Desci as escadas com pressa.

Ficara conversando com Selena muito tempo, agora estava atrasada.

Vestira meu vestido preto com os ombros a mostra.

- Perdão pai, mãe. – disse entrando no grande salão.

Dirigi-me a mesa gigante. Como sempre, sentava-me a esquerda de meu pai.

- Bom dia filha. – disse minha mãe, distribuindo seu sorriso caloroso.

- Podem servir. – disse meu pai, ao criado ao lado de sua cadeira á ponta da mesa.

- Filha, temos um assusto a tratar. – disse meu pai, enquanto as mulheres colocavam frutas e pães na mesa.

- Sim. – disse educadamente.

- Bem, você sabe bem quem vem nos visitar essa época do ano... – começou ele, servindo-se com uma xícara de café.

- Chá princesa? – perguntou a criada.

- Sim, obrigada. – continuei a conversa. – Lord Backen, certo?

- Exato. – disse meu pai. – E você, provavelmente, já sabe sobre o que vou falar.

- Provavelmente. – sussurrei aborrecida.

- Fará dezoito anos no próximo mês, e a data do casamento esta marcada para duas semanas depois. – continuou meu pai. – E, desde seus quatorze anos pra cá você tem agido como uma criança quando perto de Lord Backen...

- Pai, eu sou uma criança. – disse eu, pousando a xícara de porcelana na mesa. – Por isso sou nova demais para casar.

- E lá vamos nós de novo. – disse meu pai, fechando os olhos.

- Pai, pelo amor de Deus, eu nunca reclamei de nada que o senhor fez ou faz em seu reino ou em sua vida por que o senhor faz tanta questão de fazer isso comigo? – disse.

- Porque você é minha responsabilidade e, se não fosse tão teimosa, já tinha se casado a muitos tempos atrás. – disse ele. – Chega disso. Há pouco tempo Lord Backen estará aqui.

- Ele vem hoje? – disse abismada.

- Sim.

- Não, eu não me planejei... – meu pai me cortou.

- Não venha com desculpas. – disse ele, levantando um dedo para mim. – Esteja aqui uma hora antes do almoço.

Suspirei e me levantei da cadeira, caminhando pesadamente até a porta.

- Demi. – chamou meu pai, virei-me. – Esta linda com o cabelo solto.

(...)

- Ele vem hoje? – perguntou Selena incrédula.

Nós andávamos pelo grande jardim dos fundos do castelo.

- Exatamente. – respondi. – E meu pai só me avisou agora... foi um plano dele. Ele adivinhou que eu faria algo se soubesse que Backen iria chegar.

- E você ia? – Selena tinha cara de santa.

- Claro!

- Ai Demi, se eu fosse você eu me casaria logo com Backen. Ele é bonito, um pouco mais velho claro...

- Um pouco? – falei. – Selly, ele tem trinta e um e eu dezessete.

- Mas vai fazer dezoito.

- Grande coisa. – disse encarando o nada a minha frente. – Um ano a menos. Treze anos de diferença, isso é uma vida.

Selena pareceu ficar sem palavras.

- Eu quero meu príncipe... – fui cortada por Selena.

- Aaah não, chega Demi. – começou. – Você tem de, pelo menos, admitir que esse rapaz dos sonhos não existe.

- Não. Ele existe sim. – disse eu. – Talvez eu só não o conheça.

Selena revirou os olhos.

- Que hora seu pai mandou você estar lá? – mudou de assusto.

- Não importa, eu não vou aparecer.

- Demi...

- Todos sabem o quanto estou ansiosa para ver a face daquele...

- Respeito! – disse Selena. – E eu sei exatamente em que horas você vai estar lá.

- Selly, você é minha amiga, não devia me apoiar?

- Eu apoio, só acho difícil as coisas que pretende.

Sentei-me na sombra em um banco de pedra e admirei o campo.

Era imenso, com a grama de um verde bonito e claro cortado baixo.

- Que lindo. – disse Selena ao meu lado.

- É.

O sol brilhava em quase seu pico.

Nós não dissemos mais nada até uma coisa cortar o campo a nossa frente.

- O que é aquilo? – perguntei.

Algo se movia rápido na grama verde.

- Parece um cavalo. – disse Selena surpresa. – Um homem montado em um cavalo.

- Dois olha! – disse eu, apontando para a outra criatura se movendo atrás.

Os homens tinham paus na mão e lutavam como se fossem espadas. Nós ouvíamos as risadas.

- Estão brincando. – disse eu, sorrindo.

- Isso não é certo. – disse Selena severamente. – Esses são os cavalos de seu pai.

- Aaah Selly, deixe eles se divertirem. – eu ainda observava a luta. – Eles são bons. Principalmente o do cavalo mais escuro.

Ele defendia muito bem os golpes amadores do segundo, atacando com mais experiência e agilidade.

O garoto do cavalo claro caiu quando o outro empurrou a madeira contra seu peito.

Eu e Selena caímos na gargalhada, o garoto do cavalo escuro parecia fazer o mesmo.

- Vamos chegar mais perto? – perguntei a Selena.

- O que? Não! – disse ela.

- Vem. – peguei na mão dela e corri entre as arvores.

- Demi, não é uma boa idéia. – dizia Selena enquanto era arrastada.

- Aqui, quietinha. – sussurrei eu, parando de correr e apontando para os dois rapazes

O segundo garoto ainda estava no chão. Ele parecia uns dois nos mais novo que o cavaleiro.

- Isso foi covardia. – dizia ele.

O outro ria. Uma risada grossa de adulto, embora parecesse ser jovem.

- Vai, suba no cavalo de novo. – disse ele.

O mais novo levantou-se com dificuldade e montou o animal.

- Certo, mas pega leve.

O mais velho concordou.

- Ataque-me por baixo, vou ensinar como defender. – o mais novo atacou e ele impediu que a arma chegasse perto do cavalo. – Viu? O truque é defender e empurrar. Agora por cima.

O mais velho ensinava como lutar ao mais novo, pareciam dois irmãos.

- Mas como você faz para saber por onde seu adversário ira atacar? – perguntou o mais novo.

- Aaah... – disse o outro. – Não sei. Acho que o movimento inicial mostra tudo, por exemplo: se você vai atacar pelo meio, você puxa o punho por dentro – ele demonstrou o movimento. –, quando vai ferir o animal você manda a ponta na espada para baixo. Entende? São esses movimentos iniciais.

- Certo. – refletiu o mais novo. – Acho que estou pronto para outra luta.

- Está? Ok. – disse o mais velho. – Um, dois, três... agora.

Então começou de novo.  

O mais novo contornou o mais velho com o cavalo e tentou apunhalá-lo na cabeça, mas ele desviou e prendeu a arma do outro abaixo do braço.

- Aaah não! – exclamou o mais novo.

Então o mais velho puxou a arma, fazendo o outro cair do animal.

O mais velho desceu do cavalo gargalhando.

- Queria ver se fossem espadas de verdade.

Eu tinha a forte impressão que conhecia o mais velho. Parecia da minha idade e tão... familiar.

- Ei vocês! – gritou uma voz ao longe.

- Aaah não, nos pegaram. – disse o mais novo.

Cinco guardas reais apareceram.

- O que vocês pensam que estão fazendo com os cavalos do rei? – disse um. – Vocês roubaram?

- Não! – disse imediatamente o mais velho, largando a madeira em sua mão. – Só pegamos emprestado...

Os guardas pegaram as armas.

- Se pegou emprestado pediu para quem? – disse o primeiro.

O mais velho abria a fechava a boca, sem resposta.

- Pra mim. – disse eu, saindo das arvores.

Todos me encararam assustados.

O rapaz no chão se levantou rapidamente, se colocando em reverencia junto com o mais velho.

- Princesa? – disse o guarda.

- Eu mesma.

- Desculpe pela intromissão. – os guardas curvaram-se, em desculpa.

- Você tem sorte que não vou contar para meu pai. – disse eu em meu tom mais autoritário. – Agora vão embora.

Os guardas se retiraram e eu fitei com dois vassalos curvados.

- Gostei da luta. – elogiei. – Mas precisa treinar mais rapazinho.

O mais velho controlou a risada baixa.

- Por favor, não fiquem curvados. – implorei.

Eles se levantaram.

- Desculpe-nos por termos furtado seus cavalos minha senhora. – disse o mais novo.

- Não se desculpem. – disse eu. – Vocês não os roubaram... só emprestaram.

O outro sorriu exibindo belos dentes brancos.

Somente agora reparei no quão bonito era.

O cabelo castanho dançando com o vendo, a pele branca meio morena parecia perfeita mesmo com o sol o castigando e alto o bastante para ser um belo par de dança.

- Deixe-me, por favor, apresentar-nos. – disse ele. – Eu, sou James e esse é meu primo mais novo Jack.

- Encantada. – fiz uma reverencia feminina. – Eu sou Demetria, mas alguns preferem o termo princesa. E essa – puxei Selena pela mão. –, é minha dama de companhia Selena.

- Desculpe, mas nós temos que ir. – disse Selena.

- O que? Não, não temos. – disse eu confusa. – Vamos ficar.

- Não, Demi. – disse Selena. – Acabei de ver a carruagem de Lord Backen entrando.

- E... ?

- Demi vamos, por favor.

- Ok. – virei-me para os criados. – Desculpe-me, tenho que ir, mas podem continuar com os cavalos...

Dirigi um ultimo olhar aos rapazes e... meu coração parou. Eu sabia que já tinha visto ele em algum lugar. Meu rosto não conseguia nem formar um sorriso de felicidade de tão surpresa.

- Você... – comecei olhando para James.

- Algum problema? – perguntou preocupado.

- Não, eu...

Minha respiração começou a ficar mais rápida e minha mão tremia, assim como minhas pernas.

- Esta passando bem princesa? – perguntou Jack preocupado.

- Eu só... – e tudo escureceu.

- Demi? – disse uma voz conhecida. – Ai, graças a Deus você acordou!

Abri meus olhos de vagar.

Havia um circulo de pessoas com as faces borradas em volta de mim.

- Mãe? – perguntei, a voz fraca. - Selena?

- Sim, sim querida. – disse minha mãe, já em foco segurando minha mão.

- O que aconteceu?

- Nós saímos para caminhar e você desmaiou, deve ter sido o sol. – disse Selena. – Se aquele criado não tivesse te segurado, provavelmente estaria toda machucada.

- Criado? Que criado? – perguntei, sentando-me.

- O vassalo, James acho eu. – disse Selena descontraída. – Mas não importa, que bom que esta bem.

James? Ai meu Deus, James!

- Meu Deus! – disse.

- O que foi filha? – perguntou minha mãe.

- Onde esta esse criado? – perguntei, preocupada.

- Calma Demi, ele será recompensado. – disse minha mãe. – Agora você precisa descansar.

- Não mãe, eu preciso ver-lo. – disse eu, tentando levantar-me, mas Mariah me segurava.

- Você não vai sair daqui enquanto não estiver recuperada. – disse minha mãe, em tom autoritário. – E quanto estiver bem, desça para o salão principal, Lord Backen esta preocupado com você.

Bufei.

- Mãe, não quero ver esse homem. – disse brava.

- Te entendo filha, mas é a vontade de seu pai. – ela abriu a porta. – Durma um pouco querida.

Então saiu do quarto.

 - Quer que eu prepare um banho princesa? – perguntou Mariah.

- Sim, obrigada. – respondi, e ficamos eu e Selena no quarto.

- Acho que deveria seguir o conselho de sua mãe e dormir. – disse Selena se levantando.

- Não, Selly. Fica. – disse eu e ela se sentou.

- O que foi agora? – disse ela.

- Selly... você olhou nos olhos daquele vassalo?