... And He Got Married escrita por Nebbia


Capítulo 1
God Save The Queen


Notas iniciais do capítulo

Fiquei em dúvida quanto à classificação da fic =.='



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 E lá estava eu, ocupando um dos lugares mais próximos do altar da Abadia de Westminster. Ainda segurava o convite em minhas mãos.

 Desde que o recebi, não o perdi de vista nem um minuto. Era meu ingresso para o evento. E o próprio convite era lindo.

 Um envelope cor de creme, de papel Offset Telado com cada única letra folheada em ouro em uma imitação – Ou quem sabe não? – de letras manuscritas. Selada em cera quente cor de vinho, onde foram gravadas as iniciais dos noivos, em ricos detalhes.

 O convite em si era um papel liso, mas grosso, da mesma cor do envelope, com enfeites em dourado nas bordas e letras negras em fonte Georgia, exceto quando mencionava os noivos ou suas famílias. Aí, a letra manuscrita voltava.

 Eu reparei nisso tudo.

 Fiquei durante meia hora tentando convencer-me de que era real.

 E agora estou aqui, a poucos centímetros das famílias dos noivos. Já nos cumprimentamos, trocamos algumas palavras e agora apenas esperamos pelo momento que todos os outros convidados aguardam.

 À minha esquerda está Londres. Não sabia que ele havia sido convidado, mas, se pensar bem, era óbvio. E é fácil reconhecê-lo.

 Físicamente, ele é uma réplica minha. Mais ou menos. Quase. Temos a mesma altura – quem sabe ele seja apenas um pouco mais alto que eu -, seus olhos são verdes – Os dele de uma cor um pouco mais viva, mas são detalhes – e seu cabelo tem o mesmo corte do meu, mas é de um negro tão denso que nunca vi na vida – Prefiro a cor do meu, ainda assim -. Para qualquer ocasião, o que inclui esta, veste roupas sóbrias e escuras e nunca dispensa seu sobretudo preto – que me lembra um bocado Sherlock Holmes -. Às vezes, o vejo usando um chapéu preto que é fácilmente confundido com seu cabelo.

 E sempre tem um guarda-chuva que pendura no braço quando não chove. Sempre usa “por precaução”, segundo suas próprias palavras. Metereologistas não devem existir para ele.

 Olhando-o naquele momento, não consigo saber o que sente. Tem sempre uma expressão séria, distante, no rosto. Não gosto dele. Se bem que, quando fica bêbado ou acha algum assunto interessante, acaba por virar uma pessoa mais suportável. O problema é que bebe pouco em público e quase nada lhe agrada.

 Avistei um cameraman do outro lado da abadia.

 Tinha certeza de que haviam mais. Hoje, o mundo inteiro olhava para mim. O mundo inteiro olhava para a Inglaterra.

 E eu não consigo descrever o que sinto perante este fato.

 Por um dia, pelo menos, consegui voltar a tornar-me o Centro do Mundo como era épocas atrás.

 Talvez não do mesmo modo; infelizmente, tenho completa ciência de que não voltarei a ser o mesmo de antes, mas tenho razões o suficiente para ficar feliz.

 E é o MEU príncipe quem está se casando, afinal. Ninguém liga para o casamento de um presidente... Se é que existe. Nunca vi um. Já são eleitos no “pacote completo”: Velhos e de família pronta.

 Aliás, penso se Alfred está assistindo...

 Quando perguntei-lhe, disse, levemente irritado, que tinha outras coisas para fazer.

 América realmente nunca deixou de ser um pirralho. Consigo muito bem compará-lo com um filhote de Labrador, daqueles energéticos que, quando não conseguem a atenção e carinho de que necessitam, ficam irritando até o Diabo para recebê-los.

 Hoje é minha vez de receber atenção, e ele fica rosnando para mim e mordendo a minha perna. Estadunidente mal-acostumado metido à besta.

 Mas ele deve estar assistindo, sim. Amuado, devorando um pote de sorvete e deitado em alguma posição impossível no sofá.

 Sorri ao imaginá-lo desse jeito.

 Poucas pessoas falavam, mas, com a grandeza da abadia, suas vozes se espalhavam por todo o local e dava a impressão de que um debate estava ocorrendo lá. Mas logo, tudo parou.

 Inclinei-me sobre o balcão de madeira. Conseguia ver, ainda longe, o príncipe caminhando junto do pai rumo ao altar.

 Concentrei-me tanto que apenas notei que uma música tocava um pouco mais tarde, quando eles já haviam passado por mim. A abadia toda cantava junto, uma característica marcante da religião Anglicana.

 O padre, porém, ainda não estava ali. Apareceria apenas quando a noiva também entrasse. Os dois bispos que também participarão do casamento aguardavam-na na porta da abadia.

 Silêncio mortal. Por poucos minutos que pareciam ser horas.

 Todos foram despertados por mais uma música. Era quase a mesma da entrada do noivo, porém com a presença de mais alguns instrumentos que tornaram-na mais triunfal. Podia ouvir um órgão.

 Novamente, inclinei-me. Desta vez, consegui ver pelo canto do olho que Londres também teve curiosidade o suficiente para querer ver o quanto antes como estava Kate. Levei as costas um pouco para trás para não atrapalhá-lo.

 Seu rosto estava coberto por um grande véu que saía de uma pequena coroa cujas jóias brilhavam com a luz que penetrava os vitrais da abadia. Seu vestido era um dos mais belos que vi de todos os casamentos reais; um tecido simples que se assemelhava à seda, com rendas na parte dos ombros e braços. Ao todo, era bem fechado, com apenas um fino decote que não chegava a ser considerado obsceno.

 Mas era lindo.

 Olhei para o londrino, procurando uma confirmação de minha opnião.

 Seus olhos examinavam minusciosamente a noiva, de cima para baixo, e eu pude notá-los um pouco mais abertos que o normal, levemente impressionados.

 Traduzindo, o vestido estava realmente bom.

 No altar, o padre - mais bem vestido que o próprio Papa -, surgiu. Kate já passava ao nosso lado, seu buquê discreto como o próprio vestido.

 As flores tinham um significado especial. Deviam ser aquelas, e apenas aquelas, as usadas pelas princesas em seus casamentos. Foram plantadas por uma das rainhas inglesas ainda no século XIX, e desde então são colhidas e usadas para os buquês de todas as princesas que se seguiram.

 Nossos casamentos sempre foram cheios de tradições. Essa é uma das razões de América sempre me chamar de velho. Mas eu me orgulho delas.

 Após algumas palavras do padre, foi feito o juramento por parte de ambos os noivos. A velha história do “Eu aceito obedecê-lo/a na alegria e na tristeza...”, seguido da aliança que William, com certa dificuldade e nervosismo, conseguiu colocar no dedo da futura mulher, e mais umas palavras do Bispo de Londres.

 Foi relativamente rápido.

 Seguiu-se mais uma música acompanhada de um coral, depois o estridente som dos trompetes, que acordaram-me de meu quase-sono.

 Eram cinco homens da guarda real em um terraço que ficava no andar superior da abadia, perto do altar. Em seus instrumentos estava pendurada a bandeira britânica e todos sabiam o que significava.

 Fechei os olhos.

God save our gracious Queen,

 Long live our noble Queen...

 Respirei fundo.

God save the Queen!

 Que raios eu sentia no momento, afinal?

Send her victorious,

 Happy and glorious,

Long reign over us...

 Ouvia meus filhos cantarem com gosto, com orgulho...

 God save the Queen!

 ... De seu país.

O lord God arise,

 Scatter our enemies...

 Eu sentia as câmeras perto de mim. Canais do mundo todo. Sites do mundo todo. Olhando, assistindo, acompanhando...

And make them fall!

 ... A Inglaterra.

Confound their knavish tricks,

 Confuse their politics,

 On you our hopes we fix...

 Limpei uma maldita lágrima que ousou escorrer.

God save the Queen!

-X-

 À nossa frente, a carruagem com os noivos finalmente zarpou. A nossa foi alguns minutos depois.

 Nossa: Estavam eu, Londres e os irmãos dos noivos.

 O londrino olhava para o povo pensativamente, como sempre. Eu também olhava. Os civis festejavam como loucos, sacudindo bandeiras do Reino Unido e Escócia. Cheguei até a ver uma canadense, mas não entendi o sentido dela lá.

 “ Lindo, não é?”

 Assustei-me com o comentário de Londres. Estava em um tipo de estado de meditação...

 Assenti com a cabeça. A festa do povo sob enormes bandeiras de nosso país hasteando presas a mastros era algo que não víamos todo o dia. E eu adorava ver.

 E foi assim até chegarmos ao Palácio de Buckingham.

- X –

 Terraço de Buckingham.

 Boa parte dos telhados da cidade podiam ser vistos dali.

 E eu amava aquela cidade... Ao mesmo tempo, dava-se tristeza, vez ou outra.

 Toda a minha glória de anos passados ainda estava presente lá.

 Foi ali que William e Kate beijaram-se duas vezes, em meio a acenos ao povo, que assistia do outro lado do portão.

 Debrucei-me sobre a bancada, satisfeito. A guarda montada mantinha ordem na população enquanto blocos de guardas reais em seus típicos trajes rubros marchavam rumo ao Palácio.

 Era como voltar no tempo.....

 Meus olhos começaram a arder. Sorri, curvando-me e discretamente limpando-os com a manga do uniforme. Voltei-me para o povo novamente, mas meu rosto deveria estar avermelhado o bastante para mostrar o que eu quis esconder.

 Senti uma vibração no bolso esquerdo da minha calça e quase tive um sobressalto. Era o maldito celular cujo modo Vibração esqueci de desligar.

 Peguei o aparelho e chequei a mensagem que me mandaram.

Bloody American...

- X –

 Não fiquei para a festa, embora fosse um dos 600 convidados que passaram pela peneira dos outros mil e tantos presentes na abadia. Estava cansado e tudo o que queria era ir para casa e desabar na cama. Depois de uns minutos, despedi-me de Londres e ouvi-o murmurar alguma indireta contra mim, mas não ouvi o que era. Senti o peso de seu olhar seguir-me até perder-me de vista. Saí do terraço, parando apenas para conversar com minha Rainha, Elizabeth – na verdade, foi ela quem me abordou -.

 Sentia um profundo respeito por aquela mulher...

 Chegando em casa, coloquei a chave na fechadura e girei a maçaneta. Tirei o quepe e coloquei no mansebo, depois olhei para a sala.

 Damn. Bloody. American.

 “ Night, Iggy!”, ele logo levantou-se de MEU sofá, colocando a lata de Coca-Cola que segurava na mesinha à frente dele e indo em minha direção, lançando-me um sorriso maroto cujo significado eu não entendi muito bem. Mas ele sempre teve aquele sorriso.

 “ Oi...”, respondi sem muito entusiasmo, empurrando o peito daquele americano que insistia em tentar chegar mais perto de mim, “ Preciso ir para o quarto me trocar... Se puder... Fazer o favor...”

 Com dificuldades, passei por baixo de seu braço e caminhei com passos apressados até meu quarto. Ouvi Alfred seguir-me na mesma velocidade. Idiota.

 Entrei e fechei a porta atrás de mim, mas ele segurou e entrou também. Fechou a porta, e o quarto ficou na penumbra, exceto pela luz da lua que entrava pela janela aberta.

 Apoiei-me nela, observando a paisagem. Tinha uma ótima vista do Big Ben dali. Adorava vê-lo de noite, principalmente na lua cheia.

 América imitou-me e ficamos a ver Londres lado a lado, em silêncio. Ainda conseguíamos escutar o povo gritando de euforia e alguns carros passeando pelas ruas, alheios ao acontecimento ou com outros compromissos.

 Afastei-me da janela.

 “ Alfred... Preciso me trocar. E demora até eu entender como tirar essa roupa, então, se quiser fazer o favor...”

 Ele não me deixou terminar a frase. Rapidamente tirou a própria camisa e empurrou-me para a cama, ficando de quatro por cima de mim.

 “ Quer ajuda?”

 Dei uma curta risada de deboche. Ele nunca havia visto aquele tipo de roupa na vida. Não saberia como tirar aquilo direito.

 “ Duvido que saiba como tirá-lo, Alf...”               

 Ele lançou-me um olhar determinado e seu típico sorriso travesso, dando a entender que aceitara o desafio. Rapidamente, começou a deslizar as mãos ágeis pelo meu uniforme.

 “ Eu fico por cima.”

 “ Você está cheio de si hoje, hein?”

 Como se ele não ficasse todo o dia...

 “ Cale a boca e continue tentando, idiota.”

 “ Tudo bem. Vou ser bonzinho e te dar esse privilégio, hoje.”

 Recostei a cabeça no travesseiro, observando o Big Ben que apresentava-se à minha janela.

 E sorri, satisfeito.


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Notas finais do capítulo

Não resisti e botei meu OC no meio 8D /shot Vocês não sabem o quanto demorou para eu achar o tipo de papel do qual eu estava falando no convite a_a' E eu criei o design dele. Mesmo sendo uma pessoa importante, não recebi convite, não uu'