Little Princess escrita por Emmy Black Potter


Capítulo 6
Sei que parece estupidez




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Capítulo 6 – Sei que parece estupidez

(1903, Denali, Alasca)

Pov’s Bella:


Fazia alguns dias que havíamos nos mudado para essa região. Papai começara a trabalhar no hospital há algumas milhas de nossa casa. Era mais uma mansão.

Eu não tinha muita coisa para fazer de dia, quando Carl estava fora, então, saía pela floresta que circulava nossa casa, correndo e brincando de ser normal. Eu era livre nessas horas.

Perseguia muitos alces e corças nesse tempo, quando sentia sede os matava, mas, em geral, era só uma distração, uma brincadeira. À noite, quando Carl chegava, eu treinava com ele os poucos dons que eu possuía, era divertido.

O escudo mental e o físico se expandiam, mas ainda não conseguia mantê-los por muito tempo, nem muito longe. Os dons de Alec e Jane eu estava decidida a ignorar, não usaria caso não fosse estritamente necessário. O dom de rastrear que copiei de Félix, bom, treinava de dia, rastreando animais e depois os perseguindo.

O dom de Heidi eu usava em Carlisle, que insistira eu ter de usá-lo e treiná-lo. Por mais que não admitisse, era muito fascinante entrar em sua mente e vê-la, mexer nela, como se fossem compartimentos com papéis, misturando-os e criando uma confusão na sua cabeça – uma vez eu fiz, rindo, papai pensar que era uma galinha (ele ficou cacarejando durante horas até eu finalmente cansar).

Era noite quando Carlisle voltou e falou que ia caçar, perguntando-me se eu não queria ir junto. De bom grado, aceitei. Já devíamos ter caçado alguns alces, quando sentimos aquele cheiro adocicado e delicioso – e que não parava de nos perseguir.

– Vampiros... – suspirei entediada – Como isso já está cansando.

Carl me deu um meio sorriso.

Mas nenhum vampiro ou vampira apareceu. Era somente um rastro. Eu não sei se foi por curiosidade ou auto proteção, contudo seguimos o cheiro. O cheiro se impregnava pelo chão e árvores, devíamos ter percorrido alguns quilômetros, antes de chegar a um lugar onde as árvores altas acabavam.

Via-se uma grande casa a nossa frente. Bege, com janelas de vidro que possuíam cortinas cinza. A porta dupla da frente de repente foi aberta e em segundos se encontravam três vampiras a nossa frente.

A primeira tinha cabelos loiros avermelhados, pareciam morangos, ela era adorável e linda. A segunda tinha cabelos loiro platinados. E a última tinha cabelos encaracolados e loiros.

Todas as três possuíam os olhos dourados – isso definitivamente me surpreendeu.

– Quem são vocês? – perguntou numa posição defensiva a loira de cabelos morangos.

– Sou Carlisle Cullen e essa é minha filha, Bella – sei que choraria se ainda fosse humana - Carl definitivamente me adotara.

Elas me analisaram com uma expressão de dor – e talvez até receio, medo e nojo – o que me fez ficar confusa. Eu nem as conhecia. Puxa, o que os vampiros têm contra mim?

– Vão embora de nosso território, não queremos ter problemas com os Volturi por causa de uma criança imortal – a de cabelos loiros platinados cuspiu as últimas palavras.

– Ah, de novo isso? – eu disse num suspiro entediado e elas olharam para mim – Já resolvemos esse assunto sobre minha existência com Aro há alguns anos, se quer saber. E, bom, não foi culpa minha eu existir, sabe, só de Jane e Alec – a ultima parte veio com sarcasmo e raiva.

Elas me olharam surpresas e a de cabelos platinados, na direita, falou: - Perdoem a mim e minhas irmãs, mas há alguns séculos nossa mãe foi morta pelos Volturi por ter criado um bebê imortal.

Carlisle assentiu compreensivo e fez uma cara de compaixão.

– Entendo, foi realmente... – ele pareceu escolher as palavras – Complicado resolver a confusão que Jane e Alec criaram, felizmente, saímos ambos vivos.

Felizmente? Milagrosamente, você quer dizer? Mas engoli essas palavras.

– Sou Tanya Denali e estas são minhas irmãs, Irina e Katrina – apontou para a de cabelos loiros e a de cabelos platinados, respectivamente.

– Kate, por favor – resmungou Katrine – mas, entrem, entrem.

E indicou a porta. Sorrindo, Carlisle as acompanhou, eu fui mais atrás, de olho se não era um truque – como seria bom copiar o dom da mentira e da verdade.

Quando estávamos, desnecessariamente, acomodados em sofás de linho macios, nos olhamos melhor. Tanya não era só loiro morango, seu cabelo realmente tinha um contraste de loiro incrível, era simplesmente impossível existir essa cor entre ruivo e loiro, mas existia.

Kate tinha cabelos muito loiros e, na pouca luz que vinha das janelas – insuficiente para nos fazer parecer diamantes ambulantes – pareciam prateados como a luz.

Irina era aquela típica loira America. Cabelos encaracolados nas pontas e lisos na raiz, loiros sol e, se fosse humana, com certeza teria os olhos azuis ou verdes.

Todas tinham seus olhos dourados e eram, não tinha como negar, sexys. Como isso me irritou – não sei por que, mas talvez o fato de que elas teriam sempre vinte, sendo lindas e sexys pela eternidade, e eu seria sempre a Bella, a menininha despeitada.

– Como Aro deixou-vos ir embora? – perguntou Irina, num tom que tentava ser informal, fracassando miseravelmente. Ela parecia tensa.

– Foi complicado – falei, antes que papai pudesse falar de seu jeito exageradamente gentil – Heidi possui o dom de controlar a mente e foi até a França, controlando a mente de Carlisle, que, basicamente, me seqüestrou.

“Alec tirou nossos sentidos e quando vi novamente estava no salão do castelo dos Volturi, em Volterra. Foram muitas palavras, por favores e depois, uma breve luta”.

– Breve luta? – franziu o cenho Kate.

Sei que teria corado. Se pudesse, obviamente.

– Sim, eu tenho um dom – desviei os olhos – não o expliquei inteiramente a Aro, ele pensa que meu dom é um escudo mental e físico... Mas meu dom é copiar dons.

– Copiar dons? – Tanya perguntou – Ah, minha querida, fez bem em não contar, Aro nunca desistiria de tê-la em sua coleção.

– E provavelmente não desistirá, mesmo achando que seu dom é só um escudo – disse Irina.

Senti-me a criança ouvindo conselhos da mãe boa. Aquela menininha pequena, baixinha e fofinha que somente ouvia e “ia na onda”. Eu, de certa forma, era ela.

Baixinha, de aparência frágil e fraca – mas eu era muito mais por dentro. Força e agilidade vampiresca, beleza inumana. Tenho certeza que, se não fosse essa beleza natural dos vampiros, eu seria feia. Cabelos castanhos chocolate, meus olhos anos antes castanhos e pele muito, muito branca.

Como vampira, minha pele parecia de um morto. Eu quase ri em pensamento – eu era morta. Nunca tinha parado para pensar, mas vampiros eram seres eternamente mortos. Congelados, parados, sem modificações.

Era assim que eu queria ser para sempre? Não. Não queria ser baixinha, de aparência frágil e infantil para a eternidade, entretanto, já ouviu falar em destino? Já ouviu falar da ironia dele?

Sem perceber, Carl e as irmãs Denali conversavam sobre a dieta de animais.

– Começamos há alguns anos – disse Tanya – antes éramos as famosas “Succubus”.

– Você quer dizer mulheres “demoníacas” – fiz aspas no ar – que chamam homens mortais a cama, fazem amor e depois os matam?

Elas olharam para mim como que perguntando como uma garotinha, de aparecia muito, muito infantil saberia isso.

– Qual é? – respondi rindo – Tenho uma mente de quatorze anos, há quatro anos vivo no sobrenatural. Realmente, quando era uma humana de dez anos, fraca e inútil, era muito ignorante. Agora, entretanto, o mundo parece muito mais fascinante. Afinal, o que é morrer quando se é imortal?

Meus olhos dourados deveriam estar brilhando numa ansiedade por conhecimento e as irmãs e papai olharam para mim, como que esperando algo mais para eu falar. Balancei a cabeça, afastando pensamentos.

– Ignorem-me, sou só uma criança divagando sobre a vida e o paraíso – falei, levantando-me do sofá onde me encontrava – Continuem papeando, vou passear por aí, as florestas do Alasca são realmente incríveis.

E saí pela porta da frente, correndo tão rápido que meus pés não deixavam rastros a neve.


Pov’s Carlisle:


Vi minha filha sair pela porta correndo. Era a primeira vez que a via realmente aborrecida com algo – a eternidade? A sua idade? O quê?

– Perdoem-me se Bella foi rude – disse displicente – Ela tinha somente dez anos quando Alec a mordeu e transformou-a. Nunca pensei que ela não gostasse de ter sido transformada, achei, até, que a imortalidade a tivesse agradado.

Kate olhou com pena para a porta que minha filha saíra segundos atrás: - Ah, talvez eu a entenda. Talvez ela almeje um companheiro.

– O que quer dizer, irmã? – perguntou Tanya, perplexa – Não acha Bella jovem demais?

Kate balançou a cabeça negativamente.

– Na aparência, sim, não parece ter nem mesmo dez anos. É baixa, delicada e frágil – concordou, mas prosseguiu com firmeza seu argumento – Mas a eternidade lhe dá o privilégio de ter uma mente adulta. Ela irá sentir desejo e amor, com certeza, entretanto, pode não ser retribuída. Afinal, sua aparência é de uma criança e, infelizmente, crianças não sentem o mesmo que os adultos.

– Desejo e amor, quer dizer? – perguntou Irina.

Kate somente assentiu. Comecei a compreender o que ela queria dizer. Talvez ser uma criança imortal não fosse vantajoso ou proveitoso, somente uma eterna coisa de aparências.

Ter de agir como criança e parecer uma criança, mas ter mente de um adulto, não podendo mostrar de verdade quem você é.

Suspirei. Pobre Princesa.


Pov’s Bella:


Eu tinha caçado um puma, somente para sentir aquela sensação de que estava forte e cheia, eu já estava com os olhos dourados antes mesmo de ir para a casa das irmãs Denali.

Era uma coisa desnecessária – assim como minha existência.

Jogando-me na grama e olhando o céu cinzento com pouca luz, me perguntei quando me tornara tão melancólica. Talvez fosse a imortalidade, talvez fosse um lado meu que só viria mais tarde – quando eu fosse adulta.

Suspirei.

Encare a realidade, Bella, eu disse a mim mesma, você sempre será criança e esta fadada a carregar esta maldição para sempre. De ser a única vampira que era uma criança, que nunca sentiria amor e nunca seria amada como uma mulher.

Parecia absurdo passar tais pensamentos pela cabeça de uma garotinha, mas eu não sou uma garotinha. Tenho vinte quatro anos, essa é a verdade, essa é a minha idade. E eu sinto como se tivesse vinte quatro – por mais que me encare no espelho todo dia e veja uma pessoa minúscula com seus um e quarenta de altura e rostinho de criança.

Eu poderia fingir ser normal, a vida somente em casa e caça, em casa e caça, estava me cansando. Já tinha lido todos os livros das lotadas estantes de Carlisle e nunca poderia pedir para fazer uma universidade de medicina, porque eu, simplesmente, não poderia entrar – a não ser que provasse que sou um Einstein da vida, sem chamar atenção dos humanos.

Se eu pelo menos pudesse ir a escola, ter amigos e, tentar, ser uma pessoa – uma humana – normal, talvez, assim, eu parasse de sentir esse buraco na minha alma. Parar de sentir pena de mim mesma.

Iria falar com papai.

Ir a escola não devia ser um absurdo assim tão grande. Na minha época como humana aprendia em casa, mas estávamos em pleno século vinte, nos Estados Unidos. Eu poderia enfrentar essa.

Eu acho.


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Notas finais do capítulo

Dessa vez vou falar nada.