CAPÍTULO TRÊS - UM SELO DE CONSOLAÇÃO

"Para ódio e amor que dói, amanhã não é consolo."

(Guimarães Rosa)

_Quer ir para o Shopping conosco, Manu? _comentou uma voz, que para mim não pode ser reconhecida.

Estava triste demais, confusa demais, irritada demais, para prestar atenção em outra coisa. Meus olhos estavam fixos em um único alvo, aliás um casal, Matthew e Bianca. Ele a acariciava de um modo tão calmo que me dava náuseas. Olhava-a com tanta doçura, que eu poderia jurar que saia coração deles. Ela o enfeitiçou tão rapidamente ao ponto de eu não poder mais me aproximar dele.

_Manu, as pessoas do teatro estão indo para o Shopping. Quer ir conosco? _perguntou Nathália ao passar a mão na frente do meu rosto. Olhei para ela após acabar com os meus devaneios.

_An? Pode ser. _respondi simplesmente.

Quando olhei para o ponto onde eles estavam, eu não os encontrei. Eu sabia que teria de reconstruir meu muro novamente, ou melhor, não deveria deixar que o destruíssem. Era uma forma de defesa que tinha a maior força cuidando dele, mas foi derrotada por um único homem. Maldito, ele não poderia ter feito isto! Principalmente porque, eu não aguentaria a dor de ser ferida pelo meu braço direito.

_O que está acontecendo contigo, pirralha?_questionou James, mostrando-se preocupado. _Eu sei que perder um amigo é ruim, mas ele não a merecia.

_E quem disse que ele é o culpado pela minha tristeza? _perguntei rápido demais, sendo que, o nervosismo com que eu falei entregou a minha derrota.

_Seus olhos, pequena. _começou _Seu jeito, que se torna o mais doce possível ao se aproximar dele. Principalmente a sua falsa rudeza ao falar com ele. Você tenta esconder em seus atos o que de longe da para notar, ou seja, nem as melhores máscaras podem esconder um sentimento por tanto tempo._completou ao afagar a minha cabeça.

_Não é verdade, James, eu o odeio! Você que é cego por interpretar de forma errônea os sentimentos._declarei aos berros.

_Oh, sim. E todo este nervosismo é por saber que este "ódio" se tornou amor. _gesticulou, fazendo aspas na palavra ódio.

_Vai pensando deste jeito que você ganhará o Oscar._finalizei ao rolar os olhos.

[...]

_Que tal, Enrolados?_perguntou James de forma pensativa para o grupo que estava ao nosso lado. Estávamos em dez, Hélio, Nath, Bridget, Bianca, Matthew,Tales, James, Fábio, Florêncio e eu.

As meninas concordaram, mas os homens queriam ver algo mais sangrento. Após algum tempo, nós optamos por ver "Piratas do Caribe quatro". A maioria das garotas suspiraram por saber que Depp faria o principal.

Mesmo estando escuro, eu poderia ver alguns rostos ao meu redor. Sentei do lado da Nath e Florêncio, com o qual não paravam de falar. Queria prestar atenção no filme, mas meu rosto insistia em olhar para o lado. Basicamente ele cismava em se fixar num ponto onde Matthew e Bianca estavam sentados. Admito que sou masoquista, mas meu coração não sossegava antes de ver os dois se beijando.

A mão dela escorregava para seu cabelo em um afago íntimo. Droga! O que mais me doeu foi ver que ele correspondia suas carícias. Enquanto o pirata estava lutando com o seu inimigo, o casal estava se amassando. Avisei para a Nath que ia comprar pipoca, enquanto lágrimas rolavam de meu olhos. Eram automáticas, mesmo que eu implorasse para não serem soltadas em minha face.

Corri para o banheiro como se isto dependesse da minha vida ou de outra pessoa. Não teria alguém para me salvar, porque está luta cabe somente a mim vencê-la. Enquanto meu corpo tremia, abri a porta dos vasos sanitários com dificuldade. Sentei em um deles e fiquei rezando para que o filme acabasse rapidamente.

Tentei limpar minhas lágrimas ao ouvir passos no banheiro. Esta pessoa foi se aproximando mais da porta que eu estava, reconheci que não tinha saída. Quem seria? Nathália, Bridget ou Bianca?

_Eu sei que está ai, Manu. Abre está porta, por favor. _Disse uma voz, que se mostrava grossa e impaciente.

_O que... _Perguntei ao ver o homem a minha frente, mas ele me interrompeu.

_Por que você está chorando? _perguntou ao abrir a porta e me abraçar.

Eu estava tão alterada que comecei a desabar em seus braços, que me apertavam de um jeito amoroso. Ele estava tão próximo, que eu não conseguia me concentrar. Senti minhas bochechas ficarem rubras ao sentir sua mão se posicionando em minha nuca, parando neste local.

Eu não consegui pronunciar mais nenhuma palavra ao sentir seu lábios tocarem os meus. Mesmo sendo uma carícia suave e rápida, o impacto foi enorme em meu peito. Sorriu ao ver o que causou em mim, porém não me beijou novamente.

_Desculpa, eu não deveria beijar mulheres indefesas. _ironizou, Hélio.

Saiu rapidamente, não deixando eu me recuperar. Eu não sei, mas eu vi um sorriso de vitória ao me olhar pela uma última vez. Logo, as mulheres entraram no banheiro. Arrumaram suas vestes e saíram, deixando apenas Nath e eu no ambiente.

_E ai, Manu, cadê a pipoca? _perguntou Nath, de maneira maliciosa.

_Desculpa, eu não pude pegar porque a fila estava cheia. _respondi rapidamente.

_É? Por que sua maquiagem está borrada? _sua expressão demonstrava algo que queria esconder.

_Nada, apenas estava chorando por causa do filme. _respondi ao corar.

_E isto não teria haver com um moço de olhos verdes e cabelos negros? _seu tom de voz demonstrava uma falsa inocência.

_NÃO, nunca! _respondi aos berros, mas depois tapando a boca com as mãos pela vergonha.

_Para que esconder um sentimento tão bonito, Manu? Não confias em mim? _agora seu humor demonstrava melancolia.

_Mas eu não gosto dele, Nath. _respondi, tentando esconder a mágoa que sentia.

_Está bem, meu amor, procura-me quando você for corajosa o bastante para confiar em mim. _finalizou, antes de me puxar pelo braço e ir para a praça de alimentação.