Entre Mares e Livros escrita por mille_crotti, kat_h


Capítulo 6
Péssima idéia, Percy...


Notas iniciais do capítulo

Oie Gente!
Esse ficou beeem grande, em homenagem à nossa leitora kirchheim que faz aniversário amanhã! Parabéns, felicidades e tudo de bom!

Boa leitura!

Mille e Kat



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A única coisa que tivemos tempo para fazer, foi passar pela porta. Logo após Grover sair por último, um raio acertou o chalé, que explodiu em fogo, lançando-nos pela areia. Fiquei um tempo caído, tudo estava rodando. Bem distante, conseguia ouvir gritos, mas não sabia de quem eram ou o que falavam. A única coisa que eu tinha consciência, era da chuva que caía em meu rosto. Como se fosse um remédio, percebi e comecei a melhorar. As imagens entraram em foco, podia ver Grover gritando por Annabeth, que estava deitada na praia, mas estava acordada, tentando entender o que estava acontecendo.

Minha mãe vinha correndo até mim, dizendo coisas que não estava conseguindo ouvir. Pouco depois, meus ouvidos voltaram a funcionar, infelizmente. O que ouvi a seguir foi assustador. Um grito muito forte, vindo de longe. Mas não era um grito humano. Era um tipo de rugido sobrenatural. Olhei para onde pensei que era a origem do som e em pouco tempo identifiquei: descendo uma colina a uma velocidade impressionante, tinha algo que parecia ter três metros de altura e chifres. Minha mãe olhou para o mesmo lugar e logo depois gritou:

- Vamos para o carro. Agora!

Não hesitamos. Grover correu para o Camaro - mas ele não estava utilizando suas muletas. Estava meio que trotando, mas não fazia caretas ao andar, como geralmente acontecia. Entramos no carro e, antes mesmo de fechar a porta, minha mãe já acelerava pela estrada. Ninguém conseguia falar nada, apenas tentávamos normalizar nossa respiração. Eu estava no banco da frente, observando o ponteiro de velocidade chegar cada vez mais perto dos 160 km/h. Por sorte era madrugada e a estrada estava vazia. Somente depois de 1 hora de viagem, minha mãe desacelerou e relaxou um pouco, voltando para a velocidade permitida, 90Km/h.

- O que foi aquilo? – Ela perguntou. – Percy, tem alguma coisa que você não me contou?

Olhei para meus amigos no banco de trás. Annie me olhava, visivelmente em dúvida se seria sensato contar à minha mãe que nós descobrimos que os Deuses da Mitologia Grega existem, afinal, ela provavelmente pensaria que batemos com a cabeça após a explosão do chalé. Inesperadamente, quem tomou frente da situação foi Grover.

- Percy, sua mãe sabe. Conte a ela o que aconteceu na excursão, conte da Sra. Dodds.

- Ahá! Então você admite que havia uma Sra. Dodds, Grover! Peraí! Como assim? Mãe?

- Quanto menos vocês soubessem menos monstros atrairiam - disse Grover, como se aquilo fosse perfeitamente óbvio. - Nós pusemos a Névoa diante dos olhos humanos. Tínhamos esperanças de que vocês achassem que a Benevolente era uma alucinação. Mas não adiantou. Vocês começaram a perceber quem são.

- Percy... Antes de lhe falar o que já devia ter dito há muito tempo, preciso saber exatamente o que aconteceu na excursão.

É... Confesso que estava bravo. Annabeth me deu olhar de “Pelo visto, só nós não sabíamos”. De Grover, eu já sabia. O Sr. Brunner, depois da conversa que ouvi, tive certeza que também estava envolvido. Mas minha mãe?

Evitando ao máximo não deixar transparecer minha raiva, contei à sobre a excursão, a Sra. Dodds, da conversa que tive com Annie e até da que ouvi de Grover e o Sr. Brunner. Conforme ia falando, ela empalidecia. Arregalou os olhos quando falei que a Sra. Dodds virou uma fúria, e deu um pesado suspiro quando contei que Annie chegou à conclusão de que Deuses existem, e obtivemos a confirmação direto da boca do meu professor.

- Percy, eu... Nem sei por onde começar... – Seus olhos estavam marejados.

- Qual tal por... Só eu e Annabeth não sabermos disso tudo? E os cochichos pelas nossas costas? E o que um ser mitológico queria conosco?

- Percy... – Agora ela estava séria. Eu praticamente gritei minhas palavras e acho, tenho quase certeza, que passei dos limites. – Não lhe contei nada por que achei que podia te proteger. E, sinto muito, mas é melhor você se afastar da Annie, para o bem dela.

- O QUÊ? – Como assim, por um acaso eu era alguém com uma grave doença contagiosa? Annie estava com os olhos marejados, assim como eu. Éramos amigos desde pequenos, na verdade, antes de Grover ela era minha única amiga, e eu era o dela (n/a: uhum... sei ¬¬’). Foi aí que Grover me surpreendeu novamente.

- Na verdade Sally, Annie também é.

Se minha mãe abrisse mais os olhos, eles saltavam para fora das órbitas.

- Mas... Isso é perigoso! Eles praticamente viviam juntos, poderiam ter atraído muito mais monstros! – Ela disse.

- Desculpe, Sra. Jackson, mas.... Eu também sou o que? – Perguntou Annie, abrindo a boca pela primeira vez desde que entramos no carro.

Notei Grover e minha mãe trocando um olhar significativo. Para eles, pois eu não estava entendendo mais nada, assim como Annabeth.

- Sra. Jackson, o que eu e o Percy somos? – Ela repetiu, nitidamente impaciente.

- Annabeth... Você e Percy são... Semideuses.

- O QUÊ? – Perguntei.  Agora era Annie que estava congelada.  Podia sentir meu coração na boca. Eu não sabia o que isso significava, mas no fundo, eu sei que sabia a resposta, apenas não queria acreditar nela.

- Sra. Jackson... Quando você diz que eu e Percy somos semideuses você quer dizer... Filhos de deuses com mortais?

- Sim, Annabeth. Seu pai provavelmente sabia que sua mãe é... Uma Deusa.

- Mãe, espera. Se a mãe da Annie é uma deusa, e você é minha mãe e não é uma deusa, então... O meu pai...

- Sim, Percy, o seu pai é um Deus. Para ser mais específica, o seu pai é...

O estranho rugido ergueu-se novamente em algum lugar atrás de nós, mais perto do que antes. O que quer que estivesse nos perseguindo ainda estava na nossa cola. Ele era rápido.

- Percy - disse minha mãe -, há muito a explicar e não temos tempo suficiente. Precisamos pôr vocês em segurança.

- Em segurança como? Quem está atrás de nós?

- Ah, ninguém importante - disse Grover, sarcástico. Um trovão cortou o céu, e algo me diz que não foi coincidência com o comentário de Grover sobre “ninguém importante” - Apenas o Senhor dos Mortos e alguns dos seus asseclas mais sedentos de sangue.

- Grover!

- Desculpe Sra. Jackson. Poderia dirigir mais depressa, por favor?

Tentei envolver minha mente no que estava acontecendo, mas não consegui. Sabia que aquilo não era um sonho. Eu não tinha imaginação. Jamais poderia sonhar algo tão estranho.

Minha mãe fez uma curva fechada para a esquerda, há muito o marcador havia ultrapassado os 160 Km/h. Desviamos para uma estrada mais estreita, passando com velocidade por casas de fazendas às escuras, colinas cobertas de árvores e placas que diziam “COLHA SEUS PRÓPRIOS MORANGOS” sobre cercas brancas.

Estranhamente, Grover começou os sapatos e depois, mais estranhamente ainda, a retirar as calças.

- GROVER! O QUE ESTÁ FAZENDO? ISSO NÃO É HORA DE FICAR PELADO! – Eu gritei. Annie virou para a janela, com os olhos fechados e as bochechas rosadas murmurando um “Isso é loucura” bem audível.

Quando me virei, claramente irritado, para forçar meu amigo a recolocar as calças, eu travei. De repente sua história sobre um distúrbio muscular nas pernas fez sentido para mim. Entendi como ele podia correr tão depressa e ainda assim mancar quando andava. Porque onde deveria haver pele humana, havia um traseiro peludo e onde deveriam estar seus pés não havia pés. Havia cascos fendidos. Eu olhava para Grover sentado ao lado de Annie, que estava com uma cara enojada, e me perguntava se tinha ficado louco ou se ele estava usando algum tipo de calça felpuda. Mas não, o cheiro era o mesmo que eu lembrava das excursões do jardim-de-infância para o zoológico infantil – lanolina, como o de lã. O cheiro de um animal molhado de estábulo.

- Ahn... o que é você, exatamente?

- Isso não importa neste momento.

- Não importa? Da cintura para baixo, o meu melhor amigo é um burro...

Grover soltou um agudo e gutural:

- Bééééé!

Eu já o tinha ouvido fazer aquele som antes, mas sempre achei que era um riso nervoso. Agora me dava conta de que era mais um berro irritado.

- Bode! - exclamou.

- O quê?

- Eu sou um bode da cintura para baixo.

- Você acaba de dizer que isso não importa.

- Béééé! Alguns sátiros poderiam pisoteá-lo por causa de tamanho insulto!

- Opa. Espere. Sátiros. Você quer dizer como... Os mitos do Sr. Brunner?

- Aquelas velhas que você avistou do ônibus eram um mito, Percy? A Sra. Dodds era um mito? Você mesmo disse que acredita nos deuses! Sua mãe acabou de lhe confirmar que você é um semideus!

Minha mãe puxou o volante com força para a direita e eu tive um vislumbre de um vulto do qual ela se desviara - uma forma escura e ondulada, agora perdida na tempestade atrás de nós.

- O que foi aquilo? - perguntei.

- Estamos quase lá - disse minha mãe ignorando a pergunta. - Mais um quilômetro e meio. Por favor. Por favor. Por favor.

Eu não sabia onde era lá, porém me vi inclinando-me para a frente na expectativa, querendo que chegássemos logo.

Do lado de fora, nada além de chuva e escuridão - o tipo de campos vazios que a gente vê quando vai para o extremo de Long Island. Pensei na Sra. Dodds e no momento em que ela se transformou naquela coisa com dentes pontiagudos e asas de couro.Meu cérebro insistia em não acreditar, mas travava uma séria batalha com uma parte de mim que diza que tudo era verdade e, diga-se de passagem, essa parte estava ganhando.

Então pensei no Sr. Brunner... E na espada que ele jogara para mim. Antes que eu pudesse perguntar a Grover sobre aquilo, os cabelos de minha nunca se arrepiaram. Houve um clarão ofuscante, um Bum! De fazer bater o queixo, e o carro explodiu.

Lembro-me de ter me sentido sem peso, como se estivesse sendo esmagado, frito e lavado com uma mangueira, tudo ao mesmo tempo. Descolei minha testa do vidro da frente, um filete de sangue escorria de meu supercílio – Ai!.

- Percy! - gritou minha mãe.

- Estou bem... Annie? Grover!

- Estamos... Ai! Bem, eu acho – Disse Annie. Grover não me respondeu, isso me deixou preocupado.

Tentei raciocinar. Eu não estava morto, o carro não explodira de verdade. Tínhamos caído em uma vala. As portas do lado do motorista estavam enfiadas na lama. O teto se abrira como uma casca de ovo e a chuva se derramava para dentro.

Relâmpago. Era a única explicação. Tínhamos voado pelos ares, para fora da estrada. Consegui virar o resto para trás, onde havia uma grande massa informe e imóvel.

- Grover!

Ele estava caído de lado, com sangue escorrendo do canto da boca. Sacudi seu quadril peludo, pensando: Não! Mesmo que você seja metade animal de quintal, ainda é meu melhor amigo, e não quero que morra!

Então ele gemeu:

- Comida - e eu soube que havia esperança. Annie revirou os olhos. Minha mãe e eu, rimos.

- Percy - disse minha mãe -, temos de... - Ela titubeou.

Olhei para trás. Num clarão de relâmpago, através do pára-brisa traseiro salpicado de lama, vi um vulto andando pesadamente na nossa direção no acostamento da estrada. Aquela visão fez minha pele formigar. Era a silhueta de um sujeito enorme, como um jogador de futebol americano. Parecia estar segurando uma manta por cima da cabeça. A metade superior dele era volumosa e indistinta. As mãos erguidas davam a impressão de que ele tinha chifres.

Engoli em seco.

- Quem é...

- Gente - disse minha mãe, extremamente séria. - saiam do carro.

Ela se jogou contra a porta do lado do motorista. Estava emperrada na lama. Tentei a minha. Emperrada também. Desesperadamente, ergui os olhos para o buraco no teto. Poderia ser uma saída, mas as bordas estavam chiando e fumegando.

- Saia pelo lado do passageiro! - disse minha mãe. - Percy, você e Annie têm de correr. Está vendo aquela árvore grande?

- O quê?

Outro clarão de relâmpago e pelo buraco fumegante no teto eu vi a árvore a que ela se referia: um enorme pinheiro, do tamanho de uma arvore de Natal da Casa Branca, no topo da colina mais próxima.

- Aquele é o limite da propriedade - disse minha mãe. - Passem daquela colina e verão uma grande casa de fazenda no fundo do vale. Corram e não olhem para trás. Gritem por ajuda. Não parem enquanto não chegarem à porta.

- Mamãe, você também vem.

O rosto dela estava pálido, os olhos tristes como quando ela olhava para o oceano.

- Não! - gritei. - Você vem comigo. Ajude-me a carregar o Grover.

- Comida! - gemeu Grover, um pouco mais alto.

O homem com a manta na cabeça continuou vindo em nossa direção, grunhindo e bufando. Quando ele chegou mais perto, percebi que não podia estar segurando uma manta acima da cabeça porque as mãos - enormes e carnudas - balançavam ao seu lado. Não havia manta nenhuma. O que queria dizer que a massa volumosa e indistinta que era grande demais para ser sua cabeça... era a sua cabeça. E as pontas que pareciam chifres...

- Ele não me quer - disse minha mãe. - Ele quer vocês. Além disso, não posso ultrapassar o limite da propriedade.

- Mas...

- Não temos tempo, Percy. Vá. Por favor.

Então fiquei zangado - zangado com a minha mãe, com Grover, o bode, até com Annie, que não conseguia falar, com a coisa chifruda que se movia pesadamente em nossa direção, de modo lento e calculado como... como um touro.

Passei por cima de Grover e empurrei a porta, que se abriu para chuva.

- Nós vamos juntos. Venha, mãe.

- Eu já disse que...

- Mamãe! Eu não vou abandonar você. Ajuda aqui com Grover. Vamos Annie!

Não esperei pela resposta dela. Eu me arrastei para fora do carro, puxando Grover comigo. Ele era surpreendentemente leve, mas eu não poderia tê-lo carregado para muito longe se minha mãe não tivesse ido me ajudar. Annie parecia um zumbi, ao falava, apenas se movia. Juntos, eu e minha mãe pusemos os braços de Grover em nossos ombros e começamos a subir a colina aos tropeções, com o capim molhado na altura de cintura.

Ao olhar relance para trás, tive minha primeira visão clara do monstro. Tinha, fácil, mais de dois metros, e os braços e pernas pareciam algo saído da capa da revista Músculos - bíceps e tríceps saltados e mais um monte de outros ceps, todos estufados como bolas de beisebol embaixo de uma pele cheia de veias. Ele não usava roupas, a não ser cuecas - branquíssimas, da marca Fruit of the Loom -, o que teria sido engraçado não fosse o fato de a parte superior de seu corpo ser tão assustadora. Pêlos marrons e grossos começaram na altura do umbigo e iam ficando mais espessos à medida que chegavam aos ombros.

Seu pescoço era uma massa de músculos e pêlos que levavam à enorme cabeça, que tinha um focinho tão comprido quanto meu braço, narinas imundas com um reluzente anel de bronze, olhos pretos cruéis e chifres - enormes chifres preto-e-branco com pontas que você não conseguiria fazer nem num apontador elétrico.

- Aquele é...

- O filho de Pasífae - disse minha mãe. - Gostaria de ter sabido antes o quanto desejaram matar vocês.

- Mas ele é o Mino...

- Não pronuncie o nome - advertiu ela. - Os nomes têm poder.

O pinheiro ainda estava longe demais - pelo menos cem metros colina acima.

Dei outra olhada para trás.

O homem-touro se curvou por cima de nosso carro, olhando pelas janelas - ou não exatamente olhando. Era mais como farejar, fuçar. Eu não sabia muito bem por que ele se dava a esse trabalho, já que estávamos a apenas quinze metros de distancia.

- Comida? - gemeu Grover.

- Shhh - fiz eu. - Mamãe, o que ele está fazendo? Não está nos vendo?

- Sua visão e sua audição são péssimas - disse ela. - Ele se orienta pelo cheiro. Mas vai perceber onde estamos logo, logo.

Como que na deixa, o homem-touro bramiu de raiva. Ele agarrou o Camaro de Gabe pela capota rasgada, o chassi rangia e gemia. Ergueu o carro acima da cabeça e atirou-o na estrada. Aquilo se chocou contra o asfalto molhado e deslizou em meio a um chuveiro de fagulhas por cerca de quinhentos metros antes de parar. O tanque de gasolina explodiu.

- Percy - disse minha mãe. - Quando ele nos vir, vai atacar. Espere até o último segundo, depois saia do caminho. Ele não consegue mudar de direção muito bem quando já está atacando. Você entendeu?

- Como você sabe tudo isso?

- Estou preocupada com um ataque há muito tempo. Devia ter esperado por isso. Fui egoísta, mantendo você perto de mim. Seu pai também, Annabeth. Fomos muito egoístas.

Minha amiga revirou os olhos. Não sei como, mas sabia que ela estava pensando que devia ser por isso que o pai não lhe abandonara antes, iria se sentir culpado se fosse morta por algum monstro. Virei para minha mãe.

- Mantendo-me perto de você? Mas...

Outro bramido de raiva e o homem-touro começou a subir pesadamente a colina.

Tinha nos farejado.

O pinheiro estava a apenas mais alguns metros, mas a colina era cada vez mais íngreme e escorregadia, e Grover ficava mais pesado.

O homem-touro se aproximava. Mas alguns segundos e estaria em cima de nós.

Minha mãe devia estar exausta, mas carregou Grover.

- Vá, Percy! Vá sozinho! Lembre-se do que eu disse.

Eu não queria me separar, mas tive a sensação de que ela estava certa - era nossa única chance. Pulei para esquerda, virei-me e vi a criatura avançando em minha direção. Os olhos pretos brilhavam de ódio. Fedia a carne podre.

Ele inclinou a cabeça e atacou, aqueles chifres afiados como navalhas apontados diretamente para o meu peito.

O medo no meu estômago me deu vontade de disparar, mas isso não daria certo. Eu jamais poderia correr mais que aquela coisa. Então fiquei parado e, no último momento, saltei para o lado.

O homem-touro passou por mim a toda como um trem de carga, depois bramiu de frustração e se virou, mas dessa vez não contra mim, mas contra minha mãe e Annie, que estavam acomodando Grover sobre a grama.

Tínhamos chegado ao topo da colina. Embaixo, do outro lado, pude ver um vale, bem como minha mãe dissera, e as luzes de uma casa de fazenda tremeluzindo amarelas através da chuva. Mas estava a oitocentos metros de distancia. Nunca conseguiríamos chegar lá.

O homem-touro roncou, escavando o chão. Ficou olhando para minha mãe, que recuava lentamente colina abaixo, de volta para estrada, tentando afastar o monstro de Grover e Annie.

- Corra, Percy! - disse ela. - Não posso passar daqui. Corra!

Mas fiquei lá parado, paralisado de medo, enquanto o monstro a atacava. Ela tentou sair de lado, como me dissera para fazer, mas o monstro tinha aprendido a lição. Jogou a mão para frente e agarrou-lhe o pescoço quanto ela tentou escapar. Ele a ergueu enquanto ela lutava, chutando e dando murros no ar.

- Mamãe!

Então, com um rugido furioso, o monstro fechou os punhos em volta do pescoço da minha mãe e ela se dissolveu diante dos meus olhos, fundindo-se em luz, uma forma dourada tremeluzente, como uma projeção holográfica. Um clarão ofuscante, e ela simplesmente... se foi.

- Não!- Meus olhos marejaram. Uma lágrima teimosa escorreu por meu rosto. Annie estava estupefata, e chorava ao mesmo tempo em que tentava arrastar Grover pela colina.

A raiva substituiu o medo. Uma nova força ardeu em meus membros - a mesma onda de energia que me veio quando a Sra. Dodds mostrou as garras. Aconteceu o mesmo com Annie, pois seus olhos estavam cinza escuro, seu semblante era sério e de repente ela conseguira erguer Grover, levando-o pela colina, mas ainda de olho em minha luta com o Minotauro.

O homem-touro foi na direção deles, Annie parecia uma estátua viva, não dava nem para ver se ela estava respirando. O monstro se curvou, fungando meus melhores amigos como se estivesse prestes a erguê-los dali e fazê-los se dissolverem também.

Eu não podia permitir aquilo. Tirei meu agasalho vermelho.

- Ei! - gritei, agitando a blusa e correndo para um lado do monstro. - Ei, estúpido! Monte de carne moída!

- Raaaarrrrr ! - O monstro virou-se para mim sacudindo seus punhos carnudos. Péssima idéia, Percy, péssima idéia.

Eu tive uma idéia - uma idéia péssima, já falei isso? Porém melhor do que não pensar em nada. Encostei as costas no grande pinheiro e agitei a capa vermelha na frente do homem-touro, pensando em pular fora do caminho no último momento.

Mas não foi assim que aconteceu.

O homem-touro atacou depressa demais, os braços estendidos para me agarrar qualquer que fosse o lado para onde eu tentasse me esquivar.

O tempo começou a passar mais devagar.

Minhas pernas travaram. Eu não podia pular para o lado, assim saltei direto para cima, usando a cabeça da criatura como trampolim, girei o corpo no ar e caí sobre seu pescoço.

Como eu fiz aquilo? Não tive tempo para descobrir. Um milissegundo depois a cabeça do monstro chocou-se contra a árvore e o impacto quase fez meus dentes saltarem da boca.

O homem-touro cambaleou de um lado para outro tentando se livrar de mim. Segurei com força em seus chifres para não ser arremessado. Os trovões e os relâmpagos ficavam mais fortes. A chuva caia em meus olhos. O cheiro de carne podre queimava minhas narinas. Annie tentava acertar o animal com galhos que encontrava pelo caminho, mas ele nem parecia sentir.

O monstro se sacudia e corcoveava como um touro de rodeio. Poderia simplesmente ter chegado para trás e me esmagado completamente na árvore, mas eu começava a perceber que aquela coisa só tinha uma direção: para frente. Annie percebeu o mesmo, pois logo depois gritou:

- Percy, ele só vai para frente, mete a cabeça dele na árvore!

Fiz isso. Agarrei os chifres do monstro e o forcei a ir para frente. Estava utilizando toda a força que eu tinha, até que... pléc! Um dos chifres havia quebrado, e eu caí para frente enquanto o homem-touro berrava e recuava.

- E agora Annabeth? Não deu certo!

- Percy, espera ele vim pra cima de você e espeta a barriga com o chifre!

- O QUE? FICOU MALUCA?

O Minotauro havia se recuperado. Em seus olhos, um brilho assassino. Ferrou. Era nosso fim.

- VAI ALGAS! Tem alguma idéia melhor?

- Mas...

- AGORA!

Ele estava vindo em minha direção. Esperei ele se aproximar mais, até quase me alcançar com suas enormes mãos. Então, fiz a maior loucura da minha vida. Saí correndo em direção à ele e me joguei no chão, derrapando. Só sei que estiquei os braços, com o chifre apontado para cima, e alguns segundos depois a fera soltou um grunhido que tenho certeza que poderia ter sido ouvido até New York. Quando olhei para cima. Vi que o chifre estava inteiro dentro da barriga do monstro. Ao lado do chifre, havia um galho saindo de dentro do peito da besta, que explodiu em pó dourado. Foi aí que vi que enquanto eu atacava pela frente com o chifre, ela foi por trás com o galho de árvore.

Annie disse “Conseguimos!” e me abraçou. Eu ouvi gritos. Vi vultos se aproximando, um deles parecia pertencer a um cavalo.

E tudo ficou negro, na mais perfeita paz.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?

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Amou? -> Review
Não gostou? -> Review
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Achou mais que perfeito? -> Review + recomendação

Beijinhos!

Mille e Kat