A garota saiu para o ar frio da noite, fechando a porta atrás de si. Uma senhora passou de carro lançando-a um olhar de censura que Tonks ignorou por já ter se acostumado. Tudo nela era mal visto naquele bairro: dos cabelos loiros irregularmente repicados à meia calça arrastão; não importava quantos anos se passassem, nunca se acostumariam a seu piercing, shorts surrados, all stars de couro e sombra preta. Se dependesse dela, Tonks já teria se mudado de casa há muito tempo, mas pais insistiam que já que ela não iria morar com eles de qualquer forma, que ao menos vivesse num lugar “decente”.

  Saiu de bicicleta para a noite londrina, chegando a seu destino vinte minutos depois.

  Entrou no barzinho, pendurando seu casaco num cabide à entrada. Sorriu para o barman, que piscou para ela – ela e Sirius já eram amigos há anos. Sentou-se a sua mesinha habitual, no canto mais escuro da salinha. Sirius trouxe sua cerveja alguns minutos depois, e saiu beijando-lhe a bochecha.

 Tonks virou-se ao ouvir os primeiros acordes de um violão. No palco estava um homem: os cabelos castanhos e despenteados na altura dos ombros; a pele branca contrastando com a camiseta preta. Ele começou a cantar, a voz suave acompanhando perfeitamente o violão, um sorriso brincando nos lábios perfeitos. Dava para ver de longe o brilho de seus olhos castanhos. Tomou um gole da cerveja, sem desprender por um segundo os olhos do homem.

  Tonks estava saindo quando tropeçou em algo; braços fortes a seguraram antes que ela atingisse o chão. Levantou a cabeça para agradecer, deparando-se com o músico de antes. As palavras morreram em sua boca ao encarar aqueles olhos castanhos. Ele estava próximo demais... Ela podia sentir sua respiração em seu rosto...

  -Hey, cuidado. – ele sorriu e soltou-a. Tonks surpreendeu-se desejando que ele ainda a segurasse.

  -Valeu. – ela sorriu em resposta - Eu sou um desastre...

  Alguém lhe bagunçou os cabelos; ela virou-se e deu um tapa em Sirius, que sorriu travesso.

  -Então, cara, já conheceu a loirinha? Cuidado, essa garota é o diabo. – Tonks mostrou a língua para ele. – Remus, Tonks. Tonks, Remus. Vocês já ouviram falar bastante um do outro. – ela olhou o homem com interesse dobrado. É claro que já ouvira falar em Remus; ele e Sirius tinham praticamente crescido juntos e sempre sido melhores amigos. Tonks nunca o vira porque ela e Sirius se conheceram há três anos, pouco tempo depois de Remus ter se mudado para o Canadá. Aparentemente agora ele voltara. Notou que ele também a observava com curiosidade.

  O celular de Remus tocou; ele atendeu-o, trocou algumas palavras e desligou parecendo um tanto irritado.

  -Bem, eu já vou indo. – deu um tapinha nas costas de Sirius e um beijo no rosto de Tonks. – A gente se vê, loira. – sussurrou próximo ao seu ouvido. A garota sentiu um arrepio percorrer seu corpo quando Remus roçou o nariz em seu pescoço. Sirius observou-a atentamente por um momento então se despediu e foi embora também. Tonks ficou olhando Remus se afastar, sem entender muito bem de onde vinha essa vontade de ir atrás dele.