O Coração no Lugar

Enquanto tomava o café da manhã, Sirius sentia o peso da decisão que tomara cair sobre seus ombros. Não se arrependera de desobedecer quase doze regulamentos da escola para levar Marlene para ver as estrelas naquela noite, mas de uma coisa certamente sim. Não queria ter confessado daquela forma tão abrupta o que sentia por ela, muito menos pressioná-la para que parasse de pensar em Michael Hyde. Isso foi mesquinho e egoísta, pensou enquanto cortava o bacon. Não estava escutando quando Remus chegou dizendo que tinha novidades, muito menos quando James gritou com ele pela falta de consideração por não escutar o que Remus tinha para dizer.

- Eu já volto. - soltou de repente, erguendo-se determinado e olhando para a mesa da Lufa - Lufa. A parte detrás da cabeça de Michael estava bem visível, e os cabelos louros chacoalhavam conforme ele ria com os amigos. Tentando conter o ressentimento que estava sentindo, respirou fundo e começou a andar. Já estava na metade do caminho e quase acabando de repassar mentalmente o discurso que faria sobre os sentimentos de Marlene quando a própria apareceu no seu caminho, o encarando seriamente.

- Posso conversar com você? - perguntou timidamente. Sirius franziu a testa, mas a acompanhou para fora do salão. Marlene foi até um dos nichos na parede que dava para os jardins, e pediu que ele sentasse ao seu lado com uma batida no assento.

- Michael está ali, prontinho. - Sirius simulou animação, sorrindo desajeitadamente.

- Eu não quero que você vá dizer nada a ele.

- Porque? Não foi pra isso que treinamos?

- Foi, mas já não tenho mais tanta certeza de que é ele que eu quero.

Sirius sentiu como se alguém tivesse pego todos os melhores sentimentos do mundo, engarrafado e injetado dentro dele. O rosto de Marlene parecia confiante, e isso o estimulou a limpar a garganta e se aproximar um pouco mais dela. Quando estavam a centímetros de distância, começou:

- Lene, sobre aquela noite...

- Sim. - completou ela, como tivesse lido os pensamentos de Sirius. Ele sorriu, ia perguntar se tinha sido aquilo que a fizera mudar de ideia. Marlene corou um pouco e colocou uma mecha dos cabelos atrás da orelha. - Eu não estou certa sobre meus sentimentos. Estou confusa, você é um canalha.

- Você está certa, eu sou um canalha. Esqueceu de dizer cachorro, idiota e, principalmente, louco por você. Lene, eu não me sinto assim por ninguém. Você é a garota mais impressionante que eu conheço, e eu conheço muitas.

- Esse é o problema. Você conhece muitas.

- Eu sei, mas me deixa explicar. Eu nunca achei alguém que fosse corajosa, determinada, linda, inteligente, sexy e companheira como você. Você é forte e poderosa, não sei como consegue, mas é. Isso me fascina, me conquista, sei lá. Quando eu disse que queria você não estava brincando. E não é só pra dar uns amassos, é pra valer.

- Sirius...

- Você tá entendendo? - Sirius pegou as duas mãos de Marlene nas suas, olhando a garota diretamente nos olhos. - Se você está confusa eu entendo, mas eu precisava te dizer como eu me sinto. Pode pensar o tempo que quiser, não vai fazer diferença.

- Você não vai conseguir esperar.

- Eu não paro de pensar em você, droga! - Sirius se exaltou, revirando os olhos. - Eu sonho com você, eu sinto o seu perfume, eu penso a todo momento, as estrelas me fazem lembrar de você. James está puto comigo porque não escuto mais o que ele diz, Remus acha que fiquei louco. Até Peter já disse que eu estou com cara de imbecil. OLHA QUEM ME CHAMA DE IMBECIL. E é tudo culpa sua. Sua, desse seu jeito, dessa sua atitude. Desse seu corpo, também.

Marlene sentiu as bochechas esquentarem perigosamente à menção de seu corpo, e Sirius se levantou.

- Se você me quiser tanto quanto eu quero você, me procure.

E foi embora.