Victim

O corpo do adolescente foi colocado devagar em cima da maca.

O saco fechava por seu corpo, e apenas o saco preto ficou a vista.

A mãe chorava aos berros, inconsolável.

A garota sentada na ambulância encarava a cena, com o olhar indecifrável.

As faixas amarelas contornavam a parede de tijolos e a poça de sangue contornada e esparramada no concreto.

Os peritos analisavam cada detalhe, os jornalistas ficavam nas redondezas da escola, tentando encontrar informações.

Os alunos e os professores encaram perplexos a cena, com o medo estampado nos olhos.

- Annabelle Fuller, certo? – o homem com os cabelos grisalhos com os fios ralos, as olheiras pesadas em seu rosto, com um grosso distintivo em volta de seu pescoço perguntava com o tom grave.

Annabelle analisava cada movimento em sua visão.

- Sim... – ela disse lentamente, tendo o cuidado de parecer em choque.

- Vou precisar que me acompanhe até a delegacia para poder depor. Mas, preciso da autorização de seus pais.

- Meus pais estão viajando, mas posso ir sem problemas. – ela disse com um tom abatido, mas superior.

O policial parecia analisá-la, a mente crítica do homem rondava pela cabeça de Seline.

- Ok... Então, podemos? – ele perguntou encarando a jovem

- Sim. – ela respondeu no mesmo tom, como se tentasse desafia-lo.

Ela desceu devagar a ambulância permanecendo o rosto abatido.

Os olhares caíram na menina, enrolada no cobertor, com a roupa suja.

A porta da viatura foi aberta, o policial a encarava, seus olhos o encaravam na mesma medida.

O caminho foi rápido até a delegacia.

Ela foi encaminhada para dentro e posta dentro da sala de interrogatório. O vidro grosso negro, a mesa de metal, com a pequena câmera rodando pela sala.

Seline, não esboçava expressão. Ela estava indecifrável.

“Acha mesmo que ela tem alguma coisa haver com isso?” ela ouvia a conversa, que passava por seus ouvidos.

“Acho.”

“Pitt é só uma adolescente assustada, que estava no lugar errado na hora errada, nada mais.”

“Não acho que ela seja só isso”

“Pitt, não seja irracional.”

“Estou fazendo meu trabalho, apenas isso”.

A conversa cessou e a maçaneta da porta girou rapidamente.

A porta bateu em um estalo baixo.

O mesmo homem que havia falado com Seline, entrou devagar e se sentou a sua frente.

Ele colocou a garrafinha de água em cima da mesa, abrindo a tampa e colocando a frente de Seline.

- Água? – ele perguntou devagar.

Empurrando a garrafinha a frente de Seline.

A garota apenas o encarava, seu olhar não caia para a garrafinha de água, apenas permanecia no rosto do homem.

Não conseguindo o que queria o homem prosseguiu;

- Sou Pitt, ou se preferir tenente Haber.

- Eu prefiro Pitt. - Seline disse lentamente, cuspindo a ultima palavra.

- Ótimo. – Pitt pausou- Como você sabe, um garoto foi morto. Dany Kings foi morto, na sua frente.

Ele analisava as expressões de Seline, mas não achava nada.

- Então, Annabelle, eu preciso que me diga exatamente o que aconteceu.

Seline encarava lentamente o homem a sua frente.

- Eu já disse. – ela disse seca – Um homem saiu do nada e veio em nossa direção, com uma faca, Dany se pôs a minha frente e o homem o atacou, ele veio em minha direção, mas eu berrei, então... Ele foi embora.

 As mãos grossas de Pitt se fecharam em punho e deram de encontro com a mesa dando um estrondo.

Seline não esboçou susto, e sim, virou o rosto encarando o vidro com o olhar sínico.

- Está mentindo. – ele disse lentamente.

Seline virou o rosto e o encarou lentamente.

-Não estou.

- Eu trabalho como policial há quinze anos. E tenho uma filha de dezessete. Sei quando uma pessoa e uma adolescente estão mentindo.

- Está me acusando pelo o assassinato de Dany Kings?

- Eu nunca disse isso. – o policial disse em seguida.

- Subintendeu.

 Pitt encarava o olhar indecifrável, mas intimidador. Parecia que a garota analisava seus medos e sonhos mais obscuros.

- Annabelle, me diga a verdade e irá poder ir para casa.

-Eu já disse a verdade.

- Não, não disse. – a voz saiu em um tom desnecessário.

- Eu estou me sentindo coagida. E isso é crime. – Seline disse lentamente.

O policial se levantou da mesa e saindo da sala.

“O que está fazendo?”

“Essa menina... Está mentindo! Ela está me manipulando!”

“Você está perdendo o controle! Isso sim!”

“Vamos libera-la e vê se toma um calmante”

“Você enlouqueceu! Eliot... vou voltar lá! Essa menina não sai daqui sem a minha permissão”.

“Não pode mate-la aqui, não tem provas que ela esteja envolvida nesse assassinato”.

“Mas se ela parecer perigosa irei, pedir prisão preventiva. Ela não esboçou um sentimento”

“Isso não a torna assassina”

“Isso a torna uma sociopata”

A porta girou novamente.

- Não tem motivos para me prender aqui. – Seline disse lentamente.

- Eu sei. – Pitt se aproximou lentamente e disse se curvando para olhar o rosto de Seline - Mas saiba que estou de olho em você.

-Isso é ameaça Pitt? – ela perguntou calmamente, se levantando calmamente – Tome muito cuidado com quem ameaça.

  O homem se ergueu da mesa.

- Tenha uma boa tarde... Pitt.

Seline saiu lentamente da sala e andou até a área de pertences.

- Annabelle Fuller. – ela informou ao homem do balcão que sumiu por alguns instantes.

Ela se virou para encarar o noticiário.

-A escola de Forks foi atacada, resultando a morte de um adolescente, Dany Kings, a polícia até agora não deu nenhuma informação a impressa, mas até onde se sabe, há uma testemunha ocular, que não teve o nome revelado, mas talvez possa ajudar nossos policiais a prender esse assassino que anda a solta. Já foram duas mortes até agora. E Amy Johnson continua desaparecida...

- Acredite... É só o começo. – Seline murmurou muito baixo, para qualquer um ouvir.

Mas agora ela não podia mais perder o controle da situação.