Depois de uma hora e meia andando, minhas pernas doíam, parecia que eu tinha tomado uma surra, só nas pernas. Mas de longe, avistei uma estrada de terra. Graças a Deus! Eu teria que andar só mais aquela estrada e depois chegaria a região onde ficavam vários sítios. E o melhor era que o de minha avó era o segundo...Atravessei a rua e quando pus meus pés na estrada de terra ouvi uma buzina muito próxima. Olhei para trás e era Jasen, naquele momento senti um alivio tão grande... Meu amor veio me buscar... Ele começou a andar com o carro lentamente ao meu lado e abriu a janela sorridente.

- Nossa, você ainda está aqui? Entre ai, vamos embora.- mas eu não ia dar o braço a torcer, eu iria ser mais difícil, empinei o rosto o olhando com pouco caso.

- Não, precisa. Já estou chegando...- Ele bufou.

- Ah, por favor. Não dê uma de difícil, Lóris.- Parei e olhei para seu rosto irônica

.- Primeiro, eu não quero entrar!- mentira.-Segundo não estou nem um pouco cansada.-mentira.- E terceiro, não estou nem ai, andar está me fazendo refletir- verdade...- Quarto e ultimo. Estou respirando uma ótima quantidade oxigênio puro.- mentira de novo. Porque eu estava mentindo tanto? Eu quero entrar no carro dele, estou totalmente cansada, e ainda por cima, respirar o puro carbono de caminhões não é nem um pouco saudável e legal. Mas tudo aquilo me fez refletir sobre varias coisas...

- Lóris, pare de graça! Está todo mundo lá, menos você!

- ai tudo bem!-eu ia  ceder, porque estava mesmo cansada.Arriei as pernas num gesto de “ desisto!” e entrei no carro. Uma vez lá dentro, Jasen quis dar uma de simpático, mas aquilo ficou tão... patético.

- Lóris, você está animada?- coloquei as pernas em cima do banco me debruçando nelas tombando a cabeça de lado olhando fixamente para Jasen como ele era... Lindo! Perfeitamente lindo.

- Sim, e você?

- Não necessariamente... – Eu sabia porque, mas como queria puxar papo.

- Porque?

- Você sabe Lóris... Minha mãe..- aquilo saiu tão profundo e sentido que até me deu uma ponta de tristeza.

- Me desculpe Jasen...- ele assentiu.

- Eu era tão... apegado a minha mãe, que por mais que faça oito anos que ela morreu, sinto muito sua falta.- passei a mão em seu ombro num gesto de consolo.

- Ai Jacob, sinto muito... Mas agora você não deve estar tão... como posso dizer... Tão desconsolado assim.

 - Sim... Mas ainda sinto muito a sua falta.

- Muito mesmo?-Jasen torceu os lábios olhando fixamente a estrada.E não me respondeu.

Passou-se um tempo, e finalmente Jasen anunciou.

- Chegamos...- olhei pela janela aberta e respirei fundo.
E a familiar casa em que fui criada estava ali, do mesmo jeito... Enorme, pintada de amarelo canário, com persianas e portas marrons, e no jardim da frente era enfeitado com  lindas, perfumadas e coloridas flores campestres, com aqueles bancos de madeira trabalhada e pintados de branco envernizado. Aquela grama verdinha e viva, que brincávamos de boneca, jogávamos bola e tomávamos o lanche da tarde.Tudo ali fazia parte de minha vida, e aquele cheiro de...Arvores, flores, animais,terra, grama, mel, rosas amarelas. Tudo isso misturado, era o verdadeiro cheiro de natureza.Sorri e abri a porta, depois fui caminhado para dentro da grande casa, passei pelo corredor e ouvi vozes. Eram mamãe,papai, vovó, e Alex... Acho que estavam conversando. Entrei na sala e disse sorrindo envergonhada.

- Oi... – todos me olharam. Minha avó levantou-se rapidamente e me abraçou.

- Querida! Que bom que você veio!- me soltou rodopiando.- Mas você está tão... Linda! Olhe só o seu corpo! Como ficou assim em dois anos?- sorri e fiz o mesmo nela.

- É... O seu também não está tão mau! Eu tenho mais barriga que você! Não é justo!- minha avó deu um sorrisinho malicioso e murmurou.

- Yoga... de terça a sexta.- e começamos a rir.

- Porque você quis caminhar até aqui e não vir de carro?- olhei para Alex que estava distraída mexendo nos cabelos.

- Oh meu bem, você deve esquecer essa rixa que tem com sua irmã e seguir em frente.

- Você ficaria bem com uma pessoa que namora com que você ama, e sabe de tudo. E ainda por cima é sua irmã!

- É... realmente você tem um pouco de razão mais o amor acontece.

- Vó não que me chatear aqui... Quero ficar bem, e...  ainda mais que estou aqui, com você, no sitio... me deixa mais feliz!- minha avó sorriu abraçando-me.

- Que bom querida. Eu também fico bem feliz quando está aqui.- me soltei de seu abraço e curiosa perguntei.

- Vó e meu quarto? Já está pronto?

-Claro que sim... venha ver.- e me puxou lá para cima.

Quando subi as escadas já notei a diferença, pois estava com um carpete vermelho e fofo. Ela havia espalhado por todos os lugares vários quadros, e vasos. A cor tinha mudado estava verde água. Chegando ao corredor haviam umas dez portas. Olhei para vovó.

- Nossa avó, porque tanta porta?

- Ah, eu aumentei a casa, quebrei as paredes,e fiz mais quartos, banheiros, tripliquei de tamanho a sala e a cozinha, fiz uma copa, escritório, aumentei meu quarto,e os quartos principais... fiz uma porção de coisas...

- E da onde você tirou tanto dinheiro?

- Das plantações daqui do sítio, e o Phill me ajuda... Agora que ele recebe 15 mil por mês, ele me da a metade...

- Nossa, do que o tio Phill trabalha?- minha avó hesitou.

- Bancário... Acho que ele é gerente.

- Que bom...

- É. Chegamos!- anunciou minha avó.Assim que ela abriu a porta abri a boca espantada.O quarto era lindo! Três paredes eram brancas e uma com textura rosa chiclete. A cama era grande e branca. Tapete tinha contraste com as paredes e quadros da parede.Entrei no quarto e havia fotos de quando eu era pequena...Resumindo, aquilo era mais que perfeito. Eu havia adorado, me virei para minha avó que estava com um rosto satisfeito e a abracei falando.

- Obrigado vó! Está lindo.

- De nada Lóris... Agora eu vou descer e deixá-la aproveitar seu quarto.
                             *         *        *

Depois de arrumar minhas malas em meu guarda roupa, uma fome bateu, desliguei meu rádio e tirei o casaco de cima ficando apenas com a regata. Então soltei os cabelos os sacudindo, desfazendo o penteado. Desci correndo as escadas. Assim que cheguei na cozinha não havia ninguém. Fui até a dispensa, e peguei pão de forma. Depois abri a geladeira pegando frios e refrigerante. Sabia que ia quase dar a hora do jantar... Não importa, eu comeria de novo.Fiz dois lanches e coloquei refri no meu copo e fiquei pensando enquanto me alimentava."Onde será que todos estão? Acho que devem estar vendo s ampliações que minha vó fez no sítio. "

Assim que acabei de comer guardei tudo e fui lá para fora. Estava escurecendo... Olhei no relógio em meu pulso e marcava seis e meia da noite.Então me surpreendi, minha avó, minha mãe e meu pai estavam vindo conversando.

- Ai Catarina! Você gostou da reforma que eu fiz aqui?- perguntou vovó a minha mãe.

- Ai, claro! Está lindo... E mais espaçoso!

- Que bom...- eles me olharam sorrindo.

- Oi filha, o que faz aqui?- indagou papai pegando em meus ombros.

-Ah... Não tinha ninguém em casa.

- A Alex está lá...

- Hum... Que bom. E o Jasen?

- Sei lá, ele estava andando por ai.

- Ah... Eu vou dar uma volta.

- Tudo bem. Mas vai esfriar muito... Porque não está de blusa?- me desvencilhei de seus braços e caminhei na direção do rio dizendo.

- Ai pai... Não estou com frio.- e continuei a caminhar.

Estava andando tão distraída, sentido o aroma do campo, e a brisa leve balançando meus cabelos. Como eu me sentia completa ali. Em meu lar. Mas realmente estava esfriando, pois os pelos de meus braços arrepiaram-se. Nossa, mas estava ficando tão escuro, que não enxergava direito. Passei as mãos nos meus braços para amenizar o frio.Então de repente senti uma coisa sendo lançada em minhas costas.Virei para trás, mas como estava escuro não enxerguei, e continuei a caminhar.

- Psiiiiu! Ei, Lóris!- me virei abruptamente, pois esse Psiiiiu, estava atrás de mim. Então choquei-me com o largo peito de Jasen. Ele me segurou pela cintura me dando apoio, para eu não cair e olhou dentro de meus olhos sorrindo.

- J-Jasen... O que você está fazendo aqui?- gaguejei constrangida.

- Calma. Você está assustada? – disse me soltando e rindo.

- Claro,um cara no seu tamanho atrás de mim nessa escuridão! No meu lugar, o que você faria?

- Ah... Eu gritava.- e passou o braços por meu ombro e começamos a caminhar. Ri deste argumento.

- Então... Acha que estou assustada por pouca coisa?

- Não necessariamente...

- Tudo bem... "Meu Deus! Eu ia ter um infarto a qualquer momento. Jasen passeando comigo pela escuridão me abraçando pelos ombros... Ai Jesus"

Então chegamos até o rio... Pelo menos ali tinha uma luz fraca que vinha do poste de luz que vovó avirá implantado ali.Eu e Jasen nos sentamos na margem e ficamos ouvindo aquele delicioso som da água passeando no rio.Mas o que notei foi que Jasen estava debruçado em suas pernas com a toca de sua blusa de moletom na cabeça.Mas estava mesmo ficando realmente frio. Eu tremia. Aproximei-me dele passando meus braços nos dele. E murmurei tremendo.

- Jasen... Está tão frio. Você não se importa que eu fique aqui, não é?- Jasen balançou a cabeça.

- Não... - disse abaixando as pernas e apertando seus braços contra o meus. Mas a sua voz estava rouca... Ele estava chorando? Meu Deus! O que eu iria fazer? Então tomei a medida mais drástica.Deitei a minha cabeça em seu ombro e passei a mão em seu rosto que estava molhado.

- Jasen, Jasen... Ei, o que foi? Porque está chorando?

- Nada... Nada não. - murmurou.

- Ai Jasen... Pare de chorar e me conte... Foi Alex? Seu pai? Meus pais?- ele balançou a cabeça ignorando minhas argumentações.

- Minha mãe. - por fim disse.

- Foi aqui que eu a peguei e. - ele interrompeu e continuou a chorar colocando uma mão na boca. Seu choro era profundo e tão silencioso que se eu não estivesse falado nada, nem perceberia.

 - Jasen, eu sei que dói. Mas ela foi para um lugar melhor... E esta torcendo por você não sofrer aqui... E eu também.- e beijei seu rosto. Passando a mão em seus cabelos.Ai caramba! Da onde eu tirei essa coragem toda? Mas para mim doía ver Jacob ali sofrendo, tão frágil.Então ele parou de chorar de repente, virou para meu lado e deu um meio sorriso passando a mão em meu rosto.

- Lóris... - Sim?- Obrigado, por tudo...

- De nada. É o que eu sinto... Eu gosto de você Jasen. - ele beijou minha testa.

- Por mais que não pareça, eu sinto falta daqui... E de... Você!- naquele momento eu paralisei completamente. O quê? Eu tinha certeza mesmo do que ele falou? Que sentia a minha falta? Mas... Ele não me via todo o dia?

- Jasen... Mas você me vê quase todos os dias. -murmurei sem graça.

- Lóris, você não entende? Eu sinto falta de conversar com você, rir, passar as mãos em seus cabelos, como estou fazendo agora. - e realmente era verdade, eu estava encostada em seu ombro abraçando sua volta, e ele com um braço em meu ombro e acariciando meus cabelos.Apenas,sorri.Mas nada foi dito, eu estava tão... envergonhada.

 E esse foi o fim da conversa, pois começou a chover forte.Jasen me soltou rapidamente, se levantando e me puxando em seguida, aquela cena me fez rir. Jasen me olhou duvidoso, mas caiu na risada também.

Chegamos ao gramado da casa e minha mãe estava na varanda com os braços cruzado e duas toalhas nos fitando preocupada. 

- Do que vocês estão rindo? Ande entrem logo! Vão ficar doentes! – Jasen

soltou minha mão e correu na frente tirando a blusa ensopada, enrolou-se na toalha e foi para dentro. Fiz o mesmo, mas quando entrei na casa todos estavam na sala me fitando desconfiados, principalmente Alex. Ela me fulminava com os olhos. Dei um sorrisinho sínico e subi as escadas correndo.Cheguei a meu quarto e tirei a roupa molhada e coloquei no cesto. Enrolei-me na toalha e me sentei na cama esperando Jasen sair do banheiro.Assim que ouvi o chuveiro sendo desligado abri a porta e dei de cara com Jasen secando os cabelos, e em uma toalha enrolada na cintura. Eu achei que ia ter um infarto fulminante. Acho que mil borboletas faziam uma festa rave em meu estomago. Jasen ali com toda aquela barriga perfeita e aqueles braços musculosos ainda com pingos d’água me fazia delirar. Mas o pior era que ele sabia disso e provocava passando a mão e fazendo posses.Ele sorriu malicioso.

- Você vai descer para jantar?- pisquei tirando os olhos de seu maravilhoso corpo, e dando um sorriso sem graça.

- Sim... - e sai andando para o banheiro.                

Uma vez já na mesa de jantar todos conversavam harmoniosamente, comendo suas refeições.Mas o que percebi enquanto ria com uma piada de minha avó, foi que Jasen não tirava os olhos de mim. Mas não era um olhar comum, era um olhar caloroso, um olhar de... Desejo.Aquilo me arrepiou na hora, mas tirei esses pensamentos insanos da cabeça, eu deveria estar ficando louca.               

Logo após o jantar,fizemos uma pequena rodinha na sala,e começamos a conversar,vovó falando sobre suas aventuras amorosas,suas brigas com uma banda de rock que era vocalista na adolescencia,e entre outros assuntos da sua adolescencia rebelde.

- Aff...- disse Alex em um comentario nada convidativo.- Jas vamos subir?

Jasen olhou para Alex envergonhado.

- Alex,estou conversando...

Alex levantou-se irritada.

- Então fica ai,ouvindo essas historias pateticas e sem graça.

Todos ali ficaram chocados com a reação de Alex,minha avó ficou sem graça,mas soube disfarçar bem.

- Me desculpe mamãe,eu não sei o que deu na Alexia...- Disse papai envergonhado.

- Oh,querido...tudo bem.É coisa da idade.

- Bom.Seja como for.Eu vou subir lá e vou ter uma conversinha com ela.Com licença.- Papai se retirou.

Então ficamos durante horas conversando,jogando jogos,e cantando.Ja passavam das duas,quando mamãe disse.

- Bom,eu ja vou dormir...- Expressou uma cara de sono seguido de um bosejo e subiu.

- Eu também ja vou indo,estou cansada.Mas antes vou limpar essa bagunça.

E realmente vovó tinha razão,tinha copos,almofadas farelos de coisas,espalhados pela sala toda.

Olhei ao redor.

- Vovó,pode ir...eu limpo.

Ela me olhou duvidosa.

- Tem certeza?

- Sim..- Sorri.

- Bom,então boa noite.

Vovó se foi.

Jasen e eu ficamos sozinhos,ele sentado no sofá vendo um final de filme.E eu ajuntando a bagunça.