Ultimato

As notícias nos jornais eram péssimas, mais uma família de bruxos era encontrada morta naquela semana, e trouxas desapareciam por atacado sem explicação, intrigando tanto a polícia trouxa quanto os aurores, que já não sabiam o que fazer. O clima de tensão se alastrava pela escola, e os filhos do casal encontrado morto na sala de estar haviam sido retirados no meio das aulas do quarto e sexto ano para serem avisados. No começo do jantar daquela noite não havia alegria ou diversão, e sim uma nuvem de ansiedade e curiosidade, que tendia a se alastrar pelo restante do mês. James e os outros esperavam por Remus e Lily, que como monitores estavam ajudando o filho grifinório do casal morto a arrumar suas coisas. Ninguém ousava tocar na comida, e James não paravae de limpar o suor que se acumulava na palma de suas mãos.

Quase meia hora se passou até que ambos chegassem, Remus tão pálido quanto as velas que iluminavam o lúgubre salão, e Lily com os olhos levemente vermelhos. Ambos se sentaram pesadamente nos bancos, e assim que se viu escondida do foco das atenções, Lily escondeu o rosto nas mãos e começou a chorar.

- Hey, ruiva, respira, não dá pra ceder assim. - Sirius, o mais próximo, a abraçou e acariciou seus cabelos de leve, tentando fazê-la parar.

- Porque tem que ser assim? - Lily perguntou entre os braços do moreno, e Sirius suspirou com pesar antes de dizer.

- Enquanto esse louco estiver por aí, sempre será assim. O que nós podemos fazer é lutar, não chorar. Chorar não vai trazer os pais deles de volta, Lil.

- E-eu sei. - soluçou ela, limpando os olhos com delicadeza. Sirius conjurou um copo com água e entregou a ela, ainda consolando-a.

- Talvez Dumbledore diga alguma coisa.

- Ele tem que dizer, não dá pra ignorar. - Remus falou num tom de sussurro. Dorcas, que pulara para o lado dele, segurava sua mão com força e acariciava seus cabelos. - Estamos falando de morte, é forte demais.

O jantar surgiu diante, deles, mas quase ninguém tocou na comida. Vendo a ausência de som vindo dos alunos, Albus Dumbledore chamou a atenção de todos, e com os olhos brilhando mais do que nunca, se ergueu.

- Eu estava esperando o jantar acabar para poder dizer o que é preciso, mas acho que diante das circunstâncias, vou começar agora. Hoje, como há muitas semanas vem acontecendo, perdemos irmãos. Desde o ínicio somos todos iguais, todos viemos e acabaremos nos mesmos lugares, seja como for, e isso nos faz unidos por um laço que nem a mais poderosa força pode destruir: a vida. Todos vocês sentiram isso, mesmo sem saber o que é, pois vejo muitos que nem conhecem os pobres adolescentes que perderam a família chorando pela sombra de uma poderosa força que ameaça a nós e a nossa segurança. Porém, quero que cada um de vocês abram os seus corações e pensem, nesse instante, naqueles que amam. É esse amor que irá combater as trevas. Enquanto houver aquele que ame, haverá aquele que lute. Tenham na memória esse dia como o primeiro de tempos muito difíceis que estão por vir, mas também pensem que não há mais tempo para deixar os sentimentos de lado. A morte de mais um de nós não deve significar uma sombra, e sim um passo para a esperança de que um dia nós construiremos um mundo melhor. Obrigado.

A salva de palmas que se seguiu não foi ouvida por James, que encarava o próprio colo com obstinação. Durante o discurso de Dumbledore, não conseguia parar de olhar para Lily, as lágrimas de compaixão ainda secando em sua pele. Ela era doce, meiga e delicada, mas também era forte e corajosa. Era capaz de chorar, mas era capaz de lutar. Ainda assim, James queria protegê-la. Queria estar sempre ao seu lado, ser seu apoio, guardá-la nos piores tempos. Ao fim do discurso de Dumbledore, a vontade de comer aumentou um pouco junto da esperança que as palavras do diretor traziam, e James respirou fundo. Iria dar o ultimato.

Em silêncio, todos se levantaram no fim da janta e começaram a seguir em direção aos dormitórios, e quando percebeu que Lily andava mais devagar que os outros, James correu até ela e a cutucou nas costas.

- Hey, eu preciso falar uma coisa pra você.

- Sim? - ambos se afastaram até um canto sem pessoas andando, e James olhou sério para Lily antes de dizer:

- Eu vim te fazer a pergunta definitiva: você quer sair comigo? Esse discurso me fez pensar em muitas coisas, Lily, e uma delas é o tempo que perdemos nessa brincadeira infantil de irritar você e te chamar pra sair sem propósito. Eu cresci, e quero que saiba que quem está te chamando para sair agora é um cara de decidiu ser alguém, e que quer você para crescer com ele. Quero proteger você, cuidar de você e amar você para o resto da mina vida, Lily Evans, só cabe a você me dizer se quer ou não. Eu prometo ser o melhor namorado que você puder imaginar, prometo estar ao seu lado em todas as lutas, prometo ser o mais fiel, prometo nunca mais te incomodar com coisas ridículas, prometo te amar até que você me mande parar. Sai comigo?

- Eu também percebi algumas coisas com tudo o que aconteceu hoje. - Lily tremeu um pouco ao lembrar da expressão do menino que ajudara a se vestir para o funeral de seus pais naquela tarde. - E a maior delas é que eu não tinha o direito de te chamar de infantil, quando eu mesma agi como uma idiota por muitas vezes com você. Você foi o único que sempre confiou em mim, me ajudou em duelos mesmo eu sendo grossa com você, me consolou mesmo sem eu te dizer o que estava sentindo. Sabe, Potter, já fiz muita coisa errada na vida, e posso admitir que te julguei errado. Hoje eu percebi que não dá pra perder tempo, e acho que já perdemos bastante. Minha resposta hoje é sim.

James podia ter dado saltinhos pelo corredor quando os lábios de Lily encostaram nos seus, mas ao invés disso expressou sua felicidade abraçando a ruiva com força enquanto acariciava seu rosto, sem acreditar que tinha Lily Evans nos braços. Nunca tivera tanta certeza de que poderiam vencer o tal "Lord Voldemort" que os jornais vinham falando, e mais que tudo, nunca tivera tanta certeza de que a mulher de sua vida estava ali, na sua frente.