Wish You Were Here escrita por Junny


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Bom, essa fic é diferente de tudo o que vocês já leram. Quem me acompanha há um tempinho, sabe que história da humanidade me fascina (e é uma das minhas candidatas para vestibular). Então, resolvi escrever essa fanfic, que narrará o drama vivido por um casal separado pelas diferenças impostas pela sociedade nazista em plena segunda guerra mundial. O sobrenome Bieber veio a calhar, por causa da decendencia alemã. Bem, vou dizer aqui mais uma vez, que sou totalmente CONTRA o ódio. Viva as diferenças, sejam elas religiosas, sexuais, etnicas ou de gênero!

Qualquer dúvida, sobre as poucas expressões e palavras alemãs utilizadas, MP ou google tradutor, belexinha? q



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Condeno as praticas nazistas. Todos os fatos aqui narrados são fictícios.

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Alemanha, 1940

Justin's POV

-O jantar está ótimo, senhora Bieber.- Heike limpava seus lábios com os guardanapos bordados por minha avó, há alguns meses. Eu observava sua expressão assustada e insegura. Eu tentava lançar alguns sorrisos fracos em sua direção, tentando acalmá-la, mas eu sabia que era em vão. Minha mãe sorriu fraco pra ela, um sorriso tão falso quanto sua satisfação em servir Heike.

-Estou farto.- empurrei meu prato, quase vazio, mais para o centro da mesa. Heike imitou-me, empurrando seu prato semi cheio, respirando aliviada.

-Quer ajuda com a louça?- Heike perguntou polidamente.

-Não precisa, querida.- minha mãe lançou mais um sorriso amarelo, fingindo um agradecimento.

-Então, vamos lá fora, Heike.- sugeri para minha amiga, salvando-a de toda e qualquer situação constrangedora que minha família pudesse recolocá-la.

Esperei Heike se levantar e me levantei em seguida. Segui-a até a varanda. Ela se sentou em um dos bancos de madeira e eu me sentei ao seu lado.

-Desculpa a minha família, Heike. Você não merece aqueles olhares, nem aquelas risadinhas cumpliciosas, nem aqueles comentários. Estou com muita vergonha.- mesmo estando escuro, por causa do breu da noite, eu sabia que as bochechas dela queimavam como maçãs maduras.

-Não precisa se envergonhar, Bieber. O que importa é que você não pensa o mesmo... Você não pensa igual, certo?- ela perguntou, aflita com a resposta.

Respirei fundo e relaxei a postura.

-Heike... Você sabe que apesar de tudo, eu escolhi você. Você é a minha melhor amiga. É em você que eu confio. Eu não sei o que seria de mim sem você. Ich liebe dich.- nada do que eu tinha falado era mentira. Eu amava Heike desde o sempre. Eu me sentia confortável ao seu lado.

-Eu também de amo, Bieber.- ela se aninhou mais em meu abraço e ficamos a contemplar as estrelas, que, naquela noite, tinham um brilho engraçado.

-VIU? ESSE É O RESULTADO. DEVERÍAMOS TER CASADO O BIEBER COM AQUELA MOÇA DE BERLIM. ELE JÁ TERIA ATÉ UMA VAGA NA FACULDADE. JÁ ESTARIA COM FAMÍLIA FORMADA. MAS, NÃO! VOCÊ TINHA QUE SER O “PAI MODERNISTA”. OLHA LÁ O QUE ELE ARRUMOU. UMA JUDIA. JEREMY! UMA JUDIA!- os gritos de minha mãe se fizeram audíveis na pequena varanda.

Eu fechei meus olhos, tentando não acreditar que minha própria mãe dizia aquilo. Aquelas palavras pareciam me cortar, como punhais suíços bem afiados. Senti Heike apertar minha blusa e afundar seu rosto no meu abraço. Então, passou pela minha mente, o efeito doloroso que aquelas palavras tinham sobre ela.

-Mas... Mulher... Ela é uma boa moça, bem educada e...- meu pai tentava argumentar a favor de Heike.

-E É JUDIA, JEREMY. JU-DIA. VOCÊ SABE QUE FICAREMOS MAL FALADOS POR TODA A CIDADE.

Eu ouvia a tudo perplexo. Senti nojo de ouvir minha própria mãe falando aquilo. Eu não conseguia acreditar no que tinha ouvido.

-Justin...Ér... Acho melhor eu ir embora...Não quero te trazer mais problemas e...- Heike disse se levantando e tirando-me dos meus desvaneios. Ela estava chorando. Por Deus! A garota que eu amo estava chorando por causa da minha própria família!

-Shh! Heike! Você vai a lugar nenhum. Você vai ficar aqui comigo. Eu te garanto que ela não é assim. É...É... É a pressão por causa da guerra! Quando isso passar, você vai ver...- me levantei e a abracei, tentando dizer alguma coisa que fizesse aquela situação melhorar. Mas tudo que eu dizia parecia não ser bom o suficiente para atenuar os efeitos daquelas palavras. Maldita seja minha mãe.

-Justin...Você sabe que...Não podemos ficar juntos.- ela disse, com a voz abafada pelo abraço.

Separei o abraço e obriguei Heike a me olhar nos olhos. Seus olhos estavam inchados e banhados em lágrimas. Seus lábios tremiam.

-Nós vamos ficar juntos. Eu te prometo.

Heike's POV

-Salve, Mr. Schmidt.- falei ao entrar na sala de aula do professor Schmidt, um padre que dava aula de latim. Caminhei em silêncio até o meu lugar, sentindo minhas costas queimarem sob os olhares da turma.

Minha cidade era uma das poucas cidades que ainda não tinham sido invadidas pelo exército nazista. Mas todo mundo sabia que os judeus estavam com os dias contados. A cidade de Enger, no sudoeste alemão parecia ter sido esquecida por Hitler e seu Reich, porém os arianos estavam começando a absorver todas as informações odiosas que eram transmitidas de hora em hora pelo rádio. Esse era um dos motivos da minha família ter tomado a decisão que estava me cortando e me matando aos poucos.

-Salve, Mr.Schmidt.- a voz de Bieber saudando o professor soou na sala. Seu semblante preocupado, o que apagava quase por completo o seu sorriso, estava estampado em sua face. Esbocei um sorriso e um aceno quando Justin passou por mim, rumando na direção de seu lugar, algumas mesas atrás.

Eu sentia um aperto no meu coração toda vez que o professor- um velho padre, muito sábio e digno de respeito- chamava pelo sobrenome de Justin. Eu não queria largar os estudos, mas mamãe insistia de que era arriscado demais uma garota judia sair todo dia de casa e conviver com arianos, que, a qualquer segundo, poderiam denunciar minha família sob algum tipo de coação.

A aula do senhor Schmidt passou, demorando mais do que de costume. Depois foi a aula da senhora Gertruída, uma das viúvas da primeira guerra mundial, que nos lecionava literatura. A aula de teatro- a preferida de Justin- foi a última antes do intervalo.

-Heike, eu preciso falar com você.- Justin falou, segurando meu braço, me guiando para um lugar mais afastado do pátio.

-Não vai ouvir o pronunciamento?- perguntei quando vi que os alunos considerados puros se organizavam de forma homogenia para ouvir o pronunciamento de Adolf Hitler.

-Hoje não.- ele disse desanimado, passando a mão por seu cabelo perfeitamente alinhado, fazendo com que sua franja desse uma desalinhada, sem perder o ar angelical.

-Tenho que te falar algo.- falei com a voz chorosa, fitando meu sapato preto de verniz já gasto. Meu peito doía só de pensar em não ver Justin mais.

-Pode falar.- ele disse, enquanto se sentava numa mureta de alvenaria inacabada. Senti meu equilíbrio oscilar fazendo minhas pernas bambearem, então me sentei em seguida, apertando os meus livros contra meu peito.

-Eu...Eu...- senti o pranto se formar em minha garganta, marejando meus olhos.- Vou ter que abandonar a escola.- desabafei, chorando.- Mamãe acha perigoso eu sair de casa em plena guerra e como a maioria ainda é ariana aqui...

Justin me abraçou, abafando meu pranto em seu peito, me envolvendo em seu abraço. Ele afagava meus cabelos, em um cafuné fraternal.

-Heike... Eu sei que não é o melhor momento, talvez nem teria um melhor momento pra isso...- ele começou a dizer, separando nossos corpos e segurando em meu ombro, sustentando meu olhar.

Ele começou a mexer em seus livros, procurando algo entre as páginas. Ele tirou de dentro de um livro um envelope e estendeu a mim. Entreabri a minha boca de imediato quando vi o selo do envelope. Um quadrado vermelho sangue- “o mesmo tom que a cor do sangue dos impuros”, como Hitler descrevia- com um círculo branco no meio- do mesmo tom de pele dos arianos puros- e com uma cruz suástica negra no centro, com suas pontas viradas no sentindo anti horário. Meus lábios tremeram. Ele seria parte do Reich. Ele seria um deles. Em um movimento instintivo, me afastei de Justin, ralando o tecido da minha saia.

-Heike, eu não sou um deles. Eu nunca serei como eles. Mas eles podem matar toda minha família se eu recusar o chamado.- Justin falava com a voz trêmula, gesticulando com as mãos.- Eu não me orgulho dessa carta, Hei.- exclamou, apontando para o envelope na minha mão.

-Não quero te perder.- murmurei, sincera. Eu não conseguia imaginá-lo matando, estuprando, espancando ninguém. Qualquer um poderia fazer isso, menos o meu Bieber.

-Você não vai perder.- ele disse logo após me abraçar, sendo seguido de um soluço abafado. Estava sendo difícil pra ele e pra mim.

-Quando você parte?- perguntei temerosa.

-Antes do amanhecer.- sua voz anunciou fraca. Senti minhas meu corpo perder toda a estrutura. Nenhum osso conseguia sustentar meus músculos e eu senti meus sentidos oscilarem, sentindo meu corpo amolecer no abraço de Bieber.- Ei, ei!- Justin começou a falar, assoprando meu rosto.- Eu não vou te deixar. Eu prometo! Não vou deixar eles virem pra esse lado da cidade! Vou te proteger, klein. E quando tudo isso acabar, eu volto pra te buscar.

Justin segurou minha cabeça entre suas mãos grandes e macias, ele beijou minha testa e logo selou nossos lábios. Ele separou nossos corpos e fitei suas orbes castanhas, que combinavam mais do que perfeitamente com sua pele alva como a neve. Ele não era loiro dos olhos azuis, como outros arianos, mas tinha um dos sangues mais puros de Enger- o que deve ter sido um ponto decisivo para sua convocação.

-Eu te mando cartas da base e você saberá para onde responder.

Assenti com a cabeça, eu não conseguia dizer nada. Justin me abraçou mais uma vez. Talvez a última vez.




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Notas finais do capítulo

Mereço reviews? *o*