Pesadelo do Real escrita por Metal_Will


Capítulo 37
Capítulo 37 - Elevador




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"A outra margem é que importa"

~ José Saramago

Capítulo 37 - Elevador

 No intervalo da aula do dia seguinte, sentada em um banco relativamente confortável, Ariadne lia as anotações de Monalisa com um olhar interessado e concentrado. A loirinha se encontrava sentada ao lado dela, esperando ansiosa um comentário de sua guia. O que aquele sonho queria dizer? E seria aquele homem realmente o pai de Ariadne?

- Interessante - diz a ruiovinha, ainda mantendo o caderno da amiga aberta - É um sonho com vários significados.

- Imaginei que fosse - fala Mona, mexendo nervosa e ansiosa com as mãos - Esse homem é muito parecido com o seu pai...bem, pelo menos o seu pai que conheci na outra linha de tempo.

- Oh, sim - sorri Ariadne - Ainda é a mesma pessoa. Muito interessante. Parece que cortamos um bom caminho.

- Como assim?

- Se já esta na hora de falar com o meu pai, é sinal de que podemos pular vários intermediários no Labirinto. Parece que ele está colaborando com a gente...

- Ele quem?

- O Labirinto. Seus sonhos provém dele, lembra?

- Ah - murmura Mona - Então...estou perto da saída?

- Se tudo der certo, sim. 

 Monalisa dá um leve sorriso de alívio, mas a próxima frase de Ariadne não a anima muito.

- O problema ... - continua a guia - ...É que quanto mais perto da saída estivermos, mais perigosas as coisas ficam.

- De que tipo de perigo está falando?

- Bem - Ariadne falava em um tom meio preocupado - Como você já deve estar cansada de saber, o Labirinto é feito de escolhas. Vai precisar tomar muito cuidado com suas escolhas daqui para frente.

- Isso não é nenhum problema - diz a loirinha, parecendo confiante - Afinal, se você é minha guia, irá me dizer quais serão as escolhas certas, não é?

- Isso se eu estiver sempre do seu lado.

- Não vou tomar nenhuma decisão importante sem te consultar. Não se preocupe.

- Mesmo assim, nada é garantido. 

- Mas você é a guia.

- Uma hora você vai entender - Ariadne se levanta - Por hora, vamos ter que falar com o meu pai.

- Então, o seu pai é mesmo o personagem do sonho. Foi um sonho esquisito...

- Nem tanto - discorda Ariadne - Os simbolismos foram bem claros.

- Você achou?

- O lugar em que você estava podia ser interpretado como o próprio Labirinto e o que meu pai te falou é um pensamento bastante plausível. Afinal, como pode ter certeza de que existe um outro lado? Ele precisava receber uma resposta do rádio amador para saber se realmente havia alguém fora dali. Sem isso, como ter certeza?

- Está dizendo que...

- Ora, Monalisa. Que garantias você tem de que realmente exista uma saída? E se houver uma conspiração dentro dessa conspiração? E se todos estivermos mentindo para você, sem nenhuma exceção?

- Está dizendo que...você pode estar mentindo?

- Eu digo para você que não estou mentindo - diz Ariadne - Mas se eu for uma mentirosa, dizer que falo a verdade não significa nada, não é?

- Não pode ser...eu confio em você.

- Sim. Eu sei. Por isso consegui despertar como guia. Mas de onde vem essa confiança?

- Bem...os últimos acontecimentos me levaram a acreditar que você é minha guia. E minha guia é a única pessoa em que posso confiar.

- Isso foi o que te contaram. Como pode saber se eles não estão mentindo?

- Está me deixando confusa! - reclama Monalisa, massageando a cabeça - Se for assim, não existe nada nesse mundo em que eu possa confiar.

- Entendeu agora, não é?

- Mas eu não tenho escolha a não ser acreditar em você - admite Monalisa - Eu escolhi acreditar em você. Imagino que você esteja me levando à saída.

- Sim. Faz sentido. Mas é como eu disse...se fora do Labirinto for pior do que dentro, eu sou a vilã da história.

- Mas não tenho como saber se fora é melhor do que dentro!

- Mais do que isso - completa Ariadne - Você não tem nem como saber se existe uma saída.

- O único jeito seria...uma prova de que existe algo fora daqui.

- Isso quem vai te explicar melhor é o meu pai.

- Quem é o seu pai?

- Ele trabalha em um banco aqui perto - fala Ariadne - Opa...mas é claro que você já sabia disso.

- Sim. Estava querendo dizer que tipo de papel ele desempenha no Labirinto.

- Isso ele mesmo pode te dizer. Mas acho que ele não vai solucionar todas as suas dúvidas.

- Imagino que não...mesmo assim, é bom saber que estou em algum caminho

- E é bom saber que você ainda confia em mim. Concentre-se. A partir daqui as coisas começam a ficar bem interessantes.

- Então...vamos falar com seu pai?

- Depois do almoço. Vamos até o banco onde ele trabalha.

 Não foi tão difícil chegar e entrar no banco. A filha visitar o trabalho do pai não é algo tão incomum, mas Monalisa se sentia meio estranha fazendo isso. Pelo que se lembrava, ela nunca havia visitado o trabalho de seus pais. Sabia que seu pai trabalhava com informática em uma empresa, mas não sabia nem onde ela ficava. Na verdade, por alguma razão nunca teve interesse nisso. Aliás, seus pais não contribuiam para despertar o interesse dela em quase nada. 

 A loirinha olhava admirada o ambiente de trabalho no banco. Pessoas, telefones tocando, barulho de caixa. Imaginava se a empresa de seu pai ou sua mãe fosse parecida. Ariadne conversa com alguns funcionários e ganha permissão para falar com o pai.

- Tudo certo. É só subir. Vamos de elevador - diz ela sorrindo.

 Monalisa também raramente andava de elevadores. Ela entra nele admirada, olhando o espelho, os botões. Parecia que era a primeira vez que andava em um.

- O banco tem só dois andares, mas é mais divertido ir de elevador, né? - comenta a ruivinha, se divertindo da situação. Monalisa concorda, sorrindo levemente.

- Faz tempo que não entro em um.

- Percebi - fala Ariadne - Algumas pessoas tem medo, né?

- Por quê?

- É um lugar apertado, apesar do espelho dar a impressão de que é maior - explica a guia - Mas ainda assim é um lugar apertado, que pode cair a qualquer momento. Num banco de dois andares não teria grandes problemas, mas como seria a sensação de estar dentro de um elevador em queda livre em um edifício de mais de dez andares?

- Que horror - comenta Monalisa, imaginando o terror que seria. Além disso, lembrar de queda junto com Ariadne sempre remetia ao suicídio dela na outra linha de tempo. Ela devia ter alguma fixação por quedas.

- Hhihi. Só estou especulando. Desculpe se te deixei assustada - fala Ariadne, sem perder o bom humor, enquanto aperta o botão do segundo andar - Mas é interessante como fazem de tudo para enganar as pessoas, né?

 Monalisa percebe que ela falava do espelho.

- O...espelho? - pergunta a loirinha.

- É. O elevador não fica maior por causa do espelho, mas parece maior. Isso não deixa de ser um tipo de mentira.

- Imagino que as pessoas só fingem ter claustrofobia para que eu acredite nisso, não é?

- Bem, as pessoas realmente são claustrofóbicas ou tem algum tipo de doença - continua Ariadne, com o elevador já chegando ao segundo andar e abrindo as portas - Mas alguém já deve ter dito que mesmo passando por sofrimentos, elas ainda sabem da verdade, enquanto você não.

- Sim, já me disseram algo assim. E isso me deixa com mais vontade ainda de sair daqui! - retruca Mona, com uma certa raiva na voz. Elas saem do elevador.

- Então você supõe que eles estão dizendo a verdade, não é? - pergunta Ariadne, sorrindo levemente.

- Vai me deixar confusa de novo!

- Tudo bem, tudo bem, desculpe - fala a guia, apontando, logo em seguida, para uma mesa onde seu pai trabalha.

- É ele. O cara do sonho

- O "cara do sonho" é o meu pai - fala Ariadne.

- Oh, não quis parecer grossa.

- Relaxa. Só tô brincando. No fundo, nenhum desses vínculos faz sentido no Labirinto - fala Ariadne, caminhando na direção da mesa do pai - Ah, aquela mulher lá na outra mesa é a minha mãe.

 É verdade. Ariadne tinha dito que seus pais trabalhavam no mesmo lugar. A mãe dela era uma mulher de longos cabelos avermelhados, jovem e usava óculos. Bonita. Ariadne acena para ela, ao que é correspondida. Não podia falar porque estava no telefone. 

- Depois eu te apresento para ela. Embora...

- Eu sei. Ela já me conhece. Não precisa me lembrar toda hora!

- Hihi. É que é divertido. Mas relaxe, estamos seguindo o caminho certo.

- Imagino que sim

 As duas se aproximam da mesa do pai de Ariadne. Monalisa se lembrava de ter conversado com ele antes, mas não levou aquilo muito a sério. Agora estava realmente interessada em saber o que ele tinha a dizer.

- Filha? Você por aqui? Aconteceu alguma coisa?

- Código do Deserto - fala Ariadne. Monalisa não entende, mas logo imagina que deva ser uma senha para ativar algum evento. Ter Ariadne como guia realmente ajudava muito. Não precisou quebrar a cabeça para descobrir alguma solução para o enigma.

- Oh...entendo - responde o pai dela, levantando-se da cadeira e oferecendo sua mão para cumprimentar Monalisa - Meu nome é Ulisses. Monalisa, seja bem-vinda à nossa agência.

- Oh...é uma agência bancária muito bonita - Monalisa responde educadamente. Nisso, todos os presentes na sala começam a rir, inclusive Ariadne.

- Ai, ai. É mesmo uma fofa de tão inocente - comenta a ruivinha, passando a mão nos cabelos de Monalisa.

- O que eu disse de errado?

- Bem, é que não estávamos falando do banco - responde Ulisses - O lugar onde você está é uma Agência Especial do Labirinto.

- Agência...especial? - repete Monalisa confusa. Que tipo de agência especial seria essa?


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