Imperium escrita por Meg_Muller


Capítulo 3
Presos ao modelo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/139963/chapter/3

“Estamos presos ao modelo, por sermos parte dele”

==

Jean Franchini saiu do elevador entrando no corredor do ultimo andar daquele complexo. As paredes de ambos os lados tinham vários quadros que exibiam figuras importantes do Sistema. Chamavam a si mesmo de parlamentares, o que ele achava um pouco estranho já que ninguém tinha sido eleito por voto popular, mas não era bom se atentar para detalhes como aquele.

No fim do caminho estava na frente da sala dele. A foto mais importante das paredes, o nome mais respeitado em Imperium e na boca de muitos um verdadeiro herói: Natanael Franchini. O som de uma multidão ovacionando ecoava na cabeça dele toda vez que pensava na figura ilustre do pai.

-Olha se não é o pequeno filhote. – Ouviu uma voz feminina soar e precisou de um tempo pra perceber que vinha do sofá no salão que precedia a sala oval de reuniões do parlamento.

-Desculpa, falou comigo? – Ele perguntou percebendo que o olhar dela não fazia o mínimo esforço pra se desviar do seu.

-Não tenho muitas outras opções aqui. – Ela respondeu apontando ao redor fazendo-o perceber que eles eram os únicos ali, além da secretária sentada ocupada com telefonemas há alguns metros de distância.

-Certo... – Jean murmurou ainda sem entender o sentido da primeira frase que ela dissera a ele.

-Barbara Putzer – Ela se apresentou se levantando e estendendo a mão. – É um prazer.

-Ah, eu sou...

-Jean Franchini. – Ela completou interrompendo, enquanto apertavam as mãos um do outro – O pequeno filhote.

Barbara sorriu com a expressão confusa que ele esboçava, pela forma que ela o chamara. Ela podia não ter a mínima simpatia pelo sobrenome dele, mas no momento ele não parecia tão repulsivo quanto á família da qual fazia parte. Soltaram as mãos e ela resolveu ajudar a tirar aquela expressão ainda perdida do rosto dele.

-Apresento um show no horário nobre em uma das únicas emissoras que o seu pai ainda deixa funcionar. – Ela explicou enquanto ele a encarava sério como se procurasse lembrar o rosto dela. – Esse é o apelido carinhoso que temos pra você.

-Ah... – Jean comentou como se ela fosse uma figura meramente conhecida pela sua memória. – Eu acho que já devo ter visto, ao menos uma vez.

-Não se preocupe, não esperava que conhecesse. – A jovem Carraro comentou com um sorriso. – Se o seu pai censura a sociedade inteira dessa forma, mal imagino o que ele censure em casa.

Jean piscou algumas vezes como se tivesse impressionado com as palavras. Ninguém falava do pai daquela maneira. Observou de forma mais cautelosa a figura feminina a sua frente. Cabelos castanhos presos em um coque bem feito, óculos de grau que tornava sua figura ainda mais instigante e vestida com um terno feminino perfeitamente alinhado.

-Senhorita Putzer. – Barbara desviou a atenção do jovem ruivo a sua frente pra dá-la a secretária. – O senhor Franchini está pronto para recebê-la.

-Enfim ele resolveu me agraciar com segundos do precioso tempo. – Ela comentou acenando positivamente pra secretária enquanto Jean se perguntava o porquê do sarcasmo na frase dela.

Barbara pegou a bolsa no sofá onde sentava antes do jovem Franchini aparecer. Ele pensava em dizer algo pra simplesmente não deixar figura tão interessante quanto aquela sumir tão de repente quanto veio. Mas nada chegava a sua mente como sendo adequado para o momento.

-Iria te convidar para essa reunião. – A jovem Putzer comentou sorrindo com a boca aberta dele que não pronunciava uma palavra, como se buscasse algo pra dizer. – Mas acredito que o seu pai não ia aprovar tal comportamento da minha parte.

-É... – Ele murmurou quase involuntariamente só pra acabar com a cena patética que estava fazendo. – Ele não gosta de envolver família com o trabalho.

-Não tenho a menor dúvida disso. – Ela comentou por fim finalizando a conversa. – Melhor não deixá-lo esperando.

-Claro... – Jean murmurou sem ter certeza de que ela tinha escutado, se jogou no sofá que ela sentava antes observando ela caminhar o pequeno percurso até a porta do escritório do Líder do Parlamento.

Figura impertinente a dela. Não parecia se preocupar quando usava sarcasmo e ironia em frases que se referiam ao homem mais importante do sistema. Ela era realmente uma figura das mais estranhas e curiosamente das mais interessantes também.

==

Anne sentiu um frio na barriga só por entrar naquele refeitório. Era amplo, limpo e extremamente organizado. E o almoço cheirava a uma refeição agradável, o que a fez sorrir assim como o loiro ao seu lado.

-Nem acredito... – Bruno comentou olhando ao redor como uma criança que vai ao parque pela primeira vez. – Me lembra de agarrar a Bianca pra agradecer por isso.

Anne e Bruno riram do comentário dele ao imaginar a cena, e logo seguiram o olhar pro lado onde um jovem pálido caminhava. Ele sempre se mantendo atrás dos dois, ainda fitando os próprios pés.

-Olha pra isso, cara. – O loiro começou batendo no ombro do jovem apontando ao redor, que ele continuou a ignorar. – Não tá orgulhoso de almoçar com a elite?

Ele fez que sim com a cabeça e isso foi o suficiente pra se ver carregado por ambos os punhos pelo casal, foram até o centro onde várias bandejas exibiam dezenas de opções das quais eles não tinham se familiarizado ainda. Não tinha comparação com o que a classe “D” era obrigada a comer.

Perceberam a cena que estavam fazendo se deslumbrando com aquilo, quando vários membros classe “A”, começaram a olhar com expressão confusa pra excitação deles. O casal se recompôs e começaram a agir da mesma forma que todos os outros, pegar sua refeição e procurar uma mesa, o jovem calado atrás deles fez o mesmo. Não iriam causar uma ceninha no primeiro dia deles em um ambiente tão refinado.

-Se eu soubesse que era isso que eu estava perdendo. – Bruno começou depois que já estavam sentados ao experimentar a primeira garfada. – Teria passado de nível há muito tempo.

Anne riu com o comentário se deliciando com o próprio prato. Aquilo só deixava mais claro pra ela o quanto eles faziam de tudo pra reforçar a estratificação. A roupa, dormitório, tratamento e até mesmo a comida. Tudo era uma forma de demonstrar status e reforçar as regras do sistema.

-Gostou da comida? – Ela levantou o olhar pra responder o amigo, mas percebeu a atenção dele pra alguém ao lado. – Aliás, você nem disse seu nome.

O jovem calado agora recebia atenção dos dois, e até tentou abrir a boca ainda sem encarar ninguém, mas nada saiu. Não é que fosse de fato um autista como Bianca o chamara, ele simplesmente não se sentia confortável com outras pessoas. Por mais amigáveis que elas parecessem.

-Tudo bem se não quiser dizer pra gente, mas devia treinar pra quando a Bianca te perguntar. – Anne comentou tentando manter o tom mais gentil possível. – Ela não é conhecida pela paciência.

Ele fechou a boca assentindo enquanto Bruno comia e olhava pra ele com curiosidade, não tinha a mínima idéia do que se passava pela cabeça de alguém que tinha dificuldade de falar o próprio nome.

-Falando em Bianca, vou até bem-humorado encontrar com ela hoje á tarde. – O loiro brincou apontando o almoço fazendo Bianca concordar com a cabeça. -Nem sei o motivo da gentileza dela, mas acho que nem me importa.

-Eu nem imagino o que vai ser hoje á tarde, sinto um frio na barriga imaginando que tipo de trabalho vai ter que ser feito sob a supervisão dela. – Ela comentou e com isso eles terminaram o almoço em um tenebroso silêncio, absortos nos próprios pensamentos.

==

Natanael Franchini observava a mulher sentada altiva na cadeira em frente a sua enorme mesa de mogno.  Sua sala era tão civilizada e organizada, que lembrava muito sua personalidade arrogante e controladora, não tão diferente da jovem a sua frente.

-Veio reconsiderar a minha oferta? – Ele perguntou com certo sarcasmo já sabendo qual seria a resposta dela, mas era cômica a expressão de desprezo que ela lançava junto com a resposta a pergunta.

-E monopolizar de vez a nossa indústria de entretenimento? – Ela murmurou revoltada. Nada a deixava mais irritada do que lembrar que a dela era a única emissora que não pertencia à figura masculina a sua frente.

-Fala como se essa idéia fosse ruim. Produzo programas de qualidade Barbara. – Natanael brincou e a Putzer pareceu se irritar mais ainda.

-Não vou nem entrar nesse assunto, não vim aqui falar sobre isso. - Ela cortou seca levantando o olhar pra fitar seriamente os olhos do patriarca Franchini. – Não agüento mais essa falta de liberdade. Quero um programa ao vivo, e vai ser feito com improvisação e vai ser impossível te entregar qualquer espécie de roteiro.

-Sem problemas, Putzer. – Ele respondeu com a expressão serena de sempre. – Envio oficiais pra assistirem o seu programa na platéia e se assegurarem de que está tudo sob os conformes.

-Sob os conformes é a sua forma de dizer sob censura?

-Não use termos tão fortes, minha jovem. Pense nisso como um simples controle de qualidade.

-Você só pode estar de brincadeira...

-Me preocupo com o que meus cidadãos assistem durante seus momentos de repouso em suas casas. Só isso.

Barbara olhou pro nível de cinismo que o infeliz, na opinião dela, era capaz de alcançar. Ele monopolizava a mídia, fazia o que queria com a comunicação de massa disponível. Não permitia que ela fizesse o mesmo e ainda tratava tudo isso como se aquilo fosse motivo de orgulho. Como se tivesse algo de nobre no que fazia.

-Não tenho paciência pra isso. – Barbara falou ríspida levantando da cadeira em que estava e se preparando pra sair. – Mas eu vou recorrer, pois, você não é a única autoridade em Imperium.

-Pode ser. Mas ainda sou a mais importante. – Ele respondeu enquanto ela pegava a própria bolsa e virava de costas pra ele. – Mas cuidado com a sua audácia, nunca se sabe quando sua emissora pode ser transferida pra Imperium, por exemplo.

-Isso foi uma ameaça? – Ela perguntou olhando-o por cima dos ombros.

-Prefiro enxergar como um simples aviso. – Ele respondeu e isso foi o suficiente pra ela lhe lançar um olhar mortal, e sair da sala em passos furiosos.

Não sabia o que fazer. Não tinha certeza se realmente tinha algo a se fazer. Aquele infeliz não passava de um “déspota” filho da puta que se achava o populista, o que também ele não deixava de ser. Até embalagens de balinha traziam o rosto do maldito.

Saiu da sala passando em passos largos pela sala que a antecedia, tendo seu caminho interrompido por uma voz preocupada.

-Foi tudo bem lá dentro? – Ela olhou pro lado fitando a figura mais nova da família Franchini, ele parecia ligeiramente preocupado, mas ela não pareceu se importar. Aquele não era seu melhor momento.

-Pergunta pro maldito do seu pai garoto. – Barbara respondeu ríspida sem nem esperar que ele respondesse alguma coisa antes de sair em direção ao corredor. Ia fazer alguma coisa quanto aquilo. Qualquer coisa.

Jean ficou olhando ela se afastar com a expressão abobada. O pai não era conhecido por sua gentileza ou benevolência, mas ele também nunca tinha visto alguém sair daquela maneira depois de falar com ele. Que diabos ele teria falado pra deixar alguém como ela tão furiosa?

==

O casal de adolescentes estava deitado embaixo de uma frondosa árvore, na área de lazer durante os poucos minutos que tinham no intervalo das aulas. Olhavam o céu como se esperassem algo, como se algo que não se encaixava fosse de repente, finalmente se encaixar.

-Ás vezes eu queria saber se meus pais estão bem. – Maia começou chamando a atenção do garoto ao lado. – Sei que não devia pensar nisso, mas às vezes sinto falta deles.

-Eu também sinto falta da minha irmã... – Ele murmurou com um peso na voz.

-Mas meus pais são diferentes, eles estão em Mundus... onde eu devia estar também.

Alexis sentou o corpo de repente olhando pra mais nova com um olhar de censura.

-Claro que não devia! Não tinha nem cinco anos quando levaram eles! – Ele reprimiu revoltado.

-Mas ainda assim, segundo a lei eu represento um risco pra sociedade só por estar aqui... tenho potencial pra fazer a mesma coisa que eles fizeram... -

Alexis quis gritar de novo e mostrar que ela estava errada, mas não sabia nem como fazer ou dizer isso. Ela não estava dizendo a pior das asneiras, era só ele que não conseguia vê-la dessa forma.

-Não vou deixar você se tornar uma assassina... – Ele murmurou simplesmente voltando a deitar.

-Eu sei, mas e quanto a você? Tem idéia do que fizeram com a sua irmã?

Alexis deu os ombros ainda no chão. Não gostava nem de lembrar, imagine falar sobre isso.

-Minha mãe garante que o seqüestro dela foi feito por terroristas durante o Purgat. – Ele comentou amargo. – Mas eu sei que é mentira, um dos que a levaram era meu pai. E não tinha como a minha mãe não saber disso.

-Porque seu pai seqüestraria a própria filha? Não é meio estranho isso?

-Estranho? – Ele repetiu com um meio sorriso torto. – Estranho é uma palavra normal pra quem vive em um lugar como o que a gente vive, que por mais que tudo soe tão pacífico. Você sempre sente que há algo errado.

-Tem razão... – A jovem Loren comentou e ambos ouviram o sinal indicando que era pra retornarem a sala.

-Mas se for pra parar e pensar em estranho. – Ele começou levantando e a ajudando a fazer o mesmo. – Também não é muito comum fazer o que seus pais adotivos fizeram por você. Eles sabiam dos seus pais, e sabiam da nova lei.

Mais deu os ombros limpando alguns restos de grama da calça, enquanto Alexis fazia o mesmo.

-Acho que eles queriam uma filha a qualquer custo, mesmo que fosse com o meu sangue ruim.

Alexis até tentou não rir do comentário dela, mas no fim até ela acabou por fazer o mesmo. Rindo das coisas esquisitas na vida de ambos eles seguiram até a sala da próxima aula.

-Cálculo, me mata agora. – Maia brincou se referindo a próxima aula fazendo os dois rirem mais ainda entrando no prédio da instituição de ensino mais respeitada de Imperium.

==

Bruno e Anne não faziam nem questão de esconder a expressão apreensiva, que os dois lançavam a pequena salinha pra qual Bianca tinha acabado de levar o jovem franzino que nunca se comunicava.

-O que acha que ela vai fazer com ele? – Ele perguntou tentando não demonstrar medo na voz.

-Conversar? – Anne tentou procurando se manter positiva naquela situação.

-Eu espero... – Ele murmurou virando o rosto pra fitar a figura da amiga por alguns segundos. – Sabe que ela nem parece tão mais velha que você.

-Acho que talvez ela nem seja. – A jovem respondeu mostrando que já tinha pensado no assunto.

-Como acha que ela conseguiu chegar à classe “A” tão nova?

-Sei lá. – Anne comentou dando os ombros. – Ela é um monstrinho.

Ele riu com o comentário, mas nem foi por muito tempo já que a figura feminina de Bianca voltava com o franzino que agora não fitava mais os próprios pés. O casal até conseguia ver os olhos dele.

-O que você fez? – Anne perguntou curiosa sorrindo ao ver a mudança na postura do rapaz, que agora estava muito mais apresentável.

-Se preocupe com você mesma, classe “D” – Bianca comentou seca como sempre mostrando com as mãos que ela queria que os dois levantassem. – Agora que todos estão com uma postura tolerável vou apresentar a escala do que vamos fazer.

Os três engoliram seco e o casal ainda lançou alguns olhares de rabo de olho pro moreno de olhos castanhos, que agora estava totalmente diferente. É claro sem parar de se perguntar que diabos tinha acontecido dentro daquele quartinho?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá =)

Como vão vocês?

Bom, esse não demorou tanto quanto o ultimo, né? :D

Eu não tenho ninguém pra revisar, e eu meio que tento fazer a revisão sozinha, mas nem sempre consigo fazer com que saia impecável... fui ler um parágrafo agora e encontrei três erros, se isso acontecer com vcs tem toda a liberdade de me avisar q eu volto e arrumo, ok?

Valeu mesmo pelo apoio, reviews e tudo mais =) O apoio de vcs é muito importante com um tema ameaçador como esse D:, ameaçador e um dos mais divertidos tb é claro.

Bjoooo e até o próx e ah, claro, reviews? :D