Logo as digitais se rearranjaram, escrevendo um nome: Neville Franco Longbottom.

- Matou o ultimo dos Longbottom. – disse o Sr Malfoy, parecendo um pouco surpreso.

- Você ainda não viu nada, Malfoy – riu Xeosnar – Veja os outros dois.

O outro dedo era mais fino e delicado, obviamente de uma mulher. Como no outro, as digitais se rearranjaram escrevendo o nome da vítima.

- Luna Lovegood! Como conseguiu pega-la?

- Veja o ultimo e depois conversaremos minha promoção – disse ele rindo dementemente, e Malfoy apontou a varinha, curioso, para o ultimo dedo.

As digitais foram tomando forma de letras, mas havia algo errado, era um nome conhecido demais, não podia ser quem ele estava pensando. Entretanto...

Malfoy deixou escapar um assovio de assombro.

- Eu disse que você ia ficar surpreso – disse Xeosnar e Malfoy olhou analiticamente para ele.

- Como você o conseguiu pegar? Como conseguiu mata-lo assim, bem debaixo das fuças do ministério?

- Ele foi atrás do garoto e da garota, ele é chefe da Seção dos Aurores não é mesmo?

- Isto está errado. Potter não anda por aí sozinho, ainda mais desconfiado de alguma conspiração como está.

- Ele não estava sozinho. – disse Xeosnar simplesmente.

- Onde está o outro?

- Morto.

- Prove.

Os cantos da boca de Xeosnar dobraram-se num meio riso sarcástico e totalmente maligno.

- Ele não era importante. Piquei-o em pedaços antes de me lembrar de guardar o dedo.

Malfoy arqueou uma sobrancelha, mas não disse nada. Olhou para baixo novamente, para os três dedos decepados, com as iniciais dos seus donos gravadas na falange. Neville Longbottom, Luna Lovegood, e, surpreendentemente, Harry Potter.

Olhou mais uma vez, pensativo, para o ultimo nome. Tantos anos o bruxo mais poderoso do mundo tentou derrota-lo. Por vários anos ele se arriscara tolo como era, e os bruxos o deixavam escapar por pura idiotice. Mas ele estava lá. Era ele, realmente.

Harry Potter, seu grande idiota.

- E então, não mereço uma promoção? – sorriu brilhantemente o assassino.

- Isso estava fora dos planos. Terei que conversar com o Führer*, provavelmente haverá mudança nos planos.

Malfoy fez um aceno displicente com a varinha e a prova macabra do crime sumiu, junto com todo o sangue e o pacotinho horripilante. Mas o cheiro de decomposição ainda pairava no ar. Levantou os olhos para Xeosnar, que estava rindo de novo.

- Agora eles ficarão como baratas tontas, sem saber pra onde olhar ou correr.

- Não os subestime Henry, sua próxima lista já chegou e não vai ser trabalho fácil.

- Não me chame de Henry, Malfoy – disse o homem, sua voz tremendo de raiva – Eu sou Xeosnar agora. Nunca mais me arrisque assim.

O outro apenas revirou os olhos e jogou um pergaminho alvo em cima da mesa.

- Aí estão os próximos eliminados.

- Quem é que eu vou ter que matar dessa vez? – resmungou o assassino, pegando o papel e correndo os olhos rapidamente, ao mesmo tempo em que uma expressão de surpresa e assombro atingia o seu rosto.

- Você tem até semana que vem pra matar esses.

- Mas... Malfoy – começou Xeosnar hesitante, erguendo os olhos para o homem pálido a sua frente – Isso significa que o governo vai cair. Vamos entrar em guerra novamente.

- Idiota – vociferou o outro – Se você fizer seu trabalho direito, não haverá resistência e nós tomaremos o poder novamente.

- Não sei como isso será possível – resmungou o outro mais para si mesmo, e os olhos cinzentos de Malfoy tornaram-se afiados e duros como aço frio.

- Você não vai tentar, Xeosnar. Você vai conseguir – disse, arrastando as silabas enquanto assistia com satisfação o rosto do homem a sua frente tornar-se branco. – Ou já se esqueceu de que eu conheço seu segredo? Ninguém gostaria de saber que você tem um...

- Pare! – Xeosnar falou entre dentes, engolindo todo o tipo de ofensa que lhe veio à mente – Está bem, está bem Malfoy, eu vou matá-los, se é isso que você quer.

- Bom.

Malfoy estalou os dedos então, e um elfo doméstico apareceu com um crack na sala.

- Gipsy, acompanhe este senhor até a saída da mansão. Quando voltar, traga Draco até mim.

O elfo fez uma profunda reverência e se encaminhou rapidamente para a porta, segurando-a aberta para Xeosnar.

- Você sabe, Lucius – disse o assassino, com os olhos semicerrados – Um dia você vai pagar comigo. E quando esse dia chegar, eu vou me certificar de que você não tenha uma morte rápida e limpa.

O outro apenas sorriu zombeteiramente.

- Não tenha a pretensão de me ameaçar, ou eu posso fazer uma visitinha a alguém qualquer dia desses, assassino.

O outro enrubesceu de fúria e deu as costas à sala, andando pesadamente para fora e sendo seguido pelo elfo com uma expressão aterrorizada. 

m e m e n t o m o r i – p a r t e 1 – p o r G w e n h w y f a r

Hermione esperava impaciente do lado de fora, seus saltos fazendo toc toc enquanto andava de um lado para o outro no chão imaculadamente limpo. De vez em quando consultava o relógio dourado de pulso e olhava frustrada para a porta branca lacrada com feitiços. 

Eram as duas horas mais longas que ela já teve de esperar, quando ficara sabendo de um auror que havia sido encontrado ferido nas proximidades do bar bruxo Lenhador Ceifero. Ela mandara patronos para Harry e Kingsley, mas ninguém a respondera ainda. Provavelmente porque é madrugada ainda concluía ela com duvida. 

Finalmente a porta em frente foi aberta e o medibruxo chefe saiu com sua equipe.

- Como ele está? – ela interpelou antes que o bruxo pudesse cumprimentá-la.

- Está bem agora, mas foi muito torturado – disse o homem com um suspiro cansado – Os órgãos foram todos restaurados, embora ele precise de uma transfusão sangüínea urgente. Não é todo mundo que possua sangue AB.

- Uma poção hemovitalizante** não funcionaria? – perguntou a moça timidamente.

- A questão é que se acelerarmos demais o processo de formação de hemácias, o corpo dele pode não resistir. Os órgãos ainda estão fragilizados e os tecidos vão demorar um pouco mais pra cicatrizar.

Hermione respirou fundo.

- Eu tenho sangue AB. Eu posso doar para ele.

O medibruxo abriu-lhe um sorriso.

- Tem certeza? Temos só que fazer alguns testes e podemos fazer a transferência agora.

Ela assentiu, olhando para a porta do quarto aberta nesse momento, que mostrava algumas enfermeiras remexendo frascos de poções – Eu tenho certeza.

- Ótimo, Srta Granger! Tailor, prepare a drena². Pode entrar na sala, srta? Só tenho que repassar a situação do paciente para meus colegas e logo voltarei.

- Er... doutor! A transfusão vai ser direta?

- Não podemos perder tempo, Srta Granger. Agora tenha a gentileza de entrar na sala sim?

E com isso o medibruxo virou-lhe as costas e saiu apressado pelo corredor. Hermione respirou fundo, olhando para sala e tentando obter coragem em algum lugar dentro de si. Se pelo menos Harry estivesse ali com ela...

Ela se aproximou e parou na porta, olhando para dentro. O quarto era branco e nu como qualquer quarto de hospital, e havia um cheiro forte no ar como medicamentos e ervas. Duas enfermeiras estavam ali e uma delas sorriu-lhe e indicou uma cama ao lado da do paciente.

- Sente-se srta Granger, e tenha a bondade de nos responder algumas perguntas simples, sim?

Hermione se sentou na beirada da cama, tentando não olhar para o corpo estendido ao lado.

- Tem quantos anos, senhorita?

- Vou fazer vinte daqui dois meses.

A enfermeira anotou na prancheta.

- A senhorita tem alguma doença crônica ou genética?

- Não.

- A senhorita já doou sangue alguma outra vez?

- Não.

E as perguntas se estenderam por minutos. Quando a enfermeira pediu que Hermione deitasse na cama, ela finalmente ergueu os olhos e fitou o homem ao lado. Ele estava pálido como um defunto, as sardas em volta do nariz e nas bochechas quase apagadas, as delicadas pálpebras coloridas num tom avermelhado, ainda mais evidente pelos cílios castanhos claros e compridos. Seus cabelos compridos, no tom exato do cobre, estavam espalhados pelo travesseiro e brilhava alegremente na contra luz, parecendo a única coisa com vida naquele quarto.

As vezes ele podia-lhe lembrar nitidamente de Ron, apesar de ser um pouco mais baixo e mais bonito. Hermione sentia que era inevitável comparar os dois, até porque Linoue possuía o mesmo espírito folgazão do marido, mas seu humor era mais sarcástico, como se fosse uma picada de agulha – rápida, indolor e irritante.

Ela virou os olhos para a janela, quando a enfermeira pegou seu braço esquerdo e subiu a manga.

- Não vai doer nada querida, não se preocupe. – disse a mulher para a irritação de Hermione. – Não vamos abusar também porque você é bem delicada, está no limite de peso para doar sangue...

Ela sabia que a mulher a estava distraindo para poder picar seu braço. Hermione não tinha medo de agulhas, mas não conhecia o método bruxo para transferência de sangue. Ginny saberia dizer. Pensava distraidamente, olhando para o braço que a enfermeira havia largado.

- Prontinho, querida! Peço que não mexa o braço, ou o fio pode dobrar e interromper a passagem de sangue.

- O que? Como assim, não estou vendo fio nenhum! – exclamou ela, olhando de seu braço para o de Linoue, esticado em direção à ela como o seu próprio estava esticado em direção a ele. Seus dedos quase se tocavam.

- Você não conhece transfusão de sangue bruxa, não é? Suponho que seja nascida trouxa?

- Sim – disse ela um pouco arrogante.

- Bem, vou tentar explicar o mais simples possível. Transfusões de sangue como essa, são feitas somente em casos extremamente particulares, por ser um método muito caro e eficiente. A técnica consiste em usar anéis manticores...

- Anéis Manticores***! – exclamou Hermione, arregalando os olhos.

- Sim, são basicamente...

- Eu sei o que são Anéis Manticores – cortou a moça impaciente – São veias retiradas da cabeça ou da cauda de uma Manticora viva, são extremamente elásticas e pequenas, sendo mais resistentes que chumbo.

- Sim, exatamente! E como você deve saber, os Anéis Manticores são tão finos que podem atravessar o corpo de uma pessoa sem deixar marcas, porque...

- Elas atravessam um poro humano! – complementou Hermione, olhando assombrada para seu braço, onde o Anel Manticore deveria estar fincado.

- Isso mesmo. Agora se você inclinar a cabeça um pouco pra lá....

E Hermione levantou a cabeça e viu, maravilhada, o Anel Manticore brilhando prateado contra a luz, do seu braço até o braço de Linoue.

- Método indolor e que quase não causa incômodos. – comentou a enfermeira, tratando de ajeitá-la na cama novamente.

- Como é que vocês conseguiram um Anel Manticore? – perguntou a morena com a voz mais baixa do que gostaria.

- O Sr Malfoy fez a gentileza de doar um para a reconstrução do St Mungos, não é maravilhoso? – sorriu a mulher mais velha e Hermione franziu a testa.

- O Sr Malfoy doou? Então porque é que não saiu nada no Profeta Diário?

- Ora menina, algumas pessoas não precisam de fama para as suas boas ações.

Hermione corou.

- Então... Como é que ele conseguiu um Anel Manticore? São extremamente raros porque precisam ser retirados quando o animal ainda está vivo e isso é praticamente impossível, com uma Manticora. 

- A família Malfoy tem seus tesouros, Srta Granger. É comum entre famílias sangue-puro antigas guardar tesouros de seus ancestrais por séculos. O Sr Malfoy disse que esse fio tem exatamente 980 anos.

Hermione desconfiou que aquela mulher devesse ser mais uma das fãs da família Malfoy, os bad boys do bem no momento, mas estava cansada demais para continuar a questionar. Seus olhos estavam ficando pesados e sonolentos.

- Vou chamar o doutor e já volto, querida. Não se preocupe, quando o Anel Manticore sentir que o volume de sangue entre os dois está normalizado irá parar de drenar seu sangue.

Hermione assentiu melancolicamente. Já estava ficando com dor de cabeça, apesar de não sentir nenhuma dor no resto do corpo, apenas um incomodo curioso no braço, como se um mosquitinho tivesse pousado ali. Sentia uma vontade quase sobre humana de coçar o antebraço, mas se segurou.

Ela olhou para Linoue novamente e viu com um misto de admiração e alívio a cor voltar lentamente ao seu rosto e as pálpebras castanhas tremeluzir em agitação. Ele então abriu os olhos, piscando lentamente, e Hermione admirou a coloração esmaecida que este adquirira.

Linoue olhou em volta, meio atordoado, meio sonâmbulo ainda e se fixou nela. Algo ardia dentro de seus olhos quando ele a olhou e Hermione perguntou-se se ele estava delirando.

- Hermione? – perguntou ele baixinho, sorrindo logo em seguida.

- Estou aqui – sussurrou ela de volta, e percebeu o sorriso do jovem alargar.

- Eu sabia que você viria. Eu queria tanto que você viesse...

Ela ficou quieta, observando ele fechar os olhos novamente e cair no sono. 

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Ginny andava de um lado para o outro, na cozinha da Toca. Molly estava sentada calmamente, e tomava um chá observando a filha pelo canto dos olhos.

Ginevra era muito como ela – Molly pensava – calorosa e passional. Ela tinha algo dos Weasley que ninguém conseguia escapar, aquela teimosia característica dos irlandeses, mas ela era quase inteira Prewett. Ela era corajosa e leal, e também impaciente e egoísta, e não era de todo bondosa, havendo em algum lugar uma veia sarcástica e desdenhosa, um fino humor negro que Fred e George também tinham e mais nenhum de seus filhos apresentavam.

Enquanto seu marido e seus outros filhos eram como cães de guarda, fiéis e amigos até o fim, Ginny era mais como um felino, esperta e maliciosa quando queria e fiel àqueles que eram considerados seus amigos.

O maior defeito da filha, e isso Molly não tinha herdado, era que ela pensava muito em si mesma e por isso algumas vezes deixava de lado o sentimento de outras pessoas, não intencionalmente, mas como parte de sua personalidade forte.

Ela foi arrancada de suas divagações pelo urro impaciente da filha. Molly mordeu os lábios, reconhecendo a própria vontade de se levantar e arrancar aquela barreira mágica para procurar seus queridos, mas sabia que o marido estava correndo perigo sem que ela e Ginevra se expusessem sem realmente saber onde estavam os garotos.

- Onde eles estão! Porque não mandam noticias! – exclamou a garota, sentando-se ao lado da mãe e apoiando os cotovelos sobre a mesa.

- Talvez eles não tenham nenhuma novidade – disse Molly mordendo os lábios.

- Ora mamãe, a senhora sabe melhor do que eu que esses homens são uns estúpidos babacas quando querem.

A Sra Weasley riu e admitiu - Seu pai realmente devia estar mandando noticias.

- Eles nos tratam como se nós fossemos feitas de vidro. – disse a garota cruzando os braços e apoiando a cabeça entre eles, escondendo seu rosto – Harry prometeu que ia mandar noticias!

- Ele ainda pode estar ocupado, querida.

- Talvez ele esteja querendo se vingar do que eu falei pra ele lá em cima – murmurou a garota miseravelmente.

- Não seja estúpida – repreendeu a mãe – Vamos esperar até que alguém apareça aí nós poderemos arrancar o couro de alguém com as mãos.

- Ah como eu queria mostrar a eles o meu poder...

Molly estranhou a frase da garota e não disse nada. As vezes achava que Ginny vivia em outro mundo além do real, e por alguns momentos tinha certeza de que a filha conversava com algum amigo imaginário. Mas era loucura da sua cabeça e Molly sabia disso.

- Eu sou muito poderosa... Muito, muito poderosa... Eu queria mostrar pra eles...

A Sra Weasley estava pronta para interpelar a filha quando chamas esverdeadas romperam pela lareira e de lá saiu um Sr Weasley com os óculos tortos, cheio de fuligem negra e manchas escuras pelas vestes.

- Arthur! – gritou Molly e ela e Ginny se jogaram para o patriarca, ajudando-o a se sentar. Ela percebeu com um aperto no fundo do estômago que havia sangue coagulado nas vestes do marido. – Você está ferido?

- Papai, cadê os outros?

Molly abriu a frente das vestes do marido com pressa e um crescente sentimento de pavor. Seu peito magro estava liso, embora um pouco sujo de fuligem. Portanto, o sangue não era dele.

- Arthur, meu bem, o que houve com você?

O Sr Weasley estava de olhos fechados, ofegando, segurando um pano com força entre os dedos da mão esquerda, e a mão direita estava na sua nuca, massageando-a como se tivesse alguma coisa incomoda que precisasse desesperadamente tirar. Era uma cena assustadora.

Ele lentamente foi recuperando a consciência de seus gestos e olhou da esposa para a filha com uma angustia tão grande que Molly sentiu seu sexto sentido gritar para ela.

Ela o segurou nos braços, olhando-o nos olhos ferozmente, e perguntou com a voz firme: - Quem foi Arthur? Foi um de nossos filhos?

O Sr Weasley inclinou-se para a esposa e Molly viu Ginny olhar horrorizada o pai se desmanchar em lágrimas e soluços altos que ele tentava a todo custo manter.

- Ginevra, suba e pegue uma poção calmante para seu pai – ela mandou serenamente, e a filha a olhou com os olhos rasos de lágrimas.

- Eu quero ficar com papai – ela disse quase soando como a garotinha mimada de tantos anos atrás.

- Suba agora – ela falou tão baixo que Ginny pulou de susto e a olhou amedrontada. Normalmente Molly teria gritado, e exatamente aquela calma tão atípica teve o efeito de fazer a filha obedecer sem pestanejar.

Quando a garota subiu correndo as escadas, Molly abraçou Arthur e sentiu-o encostar seu nariz na curva entre o pescoço e os ombros. Eram poucas as vezes que Molly viu seu marido chorar daquele jeito. A primeira vez foi quando Septimus Weasley, o pai de Arthur, morrera de uma febre devastadora. Depois, naturalmente, quando seus filhos William, Frederich e Ronald morreram.

- Me conte Arthur, por favor – ela pediu suavemente – seja quem for nós vamos superar. Eu prometo a você que tudo vai ficar bem.

Ele fungou pesadamente e se separou do abraço da mulher, enxugando o rosto como se as lágrimas o impedissem de falar.

- Amor – ele começou e Molly sentiu seu coração dar um salto tão grande que deveria ter encostado no céu da boca. Oh não, ela estava certa, fora exatamente assim quando Ron morrera... Arthur tinha começado com um “amor” exatamente naquele tom. Qual dos seus bebes dessa vez?

- Eu e Kingsley saímos daqui para deixar Abeforth em segurança e contatar Andrewski para fechar todo e qualquer meio de transporte bruxo pelo estado. Então Kingsley teve que voltar ao gabinete e eu fui até o Lenhador Ceifero saber noticias de Linoue e Harry e...

Ele estremeceu e Molly agarrou sua mão, apertando-a tanto que os nós dos dedos ficaram brancos. – Arthur... – apelou ela, mal agüentando toda aquela pressão.

- E se Linoue não tivesse usado um feitiço para levitar eu provavelmente não o teria visto e ele morreria sangrando naquele beco.

- O que aconteceu papai?

Ginny voltara com um frasquinho na mão direita, os olhos muito vermelhos, mas firme novamente.

- Sente-se Ginny – disse o Sr Weasley balançando a cabeça – Contarei tudo de uma vez e vou pedir para que vocês não me interrompam nem me peçam para repetir, portanto prestem bem atenção.

As duas se empertigaram na cadeira com movimentos idênticos e o Sr Weasley começou a falar.

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A sala era eternamente escura e fria porque ele não gostava do sol. As cortinas espessas eram bem fechadas, o que tornava difícil a leitura naquele ambiente. E a biblioteca que Tom havia “montado” era realmente interessante.

- Tom, o que é isso?

O garoto esparramado no divã ergueu os olhos para o livro, olhando por um momento, e voltou a se arrumar no móvel e fechar os olhos.

- É um decodificador de almas.

A garota sentada no tapete da sala arregalou os olhos – Um o que?

- Decodificador de almas – repetiu Tom pacientemente – Uma vez montado, ele pode reconhecer almas compartilhadas ou algum vestígio de essência de alguém que tenha ficado para trás.

Ela fez uma careta de desagrado - E pra que alguém iria querer uma coisa dessas?

- Destruir possíveis horcruxes, suponho.

Ela pulou assustada e olhou para ele com restrição – Você não tem medo?

- Eu não tenho medo de nada – disse com um meio sorriso. – Bem, talvez da morte e de velhas bruxas taradas.

-As horcruxes, eu quero dizer. E se alguém descobrir e resolver montar um decodificador?

- Decodificadores não destroem horcruxes e, além disso, um decodificador não é uma coisa tão fácil assim de ser montado.

Os olhos azuis dela brilharam na meia luz – Explique como funciona.

- Ele não pode ser montado porque ninguém sabe ao certo como montar um decodificador. Há estudos antigos sobre isso e imagino que o Departamento de Mistérios deva pesquisar sobre isso também.

- Então como é que sabem a forma do objeto se nunca ninguém o montou antes? 

- Não sei ao certo – disse Tom incomodado – Mas imagino que deve haver esboços sobre decodificadores, já que foram usados há muitos anos nas comunidade bruxas para rituais religiosos.

- Ele parece mais uma máscara – comentou a garota, olhando para a figura no livro novamente. – Esse símbolo não me é de todo estranho...

Tom teve que se deslocar até ela para conseguir ver o símbolo no esboço do decodificador. Ele estava inclinado sobre ela, seu rosto por sobre os ombros estreitos e femininos, os anéis dos cabelos dela roçando levemente seu rosto.

- Isso não é um símbolo, é um objeto. Um vira-tempo para ser mais específico.

- O que é um vira-tempo?

- É um paradoxo do tempo, uma magia antiga que permite o portador regressar e avançar no tempo.

- Eles usam vira-tempos para construir o decodificador?

- E uma mascara de faraó, mas ninguém sabe qual mascara pode ser, ou se realmente é de um faraó. Pelos registros, isso poderia ser tanto uma mortalha da família real egípcia quanto um pedaço de madeira deformado.

- Bem, isso é encorajador – ela disse fechando o livro e virando-se para ele – Significa que há poucas chances de encontrarem sua horcruxe.

- Na verdade há grandes chances – pontuou Tom – Você poderia contar a qualquer um, por exemplo.

- Tom, eu nunca te trairia – exclamou a garota e seu movimento irritado fez uma mecha de cabelo cair sobre o colo descoberto, fazendo um espetacular destaque entre a brancura etérea e delicada da pele e a força dos cabelos vermelhos vivos.

O movimento rebelde daquele cacho fez com que Tom reparasse na garota por inteira ali, e ele inclinou-se para ela, enquanto murmurava – Eu sei.

m e m e n t o m o r i – p a r t e 1 – p o r G w e n h w y f a r

Os olhos esverdeados mal se fecharam e Linoue os abriu novamente, sentando-se com tudo na cama e piscando os olhos para a sala. Estava quente e confortável, aparentemente limpo também. Ele se lembrava de ter se arrastado procurando um esconderijo depois do ataque, mas sentia tanto frio e sono que achava que iria morrer naquele momento mesmo.

Ao lembrar do ataque ele estremeceu imperceptivelmente, e relanceou ao redor, esperando que ninguém tivesse visto aquele gesto. E então seus olhos fixaram na única figura além dele naquela sala.

Ela não o tinha visto levantar porque estava muito concentrada em uma enorme bandeja de chá, bolinhos, frutas e todo tipo de guloseimas que caracterizavam uma café. Por um momento hesitou se deveria chamá-la ou não e optou por observá-la um momento antes.

Hermione estava meio reclinada nos travesseiros e olhava para a bandeja, possivelmente tentando escolher entre um cookie e outro pãozinho. Ela estava muito pálida e parecia abatida, mas mesmo assim ele achou que a morena nunca parecera tão bonita com aquele tipo de beleza melancólica, que passava despercebida ao primeiro olhar, mas que chamava atenção e encantava um observador mais agudo. Os cabelos tinham sido presos no alto da cabeça e do elástico caíam alguns fios em cachos bagunçados em volta do rosto e do pescoço e Linoue sentia uma vontade quase irresistível de afastar aqueles fios rebeldes para longe do rosto dela.

Ele chamou suavemente, temendo que ela se assustasse. – Granger.

O que não adiantou muita coisa porque ela deu um pulo e quase levou a bandeja junto. Pelo menos faria uma bagunça considerável se o auror não tivesse agarrado o prato de metal bem a tempo.

- Por Merlin, você quer me matar de susto Malakhai? – ela reclamou, mas não parecia irritada.

- O que você está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa com você?

Ela balançou a cabeça.

- Quero saber o que aconteceu com você.

- Como você soube?...

- Ah, não comece – interrompeu ela – Você estava a beira da morte, sabia? Se Arthur não tivesse te encontrado antes você não teria resistido, seu estúpido!

Agora ela certamente estava irritada.

- Então foi Arthur que me encontrou – disse ele parecendo muito espantado.

- Claro que foi, e foi uma sorte que eu estava livre quando recebi a mensagem.

- O que não explica porque você está sentada numa cama de hospital parecendo tão doente quanto eu.

- Obrigada pelo eufemismo – disse ela sarcástica – E você não está doente, está completamente curado, vê?

Ela apontou para ele de cima a baixo.

- E completamente faminto. Me diz uma coisa, essas tortinhas são de requeijão?

- Não, eu odeio requeijão.

- Eu também – disse ele dando de ombros e atacando a bandeja de Hermione.

- Ei a comida é minha! – reclamou ela tentando empurrá-lo de sua cama, o que se mostrou tão eficaz quanto tentar derrubar um muro de concreto com as mãos. – Nem vem!

- Preciso mais do que você, eu estava prestes a morrer lembra? E eu sou grande, preciso de proteínas. Você é menor e meio magrela, pode suportar melhor a fome.

- Idiota você está comendo todas as minhas tortinhas!

- Eu sou o doente aqui, Granger, contente-se com a sua posição de visita familiar.

Hermione corou, mas não disse nada.

Ele gostava dessas briguinhas idiotas entre os dois porque era uma desculpa a mais para ele poder tocar nela sem se sentir culpado.

- O que aconteceu, Linoue? – ela perguntou depois de um tempo e ele registrou o uso de seu primeiro nome na voz dela.

- Fui espancado, um pouco chutado, socado, jogado pra lá e pra cá, você sabe, essas coisas que eles fazem quando querem bater pra valer em alguém.

- Você sabe o que eu quis dizer.

- Eu sei? – ele perguntou displicentemente, colocando mais uma tortinha inteira na boca. Ela estreitou os olhos perigosamente.

- Não ouse ser irritante comigo, Malakhai. Tenho experiência com esse tipo de gente e posso te afirmar que não vai ser muito saudável pra você.

- Agora eu fiquei realmente assustado, Granger. – ele disse sarcástico – O que você vai fazer agora, ameaçar me bater com essa colher?

- Não tente desviar do assunto – ela exigiu, sentando sobre os joelhos e aproximando seu rosto do dele – O que aconteceu com vocês? Onde está o Harry?

Ele lhe lançou um olhar nervoso, mas não disse nada. Não iria suportar ver a garota desmoronar a sua frente quando souber que Potter tinha sido morto.

- Eu não me lembro.

- Mentiroso.

- Desmaiei e não vi o Harry.

- É mentira.

- Eu sei.

Eles se encararam. Ainda na Academia de Aurores, Linoue era o único que podia sustentar o olhar feroz de Hermione, além do próprio Ron, por um grande tempo sem desviar, mas eles estiveram treinando durante anos.

Ela expirou então, e se afastou dele lentamente.

- Tudo bem então. Vou ficar sabendo de qualquer jeito, só achei que você confiaria em mim se eu pedisse.

- Você não entende – ele disse balançando a cabeça.

- Se eu não entendo? É obvio que eu entendo! Entendo muito mais que você, sei que está tentando me proteger, mas isso é cansativo. Você não tem mais que cuidar de mim Linoue.

- Eu não estou te protegendo – disse ele entre dentes.

- É obvio que está. Porque você me ama, e não agüentaria me ver sofrer de novo.

Ele se tornou pálido e se afastou imperceptivelmente.

- Se sabe, porque então me perguntou?

- Porque você não tem que cuidar de mim! Você não é o Ron!

O olhar dele tornou-se frio.

- Eu nunca quis ser ele, Hermione. Foi você que sempre me comparou a ele. Ou não se lembra do porque nós terminamos?

Hermione balançou a cabeça como se quisesse afastar algum moquito chato.

- Olha, desculpa ok? Eu só quero a verdade. Mesmo que o Harry esteja... mesmo que tenha acontecido o pior. Eu não vou surtar.

- Como eu posso ter certeza? – perguntou ele, se inclinando e afastando alguns cachos escuros do rosto dela. – Você não pode fazer isso comigo e esperar que eu fique legal enquanto você vai estar se rasgando por dentro...

- Linoue – ela pegou a mão dele, que percebeu o quanto ela estava fria. – Eu estou bem agora.

- Mas não vai ficar.

- Então é verdade? – ele sentiu a tensão na voz dela – Harry está morto?

Ele virou o rosto para o lado, incapaz de olhar para ela naquele momento. Ela amava o amigo mais que tudo naquela vida e Linoue tinha duvidas de que ela fosse se recuperar de mais esse golpe.

O ruivo apertou os olhos, vendo milhares de bolinhas coloridas explodirem no escuro, e sentiu-se inútil ali na enfermaria, com Hermione chorando, com Harry Potter morto e o mundo bruxo em perigo novamente. Havia tantas questões.

Lembrou-se do rosto do assassino – um par de olhos esverdeados por trás da mascara preta – e um arrepio percorreu sua espinha. Por um momento, por um breve momento, pensou ter reconhecido àqueles olhos. Mas não podia ser, era impossível demais, loucura demais. 

Linoue sentiu um contato molhado no braço e pulou. Hermione havia afastado a bandeja e se aproximado dele, escondendo o rosto na manga de sua camisola hospitalar. Vê-la ali, torturada, pequena e triste, o fez sentir-se angustiado. Ele girou o corpo e segurou a morena em seus braços, enquanto ela soluçava no seu ombro desesperadamente.

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- Mandou me chamar pai?

Lucius ergueu a cabeça e olhou para o filho, parado respeitosamente na porta. Draco usava uma fina camisa de um branco perolado que Lucius reconheceu ser de seda irlandesa, além da calça social escura e a capa bem trabalhada em fios prateados, onde os fechos, também de prata, tinham o formato de uma cobra. Ele se levantou e fez um gesto para que o rapaz se aproximasse.

- Aconteceu um imprevisto e provavelmente vá haver uma mudança de planos.

- O que aconteceu? – perguntou Draco, sentando-se confortavelmente em frente à mesa do pai e aceitando um copo de gim concentrado da Transilvânia.

- Harry Potter foi morto.

Draco arregalou os olhos, perplexo, e exclamou – Mas isso é impossível!

- Xeosnar o emboscou usando os corpos de Luna Lovegood e Neville Longbottom. – contou Lucius, levando a taça de cristal trabalhada à boca, o liquido âmbar do brandy cintilando sob as tonalidades vivas que o fogo da lareira lançava na sala escura.  

- Nem Potter seria burro o suficiente – contestou Draco, franzindo a testa – E onde estava o ministério quando isso aconteceu?

- Não superestime tanto seus inimigos, Draco.

- Por isso então aquele assassino ainda continua aqui? – perguntou, deixando asco e desgosto anuviar suas feições finas.

- Você não sabe muito Draco, - avisou o pai – é melhor não se meter nisso.

- Sei o suficiente pra perceber que o senhor está fazendo outro mau negócio.

- Não podemos acertar sempre – disse displicente – Mas agora não há ameaças, e temos a vantagem de agir no escuro.

- E se ela resolver sair do covil?

- Então nós teremos que agilizar os planos. Diga-me, aquele seu amigo não pode trazer alguns livros de runas e traduções para cá? Sei que ele estuda arqueologia.

- Não sei se Theo concordaria em ajudar – disse Draco olhando com duvida para o rosto do pai.

- Faça ele ajudar, então. Pode até ser que tenhamos algum imprevisto com a morte de Potter tão cedo. Xeosnar terá que eliminar o restante da Ordem com rapidez, ou eles podem voltar a se organizarem.

- Qual o sentido disso tudo? – perguntou o rapaz, a pele de seu rosto parecendo translúcida com a suave claridade que vinha da janela atrás de Lucius – Porque não podemos simplesmente assumir o poder sem assassinatos ou violência?

Lucius balançou a cabeça.

- Você se esquece de quem está falando. Embora não pareça, Draco, Gunter tem se recuperado muito bem, e sabe o que acontece melhor do que ninguém no país.

- Só não entendo porque é que temos que matar Potter. – disse Draco – Essa perseguição é irritante demais.

- Como vai Astoria? – perguntou Lucius, mudando bruscamente de assunto.

- Bem, suponho – respondeu Draco, assustado.

- Você e ela não estão?...

- Não. – Draco captou a curiosidade tênue nas feições inexpressivas do pai – Mas pelo jeito mamãe a aprova.

- Sua mãe aprova qualquer sangue-puro rica e educada – comentou Lucius – Ela é loira?

- E o que isso importa? – perguntou Draco secamente.

- Sabe que, em todos esses anos, eu sempre deixei a porta do meu escritório trancada.

Draco estava começando a sentir-se exasperado – E o que isso tem a ver?

- Ela nunca tentou abrir. Nunca quis e nem teve curiosidade em saber o que tinha do outro lado. Eu poderia estar criando basiliscos e para ela estaria tudo bem.

Ficaram em silêncio por um momento.

- Ela é absurdamente loira também. Sem graça. Bonita, sim, mas sem graça.

- Eu não gosto de loiras. Prefiro cabelos mais escuros – disse Draco.

- Não, você não gosta. Mas de ruivas sim, não é?

Draco arqueou uma sobrancelha e perguntou lentamente – Você vai à Mansão Gunter?

- Acho que nem no casebre de Arthur Weasley eu veria tantas cabeças vermelhas – disse Lucius, mas havia um estranho brilho apreciador no seu olhar. – As meninas me perguntaram de você.

Draco deu de ombros – São apenas garotas.

Lucius riu e concordou.

- Se não se importar, podemos pegar a carruagem agora, antes que sua mãe chegue das compras.

- Ela tem saído bastante ultimamente – comentou Draco, olhando com curiosidade para o pai – Você fez alguma coisa pra ela?

- Sua mãe está animada com aquele maldito chá beneficente – disse o pai, revirando os olhos no que foi imitado pelo filho com perfeição – ela está decidida a conhecer Astoria.

- Eu darei um jeito para que Astoria não vá – disse Draco se levantando.

- Ótimo. Esteja pronto em dez minutos, no jardim de inverno.

O rapaz fez uma cara confusa e indagou - Vamos sair pelos fundos?

- Não quero chamar atenção nesse dia. – disse Lucius, fazendo distraidamente um desenho no ar com a varinha, que lembrava – estranhamente – uma mão humana.

m e m e n t o m o r i – p a r t e 1 – p o r G w e n h w y f a r

Era a segunda reunião e Ginny realmente esperava que eles resolvessem alguma coisa. A Ordem estava reunida novamente na cozinha da Toca, a pedido de Hermione, já que a maioria já sabia dos recentes acontecimentos.

O Sr. Weasley e mais outros tantos que tinham contato direto com o ministério estavam sérios e abatidos. A presença maciça de Kingsley não se fazia presente, pois ele não poderia ficar se ausentando do ministério aparentemente sem razão.

Ela ainda estava chocada demais para sequer acreditar que as ultimas noticias eram verdadeiras. Harry estava morto? Mas isso era impossível!

No entanto seu pai fora bem contundente ao contar como encontrou Linoue jogado num beco, na travessa próxima ao Lenhador Ceifeiro. Ele estava com a equipe de Aurores e os reforços do ministério, tentando apagar o fogo que começava a se espalhar na madeira incendiária do sujo bar.

O Lenhador Ceifeiro fora incendiado ilegalmente com fogo comum e o ministério teve um trabalhão para conter as chamas que ameaçavam as construções vizinhas. O fogo que inutilizou a construção não ficara tempo suficiente para apagar a prova do triplo homicídio, reunida numa poça sangrenta de carne moída, olhos e alguns fios de cabelos negros, castanhos claros e louros platinados.

O assassino ainda quisera afrontá-los, colocando um boneco encapuzado que lembrava bizarramente Dumbledore, segurando nas mãos de cera uma foto com os corpos de Luna, Neville e Harry, tão deformados que chegavam a ser quase irreconhecíveis.

Era tudo piração demais. Eles deviam ter desconfiado quando Ron morrera, deviam ter achado que havia alguma coisa de estranho no fato de Lilá ter enlouquecido do nada. Agora é tarde pra lamentar – pensou ela firmemente.

É por isso que o governo sempre esteve nas mãos dos slytherins.

Eu não estou com humor pra você hoje, Tom.

Houve uma movimentação e em seguida Linoue entrava, sua pele normalmente corada e sardenta estava tão pálida quanto o mármore, e seus olhos esverdeados possuíam uma coloração escura, algo cansativo e atormentado.

Logo atrás, para o espanto de todos, vinha Hermione, parecendo quase tão abatida quanto Linoue, mas conservando – estranhamente – uma expressão serena no rosto.

Acenou para todos e fez um gesto para que se sentassem, mas ninguém sentia vontade de descansar àquela hora. A tensão dentro do cômodo era tão grande que Ginny podia sentir de longe aquele odor que não era um cheiro propriamente dito, mas uma sensação quase sensitiva de medo, receio e terror.

Hermione limpou a garganta.

- Acho que explicações são desnecessárias agora. Vou contar a vocês o que eu e Harry descobrimos até agora sobre o caso de Charing Cross.

Ninguém disse uma palavra, olhando para a morena com expectativa.

- Descobrimos que existe alguém contratando os serviços de historiadores trouxas egípcios, mais especificamente especialistas em traduções de hieróglifos.

Franzindo a testa, Charlie perguntou - E porque iriam querer traduzir hieróglifos?

- Bem, achamos que talvez esteja ligado a alguma lenda ou mito da comunidade bruxa egípcia. – antecipou Linoue.

- Você também está sabendo de tudo? – perguntou George, num tom de voz seco: nunca gostara muito de Linoue, que estudou com ele em Hogwarts no mesmo ano.

Linoue o ignorou.

- Mas... De que tipo de lendas vocês estão falando? – perguntou Arthur.

Hermione espalhou alguns papéis na mesa: - Andei fazendo umas pesquisas quando estive no Egito. Foi difícil encontrar alguma coisa sobre a cultura egípcia bruxa da antiguidade, porque o Ministério vêm mantendo os escritos em sigilo há anos.

- Então, o Ministério não queria que soubéssemos dos egípcios antigos – comentou Simas, que seguia a explicação de Hermione com uma expressão concentrada no rosto. – Porque?

- Porque talvez esses inscritos contenham informações perigosas em mãos erradas. – explicou Hermione e inclinou-se para um dos papéis – Vejam aqui, os bruxos egípcios consideravam-se deuses renascidos por seus poderes, e eram adorados como faraós.

- Quer dizer que os faraós eram na verdade bruxos? – perguntou Ginny, perplexa.

- Por isso casavam só dentro da família. Um faraó sempre se casava com a irmã ou a prima, para manter a realeza do sangue. Ou, a pureza, como vocês preferirem.

- Essas são as bases para a crença na pureza do sangue. – continuou Linoue – Um bruxo nascido trouxa camponês era considerado ladrão dos poderes da família do faraó e por isso executado.

- O que nos leva à história de Moisés e a sua suposta identidade bruxa – falou Hermione – Mas não é desse tipo de lenda que nós estamos falando. A sociedade egípcia ficou famosa por seu intenso desenvolvimento nas áreas da matemática e medicina, bem como na astronomia.

Ela tomou o ar presunçoso dos tempos de escola, quando sabia de cor os livros e respondia as perguntas dos professores que ninguém mais sabia.

Por um momento Ginny quase procurou Harry e Ron em volta, para trocar um olhar divertido, mas lembrou que isso já não seria mais possível e mordeu os lábios.

- Os bruxos egípcios, em especial, tinham muito interesse em estudar os mistérios da morte, como um modo de continuar na terra pelo período que considerassem necessário, até que fossem para a mundo dos mortos, não antes de se certificarem de que tudo iria correr como esperavam.

Todos a encararam com os olhos arregalados e Linoue falou, incomodado:

- Eles queriam controlar o tempo.

- Ah – fez George, sua expressão desanuviando como a dos outros – Agora entendemos.

Hermione fez uma careta indignada para Linoue, que apenas deu de ombros. Ela pigarreou e continuou:

- Desconfiamos que algum desses escritos, de algum modo, tenha caído nas mãos de alguém, que está os traduzindo.

- E você já sabe quem está contratando tradutores. – afirmou Arthur e Hermione concordou com a cabeça.

- Não sabemos, no entanto, quem são eles.

- Você sabe ou não sabe quem é, Hermione? – perguntou Simas, franzindo as sobrancelhas.

A líder inspirou e fez um gesto curto e seco para que todos se aproximassem da mesa, onde ela segurava aberto um pergaminho muito amarrotado e marcado.

- Conseguimos interceptar, não me perguntem como, uma carta destinada à essa tal sociedade, mas nunca ouvi falar de um grupo desses no mundo mágico.

Eles se inclinaram mais para perto do pergaminho, que dizia, em letras apertadas e corridas, o seguinte:

Caros Memes,

É com prazer que lhes informo estar disponível para começar os trabalhos, porém, preciso de mais informações sobre o tipo de texto, para decidirmos as formas de pagamento.

Cordialmente,

Matthias Paul

E logo embaixo, outra carta de letra apertada e corrida:

Caro Srº Paul,

Nós não perguntamos preços. Pagamos tudo.

Atenciosamente,

Sociedade Puro-Sangue

- O que é Sociedade puro-sangue? – perguntou Simas, olhando interrogativo de Hermione para Linoue, mas nenhum dos dois respondeu.

Um som estrangulado fez o grupo saltar e olhar para o final da mesa. Molly Weasley estava ofegante e mortalmente pálida, olhando para o pergaminho.

- Molly o que foi? – exclamou o Sr Weasley, amparando a esposa para que ela se sentasse.

- A Sociedade Puro-sangue. – disse ela piscando várias vezes como se quisesse clarear a mente. – É um grupo seleto de bruxos puro-sangue influentes, reunidos para se ajudarem e se apoiarem em tempos difíceis do mundo mágico.

Todos ficaram encarando-a.

- A ultima vez que a Sociedade se reuniu, foi na ascensão de Aquele-que-não-se-deve-nomear, quando eles discutiram qual o lado da guerra que iriam apoiar.

- Quer dizer então que os comensais são na verdade a Sociedade puro-sangue? – Linoue inquiriu, seu olhar arguto concentrado em Molly.

A Sra. Weasley balançou a cabeça negativamente.

- Apenas um grupo muito seleto fazia parte da Sociedade, os sangue-puro mais influentes da Inglaterra, e ao que parece mantinham contato com outras Sociedades ao redor do mundo.

- Então, esse tal de Paul pode ser um membro da Sociedade puro-sangue egípcia? – perguntou Hermione de olhos arregalados.

- É bem possível – confirmou Molly – os membros normalmente não suportam se relacionar com trouxas, seria uma grande traição aos seus ideias.

- Como é que você sabe de tudo isso? – perguntou, finalmente, Arthur, olhando sinceramente espantado para a esposa.

Molly crispou os lábios.

- Porque minha família fazia parte dessa Sociedade.

Silêncio.

Linoue então se manifestou, assombrado: - Mas eu pensei que os Prewett eram, bem... eram uma família do bem, se é que a Sra me entende.

Molly riu sem humor e disse: - Minha família, acima de tudo, era puro-sangue de antiga linhagem, e meu pai era muito influente na época. Eles ficaram realmente decepcionados quando escolhi me casar com Arthur.

- Imagino que tenha sido por causa do endividamento de meu pai que nós também não fizemos parte dessa Sociedade – comentou Arthur e Molly concordou.

- Mas o que é essa Sociedade, Sra Weasley? O que eles fazem? – perguntou Simas.

- O principal motivo de existência dessa Sociedade é garantir que os laços bruxos puro-sangue serão mantidos, se em alguma época a pureza do sangue bruxo estiver sendo ameaçada. Depois, decidirem em uma guerra que lado irão apoiar, ou que leis vão votar para serem aprovadas estão entre as prioridades.

- É como se fosse uma irmandade – comentou Lino Jordan.

- Sim, e creio que você já tenha entendido porque eles estão se reunindo novamente, Hermione – disse Molly e Hermione concordou.

- Eles querem garantir que com a derrota de Você-sabe-quem, o sangue puro seja conservado e os jovens não sejam convencidos das idéias do novo governo.

- O que isso significa? – perguntou George, mas foi o Sr. Weasley quem respondeu.

- Casamento. Eles querem transformar seus filhos em modelo de família bruxa.

- Mas pra que essa história de hieróglifo egípcio? – insistiu George – quero dizer, se o único objetivo é formar famílias, pra que precisam traduzir textos egípcios?

- Talvez eles não queiram só controlar as massas emocionalmente. – disse Hermione lentamente – talvez eles queiram aplicar algum tipo de golpe de estado, ou algo assim.

Todos ficaram quietos então, tentando absorver a quantidade de informações naquele dia. Compreendiam que, naquele momento, não era hora de luto pelos mortos, mas de garantir a sobrevivência dos vivos.

Harry morrera. O líder da Ordem estava morto, juntamente com alguns dos mais importantes membros da Ordem. Estavam querendo desestabiliza-los, pra que, eles não sabiam.

Foi então que Linoue exclamou: - Hermione! Você está correndo perigo aqui!

Ela mordeu os lábios com os vários olhares de medo e horror voltados para ela.

- Eu vou pensar em alguma coisa – disse, tentando passar confiança – Mas preciso de um tempo pra pensar.

- Oh querida – disse Molly, levantando-se de um salto – Eu vou preparar seu quarto lá em cima, você deve estar tão cansada...

- Sra. Weasley, obrigada pela gentileza – Hermione deu-lhe um sorriso cansado – mas não quero atrapalhar.  

- Ah, deixe de bobagens, você pode ficar no quarto antigo dos gêmeos...

- Não, Sra Weasley, realmente – ela interrompeu – Eu preciso ir pra minha casa.

Ela se levantou e viu todos a olhando com temor. Franziu as sobrancelhas e então percebeu. O seu apartamento também era o de Harry e indo para lá ela encontraria todas as coisas do amigo. Eles estavam com medo de ela surtar outra vez.

- Não se preocupe comigo Sra. Weasley – disse Hermione, mas se dirigindo para todos na sala – Eu sou mais forte do que vocês pensam.

Arthur então falou - Mesmo assim Hermione, se precisar não hesite em vir para cá. Estamos aqui para lhe apoiar, filha.

Ela viu o rosto preocupado do Sr. Weasley se dividir em pequenos prismas ondulantes com as lágrimas, mas ela não iria chorar ali.

- Obrigada, Sr. Weasley – ela disse e acenou com a mão para todos, andando rapidamente para a saída antes que as primeiras gotas salgadas pudessem tocar o chão.

Linoue se levantou de repente e declarou: - Eu preciso ir agora, tenho que... tenho que alimentar meu gato. Até mais galera.

E saiu em disparada atrás de Hermione.

O Sr Weasley balançou a cabeça: - Eles tem sempre que complicar tudo.

- Os jovens são complicados, Arthur – comentou a Sra Weasley e se virou para o resto: - Então, quem é que vai querer uma sopa de cebolas?

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Hermione atravessou o Hall e quando saiu para o jardim, começou a correr para a estradinha, onde poderia aparatar. Ela já estava quase no cercado de sebes quando uma voz a chamou e ela parou.

- Hermione! – ele chamou novamente e ela fechou os olhos por um momento, e se virou lentamente para o rapaz, parado na porta.

O choque de ver Ron ali parado, os cabelos ruivos refulgindo no sol poente, fez ela cambalear, respirando rápido e se segurar na arvore próxima, olhando. Ele fez menção de se aproximar dela, mas Hermione se afastou ferozmente e exclamou:

- Não se aproxime! Pare de me atormentar!

Ele parou como se ela tivesse pregado seus pés no chão e à luminosidade alaranjada da tarde os olhos dele eram dois globos castanhos, sem vestígios do verde escuro, pintados sob o rosto lívido, e suas poucas sardas sob o nariz destacaram-se para ela. Hermione percebeu que era somente Linoue ali, e não uma aparição de Ron. Mas ninguém poderia culpá-la, pois eles eram infelizmente muito parecidos.

- Você tem que ficar. – ele murmurou, mas o silêncio era tão grande no jardim que o pequeno estalar dos galhos de arvore podiam ser ouvidos a metros de distância.

- Eu não vou ficar n’A Toca.

- Não é da Toca que eu estou falando.

Hermione o encarou, avaliativa. Como é que ele sabia o que ela estava pensando, antes mesmo dela ter se decidido sobre isso? Ela queria sair do país, mas não queria que ninguém soubesse até a hora de ir embora.

Linoue então comentou:

- Eu não vou contar à Ordem.

- Você lê pensamentos ou o que? – perguntou ela irritada.

Ele balançou a cabeça tristemente.

- Eu te conheço melhor do que você imagina, Hermione.

- Eu preciso ir embora – disse ela – e se acontecer o mesmo que aconteceu com Luna e Neville? E se eles pegarem um de vocês pra me atrair também? Eu não posso deixar isso acontecer.

- Ninguém vai morrer agora – disse ele – a menos que fiquemos todos juntos.

Ela balançou a cabeça violentamente.

- É exatamente isso que eles querem. Querem nos atingir, nos enfraquecer para pegar todo mundo junto.

- Eu penso que nós deveríamos nos unir contra eles – ele comentou friamente.

- E então como vamos descobrir quem está por trás disso tudo? – ela inquiriu, nervosa – Eles não conhecem todos os membros da Ordem mas daqui a pouco vão saber. Nós precisamos descobrir o que está acontecendo.

Linoue suspirou pesadamente e então a olhou:

- Eu não quero te perder.

Ela o encarou e pensou amargamente Você não pode perder o que você nunca teve, mas achou que seria cruel demais falar para ele. Ao invés disso, disse suavemente:

- Temos que correr riscos.

- Então me deixe ir com você! – ele pediu, agora voltando a andar para perto dela.

Visto de perto, sua semelhança com Ron quase deixava de existir, tirando o fato dos cabelos ruivos e as sardas em volta do nariz. Ele era realmente bonito, de traços finos e poucas sardas, salpicando suavemente as maçãs do rosto e o nariz fino, e ficava ainda mais atraente à luz cadente da tarde, parecendo uma pintura.

- Eu não posso. – ela disse.

- Deixe pelo menos eu acompanha-la! Você vai precisar de alguém que tenha contatos com os ministérios bruxos e saiba decodificar mensagens. – ele estava quase suplicando para ela.

- Você acha que pode me ajudar, mas não pode, Linoue. – ela disse se afastando dele, e o rosto do rapaz se fechou.

- Nem tudo aqui é sobre você Hermione. Eu quero ajudar à Ordem. Quero descobrir o assassino de Ron, Harry, Luna e Neville e quero vê-lo apodrecer em Azkaban.

- Você está indo só para me proteger – ela acusou.

- Por Merlin, Hermione, como você é teimosa! Não ouviu nada do que eu disse? – ele explodiu, deixando a delicadeza de lado e a agarrando pelos ombros. – Você vai ser pega antes mesmo de atravessar a Suíça se não tiver um contato na Alfândega bruxa.

Ela tinha os olhos arregalados para ele. Linoue então percebeu o que estava fazendo e largou-a, olhando com culpa para os braços da morena, que tinham uma marca vermelha onde suas mãos apertaram.

- Desculpe Mione. – ele disse visivelmente constrangido – não devia ter me descontrolado, me desculpe.

Ela respirou fundo com o apelido, e sorriu fracamente para ele, um sorriso de resignação irônica.

- Está bem.

- Você se machucou? Está doendo? – ele perguntou preocupado.

- Eu disse que está tudo bem em você vir comigo.

Ele parou, olhando-a com duvida, mas então seu rosto se iluminou com um sorriso enorme e, para o espanto de Hermione, ele a abraçou fortemente. Ela podia ver, por cima do ombro de Linoue, um rosto numa das janelas da casa torta. Seus cabelos vermelhos eram facilmente identificáveis sob as cortinas cinzentas.


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Notas finais do capítulo

* Führer - Líder político, traduzido ao pé da letra como "aquele que guia/conduz", termo usado na Alemanha Nazista

** poção hemovitalizante - inventada por mim, não está presente nas obras de J.K. Rowling. É uma poção para acelerar a produção de sangue pela medula óssea.

² drena - procedimento parecido com a retirada de sangue.

*** Anéis Manticores - inventado por mim, não está presente nas obras de J.K. Rowling.


N/A: Bastante sobre Hermione/Linoue não? xD Calma que Tom, Ginny e outros tanto vao ganhar mais destaque nos outros! E então o que estão achando da história? O que acharam do Linoue? E o Xeosnar/Henry? Personagens obscuros ainda xD

OMG esse capítulo deu exatamente 30 páginas no word! Espero que tenha me redimido com a demora pra postar :3 Já estou escrevendo o outro e preciso avisar uma coisa: essa fanfic NÃO está sendo betada, por isso se encontrarem algum erro, podem me dizer que eu arrumo!


2.N/A: Obrigada a quem acompanha, se quiserem que eu avise das atualizações é só passar um e-mail para zejão25@gmail.com


Read? Review!



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