CAPÍTULO NOVE - ALGO QUE DOIS QUEREM, DEVERIA ACONTECER

"Um beijo é um segredo que se diz na boca, e não no ouvido."

(Jean Rostand)

            _Nath, não chores assim! _começou Raissa, ao notar que ela estava se debulhando em lágrimas.

            _Mas é terrível ver a sua mãe a olhando com ódio e seu padrasto fingindo que nada aconteceu, eu ainda tive que encarar tudo com frieza. Consegui aguentar, mas depois entrei em colapso. _comentou, em um tom de voz baixo pela tristeza.

            _Eu sei, linda, nós sabemos. _consolou, afagando seus cabelos.

            Logo, colocou as malas em meu quarto e foi para a sala. Estávamos assistindo o vídeo do casamento de meu irmão, algo surpreendente e digno de filme. Basicamente, começava com uma noiva, dois escândalos e um final feliz.

            _Oh, que estranho. Como tudo isso aconteceu? _questionou Nathália, que não sabia da história.

            _E se eu disser que começava com uma mulher sensual, mas ciumenta. E um acordo a contragosto? _começou Raissa, ela amava contar essa história.

            _Começava assim? Mas, então...

            _Sim, a primeira noiva era esta mulher. Bem, Jared trabalhava em uma empresa. Dafne, que era a ciumenta, namorava com o chefe. Mas era "apaixonada" pelo meu marido, então fez um acordo. Este contrato era irrecusável, pois tinha outras vidas em jogo. Ele aceitou, mas Manu sabendo disto tentou acabar com o casamento. Eu entrei para lhe ajudar, fazendo com que ela descobrisse que seu verdadeiro amor era o Roan - seu ex-namorado - e fugindo com ele. _pausou _Jared me contou que Luan - meu ex-namorado - me traia constantemente, então eu resolvi me casar com o irmão da Manu. Digo que hoje estamos juntos, e bem, apaixonados. _terminou, muito corada.

            _Que lindo. _ iniciou, sonhadora _E, onde vocês passaram a lua de mel?

            _Em Fernando de Noronha. _respondeu apenas.

            James entrou para visitar a sua amada, logo os dois se beijaram. O mais horrível foi saber, que o outro casal os seguiu. Estava entre uma das cenas mais terríveis de minha vida, algo nauseante. Só faltou Matthew entrar e fazer a mesma coisa, o pior foi que alguém havia tocado a campainha neste momento. A pessoa que estava pensando há algum tempo, passava por mim com uma expressão furiosa.

            _Preciso falar contigo, agora! _exclamou, pegando-me pelo braço.

            Ninguém interceptou o ato, infelizmente, e eu tive que ir para a rua com ele.

~*~

            Estávamos sozinhos e nervosa por saber que ele ia me dar um sermão. Mas, por que eu deveria aceitar em silêncio? Não, o mesmo também ia me escutar. E, muito.

            _Por que você nunca me ouve, em? Custava ficar longe daquele rapaz? Custava? _tive vontade de rir pelo seu irritamento, mas só consegui esboçar um sorriso em linha reta.

            _Não custava, mas eu não tenho motivos para lhe obedecer. Posso fazer o que quiser, porque não sou a sua cachorra. Sou alguém que pensa por si, e do qual pode escolher o que deseja. Não, é?

            _Você não entende que eu só que o seu bem? Droga! Você nem o conhece direito, para estar lhe defendendo...

            _Está não é a questão, Matthew. O que eu não quero, é você tentando me controlar. Isto é estúpido, principalmente porque eu não estou lhe censurando. Assim como você anda com a Bianca, eu também posso ficar com quem quiser. A sua proposta é tão injusta e egoísta, que você se beneficia com a minha desgraça. Agora você me entende, Matt? _discursei, cortando-o.

            Ele mexeu no cabelo em nervosismo. Virou para trás, botando as mãos em seus olhos e os esfregando. Era como se ele quisesse tirar algo de sua memória, estava arrasado. Quando virou não estava mais irritado ou abatido, ou seja, a sua expressão demonstrava muita frieza.

            _Você tem razão, Manu. Eu fui idiota em lhe censurar. Aliás, eu não deveria nem ter brigado por causa disto. Agora eu sei o quanto lhe aborreço, e não poderia estar contigo. Deixarei meu orgulho de lado, pedindo-lhe desculpa. Depois disto, farei um favor, sumindo de sua vida. _declarou sem emoção, uma frase rude e a contragosto.  

            Nunca seria está a minha solução, mas ele tinha o dom. O dom de estragar tudo. Estava sumindo na noite, desaparecendo para sempre de minha vida. Doeu em meu coração, porque não era isso o que eu queria. Desejava que ele me abraçasse, brigasse, tudo, menos isto. Droga! Corri na noite, tentando lhe alcançar. Por pouco eu não conseguiria, mas fiquei feliz ao vê-lo caminha pela estrada.

            _Espere, por favor. _disse, com o fôlego que me restará.

            Ele virou, mas a frieza dera lugar a dúvida. Seu sorriso não existia, e sim, uma dura expressão em seu rosto. Eu não sei o porquê dele sempre fazer isto comigo, mas me afetava. Aliás, tudo nele me incomodava. Andei em sua direção, afastando a distância que continha entre nós. Pela primeira eu tomei a iniciativa, abraçando-lhe. Matthew ficou surpreso, mas correspondeu.

            _Por que você sempre olha pelo pior ângulo, em? Você ainda não entendeu, que é tu o mais importante? _confessei, chocando nossos olhares; que agora não demonstrava mais frieza.

            _Eu não vejo pelo pior ângulo, mas sim o que eu jugo ser o melhor para ti. _declarou, sorrindo.

            _Então não me deixes sozinha, por favor. Seria a pior atitude a ser tomada, e não a melhor. _finalizei, tentando entender como tive coragem para dizer uma frase como esta.

            _Confesso que eu não conseguiria deixá-la tão cedo, meu amor. Você já deveria ter percebido que eu tento me afastar de ti, mas sempre volto; sempre. _comentou em meu ouvido, deixando-me arrepiada.

            Logo, seus olhos foram em direção ao meu. Mostrava um sentimento que não consegui decifrar. Aproximou-se, beijando a maçã de meu rosto. A cada selo, eu ficava mais constrangida. Não tive tempo para me afastar, pois ele mostrou o que realmente queria.

            Ele estava me beijando! Beijando de verdade, sem ódio ou raiva.

            Quando me acalmei do choque, fechei os olhos. Ficou um bom tempo em meus lábios, mas logo pediu passagem. Eu não entendia o porquê, mas cedi de imediato. Eu notei o calor, paixão e carinho nesta ação. Calor, era o que eu mais sentia neste momento. Tocava-me com cuidado, enquanto eu parei minhas mãos em seu cabelo. Era quebrável para ele, parecia que eu ia sumir a qualquer momento.

            Em um único momento pensei que o mesmo também queria, mas estava enganada. Afastou-se de mim brutalmente, parando algo que estava longe de terminar. Olhou-me decepcionado, porém soube que era com ele mesmo.

            _Eu... sinto muito. _começou, fazendo com que eu não entendesse sua fala. _Não deveria ter lhe beijado deste jeito, sabendo que você nunca ia querer. Foi de momento, senti que deveria fazê-lo e fiz; mas prometo que não irá se repetir. Porque eu tenho namorada, e acima de tudo somos apenas amigos e nada mais. Não, é? _Suas palavras quebraram meu coração, mais do que estava.

            Queria responder que "não", dizer que eu o amava. Para que adiantaria isto tudo? Apenas para receber uma resposta, que agora eu tinha certeza do que seria. Droga! Se ele queria a mentira, era isso que eu ia dar a ele.

            _Sim, não significou nada; nada mesmo. _respondi sorrindo, mas destruída por dentro.

            Ele saiu depois de me abraçar, dizendo que ia me ver amanhã. Como ele conseguia passar por tudo isto, com tanta indiferença? Voltei para a casa afobada. Perguntaram o que eu fiz, mas eu não consegui responder a verdade. Passei pelo quarto e entrei quando vi o meu celular vibrando, na cabeceira. Era o Florêncio, tinha me ligado para avisar que amanhã teria aula de teatro. Será que era isso que Matthew queria me dizer? Pois bem, esperarei.